efdeportes.com

Comemorações do ciclo junino no contexto escolar: 

resgate cultural junto ao subprojeto PIBID 2015

Las fiestas del ciclo de junio en el contexto escolar: rescate cultural por el subproyecto PIBID 2015

Comemorations of june cycle in the school context: cultural rescue in subproject PIBID 2015

 

*Acadêmico do Curso de Educação Física, bolsista do PIBID

da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Santa Catarina

**Professora coordenadora do PIBID, no Curso de Educação Física

da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Santa Catarina

***Professor supervisor do PIBID, no Curso de Educação Física

da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Santa Catarina

(Brasil)

Samile Pizzi*

Camila Cecília Vieira Peres de Macedo*

Priscila Luana Pimentel*

Adrian Cardoso*

Willian Rhoden Scheuermann*

Elisabeth Baretta**

Leoberto Ricardo Grigollo***

samile.pizzi@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: O resgate de elementos tradicionais que remetem ao passado, de uma cultura simples relacionada à lavoura, ao campo, a colheita, as fogueiras e aos cultos religiosos em agradecimentos aos santos, ao som de ritmos e danças típicas conhecidas como quadrilhas, quando inseridos no contexto escolar, faz com que o ciclo de comemorações juninas transcenda o caráter de culto do regionalismo, para torna-se conteúdo multidisciplinar da ampla e híbrida cultura popular brasileira. Objetivo: Estimular o resgate cultural na escola por meio das comemorações do ciclo junino. Método: Os alunos do Ensino Fundamental nos anos iniciais e finais, ou seja, de 1° ao 9° ano, durante as aulas de Educação Física, participaram e contribuíram com o processo de criação da quadrilha junina, típica dança dos festejos, desde a escolha do repertório, que continha músicas características nordestinas, e, das coreografias que foram sendo construídas ao longo dos ensaios, sugerindo formações, figuras e evoluções. As aulas foram supervisionadas pelo professor, e, conduzidas pelos cinco bolsistas do subprojeto do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) na Escola Municipal São Francisco, no município de Luzerna, SC. Resultados: Ao trabalhar com a dança relacionada a um componente de resgate cultural, a evolução individual e o trabalho coletivo devem ser considerados, e, possível de ser observado nas criações e sugestões coreográficas. A assimilação das intervenções e do conhecimento adquirido com as aulas de dança e de abordagem cultural foi identificada na riqueza dos detalhes da caracterização e das vestimentas, assim como na apresentação artística final, que contou com a participação de 446 alunos, dos 520 que a escola possui entre o 1° e o 9º ano. Conclusão: O caráter inclusivo da dança, a respeitabilidade pelos limites corporais e pelas habilidades de cada um, o trabalho em grupo que proporcionava debates criativos, foram notórios na evolução de cada um, ainda que, cada aluno tenha tempos diferentes de assimilações e comprometimento com as atividades. Foi possível apontar positiva e significativamente a mudança de atitudes dada aos estímulos proporcionados e ao enriquecimento de conteúdo trabalhado no resgate da cultura popular brasileira. Os alunos foram participativos e ativos em todo o processo criativo, e contribuíram assiduamente para o êxito artístico da festividade.

          Unitermos: Cultura. Dança. Aprendizagem. Ensino.

 

Abstract

          Introduction: the rescue of traditional elements that refer to the past, and a simple culture related to agriculture, the farm, the harvest, the bonfires and religious cults in thanks to the saints, to the rhythm and dances known as groups, when inserted in the school context, causes the cycle June celebrations transcends the culture character of regionalism, to become multidisciplinary content of the hybrid Brazilian popular culture. Objective: To encourage the cultural rescue in school through the celebrations of cycle June. Method: The students of first to ninth grade, during physical education classes, participated and contributed to the process of creating the quadrilha junina, typical dance of the festivities, from the choice of repertoire, which contained Northeastern music features, and the choreographies that have been built over the trials, suggesting formations, figures and developments. Classes were supervised by the teacher, and conducted by the five academics of subproject of the Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), at public school municipal São Francisco, in Luzerna, SC. Results: When working with dance, related to a cultural rescue component, personal development and collective work must be considered, and can be seen in creations and choreographic suggestions. The assimilation of interventions and knowledge gained from dance classes and cultural approach was identified in the richness of details of the characterization and clothing, as well as the artistic final presentation, which had the participation of 446 students, of the 520 what the school has between the first and the ninth grade. Conclusion: The inclusive nature of dance, respecting by bodily limits and the skills of each group work that provided creative discussions were notorious in the evolution of each, though, each student has different times of assimilation and commitment to activities. It was possible to identify positively and significantly changing attitudes given to the stimulus provided and the enrichment of content worked in the rescue of Brazilian popular culture. Students were participatory and active throughout the creative process, and contributed assiduously to the artistic success of the festival.

          Keywords: Culture. Dancing. Learning. Teaching.

 

Recepção: 02/10/2015 - Aceitação: 07/12/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 211, Diciembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Com variações regionais infindas no equidistante território brasileiro, o ciclo junino traz consigo a origem européia e o caráter de comemorações religiosas, apresentado às terras tupis pelos padres jesuítas, no século XVI. Os festejos prolongam-se pelo mês de junho, tendo seu início na véspera do dia de Santo Antônio e findando com as comemorações alusivas a São Pedro. Exaltando o mastro dos três padroeiros e de rico conteúdo estético, as comemorações foram prontamente aceitas e inseridas na cultura popular brasileira, tornando-se parte da identidade híbrida do país (Montes, 1998; Chianca, 2007).

    Embora os festejos juninos compreendam características de festa religiosa, a cultura contemporânea procurou ressignificar os rituais com uma expressão próxima ao laicismo e sendo mais popular, conservando essências de caracteres espontâneos, genuínos, originais, bem como aos vínculos peculiares e de identidade da cultura nordestina, inclusive a presença dessa religiosidade nas práticas festivas e quotidianas da população. Com isso, cria-se uma reelaboração imaginária do regionalismo e da cultura local, em que, as comemorações em reverência a Santo Antônio, São João e São Pedro, trazem consigo elementos como a fogueira, os fogos de artifício, as quadrilhas de danças, o ritmo musical do forró e seus instrumentos característicos, e, as comidas e bebidas típicas da época (Chianca, 2007; Morigi, 2002; Nóbrega, 2010).

    Os elementos tradicionais remetem ao passado, ao resgate de uma cultura simplória, relacionada à lavoura, à colheita, às fogueiras e às novenas religiosas em agradecimento aos santos. A quadrilha é considerada a dança típica da festa junina, e tem característica do ciclo das contradanças, em que os casais coordenadamente seguem uma narrativa acompanhada de música, e que, geralmente, reproduz um casamento interiorano (Morigi, 2002; Chianca, 2007).

    Inserir no contexto escolar o ciclo de comemorações juninas significa proporcionar ao aluno a aprendizagem multicultural, ampla e híbrida da cultura popular brasileira, trazendo o lúdico como forma de adesão à participação dos alunos. É o caso da experiência obtida pelo subprojeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), destinada ao incentivo, à valorização, à qualificação e ao desenvolvimento docente, que tem como objetivo inserir acadêmicos dos cursos de Licenciatura na vivência do contexto escolar de instituições de ensino público, que proporcionou aos alunos o resgate da cultura popular dos festejos juninos, por meio da dança que, traz o universo artístico e educativo que justifica sua presença na escola como agente transformador e, reflete suas práticas no quotidiano dos alunos.

    A Escola Municipal São Francisco, localizada geograficamente no Meio Oeste catarinense, na cidade de Luzerna, SC, Brasil, possui 520 alunos no Ensino Fundamental Anos Iniciais e Finais, ou seja, de 1° ao 9° ano, é contemplada pela iniciativa governamental, e conta com cinco bolsistas atuantes do Curso de Educação Física, da Universidade do Oeste de Santa Catarina, campus Joaçaba, SC, Brasil, que desenvolvem as mais variadas atividades durante o ano. É o caso das atividades comemorativas ao ciclo junino, uma vez que, no calendário institucional, anualmente, está prevista a realização da festa junina da escola, que conta com a participação de alunos, pais e professores, bem como, de toda a comunidade. Para tanto, alunos e professores assumem a responsabilidade da preparação e organização do evento, que se inicia com considerável antecedência a data festiva.

    A dança é um instrumento que proporciona ao aluno distintas possibilidades de assimilar e conhecer contextos (Santos e Figueiredo, 2003), e, inserir no ambiente escolar por meio da Educação Física, é extremamente possível e exitoso, uma vez que, a dança é um dos conteúdos abordados pela disciplina. Com isso, ao trazer para o contexto escolar o resgate das festividades regionais brasileiras, objetiva-se de forma lúdica, ampliar o conhecimento dos alunos acerca da diversidade cultural, bem como, proporcionar a vivência desta tradição, e, concomitantemente, abordar conteúdos como dança, expressão corporal, inseridos na Educação Física, como também explorar e instigar a criatividade, a participação e inserção dos alunos nas atividades propostas.

Método

    A atual abordagem é resultante das atividades propostas pelo PIBID, no resgate das festividades juninas no contexto escolar e, a variabilidade de conteúdos contemplados pela riqueza de características da manifestação cultural do ciclo junino.

    Durante as aulas de Educação Física os alunos do Ensino Fundamental (anos iniciais e finais), totalizando 446 alunos, participaram e contribuíram com o processo de criação da quadrilha junina, típica dança dos festejos. Os alunos participaram ativamente, desde a escolha do repertório, que continha músicas características nordestinas, e, das coreografias que foram sendo construídas ao longo dos ensaios, sugerindo formações, figuras e evoluções.

Fotografia 1. Ensaio da quadrilha junina. Alunos do oitavo ano da Escola Municipal São Francisco, Joaçaba, SC, Brasil (2015). Fonte: os autores

    Os ensaios iniciaram com 45 dias de antecedência à data em que a comemoração estava programada, e eram realizados nos horários destinados às aulas de Educação Física, sendo duas aulas semanais. Destarte, necessário se fez uma abordagem sobre origem, história, características regionais, do ciclo junino, desconhecido para alguns alunos e, por outros, conhecido empiricamente. Para que houvesse uma compreensão do que seria trabalhado nas aulas, e que, a essência cultural fosse mantida, fez-se necessária a intervenção que proporcionou o conhecimento aos alunos.

    Para a criação das coreografias foram observadas as formações, mantidas as figuras tradicionais, as músicas com ritmo, instrumentos e a letra característicos, as vestimentas remetendo ao simplório, ao rústico e ao matuto, e, o linguajar nada rebuscado. Os alunos eram constantemente instigados a conhecer a cultura popular nordestina, nascente das tradições juninas, e que, no Sul do Brasil, possui aspectos um tanto diferenciados, mas alusivos e análogos às comemorações tradicionais.

    As quadrilhas foram formadas consoante os anos escolares, e, quando necessários, aglutinadas duas turmas, devido ao número de alunos necessário para a formação coreográfica dos pares, como foi o caso dos sétimos e oitavos anos. Optou-se por pares no intuito de manter as características do ciclo das contradanças, em que, a coreografia é conjunta e os independentes um dos outros, entretanto, os pares não obedeciam ao caráter heterogêneo, em que um dos alunos é do sexo masculino e outro do sexo feminino, e sim, foram formados pares homogêneos, com ambos do mesmo sexo, objetivando incluir todos os alunos da turma na coreografia.

Resultados e discussão

    A Escola Municipal São Francisco, Luzerna, SC, possui no Ensino Fundamental Anos Iniciais e Finais, 520 alunos, sendo que, 446 alunos participaram do processo de criação, desenvolvimento de 20 apresentações artísticas.

    Ao trabalhar com a dança, relacionada a um componente de resgate cultural, aspectos importantes devem ser considerados, como a evolução individual e o trabalho coletivo, possível de ser observado nas criações e sugestões coreográficas, em que, quando determinado aluno não conseguia realizar algum elemento coreográfico, intervenções sugeriam novos passos e o elemento era modificado para que todos conseguissem desenvolvê-lo. Ressalta-se com isso, o caráter inclusivo da dança, ou seja, a dança como gerador de inclusão, fazendo com que todos aprendam e reaprendam e que haja evolução, expressando-se, verbalizando e atuando de maneira crítica e criativa, e principalmente, que não haja coibição ou negligência de potencialidades. A essência de contribuir para a manifestação livre, para a construção da autonomia e do conhecimento, precisa ser preservada (Santos e Figueiredo, 2003).

    Evoluções foram percebidas desde o primeiro momento em que os alunos começaram a trabalhar a temática dos festejos juninos. A timidez foi o principal entrave de alguns alunos nas primeiras aulas. Mas que, sendo trabalhados e compreendendo o contexto da dança junina, como resgate cultural e as suas peculiaridades, foram deixando de lado os olhares cabisbaixos e inserindo-se caracterizadamente na dança. A contribuição de alunos que possuem habilidade com a dança foi imprescindível, também, para a inclusão dos demais alunos. A intenção de cooperar com a construção coreográfica, despertou nos alunos autonomia e comprometimento, procurando, a todo o momento, estimular os colegas a participar.

Fotografia 2. Apresentação artística nos festejos juninos

da Escola Municipal São Francisco, Joaçaba, SC, Brasil (2015)

 

Fotografia 3

 

Fotografia 4

 

Fotografia 5

Fonte: os autores

    A dança permite transformar as aulas de Educação Física em um campo de diversas experiências com o corpo humano, com o movimento, e, também, como um vasto campo de resgate histórico, cultural e social do ser humano (Santos e Figueiredo, 2003), possível de ser observado com o decorrer das aulas, em que os alunos já identificavam elementos peculiares juninos, e assumiam posturas e linguajar característicos durante os ensaios, principalmente ao entoar as canções do repertório nordestino. A assimilação das intervenções e do conhecimento adquirido com as aulas de dança e de abordagem cultural foi identificada na riqueza dos detalhes da caracterização e das vestimentas, assim como com a ornamentação do local, no dia da comemoração junina da escola.

    Ao inserir a dança no contexto escolar, priorizam-se os processos pedagógicos em seus processos e produtos, que, são fundamentais para compreender a prática de maneira com que respeite os limites do corpo e a liberdade de expressão dos alunos, considerando sempre a humanização, a inclusão, a ludicidade, os princípios artísticos e as diversas estéticas (Santos e Figueiredo, 2003).

    O estímulo da criatividade a partir de conceitos pré-existentes de uma cultura, de criar, de modificar, de evoluir, proporciona ao aluno um aprendizado que transcende o conteúdo trabalhado pela dança, e passa a figurar no universo de contribuição da formação do cidadão, do conhecimento, da ampliação de valores e de criticidade em diferentes situações que lhes são impostas, bem como, do discernimento como aporte para tomadas de decisões e de autonomia.

Conclusões

    Proporcionar aos alunos contato com o hibridismo das manifestações populares brasileiras, aproximando-os da cultura que não lhes é quotidiana, apresentando elementos que não lhes são comuns, e, inserindo-os no processo de construção e criação, a partir de elementos culturais, de coreografias, de caracterizações, de desempenhos artísticos relacionados ao ciclo de festejos juninos, faz com que o aluno explore sua criatividade e amplie seus horizontes de conhecimento.

    O caráter inclusivo da dança, a respeitabilidade pelos limites corporais e pelas habilidades de cada um, o trabalho em grupo que proporcionava debates criativos, foram notórios na evolução de cada um, ainda que, cada aluno tenha tempos diferentes de assimilações e comprometimento com as atividades. Foi possível apontar positivamente a mudança de atitudes dada aos estímulos proporcionados e ao enriquecimento de conteúdo trabalhado no resgate da cultura popular brasileira, posto que, os alunos foram participativos e ativos em todo o processo criativo, e contribuíram assiduamente para o êxito artístico da festividade.

Bibliografia

  • Chianca, L. (2007). Devoção e diversão: expressões contemporâneas de festas e santos católicos. Revista Anthropológicas, ano 11, v.18, pp. 49-74.

  • Montes, M. L. (1998). Entre o arcaico e o pós-moderno: heranças barrocas e a cultura da festa na construção da identidade brasileira. Revista Sexta-feira, n.2, São Paulo.

  • Morigi, V. (2002). Festa junina: hibridismo cultural. Cadernos de Estudos Sociais, vol.18, n.2, Recife, pp. 251-266.

  • Nóbrega, Z. (2010). A festa do maior São João do mundo: dimensões culturais da festa junina na cidade de Campina Grande. Tese (doutorado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, Salvador.

  • Santos, R. C.; Figueiredo, V. M. C. (2003). Dança e inclusão no contexto escolar, um diálogo possível. Pensar a Prática, 6, pp. 107-116.

Outros artigos em Portugués

www.efdeportes.com/

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 211 | Buenos Aires, Diciembre de 2015
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados