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O Ultimate Fight Championship (UFC) e sua a repercussão 

no ensino do conteúdo lutas nas aulas de Educação Física

El Ultimate Fight Championship (UFC) y su influencia en la enseñanza del contenido luchas en las clases de Educación Física

 

*Graduanda/o em Licenciatura em Educação Física

Universidade Federal de Pernambuco

**Especialista em Avaliação da Performance Humana- UPE

Licenciado em Educação Física. Faculdade Salesiana do Nordeste.

***Licenciado em Educação Física ­– UPE. Mestrando em Educação

Universidade Federal de Pernambuco

(Brasil)

Érica Maria do Nascimento*

Nailson Pimenta da Franca Filho*

Otávio Mendes de Melo**

Denis Foster Gondim***

ericanascimento1991@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Através da educação física escolar os alunos podem vivenciar várias práticas e manifestações culturais presentes na vida cotidiana. A luta assim como outros conteúdos compõe um grande patrimônio cultural que deve ser conhecido, vivenciado e valorizado. O conteúdo lutas envolve uma série de princípios educacionais e filosóficos, daí a sua importância em ser trabalhado na escola, levar o ensino da luta de forma pedagógica e consciente, contribuindo para o conhecimento e formação do aluno, cumprindo uma parte de seu papel na formação de cidadãos. Através de considerações pessoais e revisões literárias sobre o tema, temos como pretensão refletir sobre o ensino do conteúdo lutas nas aulas de educação física escolar em meio à propagação midiática do Ultimate Fight Championship (UFC).

          Unitermos: UFC. Educação Física. Lutas.

 

Resumen

          A través de la educación física los estudiantes pueden experimentar diversas prácticas y manifestaciones culturales presentes en la vida cotidiana. La lucha, así como otros contenidos, hace un gran patrimonio cultural que debe ser conocido, experimentado y valorado. El contenido luchas trata de una serie de principios educativos y filosóficos, de ahí su importancia para ser trabajado en la escuela. Tomar la enseñanza de la lucha pedagógica y conscientemente contribuye al conocimiento y la formación del estudiante, cumpliendo una parte de su papel en la formación de los ciudadanos. A través de consideraciones personales y revisiones de la literatura sobre el tema, reflexionamos sobre el contenido de las luchas en las clases de educación física escolar en el contexto de la difusión mediática del Ultimate Fighting Championship (UFC).

          Palabras clave: UFC. Educación Física. Luchas.

 

Recepção: 04/10/2015 - Aceitação: 18/11/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 211, Diciembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O aumento da civilidade fez com que manifestações explícitas de violência física em disputas não fossem mais toleradas; assim, jogos cruéis e violentos existentes até então foram transformados em esportes com regras específicas com a diminuição de atos de violência (Vasques e Beltrão, 2013). O Mixed Martial Arts ou Artes Marciais Mistas (MMA) - oriundo do Vale Tudo no Brasil, criado por membros da Família Gracie[1], que queriam atestar que o jiu-jítsu brasileiro era a arte marcial proeminente - é um exemplo disto e vem adquirindo maior visibilidade nos últimos anos, e conseqüentemente aumentando a popularização do mesmo. Mostrando-nos que parece haver uma necessidade humana em saber quem é o mais forte entre os fortes, mesmo que simbolicamente (Vasques e Beltrão, 2013, p. 300).

    Em 1993, surge nos Estados Unidos o Ultimate Fighting Championship (UFC), um torneio com regras mínimas, promovido para determinar a arte marcial mais eficaz colocando especialistas de diversas artes marciais para contrapor em situações de combate desarmado, e o vencedor, além de um premio em dinheiro, situaria sua arte marcial na condição de soberana. Com o passar dos anos, o torneio começou a interessar vários lutadores de todo o mundo, então os organizadores do evento consideraram que consistiria de grande valia, unir todas as artes em um único competidor. A partir dai o esporte foi se transfigurando no que é hoje, uma competição entre lutadores “completos”, que vão competir seguindo algumas regras criadas pela empresa UFC, a fim de conquistar “dinheiro, fama e gloria”. Assim, teremos o despertar do interesse da população mundial, que começa a tornar-se um dos maiores financiadores do evento.

    Através da educação física escolar os alunos podem vivenciar várias práticas e manifestações culturais presentes na vida cotidiana. A luta assim como outros conteúdos compõe um grande patrimônio cultural que deve ser desfrutado, conhecido e valorizado. O conteúdo lutas envolve uma série de princípios educacionais e filosóficos, sendo de suma importância ser trabalhado na escola, levar o ensino da luta de forma pedagógica e consciente, contribuindo para o conhecimento e formação do aluno, cumprindo uma parte de seu papel na formação de cidadãos.

    Surgindo a partir de indagações pessoais, de como trabalhar na escola o conteúdo lutas nos dias atuais em meio à presença do UFC na mídia, já que o conteúdo lutas na educação física escolar, já que o conteúdo visa à redução da violência e construção de valores? E como fazer que uma criança ou adolescente, que esta no processo de formação da sua consciência, enxergue que duas pessoas se agredindo de forma truculenta, estão apenas competindo sem nenhum desentendimento? Será que isso ao ser visualizado por um jovem que esteja nesse processo de desenvolvimento possa ser encarado como normal e reproduzido no seu dia-dia? Assim então, temos como pretensão descrever uma breve historia e evolução do evento e ressignificar as praticas atuais e como estas repercutem no ensino do conteúdo lutas nas aulas de educação física escolar.

O evento UFC

    O UFC foi criado nos Estados Unidos e surgiu inicialmente com a proposta de identificar a arte marcial mais efetiva, envolvendo vários tipos de artes, até se consolidar como a maior organização de artes marciais mistas do mundo e opera há 20 anos como uma organização profissional de MMA. A cada ano o UFC vem revolucionando o mundo das lutas, como principal promotor das artes marciais mistas, organizando uma série de eventos anualmente e de repercussão e sucesso mundial. Motta nos descreve um pouco da evolução do MMA:

    [...] Com o passar dos anos, o marginalizado vale-tudo foi sendo lapidado, reformulado, e acabou gerando o que hoje se chama de MMA. Apesar das dezenas de regras - que dentre outras coisas passaram a proibir cabeçadas, golpes nas regiões genitais e na nuca - a modalidade passou muito tempo carregando o estigma marginal e sendo mal vista no Brasil (Motta, 2013, p. 5).

    Com mais de 20 eventos ao ano, o UFC é a casa dos maiores lutadores, os eventos são realizados nos Estados unidos e em outros países. É Cada vez maior o número de contratos com canais esportivos, para televisionarem os eventos, que já demonstram grande audiência, fortalecendo se como uma indústria de milhões no mundo da luta, fenômeno de marketing e popularidade. Apesar de possuir um caráter estigmatizante, como um esporte marginalizado, os números referentes às lutas estão crescendo e fazendo com que os eventos em torno delas se tornem verdadeiros episódios de entretenimento. (Alves, 2002, p. 2). Para alguns o MMA vem cumprindo um papel de reduzir a arte marcial a técnicas de luta, e o UFC cumpre com o papel de propagação e comercialização de tudo que estiver relacionado ao MMA. Grandes são as discussões, os prós e contras da visão que a sociedade tem a respeito, para alguns de fato o espetáculo não está mais em torno do movimento perfeito e sim da violência.

UFC e a mídia televisiva

    O UFC tornou-se um espetáculo midiático, tendo em vista sua migração da rede de televisão fechada para a rede aberta, ganhando proporções mercadológicas imensas. Basta analisar a indústria de produtos que este evento fomenta: são roupas, equipamentos esportivos, academias e até mesmo brinquedos. Ainda é fundamental ressaltar que, com a centralidade na mídia, o MMA passa a fazer parte do cotidiano das crianças e dos jovens, tendo relevância como manifestação da cultura corporal (Vasques e Beltrão, 2013, p.292).

    A cada ano o UFC vem revolucionando o mundo das lutas, como principal promotor das artes marciais mistas, organizando uma série de eventos anualmente de repercussão e sucesso mundial. Através da expansão do evento na mídia principalmente a televisiva o evento vem conquistando o público. Bourdieu (1997, p.54) nos relata um pouco sobre o fenômeno da televisão e suas influências na sociedade:

    [...] A televisão é um universo em que se tem a impressão de que os agentes sociais, tendo as aparências da importância, da liberdade, da autonomia, e mesmo por vezes uma aura extraordinária (basta ler os jornais de televisão), são marionetes de uma necessidade que é preciso descrever, de uma estrutura que é preciso tornar manifesta e trazer à luz. (Bourdieu, 1997, p.54).

    Embora o público consumidor não tenha que obrigatoriamente “sonhar” em ser um lutador profissional, o simples fato de estar consumindo o que se é vendido com a essência do UFC, alimenta a produção mercadológica e dá a ela maior visibilidade social. É cada vez maior o número de contratos com canais esportivos, para televisionarem os eventos, que já demonstram grande audiência, fortalecendo a nova indústria do mundo da luta, fenômeno de marketing e popularidade.

A luta na Educação Física escolar

    A Educação física estuda e atua sobre práticas ligadas ao corpo e ao movimento criados pelos homens no decorrer de sua historia, sendo vista atualmente como uma cultura corporal, do movimento (Daolio, 1996, p.40-42). É importante o aprendizado destes conhecimentos visando uma postura crítica e reflexiva dos alunos diante das diversas manifestações e expressões dos diversos grupos étnicos e culturais presentes na sociedade (Brasil, 1998, p.144).

    As lutas são disputas em que os oponentes devem ser subjugados, com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e deslealdade. Podem ser citados exemplos de luta: as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro, até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê (Brasil, 1998, p.144).

    Através da educação física escolar os alunos podem vivenciar várias práticas e manifestações culturais presentes na vida cotidiana. As lutas devem servir como instrumento de auxílio pedagógico ao profissional de educação física: o ato de lutar deve ser incluído dentro do contexto histórico-sócio-cultural do homem, já que o ser humano luta, desde a pré-história, pela sua sobrevivência (Ferreira, 2006, p.37). Nascimento (2007, p.93) em sua pesquisa, aborda sobre a importância e possibilidades de trabalhar com o conteúdo lutas na escola:

    Compreende-se que o trato pedagógico do componente lutas na Educação Física escolar deva comportar necessariamente aspectos da autonomia, criticidade, emancipação e a construção de conhecimentos significativos. As reflexões que apontam para a cultura corporal de movimento como o conjunto de conhecimentos que devem ser “tematizados” pela Educação Física podem municiar, pedagogicamente, para construir possibilidades metodológicas para o trato específico deste tema. (Nascimento, 2007, p.93)

    O conteúdo lutas mostra uma enorme gama de conteúdos a serem utilizados. É fundamental ter consciência da importância em ser trabalhado na escola, levar o ensino da luta de forma pedagógica e consciente, contribuindo para o conhecimento e formação do aluno, cumprindo uma parte de seu papel na formação de cidadãos. Levando em consideração que a inclusão das lutas na disciplina de educação física não é promover alunos-soldados, nem prepará-los para a guerra. Pretende-se oferecê-las, na escola, com o objetivo de proporcionar diversidade cultural e amplitude de atividades corporais (Ferreira, 2006, p.40). É importante que o professor trabalhe esse conteúdo de forma concisa, diferenciada e criativa, ajudando na solução de problemas e visando a formação integral do indivíduo. É necessária uma aula e postura onde o professor seja crítico-reflexivo e apresente como uma de suas características a preocupação com as conseqüências éticas e morais de suas ações na prática social (Freire, 1983, p.40. São apontados alguns impedimentos em relação à aplicação desse conteúdo nas aulas de educação física escolar, tais como a falta de conhecimento e vivência do professor ao conteúdo, tanto no cotidiano da vida, como no acadêmico, a preocupação com a violência que julgam estar ligada diretamente a prática da luta, comprometendo a possibilidade dessa abordagem na escola (Nascimento, 2007, p.93). Sendo a luta um conteúdo fundamental da educação básica, temos que refletir como lidar com essa manifestação que por vez representa cenas de violência, a escolar muitas vezes reproduz as manifestações da sociedade, então deve haver um cuidado na seleção de conteúdos a serem trabalhados com os alunos, para que estes possam ter uma leitura relevante da realidade e inserção crítica e transformadora nessa realidade. (Freire, 1983, p.52). No âmbito escolar, o tema/conteúdo de lutas ainda e é pouco acessado e, inclusive, o seu trato pedagógico suscita questionamentos e preocupações. (Nascimento, 2007, p.92). A luta também pode ser vivenciada de forma lúdica e em qualquer etapa do ensino, se faz necessário conhecimento do professor em relação às limitações motoras dos alunos em se tratando, por exemplo, da educação infantil e muitas vezes cuidado e atenção na execução de alguns movimentos ou jogos de oposição, trabalhando sempre o respeito ao próximo, cuidado ao próximo e vivência de forma enriquecedora e agradável, tornando a aula prazerosa onde os alunos aprendam, vivencie as lutas no decorrer de sua formação básica. Para Ferreira (2006, p. 40):

    Vários são os métodos e propostas que o professor pode utilizar em suas aulas, não se exige que o professor seja treinador ou um professor de artes marciais, pois não estamos falando na formação de atletas e sim estudantes que possam vivenciar os elementos dessa cultura corporal do movimento (Roberto e Betti, 2009, p.551). Além da riqueza de aprendizado a luta traz uma gama de expressões corporais que podem trazer benefícios motores, pois muitas atividades podem trabalhar o equilíbrio, reflexo, noções de espaço, velocidade, o aluno irá ser instigado a pensar e agir sobre a melhor forma de resolver um problema na aula, no caso das lutas, uma forma de reter, ou livrar se do oponente. No que diz respeito à socioafetividade mesmo sendo um conteúdo que na maioria das vezes lida com oposição, o trabalho do professore é uma tarefa de grande responsabilidade para que os alunos entendam o respeito e cuidado ao próximo, ter um controle e domínio de suas emoções, para que não se torne uma vivência violenta. Os alunos estarão tendo contato fisicamente um com o outro, é importante que se reconheça o cuidado e respeito com o oponente-colega. (OLIVIER, 2000, p.14-15). Portanto, é indispensável a vivencia dos alunos com esse conteúdo que é relacionado à cultura corporal, e é rico e de extrema importância, na formação e construção do conhecimento. Veremos brevemente uma abordagem sobre a importância do ensino das lutas como conteúdo da educação física escolar em meio à propagação midiática de eventos que mostra um verdadeiro show de lutas violentas e sangrentas.

O conteúdo lutas na Educação Física escolar em meio à propagação do UFC

    Com um crescimento na esportivização e também midiatização das lutas na sociedade elas vem ficando mais conhecidas pelo aspecto tático e técnico, deixando de lado sua história e princípios filosóficos. (Roberto e Betti, 2009, p. 544). Para alguns o MMA vem cumprindo um papel de reduzir a arte marcial às técnicas de luta, e o UFC cumpre com o papel de propagação e comercialização de tudo que estiver relacionado ao MMA. Grandes são as discussões, os prós e contras da visão que a sociedade tem a respeito, para alguns de fato o espetáculo não está mais em torno do movimento perfeito e sim da violência. A violência, bem sabemos, é uma característica presente na sociedade como um todo e, neste caso, a escola não fica imune a ela. Comportamentos agressivos também se fazem notar nas aulas de Educação Física. (Nascimento, 2007, p.101) Porém, se por um lado a escola reproduz as manifestações da sociedade, por outro deve selecionar as representações que realmente proporcionam aos alunos uma leitura relevante da realidade, possibilitando, assim, sua inserção transformadora nessa realidade (Vasques e Beltrão, 2013, p.293). O professor em meio da grande difusão do UFC deve fazer o necessário para mostrar a verdadeira essência das artes marciais, lutas, jogos de oposição e da esportivização, mostrar o lado valioso e rico que a luta nos traz, contrapondo do que mostra o UFC, um show de violência, barbaridade, que além de não ser nada pedagógico, pode influenciar no comportamento dos indivíduos. Segundo Olivier:

    As representações violentas, de ética muitas vezes duvidosa - se não induzem sistematicamente a comportamentos agressivos imediatos - constituem em nossa opinião, um fator de risco não negligenciado para o futuro. Um dos papéis da educação será, talvez, o de atenuar o risco, tentando compensar o efeito de uma influência como esta. (Olivier, 2000, p.11).

    Falando sobre a violência existente nos eventos de UFC podemos afirmar a existência de um paradoxo mascarado pela disputa entre dois atletas. E embora o UFC faça verificações criminais e afirma que não vai permitir que as pessoas com antecedentes criminais para combater, há uma série de lutadores que entrar em conflito com a lei, tanto antes como depois de uma carreira no UFC (Dooley, 2013, p.65). Os princípios filosóficos das artes marciais não perpassam em objetivos de lesionar ou agredir um oponente, não no sentido de agredir por agredir. Atualmente observa-se este conceito de não violência nos desdobramentos nas modalidades das lutas, sejam elas competitivas ou educacionais principalmente esta última.

    Alguns estudos foram feitos com intuito de apontar a quantidade de lesões dentro do MMA, um deles foi Bledsoe et al (2006), que estudou um total de 171 partidas de MMA envolvendo 220 lutadores. Foram identificados 96 lesões em 78 lutadores. Posteriormente NGAI et al (2008) fez um estudo onde foram analisados 1.270 lutadores. Que lutaram entre 2002 e 2007, e 300 dos 1.270 lutadores sofreram ferimentos documentados. E apesar da escassez de dados de qualidade e a possibilidade de subestimação na análise atual, a incidência de lesão no MMA parece ser maior do que a maioria, se não todos, os outros esportes de combate popular e comumente praticado (Lystad, 2014, p. 6-7).

    Dentro do ambiente escolar, é dever ético do professor alertar seus alunos sobre estes aspectos do UFC, uma vez que estes jovens têm acesso às produções televisivas destes eventos. A imagem violenta transpassa os limites destes eventos e criam fortes raízes na psique destes desafortunados telespectadores. Olivier (2000) faz questionamentos sobre a violência repercutida na escola, “Que violência é socialmente permitida?” Ao categorizar estas disputas como esporte se concebe a possibilidade de reprodução desta violência, como Olivier (2000) afirma as práticas de atividades físicas destinadas às crianças são práticas adultas codificadas. O que de fato se percebe nas lutas de UFC é a violência mascarada de disputa entre dois adversários. E o que acontece quando as crianças tem acesso às disputas de UFC televisionadas? O que acontece quando essas crianças se deparam com uma situação de confronto? E outros indivíduos de outras faixas etárias? Despertar o senso crítico dos alunos pode ser uma maneira de quebrar essa imagem de ‘’ídolo’’ que se vende dos lutadores, embora não seja de responsabilidade dos mesmos a imagem-produto que é vendida. A violência é um aspecto inevitável da vida social, e como tal está muito presente na mídia, estimulando o surgimento de ‘’heróis’’ violentos. Heróis estes que resolvem seus conflitos de forma agressiva e nociva. O homem, e principalmente os que estão em processo de formação, devem ser conscientizados sobre como confrontar seus limites e respeitar os do próximo, sabendo que a violência não é sinônimo de superação.

Considerações finais

    Com esse breve estudo, podemos refletir sobre a propagação midiática do UFC com enfoque nas influencias que o mesmo pode levar ao contexto escolar, e como é importante trabalhar o conteúdo lutas de uma forma pedagógica, possibilitando ao aluno uma construção crítica e reflexiva sobre as lutas dentro da educação física.

    O professor não necessita ser um treinador ou especialista em determinada luta, mas é necessário que o mesmo busque, desde sua formação, ampliar e atualizar seus conhecimentos para que assim possa nas aulas trabalhar o conteúdo desde seu contexto histórico, suas filosofias e sua pratica propriamente dita. As lutas como manifestação cultural de diversas sociedades apresentam varias formas e modelos cabem ao professor propiciar a seus alunos além desses conhecimentos teóricos as práticas desses movimentos, novos movimentos e até então desconhecidos, enriquecendo seus conhecimentos e sua cultura corporal.

    O não uso da violência não é o que presenciamos no UFC, porém devemos propiciar aos alunos a verdadeira essência das lutas, dialogando claro e refletindo sobre o que estar presente na sociedade e não há como nega lá. No contexto educacional deve se valorizar a vivencia das diversas formas de expressões corporais, seja no sentido de aprendizado das técnicas ou de forma livre e lúdica, porém sempre agregando valores e significados a tais práticas e prezando o respeito, contribuindo no aprendizado e na formação.

Nota

  1. Família Gracie: tradicional família brasileira que ficou conhecida através de Helio Gracie, o mais novo dos oito filhos de Gastão e Cesalina Gracie, que foi apresentado ao Jiu-Jitsu Japonês pelo seu irmão Carlos Gracie (discípulo de Conde Koma, que foi discípulo direto do Jigoro Kano), e este criou um estilo próprio para o Jiu-Jitsu, o Jiu-Jitsu Brasileiro. Para mais informações sobre a família Gracie ler o livro: AWI, F. Filho teu não foge à luta: como os lutadores brasileiros transformaram o MMA em um fenômeno mundial. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.

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