O papel da dança na sexualidade de praticantes do sexo masculino El rol de la danza en la sexualidad de los bailarines de sexo masculino The role of dance in the sexuality of male dancers |
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*Acadêmico do Curso de Licenciatura em Educação Física Centro Universitário La Salle Professor de Dança na Escola Espírito Santo e no Galpão de Artes, Canoas, RS **Doutora em Ensino de Ciências pela Universidade de Burgos, Espanha Professora dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física Centro Universitário La Salle |
Matheus Costa da Silveira* Adriana Marques Toigo** (Brasil) |
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Resumo A dança é uma das mais antigas formas de expressão e apresenta o corpo humano como o meio de exposição. Apesar de todos os efeitos benéficos da prática dessa atividade e da liberdade de atuação dos sexos, tem-se notado o baixo número de homens dançarinos. Este artigo teve como objetivo observar o papel que a dança desempenha na sexualidade de homens praticantes por meio de uma revisão de literatura. Para tanto, foram selecionados livros e artigos de periódicos arbitrados e estudos presentes em bancos de dados específicos. Observou-se que a dança assume o papel de dar liberdade para os corpos masculinos que a praticam, nos âmbitos expressivo e emocional, visto que estes mesmos corpos engessam padrões sociais que os limitam a estereótipos pré-determinados na diferenciação dos corpos masculinos e femininos. Dada a escassez de dados encontrados, verificou-se a necessidade de desenvolvimento de estudos aprofundados. Unitermos: Dança. Sexualidade. Homens.
Abstract Dance is one of the most antique ways to express and show the human body as an exhibition. Besides all the benefits of this practice and the freedom from both sexes, it has been noticed a low quantity of male dancers. This article aims to observe the role that dance plays in men's sexuality with literature review. Thus, books and articles from journals and recent studies from specific data banks. It has been observed that dance represents the role of freedom to male bodies for those who practice, emotional and expressive scopes, since the same bodies are stereotyped by social patterns predetermined by the differentiation of male and female bodies. Due to the lack of source, it has been noticed need of further studies. Keywords: Dancing. Sexuality. Men.
Recepção: 24/09/2015 - Aceitação: 27/10/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 210, Noviembre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A vida, o mundo e o homem manifestam-se por meio do movimento. Dançar é mover-se com ritmo, melodia e harmonia (Vianna, 2008). Consideramos a dança como uma expressão direta e livre do corpo humano, um espaço que permite viver outros personagens e vivenciar momentos de ilusão, onde a vida real vira segundo plano e o meio em que se vive já não coordena e decide os papéis que se deve interpretar.
Para Nanni (2002), o corpo se constitui de diversos fatores, que através da consciência corporal, aprendem e se relacionam consigo e com o mundo exterior. Justifica-se a alusão a este contexto, afirmando que fazemos reflexões no ensino-aprendizagem para a compreensão e apreensão do meio. Percebe-se o corpo como reflexo do meio, que se move para acompanhar a movimentação do mundo à sua volta. Nessa perspectiva, Strazzacappa e Morandi (2011) contextualizam a conexão do corpo, dança e mundo, lembrando que a arte abre espaço para a visão de mundo mais sensível e significativa e que a dança, considerada a mais antiga das linguagens artísticas, não pode ser ignorada dentro da educação.
Dessa forma, pode-se perceber que a dança quando praticada, tem participação no desenvolvimento destes corpos, mas que estes e os meios são desiguais e que ambos sofrem constantes modificações. O corpo da mulher e do homem são biologicamente diferentes, engessam papéis diferentes e falam de formas diferentes para se comunicar. O menor número de homens no universo artístico, mais propriamente na dança, abre questionamentos e oferece espaço para dúvidas sobre dança e sua relação com gênero. Nessa perspectiva, Nanni (2002) apresenta o movimento como universal, questionando as barreiras que aparecem em função do sexo. Coloca também que a sensibilidade em criar, bastante presente neste universo, seja o conceito errôneo determinado pela sociedade como o correspondente das atribuições femininas.
A dança atribui à sua prática o espaço onde os corpos e suas individualidades são colocados para realização dos mesmos passos, uma vez fortes e marcados, outra vez delicados e feminilizados. Neste mesmo lugar, nota-se a arte um tanto quanto formadora destes estereótipos, pois principalmente neste espaço onde o culto é direcionado à expressão do corpo, ao homem são atribuídas às funções de cortejador da mulher, e a esta, o papel da sensibilidade e delicadeza.
Alguns estilos de dança evidenciam maior número de praticantes de algum sexo nas suas aparições, como no Street Dance os homens e no Ballet, as mulheres. Por outro lado, pode-se encontrar estilos de dança que apresentam o homem desempenhando o papel do “ser mulher”, como no Stiletto Dance, subclassificação do Street Dance, onde os bailarinos se movem utilizando sapatos de salto alto e utilizam-se de passos sensuais propositalmente caracterizados como femininos. O homem, a sua masculinidade e todos os padrões engatados à sua sexualidade são colocados à prova quando identificados como bailarinos, pois a dança é, de alguma forma, caracterizada culturalmente. Talvez por isso, seja perceptível a falta ou a quase inexistência destes neste universo, assim como a clareza das dificuldades enfrentadas pelos que assumem o seu interesse por tal atividade, processo este que pode vir a influenciar na permanência destes corpos masculinos na dança.
A escolha do tema deste estudo partiu da busca por respostas aos diversos questionamentos decorrentes da experiência de um dos autores deste texto, durante sua carreira enquanto bailarino e início de prática profissional, quando no passado foi classificado como diferente por ser menino e dançar. Ainda hoje, o autor percebe seus alunos e outros meninos enfrentando as mesmas barreiras para freqüentar aulas de dança, quando argumentam que estes ambientes são freqüentados apenas por meninas. Tal tema foi escolhido visando quebrar o tabu deste preconceito, buscando revelar se a dança pode influenciar sobre a sexualidade destes meninos e possibilitando assim, fundamentar o palco como um espaço para todos e tratar de forma mais igualitária o gosto por essa arte.
Neste texto, são abordados conceitos referentes ao gênero e à dança, bem como as principais idéias apresentadas por autores da área em relação aos padrões de sexualidade, de cultura e estereótipo, possibilitando um maior entendimento para os meninos dançarinos e para a sociedade em que se vive e contribuindo para ampliar a visão das relações estabelecidas entre as temáticas. Além disso, notou-se durante o processo, uma carência de estudos que abordem a relação entre a dança e a sexualidade, sendo a maioria das pesquisas existentes voltadas para essas temáticas de forma isolada.
Por meio de uma revisão de literatura, o presente estudo teve como objetivo observar o papel que a dança desempenha na sexualidade de homens praticantes.
Método
O método adotado para o desenvolvimento deste artigo se deu por meio de uma revisão de literatura e para isso foram utilizados livros e artigos de periódicos arbitrados que permitiram relacionar tais conteúdos às temáticas presentes na pesquisa. A base de dados utilizada para a busca de artigos científicos foi a EBSCO, utilizando-se os termos dancing, gender e sexuality. Foram encontrados 13 artigos publicados entre os anos de 1999 e 2014 a partir dos termos supracitados, dos quais somente 3 foram selecionados por tratarem especificamente do objeto de estudo desta revisão de literatura.
Resultados e discussão
Para Nanni (2002), o movimento teve seu início embasado na emoção do ser, na expressão exteriorizada do seu eu e permitiu a ela, através de suas danças, a aproximação com seus deuses, produzindo a possibilidade da comunicação entre o homem consigo mesmo e homem com suas entidades. Essa autora acredita que as danças têm sido para todos os povos e em todas as épocas da história as suas formas de manifestações, de expressões de suas características culturais, suas emoções e comunicações do ser, o estado de espírito e o intrínseco, traduzidos em gestos e movimentos, dançados ao som de músicas ou não, permeando o seu eu mais íntimo.
Também quanto ao surgimento da dança, Vargas (2009) expõe que haviam várias motivações para se dançar, mas que primeiramente a intenção partia do que os homens sentiam, da sua relação com o meio e com os segredos da vida e para realização e tal comunicação, os processos rituais. Uma dança livre de regras e de acertos específicos quanto à disciplina era realizada em grupos e tinha os seus comportamentos associados à valorização que se dava ao momento, à cerimônia.
Hoje se percebe a utilização dos movimentos desde o nascimento do ser humano, pois é por meio deles que se pode visualizar suas necessidades, mas também seus sentimentos e emoções e a partir deste processo, entender gradativamente sobre si mesmo e o meio social em que vive. O processo criativo que se dá a partir da inserção da Dança/Educação num contexto de vida do ser, possibilita a liberdade e independência dos seus processos de emancipação e autonomia. Além disso, a forma como o corpo fala por meio da linguagem corporal, mais precisamente ao dançar, é múltipla, percebendo-se a possibilidade de viver a realidade, mas também interpretar o imaginário, onde o corpo real experimenta relações do imaginário com o simbólico (Nanni, 2002).
Vargas (2009) também entende a dança como um benefício no processo de desenvolvimento e aprendizagem dos seres, trazendo a sua potencialidade a partir da exposição, visto que as movimentações e os gestos, ao expressarem suas emoções, sentimento e idéias, partem de um propósito consciente e muitas vezes intencionam princípios presentes na sociedade. Portanto, acredita ser de suma importância o incentivo à prática, já que a partir dela é possível dar liberdade para que alunos e alunas desenvolvam sua criatividade. Nanni (2002) contextualiza também a importância de se vivenciar esse tipo de prática, trazendo a questão da pele e do toque enquanto limitadores do meio. A autora afirma que estes cooperam na formação da personalidade e expõe que ao desenvolver tal limitação, o sujeito entende o que é e a sua relação com o objeto, a nível social e pessoal. Entende o seu corpo como forma de comunicação e a sua sexualidade como forma de exposição de representação no meio.
Ainda para Nanni (2002, p. 22), “o corpo é ao mesmo tempo instrumento de manifestação (relação meio-ambiente) e, ao mesmo tempo, reflexo da estrutura social (contexto determina padrões)”.
O conceito de gênero aparece como as atribuições dadas aos sexos dos corpos na sociedade. As significações do homem e da mulher, do menino e da menina, são construções fundamentadas nas instâncias sociais destes sujeitos. O tempo, a raça, a religião, a classe e a etnia, também são fatores que estão inseridos nessa conceituação, pois se fazem presentes nas construções de gênero, em processos dinâmicos e contínuos (Meyer e Soares, 2008). Louro, Felipe e Goellner (2007) sustentam que o gênero está diretamente ligado aos processos que produzem os corpos, mas também englobam aspectos sociais, lingüísticos e culturais presentes na diferenciação de homens e mulheres, na distinção e separação destes, colocando estes corpos como dotados de sexo, gênero e sexualidade.
Ainda em função do sexo, Louro, Felipe e Goellner (2007) apresentam a cultura como responsável pelas designações dos corpos, pelos conflitos enfrentados na pluralidade de definições, e também pela distinção e diferenciação destes enquanto femininos e masculinos. Os mesmos autores também associam ao conceito de gênero as marcas sociais apresentadas anteriormente: religião, classe, raça, geração e sexualidade. Exprimem que estas estão influenciando constantemente a forma como esses corpos, com suas masculinidades e feminilidades, permanecem experimentando e vivendo o mundo e o meio nos seus grupos, em grupos diferentes ou individualmente em outros momentos de suas vidas.
Nanni (2002) diz que a relação entre o Estado e o meio se faz presente conduzindo o corpo a modelar-se ou limitar-se, deixando clara a dominação destes corpos numa sociedade que cria estereótipos de imagem corporal. Estes são delineados de acordo com o belo e suas caracterizações sexuais. Ainda de acordo com a autora supracitada, os corpos dos meninos e das meninas são distintos pois suas aptidões físicas, intelectuais e sensoriais se diferem, assim como os seus interesses e a forma de se relacionar. Contudo, as diferenças existentes entre os dois sexos na fase infantil não são significativas, pelo menos não como as existentes entre homens e mulheres adultos.
Louro, Felipe e Goellner (2007) especificam que associar o gênero às questões históricas, sociais e culturais, não significa o separar da idéia de que é construído através de corpos antecipadamente reconhecidos e nomeados como sexuados. Paechter (2009) expõe que desde o momento em que o sexo do bebê é definido, o meio e a sociedade já o aceita e o espera com traços de masculinidade ou feminilidade, e a partir daí, já começa a existir o processo de aceitação, de inserção às normas impostas pela cultura em determinada comunidade.
Segundo Freud (1905 apud Lisboa, 2011), o ser humano teria o início de suas possíveis transgressões perversas ainda quando criança, num período chamado de perversidade polimorfa, no qual a criança, isenta de qualquer conceito estabelecido sobre a sua moral, sente-se livre para aceitar a sedução e o prazer, sem qualquer tipo de nojo ou barreira. Lacerda (2010) acredita que qualquer lembrança que o homem possa ter que o remeta a esse período, e que o assemelhe a imagem da mãe/mulher em termos de movimentos faz com que haja marginalização desse corpo. Esse autor acrescenta também que quando o homem assume um papel de passividade e/ou erotização na sociedade, acaba carregando conotações sociais que levam a desvalorização do corpo masculino.
Nanni (2003) entende que a sociedade estrutura valores e comportamentos que são aprendidos pelas crianças desde o início do seu processo de desenvolvimento e, por isso, estas entendem que devem desempenhar estratégias e papéis neste contexto. Para que se sintam efetivamente em convívio com esta sociedade, a criança incorpora os padrões sociais esperados, anteriormente aprendidos. Por isso, surgem preocupações quando meninos e meninas atribuem condições e formatos diferentes aos esperados para cada sexo. Meyer e Soares (2008, p. 34) destacam que:
A preocupação com os meninos parece ser ainda maior quando eles brincam de bonecas ou mesmo quando brincam em demasia com as meninas. Estar com o sexo feminino parece denegrir a imagem masculina hegemônica. Dessa forma, meninos aprendem, desde cedo, que a companhia de garotas pode ser algo que os inferioriza, desvalorizando-os socialmente. Em muitos casos, as escolas acabam por reforçar essa separação, na medida em que propõem atividades diferenciadas para ambos (ballet para elas, judô para eles, por exemplo), além de estabelecer dinâmicas de trabalho baseadas em disputas entre grupos de meninos e meninas. (...) assim, meninos e meninas seguem suas vidas aprendendo que devem estar em mundos separados, que suas experiências não devem ser compartilhadas com o que consideram com o sexo oposto.
A escola tem sido um facilitador desse processo de modelação dos gêneros, uma vez que não se apresenta como um espaço de liberdade para múltiplas masculinidades e feminilidades, optando apenas por regrar e guiar o sujeito a seguir e reafirmar aquelas já permanentes, existentes como certas e tudo que se afastar dessa categorização, poderá ser visto como anormal e desviante (Meyer e Soares, 2008). É o caso da cultura de feminilidade ligada à dança. Blume (2003) também acredita que o gênero acaba interferindo na interação social, principalmente em espaços em que o corpo está em exposição, como é o caso da dança. Relata que os corpos já vêm tão culturalmente identificados quanto ao sexo e o que se espera dele, que os homens afeminados e as mulheres masculinizadas podem não ter esses padrões em seus movimentos, mas enxergam a padronização nos corpos dos demais.
Quanto ao que se espera dos meninos, Pinto (2010) expõe que esses não têm estímulos que os fazem apreciar as atividades artísticas como a dança, e acabam realizando atividades opostas a essa, que os afirmem enquanto sujeitos fortes e inflexíveis de sentimentos. Já Hamilton (1999) desmitifica alguns pontos ligados a essa temática, sendo um deles o de que os meninos que vierem a praticar a dança necessariamente se tornarão homossexuais. O autor esclarece que já existem pesquisas que apresentam evidências de que o sujeito homossexual já se entende nesse contexto antes mesmo de praticar a atividade, processo reforçado muitas vezes pela família, que cria meios para impossibilitar que o filho dance. Ainda assim, explica que os gays ocupam 50% no espaço artístico da dança e que apenas 2% desses são mulheres, reafirmando um afastamento do corpo previamente identificado como masculino. Finalmente, o autor utiliza-se de resultados de estudos anteriores para afirmar que heterossexuais não se tornarão homossexuais uma que vez que a dança faça parte de suas vidas.
É fácil entender que o homem que dança não ocupe uma boa posição na hierarquia social, uma vez que essa atividade seja a que menos recebe apoio e visibilidade da sociedade geral. O número de meninos com coragem para ingressar na dança é bastante desproporcional quando comparado ao número de meninas, sendo o deles muito inferior devido aos padrões que regulam a sociedade. A atividade desperta interesse no sexo masculino e feminino, mas acaba sendo negada automaticamente pelo primeiro. Também é importante citar que no meio onde a dança ocorre também é exercida certa pressão que exija maneiras de como o homem deve ou não deve dançar. Portanto, qualquer traço que fuja do vocabulário de movimento masculino será reprovado e estará passível a agressões físicas e verbais (Lacerda, 2010).
Nascimento, Nascimento e Oehlschlaeger (2011) realizaram uma pesquisa dentro de Academias e Escolas especializadas na cidade de Pelotas/RS, onde apenas 149 dos 759 indivíduos que participaram do estudo eram homens. Além dessa desproporção entre homens e mulheres, foram também analisados quais os estilos que as crianças, ‘jovens e adultos do sexo masculino mais praticavam. Para essa avaliação foram classificados 403 homens, dos quais 146 eram praticantes de Danças Tradicionalistas, 95 de Dança de Rua (para esse estilo também foram utilizados os termos Street Dance e Hip Hop), 72 de Dança de Salão, 42 de Dança Afro, 20 de Ballet Clássico, 15 de Dança Criativa e Estilo Livre e 13 de outras. Além de ser uma prática presente na cultura regional dos gaúchos, a Dança Tradicionalista também afirma aos praticantes do sexo masculino o papel do “macho”, viril e cortejador da mulher e talvez por isso acabe abrangendo um maior número de homens, como ocorre nas Danças de Salão, a terceira mais praticada pelos sujeitos investigados por Nascimento, Nascimento e Oehlschlaeger (2011). A Dança de Rua acaba sendo associada à cultura Hip Hop e suas vertentes, nas quais os homens também se afirmam masculinos por meio dos passos fortes, duros e retos. Por fim, praticados consideravelmente em menor número, estão o Ballet Clássico e Estilo Livre, pois têm suas formações coreográficas, figurinos e músicas influenciados pelo delicado, sensível e sinuoso.
Nanni (2002) apresenta a dança como compatível ao homem e à mulher, pois em ambos os sexos está presente a criatividade e a virilidade externada, o ritmo intrínseco utilizado como forma de comunicação, a universalidade e a funcionalidade do movimento e as semelhanças entre as técnicas utilizadas. Contudo, entende que a conotação é responsável por definir a sexualidade nas funções interligadas à dança. A mesma autora aponta que no Ballet Clássico, por exemplo, a virilidade, os movimentos atléticos, os saltos e as baterias são características do bailarino ao passo que os movimentos graciosos, leves e o uso das pontas são efetivamente características da bailarina.
Vargas (2009, p. 24-25) assume que:
A idolatria romântica da mulher, não como sua forma terrestre, mas como um sonho inacessível, foi construída para desenvolver, na dança espetáculo, o gosto pela proeza gratuita e pelos estereótipos. Tentando expressar o irreal, estava o bailarino feito para a leveza da bailarina. Relegado a subalterno está encarregado somente de lançar ao ar e aparar o vôo das bailarinas.
Facilmente pode-se identificar a dança mais presente no universo feminino e encontrar em alguns de seus estilos, a associação dos movimentos e passos com a delicadeza e a doçura. Espera-se que essas características sejam naturalmente vistas nos corpos femininos, e que estes estejam prontos para viver uma vida onde serão aceitos os movimentos suaves. Por outro lado, aos meninos é disponibilizado um espaço onde possam naturalmente assumir o seu papel de forte e insensível, onde o sentimentalismo e as emoções não permeiam. A repetição destes processos cria códigos permanentes que mantém os estereótipos de geração em geração, conflitando cada vez mais para as desigualdades de gênero.
Apesar do que a maioria dos autores dizem, Jowitt (2010) acredita que a liberdade de expressão do homem já conquistou espaço no último século e está para conquistar mais no novo milênio. O homem não mais terá que provar a sua masculinidade antes de se mostrar bailarino e será livre para aparecer como um indivíduo complexo e não reduzido a simplesmente um homem.
Considerações finais
Os resultados dos estudos anteriores incluídos nessa revisão de literatura, embora ainda em número limitado, indicam que a dança assume o papel de dar liberdade para os corpos masculinos que a praticam nos âmbitos expressivo e emocional, visto que estes mesmos corpos engessam padrões sociais que os limitam a estereótipos pré-determinados na diferenciação dos corpos masculinos e femininos.
Os estudos analisados foram unânimes em apresentar os corpos como reflexos do meio, que nascem desempenhando papéis ligados à sexualidade e por isso entendem que há padrões de comportamentos esperados dos homens e das mulheres.
Fez-se possível notar que alguns estilos de dança têm maior procura pelos homens, pois esses, supostamente, não interferem na masculinidade desses indivíduos. Ainda assim, de uma forma geral, para a maior parte das danças o número de mulheres ainda é superior. Justificam-se a isso, as relações entre a expressividade dos corpos quando colocados para dançar e a rigidez com que são tratados os limites de expressão dos corpos de homem, corpos de “macho”.
Ao final deste estudo, os autores mantêm suas inquietações a respeito dessa temática, pois percebem que a dança ainda afastará muitos homens que gostariam de praticá-la, entendendo que também há outras atividades regidas pelas questões de gênero e sexualidade não igualitárias, e que para a mudança dessa perspectiva, deve-se dar espaço para a liberdade de corpos complexos e únicos. Espera-se que essa inquietação possa servir de motivação para futuras pesquisas acerca desse tema e que isso estimule cada vez mais meninos a procurarem a dança.
Bibliografia
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Lacerda, C. (2010). Representações de masculinidade na dança e no esporte: um olhar sobre Nijinsky e Jeux. Recife: O Autor.
Lisboa, C.T. (2011). Destino da pulsão na estrutura perversa freudiana. Recuperado em 01 de setembro de 2015 de: http://www.ufrgs.br/psicopatologia/wiki/index.php/Destino_da_Puls%C3%A3o_na_Estrutura_Perversa_Freudiana.
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Nanni, D. (2003). Dança educação: pré-escola à universidade. (4ª ed.) Rio de Janeiro: Sprint.
Nanni, D. (2002). Dança educação: princípios, métodos e técnicas. (4ª ed.) Rio de Janeiro: Sprint.
Nascimento, D.E., Nascimento, F.M. e Oehlschlaeger, M.H.K. (2011). O homem na dança: um estudo comparativo do sexo masculino nos meios formais e não formais de ensino na cidade de Pelotas, RS. EFDeportes.com Revista Digital, 16(155). http://www.efdeportes.com/efd155/o-homem-na-danca-um-estudo-comparativo.htm
Paechter, C. (2009). Meninos e meninas: aprendendo sobre masculinidades e feminidades. Porto Alegre: Artmed.
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Vianna, K. (2008). A dança. (5ª ed.) São Paulo: Summus.
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