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Condições de saúde de idosos centenários: 

uma revisão narrativa da literatura

Condiciones de la salud de las personas mayores centenarias: una revisión narrativa de la literatura

Health conditions of centenarians: a narrative review the literature

 

*Fisioterapeuta, mestre pelo Programa de Pós-Graduação

em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo – RS

Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano

Faculdade de Educação Física e Fisioterapia, Universidade de Passo Fundo

**Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP

Docente do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano

da Universidade de Passo Fundo – RS

Ezequiel Vitório Lini*

Marlene Doring**

ezequielfisio@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Entende-se por idosos centenários os indivíduos que chegaram aos cem anos de idade. Essa população cresce consideravelmente em todo o mundo. Este estudo objetivou identificar quais as condições de saúde dos centenários. Analisou-se o conteúdo das publicações científicas indexadas, que tratavam de idosos centenários, considerando como descritores: idoso de 80 anos ou mais, centenários, nível de saúde, condições de saúde, perfil de saúde. Foram usadas as bases de dados online LILACS, MEDLINE e SCIELO, no período de 2005 a 2014. A literatura evidencia que em sua maioria, não são obesos nem apresentem riscos de doenças cardiovasculares. Apresentam alterações posturais, demências, artrites e problemas de mobilidade que os tornam frágeis e dependentes. Conclui-se que são necessárias intervenções preventivas no intuito de manter a máxima mobilidade dos idosos centenários.

          Unitermos: Idoso de 80 anos ou mais. Nível de saúde. Perfil de saúde.

 

Abstract

          Centenarians are known as individuals who lived to one hundred years old. This population considerably grows around the world. This study aimed to identify the health conditions of these centenarians. The content of indexed scientific publications about centenarians was analyzed, considering the following keywords: elderly aged 80 years or more, centenarians, health status, health conditions, health profile. Online databases LILACS, MEDLINE, and SCIELO, from 2005 to 2014, were used. Literature proved that the majority of centenarians are neither obese nor present risk of cardiovascular diseases. They present postural changes, dementia, arthritis, and mobility impairments, which make them fragile and dependent. It is concluded that preventive interventions are needed in order to maintain utmost mobility of centenarians.

          Keywords: Aged 80 and over. Health status. Health profiles.

 

Recepção: 23/08/2015 - Aceitação: 03/11/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 210, Noviembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A população mundial tem vivenciado um aumento progressivo da longevidade, fato este, que resultou em acréscimo no número de idosos com 100 anos ou mais de idade. A proporção de centenários ainda é pequena, entretanto, percebe-se que o crescimento se dá em ritmo acelerado, especialmente nos países desenvolvidos (Benetti, 2011).

    Os dados da Organização das Nações Unidas (2010) comprovam o incremento numérico da população centenária, pois, em 1990 eram contabilizados 90 mil em todo o mundo. Em 2010 já havia 292 mil pessoas com 100 anos ou mais e se prevê que para 2050 sejam mais de três milhões.

    No último censo realizado no Brasil, foram identificados 24.236 centenários, destes, 7.247 homens e 16989 mulheres. Ainda segundo o Censo de 2010, no estado de Santa Catarina viviam 405 centenários (IBGE, 2012).

    O aumento da longevidade se deve principalmente pela redução das taxas de mortalidade por consequência da evolução tecnológica da área da saúde e a população com idade avançada, ou seja, acima dos 80 anos de idade, tem sido a mais beneficiada (Camarano e Kanso, 2010).

    A conquista de uma expectativa de vida cada vez mais alta e em ritmo acelerado, como o vivenciado em nosso país, é acompanhada pelo proporcional crescimento de doenças, em especial, as crônicas não transmissíveis (Veras, 2012).

    O prognóstico das doenças crônicas não transmissíveis poderá incidir diretamente na perda da autonomia e independência para as atividades cotidianas, o que repercute no aumento da demanda por cuidados contínuos (Camarano e Kanso, 2010).

    Desse modo, a capacidade funcional, para além da mera capacidade de realizar as tarefas cotidianas, está relacionada com a manutenção das atividades mentais e a possibilidade de socialmente ser um idoso integrado e incluído (Moreira; Teixeira e Novaes, 2014). Alguns fatores contribuem para a taxa de dependência funcional, como a idade avançada acompanhada por déficits motores, fraqueza muscular, o déficit cognitivo e a presença de doenças crônicas não transmissíveis (Smanioto e Haddad, 2011).

    As famílias, ao enfrentarem as adversidades em torno de um idoso funcionalmente dependente, vivenciam problemas gerados pelas demandas financeiras referentes ao cuidado, o que repercute em instabilidades pscicológicas e sociais que estão intimamente ligadas à sobrecarga do cuidador e decisão por institucionalização (Silva e Figueiredo, 2012).

    Em um futuro próximo, atitudes preventivas e de reabilitação destinadas à manutenção da capacidade funcional precisarão se intensificar em um novo modelo de cuidado, com integração das ações públicas e de um mecanismo de suporte familiar que garanta benefícios para a população idosa (Chaimovitz, 2013).

    Constatado o incremento da população centenária, este estudo objetiva identificar as condições de saúde desta faixa etária.

Metodologia

    Para a elaboração desta revisão narrativa as seguintes etapas foram percorridas: definição da questão de pesquisa e dos objetivos do estudo; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos; definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; análise dos resultados; discussão e apresentação dos resultados. Para guiar a revisão narrativa, formulou-se a seguinte questão: quais as condições de saúde dos idosos centenários? Para a seleção dos artigos foram utilizadas bases de dados online LILACS, MEDLINE e SCIELO.

    Os critérios de inclusão dos textos foram: produções nacionais e internacionais com os resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas, no período compreendido entre 2005 e 2014. A estratégia de busca considerou como descritores: idoso de 80 anos ou mais, centenários, nível de saúde, condições de saúde, perfil de saúde. A busca foi realizada pelo acesso on-line. A partir dos títulos foram selecionados 43 artigos, após análise dos resumos, oito destes artigos e quatro dissertações permaneceram na amostra final para análise.

Resultados e discussão

    Dentre os fatores que explicam este envelhecimento da estrutura etária destaca-se especialmente a diminuição das taxas de fecundidade. Em 2011, a taxa de fecundidade total para o Brasil foi de 1,95 filhos por mulher, menor que 6,28 vistos em 1960. Esta redução das taxas de fecundidade explica-se por alterações da sociedade brasileira nas últimas décadas, tais como: aumento da urbanização, maior participação de mulheres no mercado de trabalho, elevação da escolaridade, disseminação cada vez maior dos métodos anticoncepcionais, entre outras (IBGE, 2012). Ademais, outras inversões elucidam a crescente população envelhecida como as ocorridas com as taxas de mortalidade e natalidade, que diminuíram consideravelmente (IBGE, 2012).

    Outro indicador que ilustra o envelhecimento populacional é o índice de envelhecimento humano, medido pela razão entre o número de pessoas com 60 anos ou mais para cada 100 pessoas com menos de 15 anos de idade. Em 2001, o índice de envelhecimento no Brasil era de 31,7%, ou seja, para cada 100 jovens abaixo dos 15 anos tínhamos 31,7 idosos. Em 2011 esse índice aumentou para 51,8% (IBGE, 2012).

    A expectativa de vida do brasileiro cresceu 11,24 anos entre 1980 e 2010. O crescimento entre as mulheres ficou em 11,69 anos, enquanto que entre os homens a elevação atingiu 10,59 anos (IBGE, 2013). Para 2050, esperam-se 60 milhões de idosos no Brasil, com expectativa de vida em torno de 80,69 anos (IBGE, 2013).

    Os centenários são considerados a representação máxima de longevidade. Entende-se por idosos centenários os indivíduos que chegaram aos cem anos de idade, o que significa que ultrapassaram em cerca de 20 anos a expectativa média de vida dos países desenvolvidos (Kumon et al., 2009).

    O relatório das Organizações das Nações Unidas (2010) demonstra que no mundo, em 2010, existiam quase 300 mil centenários, e se prevê que para 2050 sejam três milhões. O Brasil acompanhou essa tendência mundial, sendo que, em 2010, totalizavam 25 mil centenários. Há uma heterogeneidade na distribuição de centenários pelos estados brasileiros e, ao contrário do que se imagina, os estados do sul não apresentam o maior número, nem a maior proporção.

    No censo Demográfico de 2010 foram encontrados 24.236 brasileiros com 100 anos ou mais, destes 16.989 mulheres e 7.247 homens. O estado da Bahia foi o que apresentou o maior número de centenários (3.578), seguido por São Paulo (3.234). Em relação à população absoluta de cada estado, o Amapá é o estado com maior número de centenários (0,0268%), seguido pela Bahia (0,0255%).

    Apesar do número de centenários aumentar consideravelmente em todo o mundo, pouco de sabe sobre suas condições de saúde e as suas necessidades (Evans et al., 2014), entretanto alguns pesquisadores procuram identificar se existe uma particularidade entre essa população, seja nos hábitos de vida, na presença ou não de complicações.

    Em estudo de coorte de base populacional, realizado com 1842 centenários de Ontário (Canadá), foi identificado que em 15 anos houve um crescimento de 72,3% no número de indivíduos com 100 anos ou mais. As mulheres representavam 85,3% do total. Viviam na comunidade 45,3% e em instituições de longa permanência 53,7%. Dentre as complicações de saúde investigadas identificou-se que 58,0% tinham demência diagnosticada, 54,5% artrite, 34,8% insuficiência cardíaca congestiva e 27,0% doença pulmonar obstrutiva crônica (Rochon et al., 2014).

    O estado de saúde dos centenários foi investigado em uma província da china por He et al. (2014). Neste estudo transversal com 535 centenários, maioria mulheres (85,0%) identificou-se que nenhum investigado era obeso. Outra informação relevante da pesquisa é que dentre os fatores de risco mais importantes para doenças cardiovasculares, ou seja, glicose sanguínea, triglicerídeos e colesterol total foram significativamente inferiores aos dos valores gerais da população longeva (80-99 anos). Dentre as complicações de saúde encontradas 42,8% tinham cifose, 19,6% tinham deformidades nas extremidades, 16,0% viviam com dor ou limitação de movimento, 4,9% com arritmia cardíaca, dentre outras, mas nenhum dos problemas encontrados era considerado risco à vida. Ainda, mais de 90% dos centenários foram considerados cognitivamente normais. Estes achados positivos levam os pesquisadores a crer que a incidência das doenças típicas do envelhecimento é retardada ou diminuída nos centenários.

    Na busca por identificar os motivos de óbitos dos centenários e compará-los com aqueles que morreram entre 80 a 99 anos, Evans et al. (2014) pesquisaram 35.867 registros de óbito na Inglaterra entre 2001 a 2010. Os autores concluíram que os centenários são mais propensos a morrer por pneumonia e fragilidade e menos propensos a morrer por câncer ou doença isquêmica em comparação com idosos mais jovens (80-99 anos).

    Apesar de diversas pesquisas, em todo mundo, focadas na identificação dos fatores determinantes da longevidade, o que se percebe é que alguns centenários têm problemas de saúde e funcionalidade, outros são capazes de atingir os 100 anos com boa saúde e sem perda funcional (Ailshire; Beltrán-Sánchez e Crimmins, 2014).

    Em nosso país, estudos envolvendo centenários ainda são escassos. Tem-se disponível uma dissertação de mestrado com nonagenários e centenários de Porto Alegre/RS, desenvolvida por Longarai (2005) que objetivou identificar a relação entre atividade física realizada no passado e a capacidade funcional. Os achados demonstraram que a autonomia vivenciada na atualidade é resultado da prática de atividade física pregressa.

    A Universidade do Estado de Santa Catarina tem se destacado nos estudos envolvendo centenários, com trabalhos de conclusão de curso, artigos e dissertações concluídas. Benetti (2011), em sua dissertação sobre o estilo de vida de centenários de Florianópolis/SC identificou que as mulheres são maioria, que possuem fonte de renda própria, apresentam baixo número de doenças, no entanto, demonstram níveis elevados de fragilidade. Em geral, demonstraram estado cognitivo preservado e baixo nível de atividade física.

    Quanto ao nível de atividade física e lazer dos centenários, Streit (2013) em sua dissertação de mestrado em ciências do movimento humano, identificou que a prática de atividade física foi mencionada por quase a metade dos entrevistados. As atividades de lazer preferidas, no entanto, eram sem mobilidade, tais como assistir televisão e dormir. Naman (2014) dissertou sobre atividades de lazer dos centenários pelo mesmo programa de pós-graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina e conclui que existe carência destas atividades, principalmente pelas barreiras impostas por limitações físicas.

    Investigação acerca do nível de atividade física e a velocidade da marcha em centenários foi desenvolvida por Aguiar et al. (2014). Os autores concluem que há relação entre estas variáveis e que a diminuição do nível de atividade física é característica de idosos longevos com necessidade de intervenções no intuito da manutenção da mobilidade.

    Estudos sobre a capacidade funcional de centenários são escassos no Brasil. Estão disponíveis nas bases de dados, até o momento um artigo desenvolvido por Biolchi et al. (2013) em Passo Fundo/RS. Este estudo entrevistou nove centenários e investigou unicamente as ABVDs. Os resultados mostraram que a tarefa de maior dependência era o banho. Alimentação, continência e transferências apresentaram menos necessidade de auxílio.

Conclusão

    A literatura demonstra que a população de centenários está em rápida expansão, predominantemente entre as mulheres. Existem diferentes achados em pesquisas realizados por todo o mundo com essa faixa etária, desde ausência de agravos incapacitantes até complicações severas de cognição e mobilidade.

    Apesar de pequeno o número de estudos com centenários, observou-se que, em sua maioria, não são obesos nem apresentem riscos de doenças cardiovasculares. Dentre as complicações mais comuns encontram-se as alterações posturais (cifose), demências, artrites e problemas de mobilidade que os tornam frágeis e dependentes.

    Mostram-se necessárias intervenções preventivas no intuito de manter a máxima mobilidade dos idosos centenários, o que possibilitará a manutenção do convívio social.

Bibliografia

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