O benefício fisiológico da atividade física regular em populações especiais Los beneficios fisiológicos de la actividad física regular en poblaciones especiales Physiological benefit of the physical activity in special populations |
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Componentes de Fisiologia do Exercício do Curso de Educação Física da Universidade Federal do Pampa Rio Grande do Sul (Brasil) |
Adriel Conte Gustavo Dias Ferreira |
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Resumo É evidente que a prática de atividade física é essencial para prevenção de diversas doenças e manutenção da saúde estável. Nos últimos anos, esta prática vem se expandindo para diferentes populações, como forma de controlar e tratar condições especiais. Para embasar esta idéia e estimular esta prática, são necessários conhecimentos de aspectos fisiológicos. Este trabalho discute aspectos básicos do efeito da prática de atividade física em adaptações benéficas de populações especiais, como hipertensos, diabéticos, gestantes e idosos. Unitermos: Fisiologia do exercício. Atividade física. Populações especiais.
Abstract It is clear that physical activity is essential for disease prevention and health maintenance. In recent years, this practice has been expanding to different populations, to control and treat specific conditions. To support this idea and encourage this practice, it takes knowledge of physiological aspects. This paper discusses basic aspects of the effect of physical activity on beneficial adaptations of special populations, such as hypertension, diabetes, pregnant and the elderly. Keywords: Exercise physiology. Physical activity, Special population.
Recepção: 08/07/2015 - Aceitação: 14/10/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 210, Noviembre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Uma das principais características do último século foi a velocidade de expansão da civilização urbana, sendo que esse acontecimento gerou diversas e importantes modificações nos hábitos alimentares e no estilo de vida das pessoas, entre os quais, uma redução preocupante nos níveis de atividade física. Sem dúvidas, esse novo estilo de vida provocou um impacto significativo sobre a saúde e a morbidade de grandes populações, tornando-se um problema de saúde pública (Silva, 2002). O hábito de uma vida ativa, com a prática de esportes, é saudável, além de ser benéfico no controle de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como doenças cardiovasculares e diabetes, e ainda é indicado para população idosa e de gestantes (Coelho, 2009).
Fisiologicamente, o exercício físico pode ser classificado com efeitos agudos (imediatos e tardios) e crônicos. Os efeitos agudos, relacionados a respostas, são os associados diretamente com a sessão de treino ou atividade. Os agudos imediatos são os que acontecem nos períodos prévios e pós-imediato da atividade física: como elevação da freqüência cardíaca, da ventilação pulmonar e da sudorese. Já os agudos tardios acontecem ao longo das primeiras 24 ou 48 horas (às vezes, até 72 horas) após uma sessão de treino e podem ser identificados na discreta redução dos níveis de pressão arterial, especialmente nos hipertensos e em sessões aeróbias, na expansão do volume plasmático, na melhora da função endotelial e na potencialização da sensibilidade insulínica no músculo esquelético. Ainda, os efeitos crônicos, também considerados adaptações, resultam da exposição freqüente e regular às sessões de treinamento e relacionam-se a aspectos morfofisiológicos que diferenciam a individualidade da pessoa fisicamente treinada de outra sedentária, como por exemplo, a típica bradicardia relativa de repouso e o aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo) no treinamento aeróbio, e a hipertrofia muscular esquelética e ventricular esquerda fisiológica no treinamento anaeróbio. O exercício também é capaz de promover a angiogênese, aumentando o fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos e cardíaco. (Monteiro, 2004).
Com estes aspectos, além da prática de atividade física ser orientada para promover um estilo de vida mais saudável, muitas vezes acaba sendo uma estratégia de intervenção para tratamento ou modulação de situações patológicas, em populações especiais.
Hipertenso e atividade física
A pressão arterial (PA) é controlada fisiologicamente por dois mecanismos principais: regulação neural, que é realizada pelo sistema nervoso autônomo (associado aos barorreceptores), e a regulação humoral, que é realizada por uma variedade de substâncias liberadas por diferentes tipos celulares, como as células endoteliais e as células justaglomerulares renais. Alterações em um ou ambos os mecanismos de controle da PA, poderão resultar em elevação dos níveis de pressão sistólica e diastólica, instalando-se assim, cronicamente, um quadro de hipertensão arterial sistêmica (HAS). A HAS possui uma etiologia multifatorial e é altamente incidente na população mundial. Envolve fatores genéticos, ambientais e psicológicos e mais de 50% dos indivíduos entre 60 e 69 anos e aproximadamente 75% da população acima dos 70 anos são afetados com esta condição (Zago, 2006).
Há evidências de que uma única sessão de exercícios físicos pode proporcionar benefícios importantes ao sistema cardiovascular, principalmente em decorrência da redução dos níveis pressóricos durante o período posterior ao exercício em relação aos valores observados previamente durante o repouso. Após a realização de um único período de treino ocorre vasodilatação periférica com redução na resistência vascular periférica, com conseqüente aumento do fluxo vascular sistêmico. Isso ocasiona a uma significativa redução nos níveis de PA de duração variável, após o exercício, caracterizando assim, a hipotensão pós-exercício (HPE) (Lizardo, 2007). A HPE é sugerida como prevenção e modulação não medicamentoso no controle da HAS, a qual é esta associada a diversas doenças cardiovasculares, e é considerada um dos principais fatores de risco associados (Lizardo, 2005).
O sistema vascular sanguíneo são formados por vasos com camadas denominadas de túnicas: túnica íntima (internamente ao vaso - células endoteliais e tecido conjuntivo), túnica média (intermediária - musculatura lisa) e túnica adventícia (externamente - células colágenas). Os processos iniciais e evolutivos das patologias cardiovasculares desenvolvem-se entre as túnicas, onde o acúmulo de células lipídicas na camada íntima ativa uma migração de células de macrófagos no local e logo após a formação de células esponjosas, e a placa lipídica se expande e forma o ateroma. A membrana da túnica íntima se fragiliza até romper, o que desencadeia uma atividade plaquetária e formação de trombos ou coágulos que, juntamente com os lipídeos, obstruem a luz do vaso (Rique, 2002). Em se tratando da regulação humoral da PA, sabe-se que as células endoteliais sintetizam uma diversidade de substâncias vasoativas, que foram classificadas em fatores relaxantes e contráteis. O principal fator relaxante que derivam do endotélio é o óxido nítrico (NO). Os principais fatores contráteis derivados do endotélio são a endotelina e o tromboxano. Em especial, o NO desempenha um papel de grande importância no controle vascular, principalmente no controle da resistência vascular periférica, sendo um potente vasodilatador e assim seu papel no controle da PA é extremamente relevante. Além disso, o NO inibe a agregação plaquetária impedindo a formação de trombos e, conseqüentemente, prevenindo os processos de tromboses (Zago, 2006).
Durante o estímulo físico aeróbio, aumentam o débito cardíaco e volume sistólico, assim potencializando a força que o sangue exerce sobre a parede das artérias (força de cisalhamento). Estudos em seres humanos e em animais de laboratório mostram que a força de cisalhamento induzida pela atividade física é um poderoso estímulo para a liberação de NO, acarretando assim redução dos valores de PA. Foi demonstrado que o estímulo físico moderado aumenta ainda mais o relaxamento da musculatura lisa vascular periférica. Com isto, os efeitos benéficos da prática de atividade física regular sobre as doenças cardiovasculares foram associados, principalmente, à maior produção de agentes vasodilatadores derivados do endotélio, com conseqüente redução da resistência vascular periférica e diminuição dos níveis de LDL colesterol. Esse efeito é fortemente indicado para uma menor incidência de HAS (Araújo, 2007).
Diabético e atividade física
Uma das conseqüências mais graves das modificações do estilo de vida decorrentes do último século é a crescente incidência da Síndrome Metabólica, e com esta, o diabetes mellitus (DM). Na população americana, a prevalência chega a 10 milhões de pessoas com DM tipo 2 (DM2), insulino-independente associada com a obesidade, e cresce a cada ano intimamente relacionada com os hábitos cotidianos. Além da DM2 ser um dos mais importantes problemas de saúde mundial, tanto em número de pessoas afetadas como de incapacitação e de mortalidade prematura, lidera os custos envolvidos no seu tratamento e de suas doenças associadas. Entre os tipos de diabetes, o DM2 é o de maior prevalência, alcançando entre 90 e 95% dos casos, acometendo geralmente indivíduos de meia idade ou em idade avançada, podendo ter uma hiperglicemia presente há vários anos, anteriormente ao seu diagnóstico (Silva, 2002).
A prática regular de atividade física consiste em uma das principais formas de controle, não só das doenças cardiovasculares, mas também de outras DCNTs, como o DM2, pois os indivíduos portadores dessa etiologia metabólica apresentam mortalidade três vezes maior do que a população em geral, grande parte devido a doenças vasculares (Cruz, 2012).
O principal objetivo da prática regular de atividade física por indivíduos diabéticos é o controle metabólico, como, por exemplo, controle da glicemia sanguínea, pois, com isso, será possível reverter o quadro de algumas complicações crônicas da diabetes e especificamente as doenças cardiovasculares. Um estudo realizado por Silva e Lima (2002) aponta que um programa de exercício físico regular, de intensidade moderada, auxilia também no controle glicêmico do indivíduo com DM2, tratado ou não com insulina, sendo que seu efeito já é observado em uma sessão de treino. Ficou caracterizado que um programa de exercício físico bem orientado e regular melhora os níveis de lipídios plasmáticos, principalmente diminuindo significativamente os triglicerídeos e aumentando o HDL, melhora a eficiência cardíaca, diminuindo a freqüência cardíaca de repouso em até 10 bpm, efeito evidenciado à partir de 10 semanas de programa (Silva, 2002). Além disto, em um indivíduo treinado, é evidente a diminuição da resistência a insulina, devido a up regulation do receptor da insulina na fibra muscular, assim aumentando a captação de glicose em repouso.
Gestantes e atividade física
As mulheres representam um importante grupo na prática de atividade física e, embora ainda persistam algumas controvérsias sobre esta prática no período gestacional, a atividade física vem fazendo parte e sendo considerada essencial nesse período. Há poucas décadas, as gestantes eram aconselhadas a reduzirem suas atividades, ou até mesmo interromperem o trabalho laboral, especialmente durante os estágios finais da gestação, por se acreditar que o exercício aumentaria o risco de trabalho de parto prematuro ou aborto. No entanto, na década de 90, o American College of Obstetricians and Gynecologists reconheceu que a prática da atividade física regular no período de gestação deveria ser desenvolvida e, com cautela, estimulada (Rodrigues, 2008).
A resposta cardiovascular durante a gestação se eleva comparada ao período não gestacional e com a prática regular de exercícios físicos, este estresse cardiovascular é reduzido, o que se reflete, de forma especial, em freqüências cardíacas mais baixas, maior volume sanguíneo, maior capacidade de oxigenação, menor pressão arterial, prevenção de tromboses e varizes, e redução do risco de diabetes gestacional. Além disso, a diminuição dos sintomas de desconfortos articulares da gravidez, o controle da ansiedade e depressão, o menor tempo de evolução do trabalho de parto e o menor índice de indicação de parto cesárea fora atribuídos como benefícios resultantes da prática de atividade física. Existem muitos outros aspectos positivos em relação à esta prática durante a gestação, porém, tipo de atividade física deverá ser adequado a cada paciente, sendo indicado exercícios de intensidade regular e moderado, com um programa voltado para individualidade do período gestacional em que se encontra a gestante (Batista, 2003).
Idoso e atividade física
A atividade física regular é descrita como um excelente meio de atenuar e/ou controlar a degeneração provocada pelo envelhecimento dentro dos vários domínios físico, psicológico e social. Com o avanço da medicina, o envelhecimento populacional tornou-se um fenômeno mundial, tanto no que se refere aos países desenvolvidos como aos países em desenvolvimento. Estima-se que a população idosa do Brasil será de 32 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos até 2020 (Tribess, 2005). Com o avançar da idade, mudanças vão ocorrendo no organismo, como redução da força muscular, alterações de equilíbrio, modificações no padrão da marcha, déficit visual, perdas funcionais e cognitivas. A prática rotineira de atividades é importante para a manutenção da funcionalidade corporal e independência destes idosos, onde se pode trabalhar a força e equilíbrio, além de exercícios de coordenação, flexibilidade e aeróbios que proporcionam uma melhor qualidade de vida para esses indivíduos, e que pode evitar as quedas que comumente ocasionam sérias lesões, dentre as quais, as mais freqüentes são as fraturas, que estão intimamente relacionadas com o que devemos combater, que é a imobilidade no leito (Bento, 2010).
Conclusão
Como já se sabe, a prática regular da atividade física é benéfica para a melhora de performance e prevenção de diversos fatores relacionados a doença. Porém, atualmente, já se indica para fazer parte do cotidiano de diversos indivíduos que convivem em condições especiais, para tratamento ou controle de patologias. Conhecendo a fisiologia do exercício podemos consolidar e embasar a atuação do profissional da área da saúde para difundir esta idéia.
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