Intervenção fisioterapêutica na
paralisia facial: Intervención fisioterapéutica en la parálisis facial: una revisión de la literatura Physiotherapeutic intervention in facial palsy: a literature review |
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*Fisioterapeuta, formada pela Universidade de Passo Fundo – RS **Fisioterapeuta, Mestre em Ciências do Movimento Humano, Docente e Coordenador da Clínica de Fisioterapia e do Laboratório de Biomecânica do Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo – RS (Brasil) |
Suélen Tansini* Kiomara Gaspodini* Gilnei Lopes Pimentel** |
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Resumo Introdução: a paralisia facial ocorre devido à interrupção da condução nervosa do sétimo nervo craniano, levando ao comprometimento dos músculos da mímica facial. A pesquisa teve como objetivo descrever e analisar a intervenção fisioterapêutica em indivíduos com paralisia do nervo facial. Material e métodos: realizado levantamento bibliográfico nos bancos de dados SciELO, PubMed e Biblioteca Cochrane em língua portuguesa ou inglesa. Resultados e discussão: apesar de alguns estudos apontarem a ineficácia dos agentes físicos nos seu tratamento, a maioria dos resultados encontrados indica benefícios na utilização da eletroterapia, crioterapia, massagem e cinesioterapia, especificamente exercícios de mímica facial e facilitação neuromuscular proprioceptiva. Conclusão: de acordo com a bibliografia consultada, recursos fisioterapêuticos mostraram-se benéficos na reabilitação da paralisia do nervo facial. Unitermos: Paralisia facial. Reabilitação. Fisioterapia.
Abstract Background: the facial palsy occurs by the interruption of the seventh cranial nerve nervous conduction, getting to the commitment of the facial mimicry muscles. The aim of this search was to describe and analyze the physiotherapeutic intervention in individuals with facial nerve palsy. Methods: literature review on Scielo, Pubmed and Cochrane Collaboration database in portuguese or english language. Results and discussion: although some studies pointing the ineffectiveness of the physical agents in this treatment, the most of the results indicate benefits in the electrotherapy, cryotherapy, massage and kinesioterapy, specifically facial mimicry exercises and proprioceptive neuromuscular facilitation. Conclusion: according with the consulted literature, physiotherapeutics resources proved beneficial in the facial nerve palsy rehabilitation. Keywords: Facial palsy. Rehabilitation. Physiotherapy.
Recepção: 04/06/2015 - Aceitação: 10/09/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A paralisia facial é uma neuropatia aguda caracterizada por lesão no sétimo nervo craniano, podendo ocorrer no tronco, ou em algum de seus ramos: temporal, bucal, mandibular zigomático, cervical (Peitersen, 2002; Valença e Valença, 1999).
O acometimento resulta na perda da mímica facial uni ou bilateral, desde o supercílio até a boca, levando a um desvio ipsilateral desta hemiface (Wang e Jankovic, 1998). Dentre as origens encontram-se a idiopática, traumática, tumoral, infecciosa ou proveniente de outras causas (Veillon et al, 2008; Magliulo et al,2005).
O grau de recuperação da função do nervo facial depende da idade do paciente, do tipo de lesão, da etiologia, nutrição do nervo, comprometimento neuromuscular e terapêutica instituída (Vasconcelos et al, 2001; Gomez et al, 1999; Ribeiro e Cassol, 1999).
Para a reabilitação facial é necessária uma equipe multidisciplinar composta por neurocirurgião, oftalmologista, otorrinolaringologista, especialista em microcirurgia, cirurgião plástico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e psicólogo, entre outros especialistas¹. A fisioterapia é indispensável com o objetivo principal de restabelecer o trofismo, a força e a função muscular (Gomez et al, 1999; Beurskens e Heymans, 2004).
O objetivo deste estudo foi descrever e analisar os resultados da fisioterapia em indivíduos com paralisia facial.
Metodologia
Realizou-se um levantamento bibliográfico de caráter exploratório nos bancos de dados SciELO, PubMed e Biblioteca Cochrane, tendo como critérios de inclusão: artigos publicados em idioma português e inglês que relacionavam paralisia facial e reabilitação, não sendo limitada a data de publicação. Para a busca dos artigos foram utilizados os seguintes descritores: paralisia facial, reabilitação, fisioterapia, facial paralysis, facial palsy, rehabilitation, physiotherapy.
Discussão e resultados
Agentes físicos são frequentemente usados no tratamento de casos de paralisia fácil, porém, a sua efetividade não esta bem definida. Ensaios clínicos controlados com agentes físicos têm mostrado que não há benefícios na sua utilização. Os exercícios faciais são conhecidos por reduzir o tempo de recuperação e diminuir as seqüelas. Estudos apontam a utilização da estimulação com massagens rápidas e exercícios de mímica facial para melhorar a simetria. Em um evento internacional realizado há duas décadas, já era apontada a importância do acompanhamento dos pacientes com paralisia facial periférica com exercícios, massagens, eletroterapia e biofeedback (Gomez et al, 1999; Ribeiro e Cassol, 1999; Nakamura et al, 2003; Gómez-Benitez et al, 1995; Roma e Rodt, 2002).
Os exercícios de treinamento neuromuscular da mímica facial são usados para melhorar a simetria da face (Valença e Valença, 1999; Beurskens e Heymans, 2004). Segundo Cohen (2001), os principais recursos de fisioterapia aplicados nos casos deste estudo foram: cinesioterapia, massoterapia, crioterapia e eletroterapia. Os recursos de cinesioterapia como facilitação neuromuscular e estimulação sensorial foram utilizados em todas as intervenções. O resultado do treinamento facial pode ser explicado pela teoria da plasticidade do sistema nervoso.
No estudo de Cohen et al (2000) observou-se, em 95 casos revisados, a recuperação completa da paralisia de Bell em 56 mulheres (58,9%) dentro de quatro meses ou menos. Em outro estudo de 36 pacientes com paralisia facial periférica usando a cinesioterapia, observou-se a recuperação parcial em 83,3% dos participantes após 15 dias, e a recuperação total em 63,8%, após 30 dias de fisioterapia (Gómez-Benitez et al, 1995).
No estudo realizado por Lindsay et al (2010) com 303 indivíduos que possuíam paralisia facial, foram avaliados durante um período de cinco anos, sendo que 87 tinham como etiologia a paralisia de Bell. Aqueles participantes que tinham assimetria facial ao repouso classificada como suave à moderada, os quais eram capazes de iniciar movimentos suaves em alguma ou em todas as regiões da face, e que não tinham padrões típicos de movimentos anormais, receberam tratamento de facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP). Para estes indivíduos a abordagem fisioterapêutica foi dividida em duas partes: mobilização rápida dos músculos faciais e do platisma e reeducação muscular em frente ao espelho.
1º Foi dado aos pacientes instruções sobre o alongamento individualizado da musculatura envolvida. A maioria dos indivíduos necessitou atenção ao meio da face, especificamente aos músculos zigomático maior e menor.
2º Exercícios de reeducação neuromuscular foram prescritos com ênfase em pequenos movimentos para ganhar simetria entre os lados afetado e não afetado da face. A estratégia usada na reeducação neuromuscular foi instruir aos participantes para realizar expressões faciais lentas e controladas, a fim de gerar simetria entre os lados da face. Era necessário aos participantes inicialmente realizar esses pequenos movimentos em frete a um espelho para feedback visual. O biofeedback eletromiográfico foi também usado para guiar ação muscular apropriada para produzir simetria. A Facial Grading Scale (FGS) é um instrumento quantitativo usado para avaliar e monitorar a função facial após lesões do sétimo nervo craniano. É uma ferramenta validada que mensura a disfunção facial pelo escore de simetria ao repouso, mobilidade ativa e padrões típicos de movimentos anormais (Brach e VanSwearingen, 1999; Coulson, 2005; Ross, 1996). Para este grupo de participantes a média inicial do escore FGS foi 60 (desvio padrão de 21, de 13 a 98), e a média do escore depois do tratamento foi 75 (desvio padrão 17, de 25 a 100). Foi observado após o tratamento aumento estatisticamente significativo no escore FGS (p<0,001) (Lindsay et al, 2010).
Em um estudo de Hyvärinen et al (2008) com uma serie de 10 pacientes com paralisia do nervo facial, a intervenção consistiu do aumento gradual da duração do estimulo elétrico em três locais, na área afetada por 6 horas por dia. A mensuração da função do nervo facial foi realizada usando a escala clínica de House-Brackmann e a medida neurofisiológica do potencial de ação nervoso nos lados afetado e não afetado. Os pacientes foram testados antes e após intervenção. Como resultado verificou-se uma significativa melhora observada no potencial de ação do ramo superior do nervo facial no lado afetado de todos os pacientes. Melhora de um grau na escala de House-Brackmann foi observada e alguns pacientes também relataram melhora subjetiva. O estudo conclui que o tratamento com estimulação elétrica transcutânea pode ter um efeito positivo em paralisias do nervo facial.
Em outro estudo comparando a eletroestimulação neuromuscular e o uso da prednisona observou-se que dos 149 pacientes com paralisia facial de Bell, 77 pacientes tratados com a eletroestimulação neuromuscular teve uma recuperação funcional completa mais rápida comparada aos 72 pacientes tratados apenas com prednisona (Gahimer e Domholdt, 1996).
Na paralisia de Bell, considera-se que o tratamento com acupuntura eleva a sensibilidade do nervo, desenvolve a regeneração das fibras nervosas, melhora a circulação sanguínea, a contração muscular, e a nutrição tecidual (Chen et al, 2010; Senna-Fernandes et al, 2003).
No estudo de caso realizado por Barros et al (2012) foi examinado o grau de comprometimento através da escala de House-Brackmann, a qual avalia a função normal até paralisia total dos músculos. Após foi executado um teste eletroneuromiográfico para saber qual é o estado neurofisiológico do nervo facial e seu prognóstico de recuperação. Posteriormente, a paciente foi submetida ao tratamento envolvendo técnicas de acupuntura, sendo que os pontos envolvidos nas dez primeiras sessões foram: F3 (Taichong), F8 (Ququan), E41 (Jiexi), BP6 (Saniinjiao), VB34 (Yanglingquan) e E8 (Touwei) e em ambos os lados e os pontos E45 (Ludui), IG4 (Hegu), e E3 (Juliao) no lado contralateral a lesão. Nas próximas dez sessões, foram utilizados os seguintes pontos: E2 (Sibai), E3 (Juliao), E4 (Dicang), E6 (Jiache), E7 (Xiaguan), VB14 (Yangbai), TA17 (Yifeng) e Taiyang no lado paralisado e os pontos E36 (Zusanli), IG4 (Hegu) e VB34 (Yanglingquan) em ambos os lados. Foram selecionados os pontos de acupuntura conforme prevê o diagnóstico da Medicina Tradicional Chinesa. No final do tratamento, a paciente apresentava simetria e tônus normais ao repouso, com uma leve fraqueza, notável apenas à inspeção próxima (House-Brackmann grau II – disfunção discreta).
Em uma revisão sistemática envolvendo acupuntura na paralisia de Bell, demonstrou-se um efeito terapêutico superior deste método em relação a outros tratamentos conservadores (Chen et al, 2010)
Conclusão
Diversas técnicas fisioterapêuticas têm sido utilizadas com a finalidade de ativar adequadamente a dinâmica muscular facial do nervo paralisado. Apesar de ser uma condição multidisciplinar, a fisioterapia é uma opção efetiva dentre as opções terapêuticas conservadores, através da eletroterapia, agentes térmicos, massoterapia e cinesioterapia.
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