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História da Dança de Salão no Brasil: Santa Catarina do século XIX

Historia del Baile de Salón en Brasil: Santa Catarina en el siglo XIX

History of Ballroom Dancing in Brazil: 19th century Santa Catarina

 

Mestre em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná

Especialista em Educação, Instituto Brasileiro de Pós-graduação e Extensão

Licenciada em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná

Maristela Zamoner

maristela.zamoner@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          No século XVIII houve no Brasil vida social intensa e florescimento cultural em várias regiões. No contexto das Danças de Baile há registros da prática de Minuetos, Contradanças e inclusive a primeira Dança de Salão, a Valsa, especificamente constatada em Santa Catarina no ano de 1787. Já a história da Dança de Salão no século XIX de Santa Catarina permanece pouco conhecida, desta forma, objetivou-se visitar este período e local por meio da leitura de periódicos da época, intentando reconhecer características da inserção da dança nesta sociedade. Notou-se que ao longo do século XIX as danças estiveram consideravelmente imersas nas práticas sociais e culturais em Santa Catarina. Os teatros traziam anúncios de suas apresentações, havia oferta de produtos relacionados às Danças de Baile e vários artigos a traziam em suas temáticas. O ensino das Danças de Baile ocorria em instituições de ensino formal, em sociedades e de forma independente, tendo sido identificados o nome de José da Costa e Oliveira como professor de dança e o de José Maria Martins Leoni como professor de música e talvez de dança. O exemplo do que se verificou em outros estados brasileiros, a Valsa foi a dança constatada mais vezes nos textos analisados, indicando ser, provavelmente, a Dança de Baile mais dançada neste século e local.

          Unitermos: Dança de Salão. Santa Catarina. História.

 

Abstract

          In the eighteenth century in Brazil there was intense social life and cultural development in several regions. In the context of prom dances there are records of the practice of Minuets, Contradance and also the first Ballroom Dance - the Waltz -, specifically found in Santa Catarina in the year 1787. However the history of Ballroom Dance in the nineteenth century in Santa Catarina remains poorly known, in that way we aimed to visit this time and place through the reading of periodicals of the time, attempting to recognize the dance insertion characteristics into this society. It was noticed that throughout the nineteenth century dances were pretty immersed in social and cultural practices in Santa Catarina. The theaters brought announcements of their presentations, there were product offerings related to the prom dances and several articles had them as the main subject. The teaching of Ballroom Dances took place in formal educational institutions, in societies and independently, having identified the name of José da Costa e Oliveira as a dance teacher and José Maria Martins Leoni as music teacher and maybe also a dance teacher. Similar to what was found in other Brazilian states, Waltz was mentioned more frequently in the analyzed texts indicating that it is probably the prom dance that was danced most in this century and location.

          Keywords: Ballroom Dancing. Santa Catarina. History.

 

Recepção: 20/10/2015 - Aceitação: 29/11/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 211, Diciembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No século XVIII houve no Brasil vida social intensa e florescimento cultural em várias regiões. No contexto das Danças de Baile há registros da prática de danças como Minuetos, Contradanças e inclusive a primeira Dança de Salão, a Valsa, especificamente constatada em Santa Catarina (Zamoner, 2013).

    Brito (1829), em referência à Capitania de Santa Catarina, registra sobre determinadas mulheres: Civilizadas são dotadas de muita urbanidade, de maneiras dóceis, e meigas; são inclinadas aos divertimentos, sabem cantar, tocar algum instrumento de cordas, e dançar, e não se observa nelas aquella bizonhice, que se encontra nas mulheres de outras Capitanias do Brasil. Na mesma publicação é mencionado o ano de 1787, quando teria ocorrido um baile promovido pelo Governador João Alberto de Miranda Ribeiro, no qual houvera a prática de Minuetes, Contradanças e Valsas.

    A história da Dança de Salão no século XIX de Santa Catarina permanece pouco conhecida. Objetiva-se, portanto, visitar este período e local por meio da leitura de periódicos da época, intentando reconhecer características da inserção da dança nesta sociedade.

Metodologia

    Os periódicos pesquisados foram aqueles constantes no acervo da Hemeroteca Digital Brasileira, obtidos pela busca filtrada por “Santa Catarina”, produzidos no século XIX. Esta pesquisa foi procedida com os periódicos disponibilizados até janeiro de 2015.

    A metodologia seguiu o padrão utilizado por Zamoner (2014a):

    Todos os periódicos elencados foram acessados procedendo-se a busca pelo unitermo “dança”. Registraram-se os totais de suas ocorrências e a natureza de cada uma delas.

    Os periódicos obtidos foram tabelados adicionando dados do intervalo de anos em que foram produzidos, quantidades de ocorrências do unitermo “dança” e de professores neles identificados. Os nomes de professores foram tabelados separadamente, com o ano em que apareceram, periódico, e, quando identificado, o endereço em que as aulas foram ofertadas.

    De forma complementar, para efeito de confronto de informações, foram consultados periódicos do século XIX produzidos em outras localidades brasileiras. (2014a).

Resultados

    Os resultados mostraram-se compatíveis com o que foi relatado em Zamoner (2014a, b) no que diz respeito ao estado do material de pesquisa e ao uso dos filtros disponibilizados pela Hemeroteca Digital Brasileira.

    Foram encontrados 45 periódicos de Santa Catarina produzidos no século XIX abrangendo o intervalo de tempo entre 1829 e 1900.

    As buscas nos periódicos trouxeram 1006 apontamentos do unitermo “dança”, sendo que 35 corresponderam a palavras semelhantes ao unitermo de busca.

Professores de Dança

    No ano de 1850 “O Novo Iris” publica anúncios de José da Costa e Oliveira, ofertando lições de dança, a exemplo do que segue.

    José da Costa e Oliveira, participa aos Senhores Pais de familia que continua a dar lições de dança, tanto a meninas como a meninos, pelo modico preço de 2$000 réis mensaes. As pessoas que se quiserem utilizar de seu prestimo, queirão dirijir-se a sua caza rua da palma, no voltar a praia de fóra.

    Em 1861, “O Argos da Provincia de Santa Catharina” publica pequenos anúncios de aulas, incluindo a dança, sob o título “Paraiso Desterrense”, um clube musical, com o texto que segue: Dão-se lições de musica, canto, piano, rabeca, flauta e dansa, por preços commodos; quem pretender queira entender-se com José M. M. Leoni. O mesmo anúncio é publicado no periódico “O Mercantil”, também em 1861, entretanto, citando o nome completo de “José Maria Martins Leoni”.

    No “Diccionario bibliográfico portuguez: A-Z”, de Innocencio Francisco da Silva, Brito Aranha, José Joaquim Gomez de Brito, Alvaro Neves e Ernesto Soares, publicado em 1860 pela Imprensa Nacional, consta, na página 41 a nota que segue.

    JOSÉ MARIA MARTINS LEONI, Musico de profissão, e de cuja biografia não pude achar mais noticia. – E.

    4210) Principios de Musica theorica e pratica, para instrucção da mocidade portugueza. Lisboa, na Imp. Regia 1833. 4º de 50 pag., com oito estampas. – O auctor promettia a continuação, que todavia não chegou, que me consta, a dar á luz.

    Conforme esta bibliografia é possível concluir que José Maria Martins Leoni foi português e deve ter vindo para o Brasil trabalhar com o ensino de música e, talvez, dança.

    Já o Dicionário Biográfico Caravelas publicado pelo Núcleo de Estudos da História da Música Luso-Brasileira, de 2012, apresenta mais informações sobre José Maria, como segue.

    LEONI, José Maria Martins (Lisboa, 28/07/1821 ou 18241 - ?,?) (fl. 1821-1863)

    Chegou em Desterro (atual Florianópolis) em 1850 onde se dividiu entre as atividades de comerciante, compositor, regente e professor de piano, canto, flauta e rabeca.

    No ano seguinte iniciou sua atividade como professor abrindo um curso de canto e piano, lecionando também a domicílio, em colégios e em sua residência.

    Teve frequentes participações em associações religiosas de Desterro (...)

    Foi um dos personagens que abriu novos espaços para a prática no âmbito profano. (...) Em 1853, conjuntamente com outros sócios, organizou a sociedade de baile Recreio Catharinense9 e em 1861 fundou a Sociedade de Música e Dança Paraíso Desterrense a qual primava pelo ensino de música (canto, piano, rabeca, flauta e dança) e a realização de bailes.

    O texto encerra com uma ressalva sobre o fato de que deve ter existido outro compositor português com o mesmo nome, que se acredita ter vivido na primeira metade do século XIX.

    O mesmo nome é o que assina publicações sobre a sociedade musical Paraiso Desterrense constatadas nesta pesquisa promovendo eventos dançantes. Estes anúncios, entretanto, não permitem que se tenha certeza se José Maria foi professor ou administrador das aulas de dança. De qualquer forma, teve papel destacado como fundador de sociedades de dança que promoviam suas aulas, como é possível notar no periódico “O Mercantil”, de 1861.

    Felicitamos ao Sr Leoni por ter emprehendido um verdadeiro melhoramento de civilisação para esta cidade; e esperamos que terá o devido apoio das famílias para a sua empreza, e que emfim consiguirá tornar entre nós permanente uma instituição, em que uma vez ao mez as nossas familias tenham uma noite de util e proficua distracção.

    A casa que o Sr. Leoni tem disposto para este fim, e que tomou por arrendamento de quatro annos, é muito apropriada, porque alem de um bello salão de proporções acusticas para a musica, offerece todas as commodidades para a dansa, sala de leitura, salas de jogo carteado e toilettes.

    Fazemos votos pelo prospero desenvolvimento de uma tal empreza.

Dança no ensino formal

    Algumas instituições de ensino formal fizeram anúncios em periódicos de Santa Catarina no século XIX, citando a oferta do ensino de dança: Collegio Conceição (1872), Collegio de meninas - diretora Sra. Baroneza de Geslin (1873), Atheneu (1874).

    Em 26 de março do ano de 1872 o “Collegio Conceição” publica, no periódico “A Regeneração”, anúncios de suas aulas informando os valores pagos por disciplinas isoladas. Nestes anúncios nota-se que a dança, citada em último lugar, é a disciplina de menor valor: piano e música: 6$000; desenho: 4$000; dança: 2$000. Este anúncio é repetido várias vezes em edições posteriores do mesmo periódico.

    Neste mesmo ano de 1872, no dia 13 de abril, o periódico “O Despertador”” publica “Estatutos” do “Collegio da Conceição”, mostrando que poderia haver uma tendência a se conceber professores de dança de forma diferente, ao ponto de sentir-se a necessidade de uma especificação como foi registrado: Art. 6.o Serão pagas em separado as aulas de alemão, desenho e musica instrumental, a razão de oito mil réis mensaes, e a de dança por cinco mil réis.

    “A Regeneração” em 1873 publica vários anúncios de uma instituição de ensino regular, sob a direção da “Sra. Baroneza de Geslin”, no qual constam os valores pagos mensalmente por cada disciplina não obrigatória, revelando que a dança, posicionada em último lugar no texto, está entre as menos valorizadas: línguas estrangeiras: 8$000; Piano: 10$000; Canto: 10$000; Desenho: 8$000; Dança: 8$000.

Artigos, notas e outros textos

    “O Correio Catharinense” de 1852 publica um longo artigo intitulado “As moças”, contendo um trecho dedicado a dança, como segue.

    Este ultimo caso estamos vendo todos os dias nesses bailes e funções modernas, onde vão certas moças tolas, e muito sabidas, que dão escandalo querendo preferir pares na dansa, uma por ser o Sr. fuão bacharel, outra por que tem cazaca acolchoada, para faser cintura de gosto; outro por que é militar e por estas considerações faltam a palavra a rapazes serios e bem comportados, a quem promettem acompanhar na dansa: e ahi temos portanto o odio desenvolvido entre os queixosos, e o descredito entre ellas, apezar de que algumas nada sentem, porque tem visto casarem-se outras que ainda fiseram peior!. .mas nem sempre os homens estarão de humor a faserem papel de basbaqnes.

    Em 1861, “O Argos da Provincia de Santa Catharina” publica um artigo extenso intitulado “A dança”, abordando aspectos históricos e sociais, sendo que determinado trecho refere-se às Danças de Baile, como segue.

    Presentemente já não é assim, e quando a dança teatral faz ali cada dia mais maravilhosos progressos, a dança intima, a dança da sociedade e da boa companhia, se enfraquece e não conserva encanto algum. As alegres contradanças onde as mulheres e os homens em outro tempo, desenvolviam tanto ligeireza e graça nos elegantes e cadenciosos passos, não são hoje mais do que um ajeitamento symetrico de pares de individuos de ambos os sexos, que vao e veem sobre o assoalho como automatos, sem animação alguma.

    Entre nós a dança é absolutamente a mesma, que entre francezes, visto que é da França que nos vem o que devemos fazer a semelhante respeito disse já alguem. Felizmente resta-nos ainda a walsa e a schottisch, unicas e verdadeiras danças dos salões do nosso tempo. Mas, a que aniquiladora critica não se sujeita aquelle que, ou por occupar tal ou qual posição social, ou por haver passado os vinte annos, se anima a walsar ou schotisar em pelno baile nosso?

    Entretanto nenhum exercicio e mais salutar a saude, e nem fortifica melhor o corpo e torna felxiveis os membros e da graça aos movimentos. Juntando o exemplo ao preceito que acabamos de expor, um dos mais distinctos medicos da Inglaterra, o Dr. Mead, partidario declarado deste divertimento gynastico, dançava ainda na idade de 70 annos; e tomava as suas lições com o famoso Dupré, afim, dizia elle, de contrabalançar por este meio a funesta influencia do trabalho do gabinete.

    Nós conhecemos um respeitavel velho que dançava aos 85 annos de idade, e quando alguem ria se por isto, ele respondia como Socrates, que tinha aprendido a dançar com Aspasia: <<O senhor ri-se por me vêr dançar? mereço acaso ser ridicularisado por fazer um exercicio tão necessario a minha saude?>> Elle tinha razão.

    “O Despertador” traz um artigo de cunho político em 1867, que segundo o próprio periódico seria do “Correio Mercantil”, no qual se recorre a dança para diferenciar um progressista de um conservador. O trecho com este conteúdo pode ser lido a seguir.

    Quereis conhecer ainda o progressista e o conservador?

    Estudai os em um baile.

    O primeiro, leviano e indiscreto, a primeira phrase que dirige á dama com quem dansa, em falta de materia para conversação, é logo uma inconveniencia; - pergunta-lhe que idade tem.

    O segundo, collocado em identicas circumstancias, ou cala-se, ou disserta sobre o calor.

    No ano de 1873 o periódico “A Regeneração” publica um texto intitulado “A dansa”, através do qual é possível perceber preocupações relacionadas a esta prática neste momento histórico desta localidade.

    Dansar é gosar; gosar é sentir; sentir é viver. Donde se deduz, que viver é dansar.

    Por isso é que se diz, sem duvida, que este mundo é um fandango, e que quem não faz por dansar é tolo. De modo que posso dizer pe foi amente: Eu danso: logo vivo.

    Dansa-se muito, ou o que é o mesmo dediam-nos todos ao namoro, porque Terpsicore é o nomen tutelar dos namorados. Nesta deidade mythologica so deve a maior parte dos casamentos

    Porem nem sempre quem dansa goza. Dansem lá com uma velha de 60 annos, e comprehenderão o alcance das nossas palavras,

    Em tal caso dansar é representar um papel ridículo. E fazer isto equivale a fastiar-se a aborrecer-se.

    Provamos por meio de um syllogismo mais ou menos engenhoso que dansar é viver. Por isso repetem-se as reuniões e é sabido que em todas ellas se dansa. Basta para isso que estejão reunidos varios homens e mulheres, e que haja a mão um piano, embora mãe.

    Todos sabem que a dansa concede illimitados direitos ao coração, e que todos vamos pressurosos fazer uso desses direitos. A escrupulos mamãi não vê inconveniente algum em deixar sua filha nos braços de um homem, a quem as vezes nem sequer conhece.

    A pundorosa donzela consente que lhe estreitem a cintura sem oppôr a menor resistencia, e ouve sem incomodar-se as mais ousadas declarações de amor. O timido frangote aborda sem vacillar o doce objecto de sua paixão, e com ella se atira á dansa, disposto a... a tudo, leitor, a tudo.

    Dansar é namorar e perder tempo. Se o tempo é dinheiro, a dansa é esbanjamento.

    Porém dansando, as moças costumão pescar maridos ou, por outra forma, o homem perde a sua liberdade, dançando. Da dansa á igreja só um passo. Verdade seja que é um máu passo.

    Aprender a dansar, é aprender a approximar se da mulher. Quem não dansa não tem direito de estreitar nos braços a mulher a quem ama, porque a dansa desculpa esse atrevimento.

    E como encurta as distancias, ficão os corações em completa intelligencia; de onde se conclue que a dança é altamente perigosa para a sociedade. Póde-se dizer que é a pedra do toque da virtude. No meio da multidão que dansa, a casta donzela acha-se só com o amante, que sopra-lhe nos ouvidos palavras envenenadas, que perturbão-lhe o espírito e transvião lhe a razão.

    E a... porém não, não sigamos por esse caminho.

    Desgraçadamente a paixão da dança domina a todos, e as nossas palavras não produzirão o mais pequeno effeito.

    No ano de 1878, “A Regeneração” publica um texto de literatura intitulado “Dosia”, publicado em capítulos e no capítulo XVIII lê-se o trecho que segue: -A dança é uma perdição, continuou Dosia com gravidade imperturbável, temos a prova disso todos os dias. Esta é a razão pela qual o conde Platão não dansa (...)

    Em 1880 o periódico “A Verdade” publica um artigo que foi constatado em vários jornais de diferentes localidades brasileiras do século XIX, intitulado “As mulheres feias”, abordando o comportamento do marido da “mulher feia” incentivando a dança da esposa nos bailes e o da “mulher bonita”, no sentido contrário.

    No ano de 1882 “O Despertador” publica um artigo contendo um questionamento a educadores cujas opiniões, ao que se pode entender, são contrárias à prática da dança, como se percebe no trecho que segue.

    Em summa, a dansa teve seguidores em todos os tempos e em todos os paizes, e ainda hoje, referindo-nos ás mais populares, faz a tarantella a delicia dos napolitanos, os bolores, e o fandango a dos hespanhóes, a mazurca e a krakoviana e outras, a dos povos do norte da Europa.

    Será a dansa prejudicial como querem certos educadores? Quando é exercida no campo, em pleno ar, pelos camponeses, ou ainda parcamente nas salas pelos que as costumam frequentar – não. Neste caso até a hygiene e a bôa educação a recomendam, porque excita o systema muscular, accelera a respiração e a circulação, e imprime a toda a economia mais atividade.

    Nos grandes bailes onde o calor asphyxia mais do que n’uma estufa, o ar que a respira é viciado, dansando-se o cotillon ou a valsa até se exhaurirem as forças – sim. Não haverá medico que não reprove a dansa tocando este excesso.

    A defesa pela prática da dança é tomada novamente no periódico “O Despertador” em 1883, num artigo intitulado “Uma noite de soirée”. Na sequência são disponibilizados alguns trechos que permitem a percepção desta defesa.

    Dizem alguns casmurros que o tempo que se gasta dansando, é tempo perdido, porque a dansa não aproveita para cousa alguma; dizem outros que observar um salão de baile, é o mesmo que vêr uma casa de loucos, porque é uma verdadeira loucura andar uma porção de senhoras e homens a fazer differentes figuras pelo meio da casa, andando para traz e para diante, etc.

    ...

    A dansa, meus amigos, é tão antiga, quanto o homem; segundo a tradicção, o primeiro dansador foi o nosso pai Adão, e se vós vos pronunciaes contra a dansa, é unicamente porque sois ignorantes e pobres d’espirito, achaaes-vos deslocados num salão, e se por acaso vos obrigam a tomar um par, ficaes embaraçados, sem saber que dizer á dama, senão – Está muito calor hoje – ella responde – é verdade -, e fica nisto.

    Neste mundo, tudo dansa, e é de suppôr que nos outros seja a mesma cousa. [...] como querem, pois, Srs. Moralistas, que nós não dansemos?

    “O Despertador” publica em 1883 um artigo que conforme a própria publicação consta em “Cornhill Magazine”, de Londres, que versa sobre as danças portuguesas, e alguns trechos tecem alguns comparativos com conhecidas Danças de Baile, como é possível constatar.

    As suas danças têm o cunho da sua origem e da sua educação. Dançam uma especie de giga, que os faz parecer um pouco abusados; dançam um bolero (?), e nessa ocasião são verdadeiramente interessantes.

    Na dança portuguesa nada é frio e convencional como acontece com a quadrilha moderna, ou positivo como o minuete, ou simplório como a polka hungara, ou grotesco e indecoroso como essa dança que quase se póde considerar a dança nacional dos franceses.

    Os portuguezes, sob o ponto de vista em que os estamos considerando, não são nada ridiculos quando fórmam um circulo, executando uma dança que é o meio termo entre uma giga e um reel (dansa escossez).

    Os seus boleros por outro lado, são simples, naturaes e repletos de expressão. Esta expressão é a da mocidade e da saude, e dessa exuberancia de satisfação que acompanha a mocidade, a saude e a reacção que se sente com o repouso em seguida ao trabalho. Confesso que estas danças nem sempre são, nem mesmo muitas vezes, graciosas – porque nós, que escrevemos ou lêmos livros, criticos miseraveis como somos, nós elevamo-nos a um ideal muito mais alto, em comparação da graça do movimento, ideal que aprendemos nos theatros e com as dançarinas profissionaes. E, em contraposição, essa pobre gente são individuos acostumados ao trabalho insano, com os musculos contrahidos pelo lidar, de costas encurvadas á força de conduzir grandes pesos. A lavoura e a dança graciosa não se dão bem reunidas.

    Ainda em 1883 “O Despertador” dedica mais um texto à dança, sob o título “A walsa”, registra o que segue.

    A walsa é uma dança allemã e é dividida em tres passos bem elegantes e d’um caracter alegre e amavel: pois que, conforme as obras de Brams’schen Werken do seculo XII intitulava-se ella Wiener Walzer, e foi dançada pela primeira vez em Vienna, fazendo as delicias da corte de Wiener, Herschaft.

    Dizem as obras de Brams’schen Werken: - Estas peças de musica escrevem-se nos seguintes compassos – 3/4 e 3/8 -. Para extinguir a simplicidade e engamentar a perfeição da walsa para mais scenas de dança, fizeram os grandes mestres da escola de Vienna, como Strauss, Laner, Gung’l e Lampitzky voar diversas melodias, uma após outras, communicando-as com uma Códa no final.

    Portanto, nasceu a walsa na Allemanha e não na França.

    Seria um pedantismo dizer-se que a walsa nasceu em França, quando de lá nos vem o celebre can-can, e da Allemanha a linda walsa; pois que os velhos portugueses intitulavam a de Walsa Vianna, o que quer dizer – Wiener Walzer!

    Geralmente, o typo que não sabe walsar, dança galopp por walsa e diz: - <<que bôa walsa inglesa!>> (que tal não ha). E’ muito bôa esta!...

    Free – Life.

    “A Regeneração”, em 1885, publica um artigo dedicado à educação que inicia dizendo já ter sido demonstrada a igualdade intelectual entre homens e mulheres, portanto, agora seria a vez da igualdade de instrução, defendendo escolas mistas. E determinado trecho aborda-se a dança: “Pensa que não se deve desprezar a gymnastica ao ar livre e a dança, que fortificam o corpo e dão graça natural ao movimentos”. Esta citação mostra que a dança, neste momento, é vista de forma próxima a ginástica (Educação Física), posto que a música é citada separadamente e na mesma frase do desenho.

    No mesmo ano de 1885 “A Regeneração” publica também uma notícia de que uma moça teria falecido enquanto dançava uma valsa e a causa foi atribuída a um espartilho muito apertado.

    Em 1885, o “Conservador” publica na coluna “Folhetim”, do autor Julio Cesar Machado, textos de literatura sob o título “PASSEIOS E PHANTASIAS AMAR ENGANANDO-SE” e em seu capítulo IV lê-se trechos como os que seguem.

    O que o senhor vê é que tenho os olhos azues, e o cabello castanho; isso não prova que não tenha máu genio, que não seja inconstante e perfida! Todas as meninas são encantadoras n’um baile, por que a dança torna meigas as mais resistentes!

    Claudina ajudou sua ama a levantar-se, um pouco fatigada, ou antes entorpecida pelas proezas do baile, porque Terpsychore que tanto prostra os homens, não conseguia ainda cançar verdadeiramente uma senhora, tanto este sexo encantador e leve é destinado á dança!

    O “Conservador”, em 1887, publica um romance em capítulos, “A vergonha que mata”, de Amédée Acharo, com tradução de Lopo de Souza e novamente a dança aparece em alguns trechos, como segue.

    Pois ainda se dança? – perguntou Fernando Clavel.

    Saiba, senhor sabio, que se dança e ha de se dançar-se sempre; mesmo quando já não houver Instituto. A dança é muito mais util do que a chimica.

    São duas horas da madrugada. Agora que os sons do cravo e das rabecas, a luz, a dança, o calor e as flores tem produzido o seu effeito, agora que os homens, attrahidos pelo olhar fascinador das elegantes fayalenses, já se atrevem afinal a romper a linha de separação que os estremava do bello sexo (...)

    Ao final do século XIX, nota-se uma aproximação da concepção de dança como uma atividade física, distanciando-se da Arte. Um artigo publicado em 1889 no periódico “Conservador”, intitulado “Materia de hygiene”, no sub-título “Exercicio e movimentos”, aborda a dança, como segue: A dança, quando realisada segundo os preceitos dos mestres, traz vantagens reaes, porque determina movimento de ordem diversas á grande número de musculos.

Anúncios

    Em 1861 o periódico “A Estrella” publica um anuncio destinado a vender vestidos para baile na “Loja de José Feliciano”. Outros anúncios da mesma loja são publicados posteriormente informando que os vestidos são “ultimamente chegados da corte”.

    “O Argos da Provincia de Santa Catharina” publica em 1861 um anúncio de fuga de escravo que cita a dança como um dos atributos de identificação. SABINO, côr preta, mais para fula, [...] toca viola, canta e dansa, é bastante fallador. Pertence a Domingos Luiz Simões, [...] e gratifica generosamente a quem o capturar e levar a sua casa, ou participar onde estiver para o mandar buscar.

Sociedades de dança

    As sociedades encontradas na pesquisa ofertando eventos para prática de dança nos periódicos catarinenses do século XIX foram: Club Catharinense (1859), Paraiso Desterrense (1861), Instituto Musical (1861), Sociedade de dança União (1862), O Paraiso (1862), Club Euterpe 4 de março (1873-1875), Philharmonica Commercial (1876), Club Quatro de Março (1879), Club 12 de agosto (1880), Sociedade Harmonia – Joinville (1880), Club Familiar Diabo a Quatro (1883), Fraternal Beneficente (1884), Club Germanico (1888).

    Em 1861, “O Argos da Provincia de Santa Catharina” publica pequenos anúncios de aulas sob o título “Paraiso Desterrense”, um clube musical, com o texto que segue: Dão-se lições de musica, canto, piano, rabeca, flauta e dansa, por preços commodos; quem pretender queira entender-se com José M. M. Leoni.

    No ano seguinte, em 29 de maio de 1862, “O Mercantil” publica um artigo intitulado “A liberdade do cidadão no Brasil”, com diversas críticas e uma delas recai sobre a mudança de regra sobre a abertura de sociedades de dança.

    A lei bancaria do Sr. Ferraz estendeu sua perniciosa acção sobre todas as associações. Ninguem se póde associar para um fim qualquer, para uma sociedade de musica, de dansa ou de jantares, que não seja obrigado a pedir previamente o consentimento ao governo!

    Entretanto, em 10 de agosto de 1862, lê-se no periódico “O Pacaja” a nota que segue.

    Sob os melhores auspicios a caba de ser fundada uma nova sociedade de dança denominada União.

    A que ja tinhamos o Paraiso continua ainda, e dá esperanças de engrandecimento futuro.

    Estamos em maré de sociedades. Ainda bem que parece ir desenvolvendo-se entre nós o espirito de associação.

    Algumas sociedades de dança promoviam eventos dançantes e também cênicos, como pode-se constatar no anúncio que segue, publicado em 1883 no periódico “A Regeneração”: CLUB FAMILIAR Excede a cincoenta o numero de socios da sociedade – Diabo a Quatro, - inscriptos para organisarem aquelle club, afim de proporcionar partidas mensaes de dansa ou espetaculos no Theatro Santa Izabel.

Espetáculos

    No ano de 1853 “O Correio Catharinense” anuncia no “Theatro S. Pedro de Alcantara” a “Companhia Gymnastica Franceza” e um espetáculo que conta com um número de dança sobre corda já na primeira parte, executado pelo jovem “Felix” e por “M.le. Affosine”. Consta no anúncio que Felix dançará sobre a corda vendado e dentro de um saco. O mesmo espetáculo traria na quarta parte uma dança alemã executada por “Mr. Hanaulth”, sobre pernas de pau. O periódico anuncia ainda em 1853, no mesmo teatro, um espetáculo de franceses que traria no quinto número da segunda parte “A dansa electrica”.

    Em 1860, “O Argos da Provincia de Santa Catharina” publica uma nota intitulada “Espetaculo” na qual consta que houve a apresentação de uma comédia que terminou com uma “dança à chineza”. Ainda em 1860 este periódico publica um anúncio intitulado “Cosmorama Panotico ou Viagens de Illusão”, informando que haverá uma apresentação na qual constará, em seu número 10, “Dansa dos Negros, em Madagascar”. A palavra “cosmorama" remete a uma apresentação de imagens ou quadros, por meio de um aparelho de projeção.

    “O Argos da Provincia de Santa Catharina” publica em 1861 anúncios sob o título “Circo Gymnastico”, segundo os quais haveria apresentação, no sexto número da segunda parte do espetáculo, de “Dansa com botas e esporas”. No mesmo ano, “O Livro Negro” publica sob o título “Circo Mercador” uma listagem de seus artistas e entre eles, está o mestre de dança, artista em sortes de autos entre outras habilidades, “Manoel Botija Pendica”.

    Ainda no ano de 1861, “O Mercantil” publica um anúncio informando que no “Theatro S. P. D’Alcantara”, a companhia “dos Bouffes Parisienses” fará uma apresentação cuja primeira parte conta com um dueto de dança executado pela “Sra. Pauline Lyon e o Sr. D’hot”.

    Em 1863 “O Mercantil” publica um anúncio, “Theatro Associação Dramatica beneficio do actor Eduardo Alvares da Silva” informando a ocorrência de um espetáculo que se encerrará com a senhora D. Bernardina, representará uma comédia com música e dança.

    O “Theatro de Santa Izabel” anuncia em 1877 uma “Companhia Americanda de Variedades”, dirigida pelo “Sr. M. W. Comsett”, cujo espetáculo divulgado tem “Miss Lizzie Stemple”, identificada como bailarina, apresentando danças denominadas “Seipping Hope Jeg” (dita de sua invenção) e “Dança Polaca”.

    “A Regeneração” publica anúncios em 1878, informando que no “Theatro Santa Izabel” a Companhia Dramática dirigida por Dias Braga trará uma representação que conta com números de canto e dança, sem especificar sua natureza.

    O “Club Quatro de Março” publica em 1879 no periódico “O Despertador”, o programa de seu concerto trimestral que fora apresentado no sábado anterior. Conforme a programação publicada, apresentou-se “Dansa cubana (habanera)”, e após o concerto houve baile.

    A “Gazeta de Joinville” publica em 1880 um anúncio da Sociedade Harmonia, informando que haverá em 18 de julho “CONCERTO, THEATRO E BAILE”, sendo que a comédia apresentada tem um personagem de nome “Charles Faucon” que é um mestre de dança.

    Anúncios de apresentações cênicas de cunho circense, publicados no periódico “A Regeneração”, em 1883, informam que um dos números será: “FRICASSE’, dansa jocosa, pelos meninos Fernandez”.

    O “Conservador” anuncia em 1885 um espetáculo que foi divulgado em várias localidades brasileiras, intitulado “O Periquito”. Neste espetáculo há um personagem de nome Lucas que é um mestre de dança, desempenhado pelo ator Martins. No mesmo espetáculo consta que seria apresentado “o famoso TANGO e a belíssima WALSA”.

    Em 1886 “A Regeneração” anuncia que no “Theatro Santa Izabel” será apresentada uma opereta com a atriz portuguesa Pepa, e entre os personagens há uma professora de dança, “Florinda Mello”, representada pela citada atriz.

    Em 1888 “A Regeneração” publica uma pequena nota sobre um espetáculo de canto e dança em que “D. Raphaela Monteiro” teria cantado enquanto dançava tocando castanholas. Ainda em 1888 o mesmo periódico anuncia no “Theatro S. Pedro” uma comédia de 2 atos, “O Casamento de Clarinha Angu’ (Parodia à Mme. Angú)”, que contaria com música e dança.

    A exemplo do que ocorria em outras localidades brasileiras e mesmo no exterior, em Santa Catarina também ocorreram bailes em teatros, o que pode ser constatado em anúncios como o que foi publicado em 1884, no periódico “Conservador”.

    Sahiu-se d’esta vez a <<Fraternal Beneficente>>

    E’ assim que, logo, à noite, teremos o prazer de enfrentar o theatro Santa Izabel com a trindade – chapa – moças, flores e luzes, preferindo nòs as primeiras por serem perfumosas como as flores, deslumbrantes como as luzes e boas... como ellas mesmas.

    Temos dança.

    Pois, dancemos.

    O “Conservador” publica, em 1885, um anúncio diferente, informando que a “Companhia Zoologica” apresentará em um armazém números realizados por macacos, incluindo dança na corda.

Danças

    Em 1856, “O Argos da Provincia de Santa Catharina” publica na coluna “Folhetim”, textos de literatura sob o título “Sofia ou a donzélla Hussard” e em seu capítulo VIII lê-se o trecho que segue.

    Na walsa amorosa, os dous amantes sentirão mutuamente palpitar seus corações, e a côr do prazer colerar suas faces, seus olhos exprimião tudo que sentia seu coração...

    Sim, eu tenho sentido mais que uma vez; e esta dança encantadora não foi inventada pelas graças se não para os amantes felizes....

    No ano de 1869 o periódico “A Regeneração”, edição 133, publica um informe sobre um concerto “A’ benefício do pianista brasileiro Juvenal de Sampaio”, cujo programa conta, em seu número 5 da primeira parte com: “Pelo beneficiado um Tango, dança caracteristica de Havana, composição do beneficiado, intitulada A Catharinense”.

    Em 1870, “O Despertador” publica uma pequena nota sobre uma dança paraguaia que se dança em bailes, como segue: - Tem adquirido muita popularidade a dansa La Palomita (paraguaya) que já se dansa nos bailes. Por toda a parte já se houve tocal-a; foi introduzida pelo batalhão 39.o de voluntários.

    “A Regeneração”, em 1881 faz referência ao Cotilon em um texto intitulado “Baile brazileiro em Pariz”, permitindo uma percepção do que seria esta dança.

    Erão mais de 2 horas da madrugada quando o Dr. Vieira Monteiro, que é tão diligente addido de legação como brilhante gentelman, deu signal do cotillon. Eu adoro esta dansa, em que a walsa languida e requebrada alterna com as alegres polkas e lindas redowas, esgotando todas as figuras possiveis e todos os accessorios indispensaveis, que fazem sobresahir as melodias da orchestra e a imaginação do director do cotillon.

    Em 1884 o periódico “A Regeneração” dedica um texto completo à valsa, desde o seu título “A walsa”.

    A walsa

    A walsa é uma dança allemã e é de um caracter alegre e amavel: pois que conforme asobras de <<Brams’schen Werken>> do XII seculo intitulava-se ella de <<Wiener Walser e foi dançada pela primeira vez em Vienna, fazendo as delicias da Corte, de Wiener Herschaft.

    Dizem as obras de Brams’schen Werken: -Estas peças de musicas escrevem-se nos seguintes compassos: - 3/4 ou 3/8.

    Para extinguir a simplicidade e aumentar a perfeição da walsa para mais scenas de dança, fizeram os grandes maestrosda escola de Vienna (Strauss, Lanner, Gungl e Lampitzky,) voar diversas melodias uma apoz d’outras, communicando-as com uma Coda no final.

    A dança franceza é – Quadrille, la Polonaise e Mazurke; chamavão de Volta.

    Walsa é uma dança allemã.

    Desterro, 26 de Julho de 1884.

    W.

    Em 1889, o “Conservador” faz referência a dança Polka ao noticiar que no porto de Santos navios vindos de Santa Catarina estariam em quarentena devido a febre escarlatina.

    Diz-se que em Santos fazem quarentena os navios de nossa procedencia, por causa da febre escarlatina, que aqui està dizimando horrivelmente a população!!!

    Longe vá o agouro.

    Senhores, o que nós temos aqui é a Maria Ignacia...

    Não conhecem?

    Pois a Maria Ignacia è a Polka, uma dansa, que se apodera de nós, causando-nos dôr de cabeça, corpo moido, dôr na barriga das pernas e nas cadeiras, tudo isto acompanhado de uma dose de febre regular, que não mata, mas amolla.

    Um sudorifico e dois purgantes de sal – eis quantum satis para debellar o mal, uma verdadeira brincadeira, como se vê, inoffensiva, acarretando apenas o inconveniente de nos conservar de cama por alguns dias.

    Suspendei, por conseguinte a vossa quarentena, si è que a tendes.

    A Polka é uma dansa, senhores, e á estão com ella mais de mil pessoas sem que o obituário tenha augmentado.

    Nós não temos escarlatina.

    Ao longo das leituras citaram-se outros tipos de dança como: “dança dos velhos” (1857), “dança marítima” (1857), “dança de mascarados” (1857).

    A dança constatada mais vezes durante a leitura dos textos envolvendo a palavra “dança” nos periódicos foi a Valsa. Em seguida, nesta ordem: Quadrilha, Polka, Cotilon, Schottisch, Bolero, Fandango, Cancan, Minuete, Mazurka, Habanera, Giga, Contradança, Lundu, Tango, Galopes, Redowa, Caxuxa, Miudinho e Cracoviana.

    Na última década do século XIX, Tango, aparentemente, era aceito como música e dança pois eram vendidas suas partituras musicais. O anúncio mais recorrente ao longo de alguns anos apresentava o seguinte texto: Ai! Ai que Dores! Tango para piano de Rodrigues da Cruz, à venda na livraria e papelaria de Firmo & Tarquinio. O periódico República publica em 1893 um texto sobre um evento de homenagem a um tenente, promovido por senhoras da sociedade, em que uma banda de menores aprendizes teria tocado para o público um tango de nome Arauna. O Tango, que chega a constar ora como dança espanhola ora como dança característica de Havana, era tocado por bandas militares, em teatros e em sociedades ao final deste século, juntamente com Valsas, Quadrilhas e Polkas. Também foi encontrado como parte de poesias referenciando-o como dança, em uma delas, como sendo engraçada (1898 – ed. 5 Republica).

Conclusões

    Ao longo do século XIX as danças estiveram consideravelmente imersas nas práticas culturais em Santa Catarina. Os teatros traziam anúncios de suas apresentações e o ensino das Danças de Baile ocorriam de forma independente, em instituições de ensino formal e em sociedades. Havia oferta de produtos relacionados as Danças de Baile e vários artigos a traziam em suas temáticas. A exemplo do que se verificou em outros estados, a Valsa foi a dança constatada mais vezes nos textos analisados, indicando ser, provavelmente, a Dança de Baile mais dançada neste século e local.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 211 | Buenos Aires, Diciembre de 2015
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