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Os impactos sócioeconômicos nos Jogos Olímpicos: 

um raio “X” pertinente para a Olimpíada no Brasil

Los impactos socioeconómicos en los Juegos Olímpicos: una radiografía oportuna sobre la Olimpíada en Brasil

The socio-economic impacts Olympic Games: a ray "X" relevant for the Olympics in Brazil

 

Licenciado em Educação Física

Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ

Chapecó – Santa Catarina

Fabrício João Milan

fabriciojao@unochapeco.edu.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Existem evidências de que nos últimos anos, os Jogos Olímpicos tornaram-se um evento esportivo de proporções gigantescas. Ao observarmos a fundo os Jogos, pode-se notar que, por trás das disputas intensas por medalhas, existem interesses tanto do Estado como da iniciativa privada, visando transformar os jogos em uma fonte de lucros, tudo isso com base nos impactos socioeconômicos causados na cidade-sede, bem como no país em geral. Tendo em vista esta temática, procurou-se com esta pesquisa, identificar os impactos socioeconômicos causados pelos Jogos Olímpicos, buscando apontar alguns direcionamentos importantes para a Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016, no Brasil. A pesquisa se caracteriza como um estudo de caso com levantamento bibliográfico, dividindo-se em três eixos fundamentais: a) a história dos Jogos e sua evolução histórica; b) as áreas de impacto causadas pelos jogos (infraestrutura, turismo, emprego, comércio, marketing, segurança, saúde, cultura nacional, transportes, meio ambiente); e c) dados comparativos entre Barcelona 1992 e Sydney 2000, apontando caminhos para os Jogos no Brasil.

          Unitermos: Jogos Olímpicos. Economia. Megaeventos esportivos.

 

Abstract

          There is evidence that in recent years, the Olympic Games have become a sporting event of gigantic proportions. When we look at the background of the Games, you may notice that behind the intense dispute for medals, there are concerns both the state and the private sector, aimed at transforming the game into a source of profit, all based on the socioeconomic impacts in host city and the country in general. Considering this issue, it was also with this research, identify the socio-economic impacts caused by the Olympics, seeking to identify some important directions for the Olympics in Rio de Janeiro in 2016, in Brazil. The research is characterized as a case study of literature, divided into three main areas: a) the history of the Games and their historical evolution; b) the areas of impact caused by the games (infrastructure, tourism, employment, trade, marketing, safety, health, national culture, transport, environment); c) Comparative data between Barcelona 1992 and Sydney 2000, pointing out pathways to the Games in Brazil.

          Keywords: Olympic Games. Economy. Sports mega-events.

 

Recepção: 28/11/2015 - Aceitação: 25/12/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 212, Enero de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os Jogos Olímpicos são vistos como uma grande mistura de espetáculo com competição. Mas, existe outra face dos Jogos que passam muitas vezes despercebidas ao olhar dos espectadores: o valor econômico dos Jogos Olímpicos. Quando os interesses do Governo e da iniciativa privada são bem articulados, o custo dos Jogos transforma-se em rentáveis lucros políticos, econômicos e sociais. Tanto esporte quanto economia, demonstram ser duas áreas distintas, embora, em situações como esta, mais do que nunca elas se interligam, pois, para sediar uma edição de Jogos Olímpicos, são necessários investimentos milionários em infraestrutura esportiva e turística para receber atletas e expectadores.

    Os estudos envoltos ao impacto causado pelas Olimpíadas são cada vez mais presentes e interessantes, principalmente pela sua ligação com as questões sociais e históricas, além claro, das relações com a vida escolar através do esporte. Porquanto, considera-se de grande valia estarmos cientes da magnitude, bem como a importância deste tipo de evento e também da inter-relação que ele tem com a historicidade humana.

    Assim, nesta pesquisa, enfatizam-se as mudanças socioeconômicas causadas pelas Olimpíadas e deixadas em seu legado no país e na cidade-sede. Objetiva-se levantar quais são os impactos socioeconômicos, identificando os prejuízos e benefícios trazidos por uma edição de Olimpíada. E também, verificar os custos aproximadamente necessários e exemplificados com os casos de Barcelona (1992) e Sydney (2000), buscando delinear caminhos ao que serão os Jogos Olímpicos no Brasil em 2016. Para isso, a metodologia deste estudo se firma nas bases de pesquisa teórica e bibliográfica.

Jogos Olímpicos: as origens

    De acordo com a mitologia grega, foi Hércules quem criou os Jogos Olímpicos, com início datado por volta de 1200 a.C. a 1000 a.C., embora antes mesmo deste fato, algumas pequenas competições esportivas já aconteciam nas cidades-estados gregas, basicamente em louvor aos Deuses. O nome Olimpíada refere-se ao tempo entre as edições. Comprovações arqueológicas indicam que a Olimpíada mais antiga foi em 776 a.C., tendo como primeiro campeão um cozinheiro chamado Corebos de Elida, em uma prova de corrida. As Olimpíadas em sua relevância para a época visavam preferencialmente o cultivo de boas relações entre as cidades gregas, interrompendo-se inclusive guerras, mostrando também as qualidades físicas, bem como o desenvolvimento dos atletas jovens (Colli, 2004; Lo Bianco, 2010).

    Os Jogos Olímpicos eram um ritual religioso em homenagem a Zeus que ocorriam na cidade de Olímpia. As disputas aconteciam somente em um único dia, sempre no mês conhecido como Hecatombión, sendo disputadas corridas ou provas de atletismo. Com o passar dos anos, outras modalidades foram sendo incorporadas e a duração dos Jogos foi aumentada. Os únicos permitidos a competir eram os considerados cidadãos livres, exceto as mulheres e os vencedores recebiam uma coroa de louros, ganhando fama nas suas cidades, considerados por muitos como heróis. Conforme Lo Bianco (2010), a partir de 684 a.C. os Jogos foram estendidos para um total de três dias e no quinto século para cinco dias de competição.

    Com a invasão do Império Romano em 146 a.C., os Jogos acabaram por perder seu esplendor, dando lugar principalmente à busca pelo lucro, inibição da corrupção e pelo prestígio social, começando nesta época o uso de substâncias estimulantes por parte dos atletas (Colli, 2004). Aquém disto, desconsiderando os ideais de promoção e união tão propagados nas cidades gregas, o imperador romano Teodósio I, ao converter-se para o cristianismo, considerou os Jogos como um festival pagão, banindo-o definitivamente. Foi somente na Era Moderna, por volta de 1852, através da iniciativa do pedagogo e esportista francês, Barão de Coubertin, que os Jogos Olímpicos renasceram (Lo Bianco, 2010).

    Levando sua iniciativa adiante, o Barão de Coubertin passou quatro anos nos Estados Unidos em 1893, onde conseguiu um grande aliado, o professor Willian Sloane. No ano seguinte, Coubertin realizou um Congresso cujo objetivo era regular o esporte amador e programar as próximas edições dos Jogos, organizando uma edição a cada quatro anos distribuída nas principais cidades do mundo, a criação do Comitê Olímpico Internacional (COI), o aumento do número de modalidades, a inserção das mulheres como competidoras e que os primeiros Jogos da Era Moderna seriam realizados em Atenas no ano de 1896. Os Jogos Olímpicos de Atenas (1986) contaram com a participação de 14 países, 241 atletas e 43 provas de nove modalidades, obtendo grande êxito na sua realização, dando indícios da magnitude que viria a receber e que hoje é do conhecimento de todos nós (Colli, 2004; Lo Bianco, 2010; Silva, 2002).

Impactos socioeconômicos

    Os megaeventos esportivos, como os Jogos Olímpicos, são em determinado momento o único elo em comum entre povos de características tão distintas, onde não por acaso é uma das competições entre esportistas mais importante, possivelmente ao lado da Copa do Mundo de Futebol. Ao produzir um evento deste porte, junto a ele encontram-se ligados inúmeros fatores, dentre os quais se destacam a atração de financiamentos, bem como investimentos, tendo em vista que os Jogos Olímpicos são um evento internacionalmente repercutido, que confere benefícios para a cidade-sede (Preuss, 2007; Pires et al, 2012; Colli, 2004).

    Esses benefícios são oriundos de uma gama de possibilidades que um evento como as Olimpíadas oferece. Os assim denominados impactos socioeconômicos são sentidos antes, durante e depois da realização dos Jogos, produzindo efeitos diversos na vida social dos cidadãos envolvidos no processo (Pires et al, 2012). Em um primeiro momento, a infraestrutura, tanto esportiva, como turística, aparece como eixo inicial desta discussão, sendo o ponto de partida acerca dos impactos gerados por megaeventos como as Olimpíadas. Relembrando Colli (2004), um dos principais requerimentos do COI são os locais de provas que devem conter as instalações necessárias para a prática do determinado desporto, sempre de acordo com as regras internacionais de cada modalidade.

    A cidade-sede precisa apresentar as mínimas condições de infraestrutura esportiva e turística, principalmente para possibilitar aos espectadores o melhor conforto na apreciação dos Jogos. Conforme Pires et al (2012), é necessário não esquecer que um legado deste tamanho gera frutos culturais e sociais, a medida que toda a estrutura implantada e suas possíveis ramificações, transformam o capital cultural e social da população, como é o caso da Vila Olímpica. A cada ano, em decorrência da evolução tecnológica e as preocupações com o meio-ambiente, a segurança dos atletas e a questão turística, as vilas olímpicas tornaram-se referência em obras de habitação usando de modernas técnicas de saneamento e energia a baixo impacto ambiental, que após os Jogos é transformada em área residencial, devido ao alto padrão de moradia (Sumário Executivo Rio 2016, 2009).

    Em setores como o turismo e o emprego, verifica-se o aumento exponencial destes fatores quando da organização de uma Olimpíada, pois ela é vista como ótima forma de atrair turistas e movimentar a economia local em larga escala e em curto prazo. Devido a este impacto direto, estes setores podem e tendem a continuar recebendo os mesmos investimentos e a mesma atenção que recebera no decorrer dos Jogos, assim como o ambiente de negócios não ligado ao esporte. Entretanto, ambas as situações só serão permanentes à medida que a organização do evento e o Governo assumam com suas responsabilidades efetivadas na candidatura (Colli, 2004; Lo Bianco, 2010).

    Essencialmente para estes dois âmbitos impactantes, notam-se algumas preocupações elevadas do Governo em adequar os sistemas de saúde, transporte e segurança, garantindo acima de tudo sua total eficiência. Já especificamente para o emprego, percebe-se a ligação quem possui com o comércio e o próprio turismo. O aumento de empregos é evidente desde o início, principalmente em função das obras. Segundo Proni, Araújo e Amorim (2008, p. 23-24), em Barcelona (1992) o desemprego atingia um índice de 18,4% antes da realização dos Jogos e posteriormente chegou a 9,6%, com um saldo de 20.000 vagas permanentes, ou seja, os Jogos foram responsáveis por 88,7% da redução do desemprego no país.

    Quanto ao comércio e o marketing, outros fatores ligados aos impactos socioeconômicos, vemos ambos como importantes fontes de captação de recursos para a realização dos Jogos, especialmente o marketing, muito explorado e difundido no meio esportivo. O marketing olímpico se integra ao megaevento esportivo, demonstrando a evolução dos Jogos no mundo globalizado (Colli, 2004; Payne, 2006).

    Recordando Proni (2008, p. 9), veremos que “nas primeiras edições dos Jogos, o marketing desempenhava um papel quase insignificante nas Olimpíadas [...]”, tanto que seu início real se deu apenas na Olimpíada de Paris em 1924. O marketing sofreu grande repreensão no começo devido ao que o COI denominava como ferimento aos ideais olímpicos. Na realidade atual, os Jogos Olímpicos se tornaram uma verdadeira “marca” mundial, que agrega inúmeras multinacionais ao seu projeto, gerando assim um vasto comércio e a promoção em grande escala do evento. Destaca-se aqui a criação do The Olympic Program (TOP), um conjunto de estratégias de marketing e comercialização dos Jogos a fim de proporcionar recursos para o mesmo. Essas medidas evidenciam-se até hoje e estão incluídas nas exigências para a escolha das cidades-sede (Proni, Araújo e Amorim, 2008; Colli, 2004).

    Em relação a segurança e a saúde, ambas são elencadas como alguns dos fatores considerados essenciais na candidatura de uma cidade-sede. Tanto o governo municipal, quanto o estadual e federal, precisam firmar uma parceria comprometida com a segurança, criando um sistema de controle eficiente e ao mesmo tempo abrangente. Para isso, o Órgão de Segurança Pública e a Diretoria de Segurança do Comitê Organizador, após um levantamento dos riscos na área dos Jogos, elaboram uma ação conjunta de segurança efetiva (Sumário Executivo Rio 2016, 2009; Colli, 2004).

    Quanto a saúde, não se destacam grandes mudanças com a vinda de uma Olimpíada, entretanto, alguns pontos são de total complementaridade, principalmente na área hospitalar da cidade, bem como na Vila Olímpica, precisando que a cidade-sede esteja comprometida com a Agência Mundial Antidoping (WADA). Tanto para segurança quanto para as questões de saúde, recomenda-se a realização de testes antes do início das competições, evitando assim possíveis falhas no andamento dos Jogos (Sumário Executivo Rio 2016, 2009).

    No que diz respeito ao transporte, para o bom desfrutamento dos Jogos, a cidade-sede deve apresentar um bom escoamento do tráfego, isso com o auxílio de um plano estratégico integrando todos os meios de transportes disponíveis, garantindo opções de acesso rápido e seguro para os envolvidos nos Jogos (Sumário Executivo Rio 2016, 2009). Espera-se, como diz Pires et al (2012) que os meios de transportes sejam vistos com bons olhos pelos responsáveis por estes investimentos, a fim de diminuir problemas seguidamente presentes, sejam em linhas de ônibus, metrôs, trens, entre outros. Em síntese, a melhora acontecerá a partir do momento que desaparecerem transtornos que por inúmeros anos perseguem nosso país.

    Em relação ao meio ambiente, o COI enfatiza com grande foco a preservação de toda a fauna e flora presente no entorno dos locais de acontecimento dos Jogos, diminuindo ao máximo o impacto ambiental. São desenvolvidas algumas iniciativas com o intuito de integrar o Movimento Olímpico às questões ambientais, baseado na educação olímpica com um enfoque na preservação ambiental (Colli, 2004).

    Finalmente, temos a cultura nacional como um dos grandes impactos socioeconômicos oriundos dos Jogos Olímpicos. Muitas cidades candidatam-se para sediar uma Olimpíada devido a sua magnitude enquanto evento esportivo mundial, mas também para fazer uma amostra da beleza e da alegria da cidade em receber esse grandioso espetáculo. São apresentadas inovações modernas que aproveitam a beleza natural já existente, tudo para que a celebração tenha um reconhecimento internacional (Sumário Executivo Rio 2016, 2009).

    A cultura é amplamente divulgada durante o evento, especialmente na cerimônia de abertura, onde o resumo da história e da cultura do país-sede é fortemente retratada ao mundo. Em Barcelona (1992), por exemplo, os Jogos Olímpicos foram usados para transformar a sua infraestrutura e assim vir a se tornar uma “cidade cultural”. Para o futuro, destaca-se como relevante a cidade recuperar a memória dos Jogos por meio de monumentos, atividades, museus ou outro meio, com a iniciativa de manter vivo o legado dos possíveis benefícios deixados para a comunidade em geral (Rubio, 2007; Colli, 2004; Lo Bianco, 2010).

Custos econômicos: a realidade dos Jogos Olímpicos

    É de nosso conhecimento que a parte econômica dos Jogos Olímpicos têm sido com amplitude um dos fatores mais influentes para a candidatura de cidades-sede. O efeito midiático que uma Olimpíada proporciona reflete diretamente nos cofres de quem a sedia, gerando uma renda absurda, com cifras astronômicas. Nesta etapa da pesquisa, faremos uma comparação dos dados pré e pós-evento, utilizando como base a relação entre duas Olimpíadas, a de Barcelona em 1992 e a de Sydney em 2000.

    Torna-se importante ressaltar que, ao se estabelecer algumas comparações entre realidades distintas, trajetórias, bem como épocas diferentes, é preciso sempre estar ciente da necessidade de reconhecer que as variáveis influenciam diretamente os resultados. A disputa acirrada para sediar um megaevento, faz com que uma agenda seja criada, baseada na lógica de mercado e culminando em teorias e práticas para planejamento de cidades. Apesar disso, é totalmente possível avaliar como uma edição de Jogos Olímpicos mudou, estão mudando e poderão mudar a realidade de uma cidade-sede (Lo Bianco, 2012; Pereira e Lupes, 2011).

    Não existem dúvidas de que, devido a um aglomerado de fatores, o esporte recebeu uma mentalidade empresarial consolidada e que rompeu com os princípios orientadores do Movimento Olímpico ao longo de vastos oitenta anos. Parece nítido que o marketing esportivo, juntamente com a ação das redes de televisão, projetou os Jogos Olímpicos a uma dimensão econômica nunca antes imaginada até o ano de 1980. Um exemplo é a realidade de Barcelona antes de sediar os Jogos Olímpicos de 1992, que por sinal muito se assemelha a do Rio de Janeiro na atualidade, esvaziando as funções produtivas em decorrência de um projeto moderno, com novo arranjo produtivo internacional, dinâmico e globalizado (Colli, 2004; Lo Bianco, 2012; Pereira e Lupes, 2011).

    De acordo com Proni (2008), é impossível contestar que no início dos anos 1990, os Jogos de Barcelona evidenciaram uma transformação definitiva das Olimpíadas num megaespetáculo, orientado e guiado pela lógica de mercado, visando os interesses do mundo dos negócios. A organização dos Jogos de Barcelona entregou ao Comitê Olímpico Organizador de Barcelona 1992 S.A. (COOB’92) o fechamento das contas com um saldo positivo de US$ 42,8 milhões, dinheiro este oriundo de um bom planejamento e a participação maciça dos patrocinadores (Proni, Araújo e Amorim, 2008).

    O governo e a sociedade civil de Barcelona tiraram proveito de alguns aspectos, oportunidades e potencialidades que por sua vez, estão ligadas a organização de um megaevento esportivo. De 1986 a 1993, o montante investido pelo COOB’92 e instituições governamentais alcançou o valor de 956 bilhões de pesetas. O custeio destes investimentos foi dividido entre o governo (643,6 bilhões) e o setor privado (313 bilhões) em obras específicas para os Jogos e que hoje fazem parte da estrutura permanente da região de Barcelona (Lo Bianco, 2012; Proni, Araújo e Amorim, 2008).

    Quanto a Sydney 2000, o Comittee for the Olympic Games (SOCOG), utilizou em suas ações as idéias muito bem difundias em Barcelona, principalmente nas questões de ordem organizacional. Coube ao SOCOG e mais quatros grupos as funções consideradas específicas para o bom andamento do evento. Os custos orçados foram de US$ 6,5 bilhões, divididos em duas parcelas de US$ 3,0 e US$ 3,5 bilhões. Como principais receitas de SOCOG, destacam-se US$ 1,1 bilhão com a venda de direitos de transmissão, US$ 650 milhões com patrocinadores e US$ 530 milhões com a venda de ingressos para os eventos olímpicos. Desde o início do projeto de candidatura, as prioridades foram a construção de instalações esportivas de alto padrão e também a proteção com o meio ambiente, sendo ambos os propósitos alcançados com pleno êxito, dando aos Jogos inclusive a alcunha de “Olimpíada Verde” (Proni, Araújo e Amorim, 2008; Proni, 2008).

    A Olimpíada de Sydney foi considerada uma referência em fatores como respeito ao planejamento, execução e avaliação dos resultados. O turismo foi uma das áreas que mais se desenvolveu durante os Jogos, cerca de 5% a mais que o ano anterior, fato que comprova a eficácia do plano de marketing nesta edição. O comprometimento do poder público foi outro ponto favorável, bem como os voluntários – cerca de 47 mil – em especial, pois contribuíram muito no desenvolvimento dos Jogos, nomeados por tantos como a vitrine dos Jogos Olímpicos de Sydney. As receitas por sua vez foram consideradas inéditas, mesmo com pouca participação da iniciativa privada, entretanto, para fechar as contas, o governo precisou equilibrar as despesas, pois mesmo prevendo um déficit, o cálculo foi divergente em aproximadamente US$ 89 milhões (Payne, 2006; Proni, 2008).

    O balanço final de Sydney, segundo a Olympic Cordenation Authority (OCA) foi de US$ 1,3 bilhão de custos, podendo chegar a US$ 1,9 bilhão se considerarmos obras paralelas aos Jogos, feitas especialmente na cidade de Sydney. Apesar dos gastos, os Jogos de Sydney deixaram marcas positivas em um período antes e depois das competições. Entre os legados positivos pode-se citar: o aumento da média anual do Produto Interno Bruto (PIB); Crescimento da construção civil; Aumento no interesse pelo esporte olímpico; Maior visibilidade turística; Aumento em ofertas de emprego; Avanços na preservação ecológica. (Proni, Araújo e Amorim, 2008).

    Na comparação entre as duas edições de Olimpíadas, nota-se principalmente a grande diferença na participação do setor privado no custeio dos Jogos, tendo em Barcelona cerca de 1/3 e em Sydney 1/6 do total gasto. Quanto ao balanço final estimado, percebemos a distinção entre as edições à medida que em Barcelona os lucros se mantiveram, já em Sydney o que perpetuou foram os dividendos.

Considerações finais

    Para o bom andamento dos Jogos, mais do que competições e disputas por medalhas, é preciso levar em consideração todos os fatores envoltos neste processo, em certas áreas como de infraestrutura, transporte, saúde, meio ambiente, segurança, turismo, divulgação cultura e a visibilidade maior que a cidade sede e o país recebem. Um bom planejamento e execução do mesmo, por parte do governo, da iniciativa privada, do envolvimento da população assim como em Barcelona (1992), farão dos Jogos um momento de puro espetáculo em todos os sentidos.

    Os Jogos Olímpicos são uma grande fonte de transformações sociais e políticas, sendo benigna na maioria dos aspectos estudados. Para o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro, próximos a sediar uma Olimpíada, deixa-se alguns pontos em destaque, como: seguir a trilha fortemente deixada pelas edições anteriores (exemplos de Barcelona 1992 e Sydney 2000), utilizando do evento para impulsionar a cidade; A união do governo e da iniciativa privada pelo bem comum dos Jogos; Um planejamento estruturado em relação ao possível legado a ser deixado; A intenção de deixar um legado profícuo e que contribua com a sociedade em seu entorno; E por fim, a união dos contrastes da cidade do Rio de Janeiro, pré, durante e pós-evento.

    Ao se estudar os Jogos Olímpicos em relação com a economia no seu aspecto de impactos socioeconômicos, percebe-se que é uma área em constante expansão, embora os resultados não sejam muito divulgados. A marca de uma Olimpíada é eterna, porquanto, cabe ao Brasil agora, mesmo em tempos de crise financeira global, resguardar a chama do Espírito e do Movimento Olímpico.

Bibliografia

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  • Lo Bianco, V. L. O. (2010). O legado dos megaeventos esportivos em questão: as mudanças ou as continuidades na cidade Rio de Janeiro pós-sede [versão eletrônica]. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro. Acesso em 26 de Novembro de 2015 em: http://www.ie.ufrj.br/images/posgraducao/pped/defesas/28VittorioLeandroOliveiraLoBiancoPreliminar.pdf

  • Payne, M. (2006). A virada olímpica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra.

  • Pereira, D. L. e Lupes, R. (2011). Olimpíadas e Copa do Mundo de Futebol no Brasil: implicações para a sociedade brasileira. Lecturas: Educación Física y Deportes. 157 (16). Acesso em 19 de Novembro de 2015. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd157/olimpiadas-e-copa-do-mundo-de-futebol-no-brasil.htm

  • Pires, C. A., Monsão, F. B., Sarmento, J. P. e Seixas, T. (2012). Impactos sociais de megaeventos esportivos: um estudo de caso acerca da análise do presidente de uma federação esportiva do estado de Pernambuco. Lecturas: Educación Física y Deportes. 165 (16). http://www.efdeportes.com/efd165/impactos-sociais-demegaeventos-esportivos.htm

  • Preuss, H. (2007). The Conceptualisation and Measurement of Mega Sport Event Legacies. Journal of Sport and Tourism. 12 (3-4): 207-227.

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  • Proni, M. W., Araújo, L. S. e Amorim, R.L.C. (2008). Leitura econômica dos Jogos Olímpicos: financiamento, organização e resultados. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

  • Rubio, K. (2007). Educação Olímpica e responsabilidade social. São Paulo: Casa do Psicólogo.

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  • Sumário Executivo Rio 2016. (2009). Sumário executivo RIO 2016. Acesso em 22 de Novembro de 2015. Disponível em: http://www.rio2016.org.br/sumarioexecutivo2016/rio2016_pt.pdf

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