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O fenômeno do capitalismo na concepção dos clássicos: Marx e Weber

El fenómeno del capitalismo en la concepción de los clásicos: Marx y Weber

The phenomenon of capitalism in the design of the classics: Marx and Weber

 

*Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais

da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG (UFJF)

**Cientista Social, Mestre em Desenvolvimento Social

pela Universidade Estadual de Montes Claros – MG (UNIMONTES)

Raíssa Cota Pales*

raissacs1@yahoo.com.br

Graziano Leal Fonseca**

grazianolf@yahoo.com.br


 

 

 

 

Resumo

          O capitalismo industrial teve início em meados do século XVIII, através da revolução industrial iniciada na Inglaterra. Esta fase é marcada pelo estabelecimento categórico do trabalho assalariado em detrimento dos produtores individuais. Marx e Weber focaram em questões específicas na análise deste novo modo de produção, Weber analisou sob a ótica da racionalidade e Marx a partir das classes. Nessa perspectiva, este artigo procura expor as concepções e formulações sobre o fenômeno do capitalismo, nas visões de Max Weber e Karl Marx.

          Unitermos: Capitalismo. Karl Marx. Max Weber.

 

Abstract

          Industrial capitalism began in the mid-eighteenth century, through the industrial revolution started in England. This phase is marked by the categorical establishment of wage labor at the expense of individual producers. Marx and Weber focused on specific issues in the analysis of this new mode of production, Weber analyzed from the perspective of rationality and Marx from classes. From this perspective, this article attempts to explain the concepts and formulations of the capitalist phenomenon, in the visions of Max Weber and Karl Marx.

          Keywords: Capitalism. Karl Marx. Max Weber.

 

Recepção: 24/09/2015 - Aceitação: 29/10/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 210, Noviembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Desde a gênese do capitalismo até os dias de hoje várias transformações ocorreram no interior da sociedade capitalista. É possível distinguir três momentos os quais foram se sobressaindo um em relação ao outro no decorrer dos séculos: o capitalismo comercial, o industrial e o financeiro. O capitalismo comercial foi a primeira forma assumida pelo capitalismo, solidificando-se entre os séculos XV e início do século XVII. Nesta fase, acumulavam-se riquezas através do comércio de escravos, de metais preciosos e da exploração de terras recém-descobertas.

    O capitalismo industrial teve início em meados do século XVIII, através da revolução industrial iniciada na Inglaterra, “o capital, acumulado na fase anterior, passava neste momento a ser investido na produção, dominando a partir de então o processo de circulação e acumulação de riquezas” (Hirano, 1988, p.103). Esta fase é marcada pelo estabelecimento categórico do trabalho assalariado em detrimento dos produtores individuais, como os mestres artesãos. Nesse momento, a divisão entre capitalistas e proletários ficou ainda mais clara.

    Por fim, no capitalismo financeiro, ou monopolista, há uma expressiva aceleração da mobilidade do capital, facilitado com os recursos da informática, em um mundo globalizado, em que o capital financeiro a cada dia fica mais desligado das atividades produtivas. “A tecnologia moderna estimula esse processo, mas não é de desconhecer que foram forças políticas que moldaram a fisionomia do mundo atual” (Furtado, 1998, p.74). Marx e Weber concentraram seus esforços de reflexão e análise no capitalismo industrial, iniciado no século XVIII. Se preocuparam com este fenômeno devido aos seus impactos.

    Cada um destes autores focaram em uma questão específica na análise deste novo modo de produção, Weber analisou sob a ótica da racionalidade e Marx a partir das classes. Nessa perspectiva, este artigo procura expor as concepções sobre o fenômeno do capitalismo, nas visões de Max Weber e Karl Marx. As sessões seguintes discute, separadamente, as formulações e pensamento de cada um destes dois autores a respeito do capitalismo, buscando elucidar as principais contribuições e o eixo de análise seguido por eles ao analisar o capitalismo. Por fim, procurou-se abordar alguns pontos de divergência entre estes teóricos.

Racionalização e capitalismo em Weber

    Weber sustenta que uma das características mais marcantes desse período é a capacidade de racionalização do homem e das instituições. Ou seja, para Weber, a essência do sistema capitalismo é a racionalização das regras de troca, incluindo, nesse sentido, a troca da força de trabalho por salários.

    Nessa perspectiva, Weber (2004) aborda a influência significativa da ética protestante nesse novo sistema econômico, o capitalismo. Contudo, enfatiza que o capitalismo não surgiu, unicamente, da reforma, mas sim que a reforma protestante foi o grande estopim, devido a religião ser um berço de valores e de formação de novos comportamentos.

    O “espírito do capitalismo”, na concepção weberiana, foi formado por vários elementos sociais, econômicos, políticos e religiosos combinados. Essa gama de elementos ao encontrar os valores protestantes ganhou força para solidificar-se enquanto sistema.

    (...) não se deve de forma alguma defender uma tese tão disparatadamente doutrinária que afirmasse por exemplo que o “espírito capitalista” (sempre no sentido provisório dado ao termo aqui) pôde surgir somente como resultado de determinado influxos da Reforma [ou até mesmo: que o capitalismo enquanto sistema econômico é um produto da Reforma]. Só o fato de certas formas importantes de negócios capitalista serem notoriamente mais antigas que a Reforma impede definitivamente uma visão como essa. Trata-se de averiguar se, e até que ponto, influxos religiosos contribuíram para a cunhagem qualitativa e a expansão quantitativa desse “espírito” mundo afora, e quais são os aspectos concretos da cultura assentada em bases capitalistas que remontam àqueles influxos (Weber, 2004, p. 82).

    Existe, segundo Weber (2004), quatro tipos de protestantismo acético cujas características vão ser essenciais para o que Weber chama de “espírito do capitalismo”: o calvinismo, o pietismo, o metodismo e o anabatismo. Esses movimentos não estão separados totalmente um dos outros e possuem mais uma idéia de complementariedade.

    O Calvinismo “considerava-se na época e de modo geral se considera ainda hoje a doutrina da predestinação como a mais característico dos dogmas do calvinismo” (Weber, 2004, p.90). Acreditava-se que o homem só alcançava determinadas metas pela predestinação. Essa característica peculiar ao calvinismo vai estimular as pessoas a entrarem numa rígida disciplina de trabalho, ligando trabalho a fé religiosa. Isso porque o indivíduo não sabendo se está predestinado, dedica-se a única coisa que pode indicar uma possível salvação: a dignidade no trabalho. Nesse momento há um afastamento inicial do místico e uma aproximação do ascetismo secular, a razão entra em cena.

    O efeito dos princípios pietistas refletia a um controle ascético ainda mais estrito da conduta de vida na profissão, com uma ética religiosa da moralidade profissional ainda mais presente do que o desenvolvido pela simples “honestidade” mundana dos cristãos calvinistas (Weber, 2004). O metodismo caracteriza-se pela “sistematização ‘metódica’ da conduta de vida com o fim de alcançar a certitudo salutis 1: pois aqui também é dela que se trata desde o início, tendo se mantido como ponto central da aspiração religiosa” (Weber, 2004, p. 127).

    No anabatismo a magia já não tem mais lugar, a conduta do indivíduo que determina sua salvação. Seus seguidores não acreditam na predestinação, mas, a conduta ética é de suma importância e é uma construção individual ao longo da vida. Nesse momento, a conversão e a conscientização são fundamentais na regência da vida social e religiosa.

    Esse caráter sereno, sóbrio e sobretudo consciencioso foi então adotado também pela práxis vital das comunidades anabatistas mais tardias, especificamente a dos quakers. O radical desencantamento do mundo não deixava interiormente outro caminho a seguir a não ser a ascese intramundana. Para comunidades que não quisessem ter nada a ver com os poderes políticos e seu que fazer, daí resultou, externamente mesmo, que essas virtudes ascéticas confluíram para o trabalho profissional” (Weber, 2004, p. 135)

    Todos estes princípios protestantes influenciaram na consolidação do ethos capitalista na sociedade moderna no tempo e no espaço. O que era próprio de um grupo se tornou majoritário. A ascese saiu do mosteiro e foi para a vida pública.

    O puritano queria ser um profissional – nós devemos sê-lo. Pois a ascese, ao se transferir das celas dos mosteiros para a vida profissional, passou a dominar a moralidade intramundana e assim contribui [com sua parte] para edificar esse poderoso cosmos da ordem econômica moderna ligado aos pressupostos técnicos e econômicos da produção pela máquina, que hoje determina com pressão avassaladora o estilo de vida de todos os indivíduos que nascem dentro dessa engrenagem – não só dos economicamente ativos- e talvez continue a determinar até que cesse de queimar a última porção de combustível fóssil” (Weber, 2004, p. 165).

    Weber (2004), salienta que um dos elementos componentes do espírito capitalista da sociedade moderna: o comportamento de vida racional fundada na idéia de profissão como vocação, nasceu do espírito da ascese cristã. Várias culturas, em outros tempos, eram racionais em certa medida, mas não deram seqüência no tempo e no espaço a um ethos racional. O capitalismo existiu na China, na Índia, na Babilônia, dentre outros, porém faltava esse ethos peculiar a nossa época. O dinheiro já existia, a troca já existia, mas a empresa capitalista, no seu sentido mais amplo, não. Foi no mundo moderno que a racionalidade passou a regir a vida dos indivíduos (Weber, 2004).

    E assim acontece em todos os ordenamentos da vida. O grandioso racionalismo de uma vida ética e metodicamente ordenada, que emana de toda a profecia religiosa, destronou aquele politeísmo em prol do “único necessário” – mas depois, confrontado com as realidades da vida interna e externa, viu-se obrigado aos compromissos e às relativizações, que conhecemos da história do cristianismo. (Weber, p.25).

    Dessa forma, o processo de racionalização ou desencantamento do mundo, típico da modernidade, promove a separação do trabalhador dos meios de produção, e é neste momento que a burocracia assume seu papel de regulador da vida social, trazendo mais eficiência, porém, menos liberdade aos indivíduos. A burocracia é uma estratégia do capitalismo para controlar o tempo e o espaço.

    A burocracia pode ser entendida como uma forma de lidar com os conflitos da sociedade. Segundo Weber, não dá para pensar o capitalismo como luta de classes –pressuposto de Marx-, pois o capitalismo é muito mais, de acordo com o pensamento de Weber equivale a uma burocracia que tenta resolver os conflitos gerado na sociedade, exemplo ilustrativo é o conflito entre o trabalho e o capital. Assim, a burocracia é um mecanismo usado no mundo moderno com o objetivo de amenizar o conflito.

    Na perspectiva weberiana, o capitalismo não se resume a luta de classes ou a harmonia entre as classes. A teoria ora em análise interpreta o capitalismo sob a ótica da dominação, a qual se impõe através do aparelho burocrático, que é impessoal e formal. A burocracia consegue se estender no tempo e espaço para além da vida dos indivíduos. Porém, não vai alcançar o mundo da família e das relações pessoais, porque não há uma competição por sobrevivência necessariamente, por cargos, por exemplo.

    A burocracia se faz valer através de estatutos e normas, cuja legalidade se faz imperativo; a dominação legal é o princípio que rege esta estrutura organizativa. Dominação é a “probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo em dadas pessoas” (Weber, 2010, p. 102).

    A dominação legal, característica da burocracia, é o tipo de dominação legítima do capitalismo. Consiste na “obediência perante estatutos formalmente corretos e que se vieram a materializar na forma usual. A oposição entre ordenamentos pactuados e impostos é só relativa” (Weber, 2010, p. 70).

    Esse tipo de dominação orienta as relações sociais perante a burocracia, porém existem outros tipos que, em menor grau, estão presente nas relações sociais: a dominação carismática e a tradicional. A dominação carismática é a forma de dominação mais irracional, por isso também a menos durável e a dominação tradicional, o poder emana dos valores enraizados na tradição.

    A unidade de análise weberiana se alicerça na ação social. Weber (2010, p.7) define ação social como “aquela em que o sentido intentado pelo agente ou pelos agentes está referido ao comportamento de outros e por ele se orienta no seu curso”.

    Dessa forma, Weber (2010, p.44) define quatro tipos de ações que orientam as ações humanas, que são tipos puros: 1) “racional em ordem a fins, determinada por expectações do comportamento de objetos do mundo exterior e dos outros homens, utilizando estas expectações como “condições” ou “meios” para fins próprios racionalmente intentados e ponderados como resultado”. Como exemplo podemos citar um investidor que escolhe a melhor empresa, baseado em estatísticas e histórico, para investir em ações.

    O segundo tipo é a racional quanto a valores, “determinada pela crença consciente no valor - ético, estético, religioso ou de qualquer outra forma que se interprete – específico e incondicionado de uma determinada conduta puramente como tal e independentemente do resultado”. Um exemplo simplório deste tipo de ação é uma pessoa ao achar uma quantia em dinheiro na rua, procura o dono com o intuito de devolver.

    O terceiro tipo é a afetiva, ou podemos chamar de emocional, é determinada pelos sentimentos e o quarto tipo, a tradicional, é determinada como um hábito vital, ou seja, quando o indivíduo age de acordo com os hábitos e costumes enraizados. Briga entre torcidas de futebol rivais e o batismo dos filhos por pais católicos, mas que pouco freqüentam a igreja são exemplos destes tipos de ação, respectivamente.

    Desses quatro tipos de ações que Weber pontua, a ação social relacionada a fins é a característica do sistema capitalismo, usada pelos agentes com maior freqüência em relação às outras. As ações orientadas dentro das instituições na sociedade capitalista são, de forma imperativa, a racional relacionada à fins. Dessa forma, quanto maior o grau de racionalismo, mais especializado o capitalismo. Com o avanço do capitalismo, a ação tradicional e a afetiva, e de forma mais branda a ação social relativa a valores, perde cada vez mais espaço nas relações sociais, isso porque são menos racionais.

    Em linhas gerais, o desenvolvimento capitalista para Weber é compreendido como parte de um processo de racionalização diante dos conflitos presente na sociedade; e a burocratização, neste processo, tem um papel central como regulador e instrumento de poder nas mais diversas instituições.

Marx e as classes no capitalismo

    Com o surgimento do sistema capitalista de produção, a relação do homem com o trabalho foi modificada. Há também a dissolução da relação do homem com a terra. Progressivamente, o homem passou a não ser mais proprietário do instrumento de trabalho. Nesse momento, a classe dominada e explorada não é mais formada por escravos e servos, os trabalhadores agora são “livres”, porém, continuam dependentes, agora do capital. (Marx, 1985).

    De acordo com Marx, o trabalho assalariado é a principal característica do sistema capitalista. A força de trabalho do proletário precisa ser vendida ao capitalista para garantir àquele sua sobrevivência. Dessa forma, o modo de produção capitalista se legitima ao reunir num mesmo local matéria-prima e trabalhadores que venderam sua força de trabalho em troca de remuneração.

    Nessa perspectiva, com a modificação funcional do dinheiro em capital, as antigas relações entre homens e propriedades e entre homens e instrumentos de trabalho são extintas. Agora, as relações de produção se configura entre trabalhadores assalariados, vendendo sua força de trabalho, e capitalistas, compradores dessa força de trabalho com um único propósito: a produção de mais-valia.

    Segundo Ianni (1996), o sistema de produção capitalista possui dois traços centrais que o diferencia dos modos de produção anteriores: o caráter de mercadoria dado ao produto e a produção da mais-valia como finalidade da produção.

    Nos sistemas anteriores ao capitalismo o produto também era convertido em mercadoria, porém, tinha apenas o valor de uso, era produzido para subsistência imediata do produtor. No sistema capitalista de produção, a mercadoria é o caminho para se obter mais capital.

    O motor deste sistema é o movimento contínuo da produção de mercadorias visando seu valor de troca. A mais-valia permite a multiplicação progressiva do valor ao colocá-lo sempre em circulação. Ou seja, “ele [o dinheiro em processo ou o capital] provém da circulação, entra novamente na produção, sustenta-se e se multiplica nela, retorna aumentando dela e recomeça o mesmo ciclo sempre de novo” (Marx, 1996, p. 275).

    Na mercadoria já vem agregada todas as características peculiares ao sistema capitalista: a exploração, a divisão de classes, a venda e apropriação da força de trabalho e claro, a produção da mais-valia. Nessa perspectiva, a produção da mais-valia como finalidade da produção é a segunda característica essencial do capitalismo. De forma resumida, a mais-valia pode ser entendida como o lucro do capitalista.

    A mais-valia é constituída no momento em que o trabalhador produz o excedente na empresa capitalista. Ou seja, a mais-valia é o valor que o trabalhador cria além do necessário para a reprodução da força de trabalho. Logo, é através do trabalhador que há a transformação do capital em mais capital, a produção de mais-valia. Existe duas formas de se obter mais-valia: pelo aumento de tempo de trabalho, a mais-valia absoluta e com o incremento de tecnologia, a mais-valia relativa. Mesmo na mais-valia relativa, a força de trabalho continua sendo o motor para produzi-la.

    A produção capitalista produz e reproduz a relação dicotômica inerente a este sistema. De um lado, o trabalhador assalariado, que ao sair desse processo continua sem os meios de subsistência, apenas com sua força de trabalho como meio para garantir-lhe a sobrevivência, do outro, o capitalista, o único a se apropriar da mais-valia. De acordo com Marx (1980, p. 206), “do ponto de vista social, a classe trabalhadora é, portanto, mesmo fora do processo direto de trabalho, um acessório do capital, do mesmo modo que o instrumento morto de trabalho. Mesmo seu consumo individual, dentro de certos limites, é apenas um momento do processo de reprodução do capital”.

    O capitalista obtém seu lucro da exploração do trabalhador assalariado, e este por sua vez vive à mercê do capital, certo que é independente e livre. A classe trabalhadora “pertence ao capital antes que se venda ao capitalista. Sua servidão econômica é, ao mesmo tempo, mediada e escondida pela renovação periódica da venda de si mesmo, pela troca de seus patrões individuais e pela oscilação do preço de mercado do trabalho” (Marx, 1980, p.210).

    Para Karl Marx, a exploração é a essência do capitalismo é o ponto principal que o distingue dos outros sistemas e o torna tão perverso a maioria dos indivíduos. Apesar de afirmar que a luta de classes tem sido a história de todas as sociedades, argumenta que na nossa época os antagonismos de classe foram simplificados, a distância ideológica, social e material entre as classes é notória e intensa (Marx, 1999).

    Essa pluralidade interna na estrutura social do capitalismo se deve ao poder de desenvolvimento da burguesia como agente modernizante. A burguesia destrói a tradição, em todos os sentidos da vida, não só a passada, mas todas as tradições. Nesse sentido, a burguesia, mesmo que de forma nefasta, é um agente modernizante, ao destruir as estruturas existentes e reproduzir a vida burguesa.

    A antiga antagonia de classe – servo e senhores feudais – foi substituída por uma exploração explícita entre proletários e burgueses. A exploração de uma classe sobre a outra não se esconde mais atrás da religião nem de qualquer outra coisa, é uma realidade imposta a qual os proletários têm de se submeter para garantir a sobrevivência.

    Um dos pressupostos da humanidade, segundo Marx (1989, p.187), é que os “indivíduos são assim como manifestam a sua vida. O que eles são coincide portanto, com a sua produção, tanto com o que produzem quanto também com o como produzem. Portanto, o que os indivíduos são depende das condições materiais da sua produção”. Dessa forma, os interesses e modos de vidas dependem do lugar do indivíduo nas relações de produção. Há uma consciência coletiva determinada pela estrutura econômica onde o indivíduo está inserido, ou seja, “não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas o seu ser social é que determina sua consciência”.

    No capitalismo, o modo de produção manufateiro torna-se insuficiente e a grande indústria moderna – movida a vapor e a máquina – toma conta da produção, primeiramente na Inglaterra, depois na Europa, para então ganhar o mundo. No mundo moderno, essa nova forma de produção, que se expandiu em meados do século XVIII com a entrada da máquina a vapor, modificou, aos poucos, as instituições, as idéias, a religião, etc. Ou seja, com a mudança da infraestrutura – a qual Marx designa as relações de produção – a superestrutura – o plano das idéias, da política, etc. - também se modificou.

    A partir desse instante a consciência pode efetivamente imaginar que é algo outro do que a consciência da prática existente, /pode imaginar/ efetivamente representar algo sem representar algo efetivo — a partir desse instante a consciência está em condições de se emancipar do mundo e passar à formação da “pura” teoria, teologia, filosofia, moral, etc. Mas mesmo quando essa teoria, teologia, filosofia, moral, etc., entram em contradição com as relações existentes, isso só pode acontecer pelo fato de que as relações sociais existentes entraram em contradição com a força de produção existente — o que de resto pode também acontecer num determinado círculo nacional de relações pelo fato de a contradição se instalar não neste âmbito nacional, mas entre esta consciência nacional e a práxis das outras nações, isto é, entre a consciência nacional e a consciência universal de uma nação (Marx e Engels, 1989, p.198).

    Na divisão do trabalho extremamente demarcada no mundo moderno, “a repartição desigual, tanto quantitativa quanto qualitativa, do trabalho e dos seus produtos” (Marx e Engels, 1989, p.198), já está dada. O modo de produção da grande indústria capitalista distancia ainda mais as classes sociais.

    Marx argumenta que só a partir do momento em que a classe trabalhadora se conscientizar será possível amenizar as desigualdades sociais no capitalismo. A partir do momento em que os indivíduos das classes dominadas adquirem uma “consciência de classe” desenvolverão estratégias de resistência, no campo político e de trabalho, para atenuar a exploração e conseqüentemente a desigualdade social.

Considerações finais

    Os dois autores, Marx e Weber, focaram a análise do capitalismo em aspectos específicos. A unidade de análise de Weber foi pensar o capitalismo a partir do processo de racionalização da ação. Na fase de desencantamento do mundo e florescimento do capitalismo, a racionalização é imperativa nas relações sociais e a burocracia é o principal dispositivo deste sistema.

    Já Marx, não focou na ação, no indivíduo. A unidade de análise de Marx são as classes, com foco na infraestrutura. Defende que, apesar da história da humanidade ser marcada pela luta de classes, no capitalismo o abismo ideológico, social e material entre as classes se intensificou, aumentando também a exploração de uma classe sobre a outra. De acordo com o teórico, o lugar que o indivíduo se encontra nas relações de produção vai determinar como o indivíduo se manifesta em sua vida.

    Apesar de o campo de investigação ser o mesmo, a sociedade capitalista, Weber discorda de Marx em vários pontos. Dentre estes pontos, destaco o papel da luta de classes no capitalismo. Para Marx, a luta de classes está no centro deste sistema, é a grande questão que desencadeia a exploração e todas as conseqüências deste sistema. É justamente essa a grande crítica de Weber ao Marx, Weber acredita no papel das classes no capitalismo, mas não as coloca no centro, para este a essência do capitalismo é a racionalização das regras de troca, incluindo a do trabalho por salários. Diferentemente de Marx, não via na luta de classes a emancipação humana, para ele seria um emaranhado de coisas que forneceria os instrumentos para homem emancipar-se.

Nota

  1. Tradução: A certeza da salvação.

Bibliografia

  • Furtado, Celso (1998). O capitalismo global. São Paulo: Editora Paz e Terra.

  • Hirano, Sedi (1998). Pré Capitalismo e Capitalismo. São Paulo: Editora Hucitec.

  • Ianni, Otávio (2002). Nação: província da sociedade global? In: M. Santos, M.A.A. de Souza e M.A. Silveira (Org.). Território – Globalização e Fragmentação. São Paulo: Editora Hucitec.

  • Marx, Karl (1985). Formações Econômicas pré-capitalistas. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra.

  • Marx, Karl (1996). O Capital. Vol. I, Tomo I. São Paulo: Nova Cultural.

  • Marx, Karl (1980). O capital: Crítica da Economia Política. Livro I. V. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

  • Marx, K. e Engels. Friedrich (1999). O Manifesto Comunista. Edição eletrônica: Ed. Ridendo Castigat Mores.

  • Marx, Karl e Engels, Frederich (1989). A história dos homens. In: K. Marx & F. Engels, 3º edição, São Paulo: Coleção Grandes Cientistas Sociais, Editora Ática p.182-214.

  • Weber, Max (2004). A Ética Protestante e o “Espírito do Capitalismo”. São Paulo: Companhia das Letras.

  • Weber, Max. A Ciência como vocação. Disponível em: www.lusosofia.net. Acesso em: 03 Jun. 2015.

  • Weber, Max (2010). Economia e Sociedade. Covilhã. Disponível em www.lusosofia.net. Acesso em: 25 mai. 2015.

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