Relação entre a obesidade abdominal e o sedentarismo de funcionários de uma fábrica de confecções de roupas em Campo Maior, Piauí Relación entre la obesidad
abdominal y el sedentarismo de los empleados Relationship between abdominal obesity and sedentary lifestyles |
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*Prof. Dr. do Curso de Educação Física **Graduanda em Educação Física Universidade estadual do Piauí – UESPI (Brasil) |
Francisco Evaldo Orsano* Cláudia Cintia Barros de Souza** |
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Resumo O presente estudo analisou a relação entre a obesidade abdominal e o sedentarismo em funcionários de uma fábrica de confecções da cidade de Campo Maior, Piauí. Fizeram parte do estudo 62 funcionários, sendo 40 do gênero feminino e 22 do gênero masculino. Para avaliar o nível de atividade física dos mesmos, utilizou-se o questionário de atividade física do Vigitel (2013), o qual apontou de forma global a prevalência de um grupo insuficientemente ativo, isto é, mais da metade do grupo estudado foi considerada sedentária ou com baixo nível de prática de atividade física, ficando abaixo dos níveis recomendados pela OMS (Organização Mundial de Saúde), sendo que os homens apresentaram uma maior inatividade comparado às mulheres em relação às atividades domésticas (F= 27,5% M= 77,2%). Enquanto que as mulheres apresentaram uma maior inatividade no domínio ocupacional (F= 97,5% M= 68%). No âmbito do lazer, os homens apresentaram uma maior inatividade (F= 27,5% M= 41%), já no âmbito do deslocamento, homens e mulheres apresentaram resultados próximos (F= 62,5% M= 63,6%). Utilizou- se a relação cintura- quadril (RCQ) para estimar a gordura abdominal dos avaliados. Para avaliar o perímetro da cintura-quadril utilizou-se uma fita métrica da marca Sanny. O grupo masculino apresentou risco moderado (64%) a muito alto (18%). O grupo feminino apresentou um maior risco em relação à obesidade, com resultado alto (32,5%) para muito alto (57,5%) de acordo com a avaliação. Conclui-se que a prevalência de um grupo insuficientemente ativo, mostrando que mais da metade do grupo estudado foi considerada sedentária ou com um nível de prática de atividade física insuficiente, não obedecendo aos níveis recomendados. Unitermos: Obesidade abdominal. Sedentarismo. Relação cintura-quadril.
Abstract Keywords: Abdominal obesity. Sedentary lifestyle. Waist hip ratio.
Recepção: 15/07/2015 - Aceitação: 23/10/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 211, Diciembre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A obesidade é resultado da forma como o organismo regula a obtenção, o gasto e o armazenamento de energia. É uma doença complexa e multifatorial, sendo resultado de interações genéticas, ambientais e comportamentais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS (2010), a obesidade pode ser conceituada como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura no organismo que pode levar a um comprometimento da saúde.
Vem sendo alvo da preocupação dos profissionais da saúde por conta de suas muitas e graves conseqüências, entre elas hipertensão, diabetes mellitus, problemas circulatórios, depressão, cardiopatias, hiperlipidemias, entre outras.
Um dos fatores com maior influência na obesidade é o sedentarismo, atualmente considerado o quarto fator de risco de mortalidade, de acordo com a OMS (2010). Neto, afirma que “o sedentarismo é considerado o principal fator de risco para a morte súbita, associando – se ainda, direta ou indiretamente, com as causas ou agravamento de patologias”.
De acordo com Manso e Lopes (2010), a atividade física regular apresenta- se como uma ferramenta de saúde pública no sentido de prevenir transtornos de ordem física, mental e social. Possibilitando assim ganhos positivos na qualidade e na expectativa de vida dos praticantes.
Metodologia
O presente estudo realizou uma análise descritiva quantitativa, descrevendo o perfil dos entrevistados por meio de questionários aplicados a 62 funcionários, sendo 40 do sexo feminino e 22 do sexo masculino, de uma fábrica de confecções localizada na cidade de Campo Maior, Piauí, no período de 20 a 30 de abril de 2013.
O corpo de funcionários da empresa conta ao todo com 150 funcionários, no entanto foram selecionados apenas aqueles com idade acima de 20 anos e que estivessem trabalhando na mesma há mais de seis meses. Desses 62 funcionários selecionados, a média de idade entre homens foi de 27 anos e entre mulheres de 34 anos. Baseando- se nos princípios éticos do Conselho Nacional de Saúde- CNS e de acordo com a resolução 466/12, os sujeitos foram convidados a assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que além de dar as informações sobre o estudo, apresentou algumas condições, dentre elas: tratar as respostas de forma anônima e confidencial e não fornecer, em hipótese alguma, cópia das informações obtidas a pessoas estranhas ao grupo de pesquisa.
O nível de atividade física foi avaliado através do questionário do VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, 2013), órgão vinculado ao Ministério da Saúde e que indaga os entrevistados acerca das atividades físicas praticadas em quatro domínios: 1) no tempo livre; 2) no trabalho; 3) no deslocamento e 4) no âmbito das atividades domésticas. Isso possibilita a construção de múltiplos indicadores do padrão de atividade física de acordo com recomendações internacionais.
O instrumento é composto de 14 (quatorze) perguntas fechadas relacionadas às atividades físicas diárias dos indivíduos pesquisados, não havendo interferência por parte dos pesquisadores nas respostas. O Vigitel considera suficiente o nível de atividade física moderada ou igual que seja realizada em tempo igual ou superior a 30 minutos diários durante cinco dias por semana, por exemplo: caminhada, musculação, ginástica, hidroginástica, natação, artes marciais, ciclismo e voleibol. E no mínimo 20 minutos de atividade física vigorosa, três ou mais vezes por semana, como: corrida, ginástica aeróbica, futebol, basquetebol e tênis.
A atividade física com duração inferior a 10 minutos não é considerada para efeito do cálculo da soma diária de minutos despendidos pelo indivíduo com exercícios físicos (Haskell et al, 2007; WHO, 2010), ou seja, o indivíduo que pratica menos de 10 minutos de atividade física diária é considerado fisicamente inativo. Atualmente, as recomendações de atividade física para a saúde sugerem que um adulto acumule pelo menos 150 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa por semana nos domínios do lazer, como forma de deslocamento, no trabalho ou no ambiente doméstico.
Para estimar a gordura abdominal dos indivíduos avaliados, foi utilizada a relação cintura-quadril (RCQ), considerada uma boa indicadora de obesidade e gordura visceral, sendo obtida pela divisão dos perímetros da cintura (cm) e do quadril (cm). Dentre os pontos de cortes estabelecidos para discriminar os valores de RCQ adequados dos inadequados. O mais utilizado tem sido de até 0, 85 cm para o sexo feminino e 1,0 cm para o sexo masculino, de acordo com a Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndromes Metabólicas (2009).
Para mensurar o perímetro da cintura e do quadril, utilizou-se uma fita métrica da marca Sanny de 02 metros de comprimento, com a divisão da escala em milímetros, sendo a mesma inelástica e de fácil acomodação ao corpo. Para realizar a medição da cintura, os indivíduos permaneceram na posição ortostática, com o abdômen relaxado e a fita posicionada na menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca, durante a expiração.
Para a aferição do perímetro do quadril, a fita métrica foi posicionada na área de maior protuberância glútea e com o indivíduo posicionado verticalmente. Analisou- se os dados a partir de uma tabela que classifica os indivíduos de acordo com o risco cardíaco, podendo ser: risco baixo, moderado, alto e muito alto, de acordo com gênero e faixa etária.
Utilizou-se o pacote Excel 2007 da Microsoft para realizar os procedimentos estatísticos e organizar os dados em forma de tabela, conforme os protocolos aplicados.
Resultados e discussões
O gráfico 1 apresenta o perfil de atividade física dos entrevistados nos quatro âmbitos avaliados pelo questionário Vigitel: lazer (prática de uma modalidade de esporte/exercício físico), trabalho (carregar peso ou caminhar bastante), deslocamentos (caminhada ou bicicleta para ir e voltar do trabalho) e atividades praticadas no ambiente doméstico (limpeza ou faxina pesada).
Os indivíduos foram classificados como ativos no lazer quando relataram atividades físicas de intensidade moderada por pelo menos 30 minutos em cinco ou mais dias por semana, ou atividades de intensidade vigorosa por pelo menos 20 minutos em três ou mais dias da semana. Considera-se uma atividade de intensidade moderada quando esta tem uma equivalência de gasto energético de três a seis vezes o valor em repouso e de intensidade vigorosa de pelo menos seis vezes o valor em repouso. Os indivíduos foram considerados ativos no trabalho quando relataram carregar peso ou carga pesada, ou caminhar bastante no trabalho. (Florindo, 2009)
Gráfico 1. Inatividade física nos quatro domínios de atividade
física de funcionários de uma empresa de confecções
Dados: Autores
Dados: Autores.
Segundo Florindo, a prática de atividade física nos domínios de lazer, deslocamento e no ambiente doméstico são importantes para a prevenção de doenças e melhora na qualidade de vida das pessoas. Observou-se que os homens são mais ativos em relação às mulheres nas atividades realizadas no ambiente de trabalho, enquanto que as mulheres são mais ativas em relação aos trabalhos domésticos.
No entanto, os resultados obtidos são contrários aos dados obtidos pelo teste VIGITEL, implantado em 2006 nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, que verificou a prevalência de indivíduos inativos no lazer em dez cidades, com uma média de 60%. Corroborando com esse estudo, uma determinada pesquisa feita por Zanchetta et al. (2010), mostrou que os homens realizaram menos atividade física do que as mulheres. Uma das justificativas vem da preocupação feminina com a aparência, peso e com a saúde, assim como o desejo de retardar o envelhecimento. Enquanto, a maioria dos homens considera-se imune às doenças, deixando de lado os cuidados com a saúde.
Com relação ao trabalho, 87% dos entrevistados disseram não realizar esforços intensos no ambiente de trabalho. Ao analisar o deslocamento até o trabalho, 62,9% não deslocam- se a pé ou de bicicleta. Resultados de um estudo de corte realizado na Finlândia mostraram que níveis moderados ou elevados, não apenas de atividade física no lazer como também nos domínios ocupacional e de deslocamento, foram significativamente associados à redução do risco de incidência de eventos cardiovasculares.
O gráfico 2 apresenta os resultados do nível de atividade física global dos funcionários da empresa, obtidos através da aplicação do questionário VIGITEL, a partir das médias alusivas aos tipos de atividades físicas praticadas pelos mesmos.
Gráfico 2. Nível de atividade física dos funcionários da empresa de confecções
Dados: Autores
Segundo Matias (2010), o sedentarismo tem se destacado nos últimos anos como o mais prevalente fator de risco para o desenvolvimento das Doenças Crônicas Não- Transmissíveis - DCNT’s. Apesar de não haver documentado, parece óbvio que com o avanço tecnológico o ser humano passou a gastar bem menos energia nas atividades diárias do que gastavam os nossos bisavôs e bisavós. Portanto, a prática de atividade física é vista como uma importante estratégia para prevenir e evitar complicações decorrentes do mesmo.
Esses resultados assim como os de Grillo e Gorini (2007), assemelham-se aos encontrados no presente estudo, onde 56,4% dos entrevistados foram considerados inativos. Enquanto que nos estudos de Miranzi et al. (2008), o percentual de sedentarismo foi de apenas 27,8%. Em relação à variável sexo, pode- se observar que as mulheres mostraram- se mais ativas comparado com os homens, indo contra os dados do Vigitel (2013).
A tabela 1 apresenta os resultados da Relação Cintura- Quadril - RCQ dos funcionários da empresa de acordo com a classificação do programa Physical Test 5.0. (Lohman, Roche e Martorell, 1998).
Tabela 1
Classificação de risco para homens |
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Idade |
Baixo |
Moderado |
Alto |
Muito alto |
20 a 29 |
< 0,83 |
0,83 a 0,88 |
0,89 a 0,94 |
> 0,94 |
30 a 39 |
< 0,84 |
0,84 a 0,91 |
0,92 a 0,96 |
>0,96 |
40 a 49 |
< 0,88 |
0,88 a 0,95 |
0,96 a 1,00 |
>1,00 |
Classificação de risco para mulheres |
||||
Idade |
Baixo |
Moderado |
Alto |
Muito alto |
20 a 29 |
<0,71 |
0,71 a 0,77 |
0,78 a 0,82 |
>0,82 |
30 a 39 |
<0,72 |
0,72 a 0,78 |
0,79 a 0,84 |
>0,84 |
40 a 49 |
<0,73 |
0,73 a 0,79 |
0,80 a 0,87 |
>0,87 |
50 a 59 |
<0,74 |
0,74 a 0,81 |
0,82 a 0,88 |
>0,88 |
Dados: Lohman, Roche e Martorell, 1998. Classificação geral de risco |
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Baixo |
Moderado |
Alto |
Muito alto |
Homens |
2 – 9%
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14 – 64% |
2 – 9% |
4 – 18% |
Mulheres
|
0 – 0% |
4 – 10% |
13 – 32,5 % |
23 – 57,5% |
Dados: VIGITEL, 2013
Nota-se que os indivíduos com um nível moderado de risco podem ou não desenvolver doenças crônicas, de acordo com seu estilo de vida. Enquanto os indivíduos com baixo risco apresentaram uma chance remota de desenvolverem doenças cardíacas e os indivíduos com risco alto ou muito alto têm uma grande probabilidade de desenvolverem doenças crônicas, principalmente doenças coronarianas.
Comparando os riscos de doenças de acordo com os gêneros, observou- se que a amostra feminina 23 (57,5%) apresentou um risco muito alto, 13 (32,5%) alto, 4 (10%) moderado e nenhuma apresentou baixo risco. Já na amostra masculina 4 (18%) apresentou risco muito alto, 2 (9%) alto, 14 (64%) moderado e somente 2 (9%) baixo risco. Demonstrando assim que o gênero feminino apresenta maior porcentagem na classificação de risco, comparado com o gênero masculino.
Para Zanchetta et al. (2010), a prevalência de RCQ elevada aumenta com a idade em ambos os gêneros, mas de forma mais acentuada nas mulheres, provavelmente por conta da diminuição do metabolismo, gerando assim um acúmulo de gordura. Estudos realizados entre 2000 e 2010 mostram que há uma estabilidade na gordura abdominal para ambos os sexos, resultando numa gordura de difícil perda. (Linhares, 2012).
Conclusão
Apontou-se de forma global a prevalência de um grupo insuficientemente ativo, mostrando que mais da metade do grupo estudado foi considerada sedentária ou com um nível de prática de atividade física insuficiente, não obedecendo aos níveis recomendados. Ao analisar em separado os quatro domínios avaliados, observamos que, os homens são mais inativos em relação às mulheres no que tange às atividades domésticas, e mais ativos em relação ao esforço físico realizado no trabalho.
Embora o sexo feminino tenha mostrado-se mais ativo que o sexo masculino, foi verificado um maior número de mulheres obesas, apresentando risco de alto para muito alto de acordo com a avaliação das medidas da cintura e do quadril, fator de risco para o desenvolvimento de inúmeras doenças crônicas e possivelmente justificado pela diminuição no metabolismo das mesmas, assim como a falta de atividade física e dos hábitos alimentares prejudiciais.
Conclui-se que é necessária a adoção de um estilo de vida saudável, pois uma dieta equilibrada associada à pratica de atividades físicas reduziriam os fatores de risco para doenças associadas ao sedentarismo. Além de contribuir com uma melhor qualidade de vida, maior expectativa de vida e menos gastos com tratamentos de saúde. Ou seja, faz-se necessário o incentivo da prática de atividade física e de hábitos saudáveis por meio de políticas públicas.
Bibliografia
Abeso. Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010 (2010). Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. 3ª ed. Itapevi, SP: AC Farmacêutica.
Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 404/2008. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_08.htm. Acesso em 08 de abril de 2015.
Brasil. Vigitel Brasil 2013. (2013). Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em: https://biavati.files.wordpress.com/2014/05/vigitel-2013.pdf. Acesso em 08 de abril de 2015.
Enes, C.C. e Slater, B. (2010). Obesidade na adolescência e seus principais fatores determinantes. Rev. Bras. Epidemiol. 13(1): 163-71.
Florindo, A. A; Hallal, P. C.; Moura, E. C. (2006). Prática de atividade física e fatores associados em adultos, Brasil. Rev. Saúde Pública. v. 43, n. 2, p. 65-73, 2009.
Haskell, W. L. et al. (2007). Physical activity and public health. Updated recommendation for adults from the American College of Sports Medicine and the American Heart Association. Circulation. 116: 1081-3.
Linhares, R.S. et al. (2012). Distribuição de obesidade geral e abdominal em adultos de cidade no Sul do Brasil. Cad. Saúde Pública, 28:438-436.
Marques, D. (2012) Análise da capacidade funcional de mulheres idosas praticantes de Métodos Pilates. Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Criciúma.
Miranzi, S.S.C. et al. (2008). Qualidade de vida de indivíduos com diabetes mellitus e hipertensão acompanhados por uma equipe de saúde da família. Texto Contexto Enfermagem, v.17, n. 4, p. 672- 679, out/dez.
Zanchetta, L. M. et al. (2010). Inatividade física e fatores associados em adultos. Rev. Bras. Epidemiol. São Paulo. 13(3): 387-99. 2010.
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