Atividades de aventura nas aulas de Educação Física: possibilidades e barreiras Actividades de aventura en clases de Educación Física: posibilidades y obstáculos |
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*Licenciada em Educação Física pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz Pós-Graduada em Metodologia da Educação Física e Esporte pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz **Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física da UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus/BA |
Letícia Leal Brito* Alexander Klein Tahara** (Brasil) |
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Resumo Este estudo teve como objetivo principal descobrir as possibilidades de intervenção com as atividades de aventura como conteúdo das aulas de Educação Física Escolar, conhecendo as principais barreiras que impedem tal inserção. A obtenção dos dados ocorreu através da aplicação de um questionário aberto com quatro questões, sendo que os participantes foram quarenta professores de Educação Física que participaram de um curso de pós graduação (nível de especialização) realizada por uma Universidade Estadual da Bahia. Pode-se perceber que há possibilidades de inserir o conteúdo proposto, pois além da região onde ocorreu a pesquisa possuir espaços alternativos como praias, rios e corredeiras, também se faz necessário um despertar para novos olhares, produzir novos conhecimentos, possibilitando que os alunos conheçam através de novos conteúdos (Atividades de Aventura) e despertem para a consciência com o meio natural. Entretanto, vários são as barreiras e obstáculos que impedem tal inserção, tais como dificuldades em conseguir a formação continuada, a precária infraestrutura das escolas, falta de apoio da Direção, dos professores e dos pais, pouca quantidade de materiais para uso nas aulas, questões ligadas à segurança, entre outros. Unitermos: Atividade de Aventura. Educação Física. Escola.
Resumen Este estudio tuvo como objetivo descubrir las posibilidades de intervención con las actividades de aventura como el contenido de las clases de Educación Física, teniendo en cuenta los principales obstáculos para dicha integración. La recolección de datos se realizó a través de la aplicación de un cuestionario con cuatro preguntas abiertas, y los participantes fueron cuarenta profesores de Educación Física que participaron en un curso de postgrado (especialización) realizado de una Universidad del Estado de Bahía. Se puede ver que hay posibilidades de llevar a cabo el contenido propuesto, porque más allá de la región donde la investigación tiene espacios alternativos tales como playas, ríos y rápidos, también es necesario un despertar de nuevas miradas para producir nuevos conocimientos, permitiendo a los estudiantes conocer a través de nuevos contenidos (Aventura) y despertar a la conciencia con el medio natural. Sin embargo, hay varias barreras y obstáculos para dicha integración, tales como dificultades en el logro de la educación continua, la deficiente infraestructura de las escuelas, la falta de apoyo de la dirección, profesores y padres, una pequeña cantidad de materiales para su uso en clase, cuestiones relativa a la seguridad, entre otros. Palabras clave: Actividades de Aventura. Educación Física. Escuela.
Recepção: 03/10/2015 - Aceitação: 11/11/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 211, Diciembre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os conteúdos que a Educação Física propõe nas escolas, tais como jogos, danças, esportes e lutas dão subsídios para uma possível formação centrada em um no ser humano mais autônomo e crítico. A Educação Física busca elementos para construir uma prática pedagógica não mais centrada no exercitar por si só, mas na aquisição de novos conhecimentos relacionados às manifestações da Cultura Corporal de Movimento.
Como nos alerta Rangel-Betti (1999), considerando que a Educação Física brasileira tenha passado em meados da década de 80, por uma fase de despertar para novas concepções e entendimentos, pode-se considerar que os anos 90 tenha se caracterizado pela consolidação de muitas propostas e projetos de diferentes concepções pedagógicas. Cada período corresponde à predominância de determinada concepção pedagógica, sendo que diversas propostas surgiram como tentativas de auxiliar o professor no processo educativo, dando mais clareza em relação aos objetivos da área.
“O conteúdo da Educação Física não muda, está inserido no jogo, esporte, ginástica, dança e lutas, o que se pode chamar de Cultura Corporal de Movimento, ou simplesmente Cultura Corporal. O que muda são as formas de concebê-lo e ensiná-lo; estas sim, quase não são conhecidas dos professores.” (Rangel-Betti, 1999, p.38).
Diante disso, ao entender que novos conteúdos devem ser ensinados/transmitidos aos alunos nas aulas de Educação Física escolar, Franco (2008), Auricchio (2009), Alves e Corsino (2013), entre outros, entendem que ao sugerir que as atividades de aventura sejam instrumentalizadas como ferramentas de intervenção nas propostas pedagógicas em Educação Física Escolar, pode-se oferecer uma nova estratégia metodológica para o cenário da Educação Física na atualidade.
Betrán e Betrán (2006) apresentam as AFAN (Atividades Físicas de Aventura na Natureza) em três âmbitos distintos de atuação: o turístico-recreativo, rendimento-competição, e o educativo-pedagógico. Neste último, os autores dizem que as AFAN possuem um grande valor educativo, pois insere nos alunos o contato com meio natural, gerando a conscientização e sensibilização na Educação Ambiental, entre outros aspectos positivos.
É importante ressaltar que nos dias atuais milhares de pessoas estabelecem direta ou indiretamente algumas relações com essa prática social das atividades de aventura, seja praticando diretamente junto ao meio natural ou contemplando através dos meios de comunicação em massa, até mesmo simplesmente consumindo produtos a elas oferecidos.
Nessa perspectiva, almeja-se que as Atividades de Aventura possam ser reconhecidas e apontadas também em meio educacional, devido à sua potencialidade enquanto instrumento pedagógico, assumindo um caráter interdisciplinar, com vivências e oportunidades em aulas que possibilitem um contato ou um repensar acerca de elementos ligados à natureza.
Algumas inquietações fizeram-se presentes: por que as atividades de aventura não entram como conteúdo nas escolas? Será que os alunos estão tendo acesso a diferentes informações que lhes permitem escolher as atividades físicas fora daquelas esportivas historicamente utilizadas na escola? Até que ponto a falta de materiais e de infraestrutura podem ser impedimento para implantar conteúdos diferentes dos tradicionais? A possibilidade de ter conhecido alguma disciplina ligada ao contexto da Aventura durante a formação do professor contribui para a atual aplicabilidade na Escola?
Nesse intuito, esta pesquisa buscou descobrir junto a professores que atuam na área, as possibilidades e as barreiras/ obstáculos relacionados à intervenção com as Atividades de Aventura como um conteúdo das aulas de Educação Física escolar.
Metodologia
Natureza da pesquisa
Optou-se por uma pesquisa descritiva direta de caráter qualitativo, sendo que a importância e característica deste tipo de pesquisa como cita Mattos, Rosseto Jr e Blecher (2004), está em observar, registrar, analisar, descrever e correlacionar os fatos ou fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir com precisão a freqüência em que o fenômeno ocorre e sua relação com outros fatores.
Participantes
Os participantes da pesquisa foram quarenta (40) professores de Educação Física escolar da região da Costa da Cacau/BA, os quais participaram de um curso de pós-graduação (nível de especialização) em uma Universidade Estadual da Bahia, sendo 16 homens e 24 mulheres, com faixa-etária de 22 a 56 anos com variação entre um a vinte e oito anos de tempo de formados na área.
Esse detalhe mostra que muitos participantes da pesquisa não tiveram em sua formação alguma disciplina ligada as Atividades de Aventura, pois as mesmas passaram a ser oferecidas nas Instituições da região cacaueira há menos de 10 anos. Ademais, ressalta-se que a maioria dos participantes da pesquisa (n=35) se formaram em Educação Física em Instituições da referida região baiana.
Instrumento para coleta dos dados
Foi escolhido um questionário aberto contendo quatro questões para coleta das informações junto aos professores. O roteiro constou das seguintes questões: 1) Em sua formação, você teve em seu currículo acadêmico alguma disciplina ligada as Atividades de Aventura? Qual disciplina estaria interligada a esse conteúdo e de que forma esse conteúdo foi abordado? 2) Você utiliza ou já utilizou desse conteúdo em suas aulas de Educação Física?De que forma? 3) Quais as barreiras que o impedem de inserir as Atividades de Aventura na Escola em que leciona? 4) Após o módulo realizado, quais as perspectivas que você identifica para aplicar tais conteúdos nas aulas de Educação Física Escolar?
De acordo com Mattos, Rosseto Jr. e Blecher (2004), no questionário são fixados temas em certa ordem, com perguntas que permitem ao pesquisado dar respostas dando sua opinião em variadas dimensões, para que a mesma tenha maiores possibilidades de obter respostas diferenciadas.
Procedimentos
Foi apresentado aos professores o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido – TCLE, como forma de obter licença e autorização para o desenvolvimento da pesquisa, no sentido de que a mesma passasse por procedimentos éticos.
Para obtenção do levantamento dos dados foi aplicado um questionário com quatro perguntas abertas, e para que tal aplicação ocorresse em um momento descontraído, ocorreu logo após a prática da canoagem ao final do módulo da especialização. Assim, após todos os professores terem vivenciado a prática da modalidade aquática, foi então aplicado o questionário para a obtenção dos dados.
Análises dos dados
A análise dos dados foi de forma descritiva, utilizando a Análise de Conteúdo Temático, que é importante porque seleciona as informações mais relevantes, a fim de reuni-las em grupos, de acordo com o objeto da investigação.
As respostas foram analisadas de acordo a quantidade de respostas iguais ou semelhantes entre si, para que dessa forma houvesse uma homogeneidade entre as opiniões acerca do assunto abordado.
Para a tabulação e visualização dos dados foi utilizada tabelas, onde as respostas foram agrupadas em categoria semelhantes, com número de respostas e porcentagens.
Resultados e discussão
Os resultados indicam que, em relação ao perfil dos participantes da pesquisa o tempo de graduado é bem variável, entre um a vinte e oito anos de formado, sendo na sua maioria professores que trabalham em escolas públicas e privadas da região da Costa do Cacau - BA. Essa característica da variabilidade de tempo de graduados indica que 65% dos sujeitos (n=26) não tiveram em sua formação alguma disciplina ligada as Atividades de Aventura, já que esse conteúdo é explorado recentemente por algumas Instituições da região.
Caldeira (2001) destaca a importância de garantir na formação inicial, uma proposta curricular que permita ao futuro docente aprender a refletir sobre seu processo de aprendiz e analisar as práticas escolares possíveis. Comenta que é fundamental incluir momentos de reflexão nos projetos de formação do professorado uma vez que a reflexão não se dá de maneira espontânea, nem exclusivamente com o referencial da própria prática.
Na tabela 1 podemos perceber que mesmo os professores que vivenciaram algum tipo de Atividade de Aventura durante sua formação (n=14; 35% do total), a maioria ainda não abordou esse tema na escola onde trabalha.
Uma vez que 42,86% (n=6) dos participantes tiveram a vivência de alguma forma com as Atividades de Aventura em sua formação, cabe a indagação: por que ainda não se utilizaram dessas informações acadêmicas nos seus planejamentos escolares?
Tabela 1. Abordagem pelos docentes que TIVERAM o conteúdo
das Atividades de Aventura durante a formação universitária
Na opinião de Carvalho e Gonçalves (2007), tem que inovar também em cursos de formação, para que eles possam apropriar das orientações didáticas propostas pelos novos currículos. Pesquisas na área de educação vêm mostrando existência de diferenças marcantes entre o objetivo perseguido pelos estruturadores de currículos e o que os professores realmente levam para a escola.
Segundo Caldeira (2001), por mais completa que seja a formação inicial, é por meio da prática docente reflexiva que o professor continua seu processo de formação na escola em que lecionará, convivendo e obtendo ganhos nas experiências vividas e buscando reflexões acerca do “seu fazer” metodológico.
Nesse contexto das aulas ministradas nas escolas, Franco (2008) descreve que:
“Inseri outras modalidades na escola, como algumas atividades sobre rodas, por exemplo, e pude sentir que o conteúdo Atividades Físicas de Aventura (A.F.A.) é muito bem recebido pelos alunos adolescentes e permite uma ampla gama de possibilidades interdisciplinares, tendo muita chance de sucesso em outras escolas. Entendo que Educação Física está demorando a apropriar-se desse conteúdo tão bem explorado pelos laços do ecoturismo.” (Franco, 2008, p.11).
As Atividades de Aventura também podem ser aplicadas nos meios artificiais na tentativa de evitar os perigos e riscos que existem em determinadas práticas, mas não eliminando as sensações de aventura que a mesma determina. Auricchio (2009) acrescenta que o interesse do professor em criar uma proposta de montar uma parede de boulder (escalada) mais baixa poderá diminuir os riscos, facilitando o acesso a prática e tendo em vista a utilização do conteúdo das atividades de aventura também nos ambientes artificiais.
O mesmo autor aborda a importância dos benefícios físicos e sociais para crianças e adolescentes na inserção da modalidade de escalada como meio de demonstrar a realização, através de idéias criativas, a implantação de novas técnicas e metodologias de ensino aprendizagem nas aulas de Educação Física, desse modo às aulas possuem um clima de descontração, promovendo reeducação psicomotora, desenvolvimento de habilidades, aumento da concentração, etc.
Como demonstra a tabela 2, no que tange aos docentes que não tiveram tais conteúdos abordados em sua formação, percebe-se que mesmo assim, alguns inserem vivências relacionadas a esses conteúdos.
Tabela 2. Abordagem pelos docentes que NÃO tiveram em sua
formação alguma disciplina ligada às Atividades de Aventura
Visualiza-se que 34,62% (n=9) dos professores do estudo ainda não utilizaram dos conteúdos da Atividade de Aventura na escola onde trabalham, sendo somente em forma de trabalho de pesquisa e/ou debates em grupo apontado também por 34,62% (n= 9). Outros 11,54% (n=3) já se utilizaram de caminhadas, passeios e vivência em trilhas.
Percebe-se que o professor pode oferecer diferentes maneiras de abordar o conteúdo das Atividades de Aventura, entretanto a forma como isso poderá acontecer vai depender da sua criatividade, bem como das disponibilidades físicas e materiais da escola onde ministra aulas.
Foi obtido 3,85% (n=1) no que diz respeito às práticas do surfe, canoagem e mountain bike pelo professor P.3, o qual citou ter oferecido em suas aulas, em uma escola particular da região. Relata que procura destacar em sua suas aulas os conhecimentos voltados acerca do histórico do esporte e fundamentos relacionados à prática, para promover uma aula motivada e diferente, desmistificando o risco e utilizando elementos de reflexão e conteúdo desafiadores.
Betrán e Betrán (2006) explicam que o potencial educativo das atividades de aventura é muito extenso e variado, principalmente por que permitem viver situações com diversas experiências motoras de impacto emocional para os seus participantes, além dos valores sociais formativos como a cooperação em grupo, respeito, superação de obstáculos e satisfação pessoal. São experiências carregadas de emoções, percepção de liberdade e sensação de risco sob controle.
Não é intuito de a pesquisa tentar salvar a Educação Física no Brasil através da aplicabilidade do conteúdo das Atividades de Aventura, mas propor que a partir de certas iniciativas algo possa ser modificado, e mesmo que seja a passos lentos a mudança acerca de novos conteúdos pode acontecer nas aulas escolares.
Sobre as barreiras que podem ser encontradas Franco (2008) afirma que:
“As principais dificuldades enfrentadas para que as mudanças sejam efetivadas são: investimento estrutural nas escolas, formação continuada dos professores, valorização do profissional da área, coordenação pedagógica interessada, fiscalização sobre a prática, crenças pessoais e formação acadêmica de qualidade.” (Franco, 2008, p.32).
Tabela 3. Principais barreiras/obstáculos para inserção do conteúdo das Atividades de Aventura na Escola
Em relação à formação continuada (23,21% n=13) os relatos mostram a importância do processo de capacitação durante e após a formação. A maioria dos sujeitos disse que a falta de conhecimento a cerca do assunto é o maior desafiador, pois a falta de conhecimento e o pouco interesse na busca de capacitação individual a cerca do assunto é descrito em algumas respostas, principalmente no que se refere ao desconhecimento docente quanto graduando e falta de pesquisa por parte daqueles que não vivenciaram alguma disciplina interligada as Atividades de Aventura.
De acordo as citações de dois dos professores:
P.2: “Não podemos ensinar o que não sabemos, por isso se faz necessário um conhecimento de causa para que haja segurança para aplicabilidades das atividades.”
P.4: “... temos a necessidade de eleger conteúdos que dominamos e/ou são viáveis em curto prazo.”
Marinho e Inácio (2007) entendem que a crescente demanda em diferentes espaços de atuação exige uma nova postura profissional, capaz de responder qualitativamente o interesse dos seus alunos independente do conteúdo que ele escolha para suas aulas. Acrescentam que entender a relação entre seres humanos e natureza por meio da aventura pode permitir aproximar tal discussão à área da Educação Física, vista como campo do conhecimento privilegiado para as mais diversas intervenções neste segmento em plena emergência.
Outros empecilhos podem ser evidenciados nas falas dos participantes:
P.5: “Através da teoria, ela aconteceu. Mas a principal barreira é o temor e a falta de entendimento da importância dessa vivência por parte dos pais e professores que sempre remetem aos riscos. Porém a inserção de qualquer conteúdo é possível, basta disponibilidade e o querer fazer.”
P.9: “O poder aquisitivo dos alunos, o transporte e principalmente o desconhecimento da unidade escolar acerca do assunto é o que mais impede essa inserção, mas o aspecto conceitual do ensino pode ser trabalhado sem maiores problemas e menos barreiras.”
Em relação às perspectivas de aplicabilidade de tais conteúdos nas suas aulas após cursarem o modulo da especialização, percebe-se que a maioria imagina algo que possa ser feito, como mostra a tabela 4.
Tabela 4. Quais perspectivas cada professor identificou após participação
no módulo para aplicabilidade do conteúdo Aventura nas aulas de Educação Física
A fala de um sujeito da pesquisa ilustra bem tal discussão:
P. 6: “Consegui após o módulo aumentar as perspectivas de aplicação das atividades de aventura nas aulas de Educação Física. Mesmo porque, são conteúdos que proporcionam um amplo campo de adaptações e vários recursos para a questão da interdisciplinaridade”.
Esse depoimento demonstra novas possibilidades para aqueles que acreditavam não conhecer maneiras de oferecer conteúdos voltados para as Atividades de Aventura dentro da escola. Outro professor comentou que:
P.12: “... a tirolesa, o skate, slackline, parkour fazem parte das atividades de aventura, mesmo sendo desenvolvidas em ambiente urbano, é trazer ou levar, na medida do possível esses conteúdos e apresentá-los aos discentes, procurando abordar todas as dimensões. Vale lembrar que, hoje dentro da minha realidade de ensino, não seria impossível, mas viável”.
Declarações como estas mostram que é preciso se valer de uma proposta metodológica diferenciada para se utilizar de outros recursos e oferecer aos alunos o contato com o meio ambiente e a diversidade das vivências de aventura.
Podemos perceber na Tabela 4 que a grande maioria, correspondente a 40% (n=16) responderam que o conteúdo pode ser algo a ser estudado/ pesquisado com outros professores ou adaptado para melhor utilização em sua vida cotidiana na escola, visto que todo conhecimento dividido se torna palpável.
Como comentam os participantes:
P.23: “As perspectivas são razoáveis. Primeiro precisamos fazer um trabalho de sensibilização com os vários segmentos escolares de quão possibilidades podemos desenvolver com essas atividades”.
P.21: “as mudanças são progressivas, porém lentas por que existem fatos que independem da nossa vontade”.
Nessa nova significação atribuída a Educação Física ultrapassa-se a idéia das aulas estarem voltadas apenas para o ensino motor e técnico do chamado “quarteto fantástico”: futsal, handebol, vôlei e basquete. Essa mudança é muito maior que isso, pois cabe ao professor problematizar, interpretar e analisar com seus alunos as amplas manifestações da cultura corporal de movimento, de maneira que estes compreendam os diversos sentidos e significados, por exemplo, das práticas corporais de aventura.
Considerações finais
Compartilhando dessas idéias podemos perceber que qualquer conteúdo que se pretende trabalhar na escola poderá ser utilizado, porém deve-se planejar e conscientizar a todos que participam do corpo escolar para um melhor esclarecimento a cerca do assunto escolhido, seja Atividades de Aventura ou não. A elaboração de um Plano Político Pedagógico que contemplem o conteúdo proposto, seria de grande valia para o enriquecimento nas aulas de Educação Física, seja em forma de Projeto ação ou trabalhos interdisciplinares e na prática pedagógica.
Para que a mudança aconteça o profissional deverá atentar-se para novas práticas esportivas, que buscam além das diferentes manifestações de sentimentos durante a prática, um diálogo com o meio ambiente e a sustentabilidade.
O que reforça mais ainda a idéia de implantação das Atividades de Aventura nas aulas de Educação Física é que a região do Sul da Bahia possibilita a apropriação desses conteúdos, pois existem diversos espaços que favorecem a praticidade, como corredeiras, matas, serras, praias, rios, etc.
As barreiras descritas pelos participantes são de suma importância, pois dão um parâmetro das atitudes que o profissional deve ter caso pretenda trabalhar com o conteúdo da aventura na Educação Física escolar.
Espera-se que os resultados dessa aplicação possam despertar em outros professores a possibilidade de abrir novos horizontes e novos olhares, levando-o a experimentar desse novo conteúdo em suas aulas, produzindo conhecimento para todos que participem, para que assim aumente a significação da Educação Física atual.
Bibliografia
Alves, C. S. R. e Corsino, L. N. O (2013). Parkour como possibilidade para a Educação Física Escolar. Motrivivência, Florianópolis, 25 (41), 247-257.
Auricchio, J. R. (2009). Escalada na Educação Física Escolar. Orientação adequada para a prática segura. Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, 14 (139), dez. Acesso em: 06 maio 2015. http://www.efdeportes.com/efd139/escalada-na-educacao-fisica-escolar.htm
Rangel-Betti, I. C. (1999). Educação Física Escolar: olhares sobre o tempo. Motriz, Rio Claro, 5 (1), 37-39, jun.
Betrán, J. O. e Betrán, A. O. (2006). Proposta Pedagógica para as Atividades Físicas de Aventura na Natureza (AFAN) na Educação Física do Ensino Médio. En A. Marinho e H. T. Bruhns (coord.), Viagens, Lazer e Esporte: o espaço da natureza (pp.180-209). Barueri: Manole.
Carvalho, A., M. S., Gonçalves, M. E. R. (2000). Formação continuada de professores: o vídeo como tecnologia facilitadora da reflexão. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, 111, 71-94, dez.
Caldeira, A. M. S. (2001). A formação de professores de Educação Física: quais saberes e quais habilidades? Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, 22 (3), 87-103, mai.
Franco, L. C. P. (2008). Atividades Físicas de Aventura na Escola: uma proposta pedagógica nas três dimensões do conteúdo. [Dissertação de Mestrado – Programa de Pós Graduação em Educação Física]. Rio Claro (SP): Universidade Estadual Paulista.
Marinho, A., Inácio, H., L., D. (2007). Educação Física, Meio Ambiente e Aventura: diálogos possíveis. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, 28 (3), 55-70, mai.
Mattos, M. G.; Rossetto Júnior, A. J. e Blecher, S. (2004). Teoria e prática da metodologia da pesquisa em Educação Física: construindo sua monografia, artigo científico e projeto de ação. São Paulo: Phorte.
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