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A compreensão de corporeidade na formação de professores

La comprensión de la corporeidad en la formación de profesores

Understanding embodiment in teacher training

 

*Profª Educação Física, habilitada pelo curso

de Educação Física da UFSC

**Prof. Adj. IV – Depto. Educação Física, CDS/UFSC

Membro do NEPEF/GESeM

(Brasil)

Aline de Agostini*

alineagostini@yahoo.com.br

Carlos Luiz Cardoso**

c.cardoso@ufsc.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo reflete a compreensão de corporeidade na área da Educação Física por alunos de graduação da UFSC. Tentamos compreender através do método exploratório-descritivo, a dificuldade dos estudantes da Educação Física em admitir uma nova abordagem de corpo/corpóreo no processo de ensino e de aprendizagem. O movimento humano, e conseqüentemente a corporeidade constituem a base da Educação Física, porém é necessário um aprofundamento e estudos para compreender o ser humano como um ser-no-mundo e não apenas partes do corpo em movimento sem intencionalidade. Desta forma, refletimos sobre a falta de atenção e ausência de percepção no processo educativo na área de Educação Física, conseqüência de um paradigma mecanicista, fixo e rígido, impedindo o avanço do processo educativo em favor do cultivo do ser.

          Unitermos: Corporeidade. Formação docente. Movimento humano. Educação Física.

 

Abstract

          This study reflects the understanding of corporeality in the area of physical education for undergraduates at UFSC. We try to understand through exploratory and descriptive method, the difficulty of the students of Physical Education to admit a new approach of body/corporeal in the process of teaching and learning. Human movement, and therefore the embodiment form the basis of physical education, but a deepening and studies to understand the human being is needed as a being in the world and not just a body parts in motion without intentionality. In this way, we reflect on the lack of attention and lack of awareness in the educational process in the area of Physical Education, a result of a mechanical, fixed and rigid paradigm, preventing the advancement of the educational process in favor of the cultivation of being.

          Keywords: Embodiment. Teacher training. Human movement. Physical Education.

 

          Artigo resultante de recorte da monografia na graduação em Educação Física, Habilitação Licenciatura da UFSC.

 

Recepção: 24/09/2015 - Aceitação: 29/10/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 210, Noviembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O tema corporeidade tem sido assunto para muita discussão no sentido de compreender o ser humano no estado corpóreo e a partir dele, ao mesmo tempo, como cultivar o ser. Está se acentuando a necessidade da observação do corpóreo, uma nova maneira de vê-lo, porém essa nova abordagem requer uma amplitude de conhecimentos para poder entender a complexidade humana e o significado da palavra corpo num sentido mais amplo, mais multidimensional ou supradimensional. O corpo se define simplesmente por ocupar um espaço, faz parte do mundo. Relacionamos-nos com ele, interagimos com as coisas do mundo e também nos relacionamos com outros corpos. Estamos em estado corpóreo, fazedores e transformadores de um mundo, corpos vivos, multidimensionais, num tempo e num espaço experimentando todas as possibilidades do espaço–tempo.

    Diante destes fatos, começamos a pensar que se fazem necessárias modificações no processo educativo. A educação deve privilegiar a inserção do corpóreo como manifestação do ser, e assumir a corporeidade como um estado, formulando novos paradigmas e abandonando o mecanicismo tradicional da visão clássica de ciência. É aí então que entra a Educação Física, totalmente fragmentada e faltando com seus objetivos uma vez que o ser humano, no atual paradigma, não é visto como um ser-no-mundo. A fragmentação do corpo e mente decorrente de um paradigma mecanicista, deixou a desejar em muito à formação coerente de futuros profissionais de Educação Física e consequentemente apresenta uma falha no processo educativo, a qual se conhece como a ausência do cultivo do ser.

    A falta de uma reflexão mais profunda dos processos educacionais vigentes, a falta de uso de paradigmas das ciências em geral e especialmente educacional, leva-nos a considerar o aluno como um espectador, um corpo-objeto, no processo de aprendizagem e com isto, uma falta de preocupação com sua auto-organização, com suas formas de vivência, dimensões e interação com o meio ambiente educacional (supradimensional e simbólico). Os professores de Educação Física, na nossa compreensão, estão atuando de forma equivocada. Observamos nas escolas a constante reprodução de aulas, de instruções, de atitudes sem nenhum valor para o processo educativo do ser no mundo, reflexo do condicionamento em que nos encontramos nos dias atuais.

    Esse condicionamento é o fruto de uma educação do passo errado, termo utilizado por Krishnamurti & Bohm (1985), a qual é transmitida de geração-a-geração. O passo errado, para melhor esclarecimento, é o desvio da atenção do ser humano no sentido de autoconhecimento e cultivo do ser para outra, externamente, direcionada e fixada em padrões e em valores equivocados. O desvio dessa atenção interior é substituído por ações mecânicas, estimuladas emocionalmente e que se tornam hábitos físicos, manias, tagarelices, estados emocionais equivocados, que ganham repetição e consistência, daí a presença do ser humano condicionado.

A corporeidade na Educação Física

    A Educação Física encontra-se, no contexto da história da educação, numa situação estranha, começando pelos termos Educação Física, que limita as dimensões de abrangência do ser humano pelo adjetivo física. Depois, educação é educação do ser humano, e não deveria se dividir em educação física, educação intelectual e outros termos do gênero.

    Os próprios currículos dos cursos de Educação Física mostram o privilégio dos aspectos físico-práticos sobre os temas intelectuais, políticos e psicossociais. Percebe-se uma aversão ao teórico e à reflexão crítica. Dá-se grande importância à prática de exercícios, treinamentos e às práticas esportivas e com isto a Educação Física associa-se quase exclusivamente ao esporte. Parece assim que a Educação Física e o Esporte nada têm a ver com o cultivo do ser. Daí, as consequências de uma acentuada valorização da biomecânica, física clássica, biologia, anatomia, fisiologia, biofísica e outras. O próprio professor de Educação Física dificilmente é visto como um educador, e sim um ex-atleta. Sendo muitas vezes cobrado quanto ao porte físico, seria bom a partir destas questões, refletirmos sobre a vinculação da Educação Física ao esporte e procurar por um melhor esclarecimento. Santin (1987, p. 62), diz que:

    Uma mudança de imagem da Educação Física não se dá por decreto nem pela reforma de currículos, mas através de uma nova compreensão do movimento humano. (...) O movimento humano não pode ser limitado a um conjunto de articulações e de forças. Ele precisa ser compreendido no contexto de todas as dimensões humanas. Antes de ser um fenômeno físico, o movimento é um comportamento, uma postura, uma presença e uma intencionalidade...

    Essa fragmentação anatômica do homem, causada pelo atual paradigma da ciência, fez com que se perdesse a visão global do ser humano e agora se tenta recolher as partes, daquilo que verdadeiramente vem a ser o ser humano.

    Observamos nas aulas de Educação Física que a corporeidade é esquecida. A aula é planejada de acordo com o tempo (cronológico) e os exercícios são corrigidos e exigidos tecnicamente. Os alunos são considerados a partir de um modelo padrão e num grupo de alunos supõe-se que todos se comportam da mesma maneira. A intuição, a percepção e a sensibilidade estão presentes nos jogadores e fazem parte de sua corporeidade. Ao se-movimentar o jogador está o tempo todo dialogando com os mundos interno e externo, simultaneamente. Se todo movimento é intencional, deve ser respeitado como único e exclusivo. Segundo Kunz (2000, p. 11), referindo-se ao esporte, numa abordagem fenomenológica diz que:

    A sensibilidade que conhecemos quando a bola “cola” no pé de um jogador de futebol. A percepção de tempo e espaço de um modo diferente, por exemplo, das grandezas físicas e mensuráveis destas, que se conhece em jogos coletivos. E, a Intuição como na situação de “ver” antecipadamente o êxito ou o fracasso, de um lance de jogo. São exemplos, entre muitos, em que esses aspectos do Ser e Agir Humanos se apresentam no esporte.

    O que vivenciamos no esporte escolar não é corporeidade, pois não há respeito à individualidade dos alunos. O que podemos evidenciar através do esporte é a fortificação das regras que estabelecem como devem ser as relações sociais entre indivíduos numa sociedade e a padronização dos movimentos, reduzindo assim a movimentação dos alunos, verificamos aí a corporeidade esquecida.

Cultura de movimento humano – se-movimentar

    Por cultura de movimento humano entendemos o repertório de movimentos caracterizados como fenômeno sociocultural que constitui o acervo cultural da humanidade acumulado multidimensionalmente. Podemos encontrar muitos estudos que se referem ao movimento humano, porém os mesmos são pouco aprofundados e apenas nos fornecem a técnica correta de execução ou os benefícios que temos com tal movimento.

    O estudo do movimento como diálogo ou comunicação ainda está a desejar. Assim, a movimentação humana se torna mecânica e reforça o padrão de ações impostas desde a infância no processo educativo. Tudo isso por que não há o aprofundamento de estudos do se-movimentar como perspectiva pedagógica. A mobilidade humana não pode ser vista apenas sob ponto de vista da coordenação motora. O movimento humano ultrapassa os limites da simples motricidade ou das atividades físico-mecânicas. O movimento humano não pode ser reduzido a deslocamentos físicos, a articulações motoras ou a gesticulações produtivas. É necessário vinculá-lo a todo nosso modo de ser. Para Santin (1987, p. 77), “não é apenas o corpo que entra em ação pelo fenômeno do movimento. É o homem todo que age, que se movimenta”. Já para Assman (1996, p. 42), “estar vivo significa estar em ‘movimento-aprendizagem’, por tanto ‘vida’ é a emergência continuada da motricidade (cognitiva, gestual, aprendente)”. Desta forma o movimento humano consiste em processos de aprendizagem corporal através das interações com o meio circundante. Diz o autor que “o movimento corporal implica num remanejo constante das condições iniciais de cada gesto e de cada ação, e isto significa que nenhuma regra ou treinamento abrange a totalidade do potencial criativo dos movimentos corporais.” (p. 46).

    A cultura de movimento humano deve ter como ponto central o ser humano que se movimenta, não o movimento exteriorizado sempre com fins de rendimentos e eficiências individualizadas que observamos nas mais diversas culturas de movimentos. Desta forma, como diz Kunz (1999), o movimento humano natural fica à disposição do rendimento previsível e mensurável formando uma cultura de movimento com finalidades de rendimentos individuais. Assim, se torna necessário que os estudos se aprofundem mais no movimentar-se humano, para que se possa compreender a cultura de movimento humano e transformá-la na prática educativa para que assim se possam obter resultados mais adequados na educação do ser humano. Hildebrandt (2005, p. 103) diz que numa escola, por exemplo, não podemos observar movimentos, mas sim homens se movimentando. Da mesma forma já dizia Gordijn (apud Tamboer, 1979, p. 14), sobre o movimento: “o movimento humano é um diálogo entre homens e mundo”. O movimentar-se humano é, portanto, um diálogo do homem com os outros e com o mundo, desta forma ele mesmo descobre seu mundo de significados motores, cognitivos e afetivos, sendo estes os objetivos principais de uma prática educativa focada no se-movimentar. Ao conhecer a si mesmo, o sujeito passa a se relacionar melhor consigo e com os outros, compreendendo a sociedade e a cultura de movimento humano. A partir dessa compreensão, ele poderá agir autônoma e criticamente na sociedade.

    O que verificamos atualmente nas aulas de Educação Física é que o movimentar-se humano não é observado com a devida atenção. O ser humano se distanciou tanto de si, que se movimenta mecanicamente e, muitas vezes não atende aos pedidos de socorro do seu corpo em determinadas situações. Se o movimento é expressão, é manifestação e é linguagem, movimentos padronizados e mecânicos refletem então, as mentes que o comandam, portanto, são padronizadas e condicionadas.

Corporeidade

    Por meio da corporeidade é possível viver a essência ou natureza do corpóreo, um estado de corporeidade. É possível a construção de uma pedagogia do se-movimentar que contemple as várias dimensões do ser humano, ou seja, a sua unidade. Aragão (2006) diz a respeito do termo:

    A corporeidade é expressa no conjunto dessas manifestações corpóreas. Corporeidade e motricidade são conceitos aparentemente muito teóricos, do mundo das idéias, e ao mesmo tempo, evidentemente práticos. Viver a corporeidade é caminhar para ir ao trabalho ou ao teatro. É namorar ou participar de movimentos políticos. É deslocar-se, através do movimento, no tempo e no espaço com uma intenção. ‘É viver a própria história em busca de algo mais daquilo que se é’.

    A corporeidade é, segundo o autor, a manifestação do ser, da vida. Qualquer forma de movimento, já que este é intencional, é corporeidade. O estudo da corporeidade é nada mais nada menos que o estudo do ser humano e não se dá a devida atenção. Mas como pode o ser humano não ter interesse em se conhecer? Isso soa estranho, mas de fato é a realidade. O ser humano esqueceu sua verdadeira essência e se deixou tomar pelas reações que o controlam diariamente.

    Sobre esse esquecimento, Santin (2001, p. 64), dá o nome de distanciamento perverso, que com o aparecimento da superioridade e auto-afirmação, o homem construiu uma imagem de si que lhe deu poder e glória, de tal forma que rompeu laços com o universo e consigo mesmo. Assim, a proclamação da autonomia trazia em seu interior esse distanciamento responsável pelas rupturas internas (essência) e externas (natureza). O autor nos permite melhor compreensão ao explicar o produto deste distanciamento dizendo: “... por exemplo, refiro-me à distinção que fazemos entre um ‘eu existencial’, concreto, vivido, e um outro que me é fornecido pelo conhecimento racional e científico, responsável pela representação mental que devo adquirir de mim mesmo” (p. 64).

    Voltando ao termo essência, entendemos que é o que o ser humano tem de mais nobre. Seria parte divina que se expressa nas diferentes dimensões, o que realmente somos por natureza, porém está adormecida, esquecida ou distanciada e coberta pelos nossos defeitos psicológicos, ou melhor, pelo ego, como diriam Krishnamurti & Bohm (1985). Poucos estudos foram realizados sobre o ser humano já que fica difícil comprovar a essência humana, as dimensões humanas e o tempo interior (durée). Assim, tudo que está relacionado ao que não é físico é religioso ou fantasioso. Porém, muitos filósofos, sociólogos, cientistas entre outros estudiosos, deixam suas contribuições no que diz respeito ao Ser Humano e à educação do mesmo. Sócrates, por exemplo, despertou a iniciativa de conhecer o homem em seu interior.

    Encontramos em seus escritos a confirmação da existência de um lugar interior e, portanto, de dimensões humanas. Platão (apud Cardoso, 2002, p. 99) diz que “todo conhecimento já está no interior do homem, porém ele está adormecido, esquecido. Cumpre fazê-lo vir à tona, através de uma provocação que, ao mesmo tempo faz emergir o conhecimento verdadeiro, realiza um autêntico ato de purificação da opinião falsa”.

    A corporeidade leva em consideração a compreensão do espaço e tempo num espaço–tempo em todas as suas dimensões, compreendendo o ser humano integralmente. A natureza humana é dotada de dois tipos de tempo: um tempo exterior chamado de chronos, que medimos através do relógio, e o tempo interior chamado de kairós, conhecido como tempo vivencial e por isso imensurável. A investigação desse mundo interior, através da auto-observação, nos leva ao acesso às dimensões humanas em tempos e lugares até então pouco conhecidos e explorados na Educação Física. Cardoso (2004), destaca a existência dessas ferramentas de acesso, facilitando então, nossa compreensão acerca da corporeidade: “Portanto, tal natureza humana é possuidora de ferramentas de trabalho para distintos tipos de tempo, bem como suas respectivas dimensões, lugares e momentos de intervenção, como o presente, o passado e o futuro” (p. 95).

Metodologia e objetivo

    Buscamos através da participação dos alunos matriculados na disciplina Corporeidade (disciplina optativa) oferecida pelo curso de Educação Física da UFSC, compreender a questão do se-movimentar em todas as multidimensões.

    A partir de pesquisa exploratório-descritiva, realizada com aproximadamente 120 alunos (da 5ª a 8ª fases), foram obtidas respostas através de um questionário aberto, contendo seis questões, comparadas em gráficos com respostas de alunos que não cursaram a disciplina. O objetivo era destacar a possibilidade de cuja disciplina ter papel suficiente para o mexer com o que estamos chamando de corporeidade, uma vez que o ser humano tem forte tendência a estar às voltas com o condicionamento. Questões como essas devem ter uma atenção especial, já que trata do ser humano, a fim de se chegar perto de uma educação do passo certo, engajada no cultivo do ser em seu se - movimentar.

    É necessário perguntarmos para quê serve a aula de Educação Física e para quem. Quem precisa de uma aula de Educação Física? Todos os indivíduos têm o direito de uma Educação Física. Saber caminhar, respirar, alongar-se, alimentar-se, enfim, sem fins esportivos, mas harmônicos. Encontrar um equilíbrio no se-movimentar é o ponto central da nova Educação Física.

Resultados sobre a formação profissional, currículo e disciplina

    Sabemos que para mudar a imagem da Educação Física é necessária não apenas uma reforma no currículo, mas uma nova compreensão de movimento humano, retirando o mesmo da situação atual em que se encontra, reduzido a um simples fenômeno de motricidade. Santin (1989, p. 63) diz:

    O movimento humano não pode ser limitado a um conjunto de articulações e de forças. Ele precisa ser compreendido no contexto de todas as dimensões humanas. Antes de ser fenômeno físico, o movimento é um comportamento, uma postura, uma presença e uma intencionalidade. Assim, o movimento não só é uma linguagem, mas torna-se fonte inesgotável de simbologia que lhe confere uma grandeza ilimitada.

    Compreendendo desta forma como diz o autor, os movimentos deixam de ser físicos para se tornarem humanos. Diz ele ainda: “O corpo deve ser pensado e vivido e não um objeto ou um instrumento”. (p. 63). A partir desta observação, podemos considerar que é fundamental existir disciplinas ou assuntos nas disciplinas já existentes que tratem a corporeidade como tema de grande importância na Educação Física, assim os alunos poderão despertar algo adormecido e que ao ser aflorado, como a atenção em si, por exemplo, auxilia no autoconhecimento, na percepção, na auto-observação, na compreensão, entre outras.

    Como consta nos gráficos, a maioria dos alunos que não cursou a disciplina alegou a falta de esclarecimento sobre o tema e certo desinteresse. Porém, esses que responderam desinteresse não sabiam também do que tratava a disciplina, portanto, como pode haver um desinteresse pelo desconhecimento? É por isso que o curso deveria esclarecer aos alunos, juntamente com as opções de disciplinas, o conteúdo corporeidade em especial, já que esta trata de assuntos incomuns na Educação Física.

    A pesquisa deixou mais claro que poucos alunos percebem o movimento humano como homens se-movimentando, mesmo havendo durante todo o curso disciplinas que debatem e questionam essa visão de movimento humano. A grande maioria não consegue, por si mesmo, perceber o ser humano como um ser que se-movimenta. A partir daí, podemos compreender a prática incoerente e sem fundamentos adequados (nas escolas, clubes, academias, fábricas, universidades, institutos, associações e outros locais), dos batalhões de profissionais que se formam a cada semestre nos mais diversos cursos de Educação Física pelo Brasil afora.

Considerações finais

    A partir da pesquisa se pode concluir pela falta de compreensão de alunos e professores, no que diz respeito à corporeidade na Educação Física. Fica clara a escassez de informações a respeito do ser humano em todas as suas multidimensões durante nossa formação profissional. Assim perguntamos de que tipo de formação profissional nos é proporcionada hoje? Se a maioria dos alunos e professores não compreende e nem se interessa, aparentemente, por questões como a corporeidade nas aulas de Educação Física que faremos? Que formação é essa, que ainda não consegue responder para os alunos, qual o significado da Educação Física no processo educativo e no cultivo do ser? Questões como estas nos permitem concluir pela deficiência no processo de formação de futuros professores.

    Falta engajamento e interesse em mudar aquilo que já está sendo pouco na educação e no cultivo do ser. O paradigma físico e mecânico, no qual a Educação Física se baseia, não está nem de longe sendo suficiente para tratar questões como a educação do ser humano, e mesmo assim, ainda se insiste em métodos e técnicas para a concretização de um paradigma já vencido/morto. É preciso pensar uma Educação Física que ultrapasse os atuais paradigmas esportivos, competitivos e de rendimento. São necessárias mudanças na área, no sentido de fundamentar a Educação Física na formação e no desenvolvimento do ser humano.

    Santin (1987), diz que para que ocorra de fato qualquer efetivação real, deve-se dar um primeiro passo: propor mudanças. Segundo o autor, mudar não é um fenômeno simples, as mudanças geram o medo pelo novo, incertezas e outros. As mudanças são difíceis, porém necessárias, para a conseqüente evolução interna e externa dos sistemas de ensino. Não podemos fechar os olhos para estas questões que estão cada vez mais à tona e que pedem, por favor, nos compreendam! Torna-se necessária a busca de informação através de palestras, livros, artigos ou filmes, por exemplo, que esclarecem a nova corporeidade (novo paradigma), para que estes possam mudar as concepções de homem (ser humano) e, portanto, mudar a concepção de Educação Física para o Cultivo do Ser.

    Já vimos no decorrer desta pesquisa que o ser humano tem tendência ao condicionamento e à padronização, e podemos compreender essa dificuldade entre os professores e os alunos, em aceitar coisas novas (novos paradigmas). Porém, se o choque pode ser dado, porque não experimentá-lo? A Educação Física poderá saltar de uma crise de identidade para uma identidade verdadeira e humana a partir do momento em que nos dermos conta de que está na hora de uma mudança de visões e conceitos (paradigmas) que até hoje acreditam como únicos e verdadeiros.

    Podemos verificar que a maioria dos alunos não sabe para o que serve e o que é a hermenêutica e, portanto, não a utilizam em seus estudos ou pesquisas e, consequentemente, os professores não mencionam essa palavra e suas respectivas possibilidades técnicas, nas suas aulas. É assim que morre um velho paradigma e nasce um novo. São esses procedimentos didáticos que vão caracterizando o falecimento de uma posição didático-pedagógica, e muitos dos professores contribuem para o aceleramento da crise, pois não se dão conta da transcendência. Julgamos pertinente re-novar a Educação Física.

    Através da pesquisa é possível contribuir com o curso de formação de profissionais da área da Educação Física, no sentido de sugerir algumas mudanças, começando pela compreensão de certos temas como a corporeidade, hermenêutica, noção espaço-tempo, paradigma, cultura de movimento humano, tanto por professores como por alunos, já que pudemos constatar e concluir a falta de esclarecimento sobre tais temas. Hoje em dia é de suma importância a efetiva transformação da Educação Física e valorização da ação didático-pedagógica na profissão de professor.

Bibliografia

  • Aragão, S. M. G. (2006). Por que Motricidade Humana...? Disponível em: http://www.gepem.hpg.com.br. Acesso em 16 de setembro de 2006.

  • Assman, H. (1996). Metáforas novas para reencantar a educação. 2ª ed. Piracicaba: Unimep.

  • Cardoso, C. L. (2004). Emergência humana, dimensões da natureza e corporeidade: sobre as atuais condições espaço-temporais do ‘se-movimentar’. Motrivivência, v. 16 (22), 93-114.

  • Cardoso, C. L. (2002). A psicologia Social de George Herbert Mead e as propostas alternativas de Educação Física escolar brasileira. Florianópolis, 148f. Monografia (Depto. de Educação Física) Centro de Desportos da UFSC.

  • Hildebrandt, R. (2005). Textos pedagógicos sobre o ensino da Educação Física. Ijuí: Ed. Unijuí.

  • Krishnamurti, J. & Bohm, D. (1985). A Eliminação do tempo psicológico. São Paulo: Cultrix.

  • Kunz, E. (2000). Esporte: uma abordagem com a fenomenologia. Movimento, v. 6 (12) Especial.

  • Kunz, E. (1999). A imprescindível necessidade pedagógica do professor. Motrivivência, v. 11 (13).

  • Santin, S. (2001). O corpo simplesmente corpo. Movimento, Ano 6 (15), 57-73.

  • Santin, S. (1987). Educação Física: uma abordagem filosófica da Corporeidade. Ijuí: Ed. Unijuí.

  • Tamboer, J. (1979). Se Movimentar: um diálogo entre o homem e o mundo. Pedagogia do Esporte, Hamburgo, v. 3 (2) 14-29.

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