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Introdução

    Realizar um mapeamento, independentemente da área do conhecimento, é uma ferramenta eficiente para as pesquisas. Com essa ferramenta é possível contextualizar a produção científica da área, enxergar lacunas que necessitem de embasamento teórico, tendências de investigação e até identificar momentos históricos que podem ter sido representados em alguns dos diversos meios de publicação de pesquisas. Segundo Bracht et al (2011), essa prática na área da Educação Física (EF) tem seu início na década de 80 quando surgem diversos espaços acadêmicos como congressos e periódicos.

    Contudo, é a partir da década de 1990, justamente por conta do surgimento de novos estudos que proporcionaram análises críticas sobre a área da EF, esse quadro começou a mudar. Compreendemos que o surgimento destes novos estudos ocorreu devido ao fim do período de Ditadura Militar no Brasil. Sobre isso Filho (2011, p. 154) afirma:

    Para que possamos, contudo, resgatar os primeiros sinais emitidos no interior da Educação Física na direção do restabelecimento de um debate interrompido abruptamente com o golpe de abril de 1964, temos que viajar de volta no tempo e nos localizar no ano de 1980, quando os ares de uma “abertura política” passaram a soprar, ainda que timidamente, acalentando as esperanças de democratização da sociedade, cujos segmentos sociais, em parcelas cada vez mais significativas, já vinham dando sinais, de insatisfação e cansaço de todos aqueles anos de autoritarismo.

    Houve um crescimento do número de teóricos que se propuseram a realizar essas análises críticas: “O fato é que no início da década de 1990 os estudos sobre a produção do conhecimento em educação física adquiram maior fôlego, com a participação de novos autores, além dos que já vinham pesquisando esta temática” (Falcão, 2007, p. 148). O autor aponta alguns teóricos que se destacaram nessa época e que se propuseram a fazer essa análise critica da produção do conhecimento, dentre estes citamos: Castellani Filho (1988), Soares (1999) e Taffarel (1993).

    Compreendendo que a EF é uma área abrangente e que é necessário compreender os diversos espaços de atuação e pesquisa em que a EF se insere, delimitamos nossa análise no campo da EF escolar. Ainda, dentro das questões que norteiam a Educação Física na escola se desdobram outras questões mais específicas que devem ser identificadas e compreendidas.

    A partir da afinidade e interesse pela EF escolar, além da necessidade de se fazer um mapeamento sobre as discussões nessa área é que surgiu a questão problema que instigou essa pesquisa: Quais as principais discussões sobre a Educação Física Escolar atualmente?

    Compreendendo os limites desta pesquisa delimitamos como objeto de estudo as produções científicas publicadas no CONBRACE (Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte), realizado em 2011 em Porto Alegre, especificamente no GTT (Grupo de Trabalho Temático) referente à Escola. Com isso, desenvolvemos o seguinte objetivo geral: Identificar quais são as principais discussões travadas nas produções do CONBRACE, em específico do GTT-Escola de 2011. Além disso, identificamos quais as principais temáticas tratadas pelos autores, a origem das pesquisas, seus referenciais teóricos e as problemáticas levantadas neste GTT.

Procedimentos da pesquisa

    Esta pesquisa se caracteriza como de caráter bibliográfico, que, segundo Gil (1994), trata-se de pesquisas elaboradas a partir de um material já publicado, como artigos, livros, etc.

    Realizamos uma revisão dos artigos publicados no GTT-Escola do CONBRACE realizado no ano de 2011. Revisamos apenas os artigos da categoria Comunicação Oral deste GTT, somando um total de 34 artigos, por considerar que são trabalhos mais completos e proporcionam um maior aprofundamento das temáticas.

    Escolhemos o GTT-Escola do CONBRACE como nosso objeto de estudo porque esse Congresso é consolidado na área e reúne pesquisadores de todo Brasil. Esse congresso foi um dos primeiros centros de pesquisa da área que surgiram no país na década de 1980, e, desde então, concentra pesquisadores de todo o Brasil.

GTT Escola: as características da produção do conhecimento

    Realizaremos neste tópico uma apresentação dos elementos característicos dos artigos do CONBRACE no que tange a origem das pesquisas, os referenciais teóricos utilizados, as tendências temáticas, e as discussões em torno das problemáticas levantadas.

Origem das pesquisas

    A partir do endereço ou do vínculo com alguma instituição identificamos a origem em que o autor principal de cada artigo reside ou trabalha. Com isso, foi possível identificar quais estados e regiões do país estavam presentes neste Congresso e também a origem das problemáticas discutidas na EF. A partir dos dados obtidos elaboramos o gráfico abaixo para melhor visualização dos resultados:

Gráfico 1. Origem das pesquisas de acordo com os Estados dos autores principais

    Podemos observar que as publicações do GTT analisado tinham origem em quinze estados diferentes. Dessa forma, constatamos que este congresso é de abrangência nacional. Não houve grandes diferenças na quantidade de artigos de um estado para outro. Apenas destacamos o estado de Minas Gerais e Goiás com maior número de publicações neste GTT, somando cinco artigos de cada estado. No entanto, ao organizar os dados segundo a região do país, percebemos que há um maior número de artigos com origem na região sudeste:

Gráfico 2. Origem das pesquisas de acordo com a região dos autores principais

    Apesar de esse congresso ter sido realizado na região sul, havia artigos de todas as regiões. A região sudeste foi responsável por treze dos artigos analisados, ou seja, aproximadamente 38% das produções, seguida da região nordeste com 23%, região centro-oeste com 21%, região sul com 12%, região norte com apenas um artigo ou 3% e temos também um artigo que não informou sua origem.

    Destacamos que a identificação da origem dos autores se torna importante na medida em que podemos utilizar este dado para identificar a origem do problema que o autor aponta. Assim, ao constatar a discussão de certa problemática podemos identificar se ela se expande para mais estados do Brasil ou se é algo específico daquela região.

Referenciais teóricos

    A partir da leitura do conteúdo das pesquisas e das referências utilizadas por cada autor é que identificamos a referência na qual o pensamento do autor se baseou. Apresentamos no gráfico abaixo os referenciais teóricos mais citados nas pesquisas:

Gráfico 3. Referenciais teóricos dos artigos analisados

    Dos 34 artigos analisados, treze (38%) se basearam nestes três autores, sendo que algumas pesquisas utilizavam dois destes autores conjuntamente. O Coletivo de Autores apareceu na maior parte dos artigos (oito artigos), seguido do Eleonor Kunz (cinco artigos) e posteriormente Dermeval Saviani (três artigos). Os demais artigos tinham referenciais variados, ou seja, as referências que apareceram não se repetiam em mais de um artigo diferente.

    Além disso, destacamos que o Coletivo de Autores e Eleonor Kunz também surgiram aleatoriamente nos outros artigos, ou seja, eram citados mesmo nos artigos nos quais não eram a referência principal. Os artigos que utilizaram as referências destes dois autores foram quase todos os treze artigos referidos acima, com exceção de dois artigos que se basearam exclusivamente em Dermeval Saviani.

    Identificamos que estes autores buscam nesses referenciais a superação para diversos problemas da EF, como aqueles que dizem respeito aos conteúdos e metodologias de ensino, bem como para as necessidades de formação crítica ou humana/omnilateral dos alunos. Outro dado interessante é a origem dos autores que utilizaram essas referências. Eles tinham origem em oito estados diferentes, sendo eles: Goiás, Bahia, Mato Grosso, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Sul, Alagoas e Santa Catarina.

As tendências temáticas e suas principais problemáticas

    As tendências temáticas foram identificadas a partir da leitura e análise de todo o fichamento, ou seja, não foram estabelecidas a partir do título, palavras chaves ou resumo, mas das discussões que os autores estabelecem ao longo da apresentação de sua pesquisa. Portanto, as tendências aparecem implícita ou explicitamente nos artigos analisados.

    Organizamos os artigos em 10 categorias diferentes que estão representadas, com as suas respectivas porcentagens, no gráfico a seguir:

Gráfico 4. Tendências temáticas do artigos analisados

    A partir deste gráfico podemos notar que quase metade dos artigos analisados (47% ou dezesseis artigos) traziam discussões sobre o Ensino dos Conteúdos da EF na Escola, seguido de discussões sobre as propostas de ensino em EF (20% ou sete artigos), posteriormente formação e atuação de professores (9% ou três artigos) e propostas de organização escolar (6% ou dois artigos). O restante das categorias conta com apenas um artigo cada (3%).

    Trataremos neste tópico de dois itens: a principal tendência temática das produções neste GTT e as problemáticas e discussões que envolvem esta temática.

    Sobre a temática “Ensino dos Conteúdos da EF na Escola” surgiram diversas discussões. Dentre essas discussões identificamos dois principais assuntos que levavam os autores a dissertar sobre isso: ausência dos conteúdos da EF na escola e trato metodológico com o conteúdo EF na escola.

    Em suas pesquisas os autores constataram, seja pela intervenção pedagógica em alguma escola ou por meio de revisões bibliográficas, que alguns conteúdos específicos da EF não estavam sendo ensinados nas escolas. Os autores se baseavam na afirmação de que a EF trabalha com os elementos da cultura corporal, que são: dança, ginástica, luta, jogo e esporte, e que esses elementos constituem os conteúdos da EF. Sendo assim, nas pesquisas analisadas foi constatada a ausência de conteúdos como ginástica, lutas e atividades na natureza, além de ocasiões em que as aulas de EF estavam servindo como auxiliar de outras disciplinas. Estas questões prejudicam o trato com os conteúdos específicos da EF. Além disso, diversos autores identificaram a priorização de alguns conteúdos, como o esporte, que gera, portanto, a negação do ensino dos outros conteúdos.

    Outra questão é que os artigos que mencionam os problemas com o Ensino dos Conteúdos da EF na Escola têm origem em todo o Brasil e em todas as regiões, sendo que, dentre os quinze estados identificados, apenas os artigos do estado de Alagoas e Santa Catarina não mencionaram esta temática.

    Sobre a priorização do conteúdo esporte adquirimos um dado interessante. Dos dezesseis artigos que discutem a problemática dos conteúdos da EF, treze constataram essa priorização e ainda identificam que o trato com esse conteúdo é exclusivamente técnico. A partir destes dados, podemos compreender melhor o que levou estes autores a discutir os conteúdos específicos da EF, já que hora eles partiam da constatação prévia ou hipótese dessa priorização, e hora a identificavam no campo de pesquisa (escola). Então, com essa constatação, os autores sentiam a necessidade de trazer reflexões sobre o Ensino dos Conteúdos da EF na escola.

    Ocorreram também muitas discussões que envolviam o trato metodológico com os conteúdos da EF nas escolas. Treze artigos mencionam este assunto. Estes artigos se basearam principalmente nas discussões sobre a aplicação de certas teorias metodológicas. Buscamos compreender o porquê destas discussões e constatamos que o tema metodologia de ensino surgia no sentido de solução para os problemas da EF escolar. Esses problemas variavam entre trato com conteúdos, ausência de conteúdos, falta de sistematização de conteúdos, superação da priorização do ensino exclusivo de técnicas e necessidade de reflexão crítica dos alunos em relação aos conteúdos. Para todos estes problemas os autores apontavam prioritariamente a necessidade de aplicação de novas metodologias de ensino. Dentre as metodologias citadas as de maior freqüência foram a Crítico-Superadora e a Crítico-Emancipatória. A partir deste dado podemos compreender melhor o motivo pelo qual os autores dessas metodologias foram a principal base teórica da maioria das pesquisas (quase 40% dos artigos) neste GTT do CONBRACE.

    Além disso, outro ponto relevante é a ligação entre a discussão sobre priorização do conteúdo esporte e as discussões sobre metodologia de ensino. Identificamos que os artigos que discutiram metodologia mencionavam a priorização do conteúdo esporte. Com isso, constatamos que esse assunto também influenciou os autores a tratar das metodologias de ensino da EF, pois, eles afirmam que essas metodologias são a solução para está priorização.

Considerações finais

    A partir dos dados e constatações que obtivemos com a análise dos artigos do CONBRACE, pudemos verificar principalmente quais são as problemáticas levantadas por estes pesquisadores e como estes lidam com elas.

    Acrescenta-se também, que a temática mais discutida (Ensino dos Conteúdos da EF na escola) estava presente em artigos de todas as regiões, ou seja, havia pelo menos um artigo sobre esse tema em cada região do país. Consideramos que esse dado, apesar de se referir apenas à produção científica de um Congresso, pode representar a principal problemática discutida na área e no Brasil neste momento.

    Outrossim, podemos compreender melhor as características e os motivos pelos quais a principal temática discutida foi referente aos conteúdos específicos da EF quando identificamos os demais dados obtidos na pesquisa. As discussões sobre essa temática surgiam quando os autores identificavam (a priori ou posteriormente, no que se refere aos procedimentos das pesquisas) duas problemáticas: a ausência dos conteúdos específicos da EF na escola e problemas no trato metodológico com esses conteúdos.

    A partir disso, identificamos que os autores que discutiam essas problemáticas buscavam a solução para elas nas propostas de ensino da EF. Com isso, ficou claro o motivo pelo qual os principais referenciais teóricos utilizados nas pesquisas foram o Coletivo de Autores e Eleonor Kunz. Isso porque, como já foi afirmado, esses dois autores são responsáveis pelas propostas metodológicas intituladas respectivamente de Crítico-Superadora e Crítico-Emancipatória. Sendo assim, as pesquisas traziam as propostas destes dois autores como solução para os problemas que eles apontavam para a EF escolar.

Bibliografia

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• Severino, A. J. (1996). Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez.

• Soares, C. L. (1999). Educação Física: raízes européias e Brasil. Campinas: Cortez.

• Taffarel, C. N. Z. (1993). A Formação Do Profissional Da Educação: o processo de trabalho pedagógico e o trato com o conhecimento no curso de educação física. [versão eletrônica]. Campinas: Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. Recuperado em 15 de setembro de 2014 de: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000069838.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 210 | Buenos Aires, Noviembre de 2015 Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados