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História da Dança de Salão no Brasil: Minas Gerais do século XIX

Historia de la Danza de Salón en Brasil: Minas Gerais en el siglo XIX

History of Ballroom Dancing in Brazil: 19th century Minas Gerais

 

Mestre em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná

Especialista em Educação, Instituto Brasileiro de Pós-graduação e Extensão

Licenciada em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná

Maristela Zamoner

maristela.zamoner@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivou-se o reconhecimento de características da inserção das Danças de Baile na sociedade de Minas Gerais do século XIX pelo estudo de periódicos da época. A Dança de Baile de maior ocorrência nos periódicos estudados foi a Valsa, primeira Dança de Salão. Em seguida, e nesta ordem, ocorreram: Quadrilha, Mazurca, Polka, Schottish, Contradança, Cotilon, Cateretê, Habanera, Fandango, Batuques, Cancan, Hespanhola, Galopes, Bolero, Maxixe, Samba, Cracoviana, Congo e Lundu. Identificaram-se 19 (dezenove) instituições de ensino formal que ofertavam aulas de dança. Vários artigos foram publicados nos diversos periódicos abordando assuntos envolvendo dança. Os anúncios incluíram: busca por escravos fugidos hábeis na dança, oferta de partituras musicais para dança, divulgação de espetáculos de dança e três títulos de livros sobre dança para venda. Identificaram-se ainda 14 (quatorze) sociedades/clubes de dança. Os resultados mostraram que a prática das Danças de Baile, já identificada em Minas Gerais no século XVIII, prosseguiu no século XIX.

          Unitermos: Dança de Salão. Minas Gerais. História.

 

Abstract

          We aimed to recognize the insertion characteristics of prom dances of 19th century Minas Gerais society by studying the periodicals of that time. It was discovered that Waltz – the first Ballroom Dance –, had the highest occurrence in the studied periodicals. After that, and in this exact order, occurred: Hoedown, Mazurka, Polka, Schottish, Quadrille, Cottilion, Cateretê, Habanera (Cuban Dance), Fandango, Batuques, Cancan, Hespanhola, Gallopade, Bolero, Maxixe, Samba, Krakovian, Congo and Lundu. It was identified that 19 (nineteen) formal education institutions had dance classes in their curriculum. Many articles were published in several periodicals covering dance related subjects. The advertisements included: searching of escapee slaves who had dancing skills, offerings of musical scores for dancing; dance plays promotion and three books about dancing for sale. It was also identified 14 (fourteen) dance clubs/societies. The results showed that the practice of prom dancing, already identified in 18th century Minas Gerais, carried on during the next century.

          Keywords: Ballroom Dancing. Minas Gerais. History.

 

Recepção: 26/02/2015 - Aceitação: 12/07/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Guarato (2010), referindo-se ao cenário da dança no Brasil nas últimas décadas, aborda o reconhecimento internacional de iniciativas brasileiras citando: Mimulus Cia de Dança (MG), Grupo Corpo (MG), Cia de Dança Balé de Rua (MG), Ballet Stagium (SP), Cisne Negro (SP), Balé da cidade de São Paulo (SP), Balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ), Lia Rodrigues Companhia de Danças (RJ), Focus Cia de Dança (RJ), Quasar Cia de Dança (GO), Balé do Teatro Castro Alves (BA), Grupo Cena 11 (SC). Nota-se a importância atual do Estado de Minas Gerais neste cenário, especialmente no que diz respeito à Dança de Salão, uma vez que a Mimulus Cia de Dança prima pelo trabalho de transposição da linguagem coreográfica dos salões para o palco (Mesquita, 2010).

    O valor do Estado de Minas Gerais no âmbito brasileiro da história da Dança de Salão não se restringe à atualidade, no passado, também teve papel de destaque. Em sua história, Minas Gerais foi o núcleo econômico brasileiro no século XVIII, devido ao auge da mineração. Para Leoni (2007), Vila Rica foi centro minerador de importância econômica e estratégica, provocando uma “ebulição social” que, entre outros desenvolvimentos, levou a localidade a ser um referencial da atividade musical. Lange (1946, 1969), cujos estudos se concentram mais ou menos no mesmo período e local, faz uma ponte entre música e dança sustentando que estes dois campos de investigação podem se complementar. Seus textos mostram também que músicos atuavam em casas particulares e sabe-se que nesta época eram comuns os saraus e bailes em residências privadas, que, naturalmente, precisavam do trabalho dos músicos.

    No século XIX é quando a primeira Dança de Salão, a Valsa, figurando entre as Danças de Baile, passa a consolidar-se mais efetivamente nos salões (Zamoner, 2012; 2013a). Desta forma, o estudo das Danças de Baile no Brasil do século XIX é relevante para a ampliação e sistematização do conhecimento sobre a História da Dança de Salão no Brasil (Zamoner, 2013b, c, d, e; 2014a, b). Neste século XIX os documentos periódicos iniciam extensa produtividade no Brasil, sendo que somente a partir de 2012 começam a ser disponibilizados para consulta em formato eletrônico pela Hemeroteca Digital Brasileira. A partir de então os estudos sobre as Danças de Baile no Brasil do século XIX passam a ser conhecidos com base em análise padronizada de diversos periódicos (Zamoner, 2013b, c, d, e; 2014a, b, c, d). Na continuidade destes trabalhos objetiva-se reconhecer aspectos das Danças de Baile na sociedade de Minas Gerais do século XIX.

Metodologia

    Pesquisaram-se periódicos no acervo da Hemeroteca Digital Brasileira, obtidos pela busca filtrada por “Minas Gerais”, produzidos no século XIX. Esta pesquisa foi procedida com os periódicos disponibilizados até outubro de 2014. A metodologia seguiu o padrão utilizado por Zamoner (2014a; 2014c).

Resultados

    Os resultados mostraram-se compatíveis com o que foi relatado em Zamoner (2013b, c, d, e; 2014a, b, c, d) no que diz respeito à condição dos exemplares e ao uso do filtro.

    Foram encontrados 56 periódicos mineiros produzidos no século XIX cobrindo o intervalo de tempo entre 1823 e 1900. Esta pesquisa foi procedida com os periódicos disponibilizados até outubro de 2014. As buscas nos citados periódicos trouxeram 1.114 apontamentos do unitermo “dança”. Notou-se que 273 deles corresponderam a palavras semelhantes ao unitermo de busca.

Professores de Dança

    Em 1828 “O Farol Paulistano”, registra o anúncio de uma senhora que ensinaria danças juntamente com outras disciplinas em um colégio a ser aberto para funcionar na Vila de São João d'El-Rei, em Ouro Preto, Minas Gerais.

    No ano de 1835 o “Astro de Minas” traz uma nota revelando que neste ano havia pelo menos um professor de dança na província, porém, seu nome não foi citado nos únicos dois anúncios encontrados em todos os periódicos estudados:

    Grande Sala de dança na rua da Prata N. em que se ensina por novo methodo e em 40 horas o que requer huma educação cuidadosa, sendo a dança huma prenda que embelece e orna as pessoas civilisadas. O annunciante offerece se tambem a ensinar bailes em casas particulares. (MINAS GERAIS: Astro de Minas, 1835 – edição 1152) – grifos meus

    AVISO

    Torna se a partecipar ao respeitavel Publico que na Sala de Dança na rua da prata ensina se o que requer uma educação cuidado, sendo a dança huma prenda que embelece e orna as pessoa civilisadas Persuadão os illustres habitantes desta Villa que huma bela educação he o melhor bem que se pode deixar aos filhos, por isso não devem despresar de lhes dar os principios desta arte: a mais facil: de menor gasto; e a mais vulgarisada por ser a primeira a que se atende das artes encantadoras. (MINAS GERAIS: Astro de Minas, 1835 – edição 1208) – grifos meus

    Entretanto, não há como ignorar a semelhança destes textos com outros publicados em outros estados:

    Angelo Chaves Dansarino tem sala de danças de novo methodo Francez na rua da Crnz do Recife, no. 18, em que ensinara o que requer uma educação cuidadosa, sendo a dança huma quallidade que embelesa e orna as pessoas civilizadas. Assignatura mensal serà a preço modico em attenção à concorrência que houver. O Mestre de Dança se offerece a dirigir em cazas particulares os Bailes que se destinarem, assim como dar lições nas Cazas onde lhe fizeram a honra de o chamarem. (PERNAMBUCO: Cruzeiro Jornal Politico, Literario e Mercantil, 1829) – grifos meus.

    - Mr. Anjo Chaves Professor de Dança torna a participar ao respeitavel Publico, que em sua caza rua de S. Bento n.6 da lições de dança a todas as pessôas que de seu prestimo e arte se quiserem utilisar: insina-se o que requer uma educação cuidadosa, sendo a dança uma qualidade que embelesa, e orna as pessôas civilizadas, por ser o metodo Francez com que se propõe a insinar, o mais seguido, e o mais adoptado em todas as capitaes d´Europa, servindo não só para o entretenimento que ministra a dança, como para a polidez do porte, movimentos, atitudes e maior civilidade. Tambem se compromette o annunciante a dar lições por cazas particulares; assim como a ensaiar, e dirigir bailes no melhor gosto annunciado. (SÃO PAULO: O Farol Paulistano, 1831) – grifos meus.

    Anúncios de outros professores não apresentaram tais semelhanças textuais, permitindo que se cogite a possibilidade de se tratar do mesmo profissional, a respeito de quem haveria registro em Pernambuco nos anos de 1829 e 1830, São Paulo em 1831 e Minas Gerais em 1835. A proximidade e não coincidência das datas reforça a hipótese de se tratar do mesmo profissional que teria passado por alguns estados brasileiros ensinando dança durante estes anos.

    Em virtude destas coincidências procedeu-se a busca pelo unitermo “Chaves” no periódico “Astro de Minas”, obtendo-se 68 apontamentos. Nenhum deles correspondeu a um nome próprio igual ou semelhante a “Anjo Chaves” ou “Angelo Chaves”. Entretanto, muitos nomes com o sobrenome “Chaves” foram constatados, inclusive ocupando cargos públicos relevantes.

    A pesquisa revelou um nome de professor, porém, em uma circunstância que merece ser analisada com parcimônia. No ano de 1881, é noticiado um crime pelo periódico “O Leopoldinense”, edição 46, e nele cita-se que o criminoso seria o professor de nome Bernardino de Senna, que ministrava aula de dança.

    Em 1882 “O Leopoldinense” publica um anúncio intitulado “CURSO DE DANSA”, que revela a existência de um outro professor sem que seu nome seja citado: Lá para as bandas da rua Primeiro de Março estabeleceram um Curso de Dansa. O professor encarregado das lições é perito nos repinicados da contradança. A elle rapaziada! O mestre dansarino é digno da vossa generosa protecção.

Dança no ensino formal

    Anúncios em jornais de Minas Gerais do século XIX, feitos por colégios de educação formal ofereceram aulas de dança aos seus alunos como parte integrante da educação.

    Como já citado, o jornal paulista “O Farol Paulistano”, registrou no ano de 1828 um anúncio de uma senhora informando que ensinaria dança e outras disciplinas em um colégio de educação para meninas a ser aberto na “Villa de S. João d’El-Rei”.

    Os colégios identificados como tendo funcionado no século XIX ofertando aulas de dança do ensino formal em Minas Gerais foram: Collegio em Campo Bello - diretora D. Maria Rita de Magalhães Leite (1879), Collegio - diretora D. Maria Esmeria de Negreiros Magalhães Leite – cidade de Formiga (1860), Collegio Abilio – Barbacena (1882), Collegio Abilio Filial (1881), Collegio Almeida Martins (1873), Collegio Braga (1890), Collegio de N. Senhora do Nazareth (1886), Collegio Duval - São João Del Rei (1853), Collegio Fernandes (1852-1853), Collegio Franco - Brazileiro - Rio de Janeiro (1881-1882), Collegio Prof Policena Tertuliana de Oliveira Machado (1851-1856), Collegio Roussim - transferido de Marianna para Parahybuna (1860), Collegio Santa Josephina (1875), Collegio Santíssima Trindade - Bom Sucesso (1883-1885), Collegio São Pedro de Alcantara - Freguesia de São Pedro de Alcantara de Simão Pereira (1864), Externato Italo-Brasileiro (1890), Internato de N. Senhora da Piedade - Juiz de Fora (1888), Santa Theresa - Freguesia de São Pedro de Alcantara de Simão Pereira (1864), Collegio Particular Reverendo José Joaquim de S. Anna (1831). Nenhum dos colégios que ofertou aulas de dança informou, em seus anúncios, qualquer nome de professor(a).

Artigos

    O “Astro de Minas” publicou em sua edição 608, de 1831 um artigo que discutia a pertinência do ensino de dança em cursos de Medicina.

    ...pobre Brasil se passasse o Projecto do Sr. França! não tocarei em mais cousas, porque isto cansarà a paciencia do leitor; todas ellas provocao tanto a riso, e são tao disparatadas; como a dança, e a tachigrafia para quem se quisesse matricular em aulas de Medicina, e concluirei dizendo, quanto ao Sr. França Pai, que he homem de muito boa moral; mas como Deputado nada tem feito em beneficio da naçao, e so tem servido de tomar tempo com as suas exdruxularias, e originalidades.

    A discussão sobre a dança relacionada a cursos de Medicina parece ter tomado certo vulto, em 1832 ainda se lê, no mesmo periódico “Astro de Minas”, edição 709:

    O Sr. Ferreira França, que tem-se resolvido a servir de bobo ao mundo inteiro, offereceo os seguintes Projectos: 1.o para as Senhoras formarem-se em Medecina, devendo saber, para matricularem-se, Inglez, Italiano, Allemão, Geometria, Algebra, Dança, Musica, desenho, terem 16 annos de idade, e boa figura, além de muitas cousas, que provocão riso [...]

    Em 1840, no periódico “O Universal”, foi publicado um artigo sob o título “Os Bailes”, que discorre sobre costumes da época, destacando-se trechos como:

    Antigamente, os Esopos, os Bertoldos, os Galafres, os pernas de poldro ou de tesoura de cartório, as senhoras pansudas e obesas, as corcovadas, e em summa as mal configuradas, ja sabião que não erão asadas para a dança, e contentavão-se de aplaudir aos que a naturesa havia talhado para isso; hoje porem (estamos n’um seculo de muito progresso!), não ha senhora, não ha homem que não seja apto para dançar, ainda que ella seja a propria dama Jacintha de Gil-Braz e elle o verdadeiro transumpto de Sancho Pansa.

    O artigo relata sobre o hábito de passearem aos pares, cavalheiros e damas, após dançarem uma quadrilha, momento em que podiam conversar sobre os mais variados assuntos, registrando que para a mulher era uma forma de adquirir conhecimentos. Em determinado trecho o autor dedica-se a Valsa, sugerindo a possibilidade de que esta dança pudesse ser a causa das mortes de mulheres pelo que chama de “thisica”:

    Nos intervallos das quadrilhas e do impreterivel passeio tem lugar as lindissimas walsas de corrupio; andão os pares, como em um sarilho, e quando acabou, é botando a alma pela boca. Quem quizer conhecer o estado de violencia em que ficão os walsadores, repare-lhes para os rostos, attente para o collo das senhoras. Uns ficão com feições furiosas, e abominaveis, outros tem-as immoveis como as de estatuas: esta sr.a parece uma figura de gesso, aquella torna-se vermelha como um pirú, em todas ellas as jugulares e as parotidas pulsão de um modo extraordinário, effeito natural do grande abalo do pulmão, e das mais entranhas, aliás mettidas nas talas do indispensavel espartilho. E será crivel que taes Walsas deixem de causar gravissimo damno á saude em um paiz quente, como o nosso! Parece-me que sim; e talvez que d’ahi se possa explicar o crescido numero de thisica, que vão dando cabo de tantas senhoras no verdor de seus annos; e tal é a opinião respeitavel de alguns facultativos, com quem tenho conversado a este respeito.

    A palavra “thisica” ainda fazia referência comumente, nesta época, aos portadores de tuberculose. No ano de publicação deste artigo, 1840, esta doença era pouco conhecida. A sua transmissibilidade foi identificada apenas em 1865, a publicação sobre a descoberta do agente causador, somente em 1882 e a cura só viria a partir de 1944 (Conde e Kristski, 2002). Em meados do século XIX a mortalidade por esta doença no Brasil era elevada e os anúncios de produtos para seu tratamento, em jornais, eram comuns.

    Na sequência do artigo o autor critica o modo de se copiar os hábitos dos estrangeiros.

    Mas, acima de todos os argumentos, acima de todas as consideraçoens está o imperio da moda. Pois será possivel que taes corrupios se dancem em Paris, em Londres, em Viena d’Austria, etc., etc., e deixem de dançar no Brasil? Embora o calor da Zona torrida, em que habitames, torne incommodas e prejudiciaes á saude similhantes danças embora morrão aos centos, como tordos, as nossas senhoritas vvalsadoras, com tanto que arremedemos o estrangeiro nas cousas indiferentes, insignificantes e até nas ridiculas.

    [...] Fez a naturesa as mulheres para outra cousa mais digna, do que para morrer no gira da dança, como as mariposas e outros insectos piraustas tem de sua indole o acabarem na luz, em que primeiro girão?

    Quase encerrando o artigo, relaciona-se a prática da dança a condições de diferentes localidades do mundo, inclusive em seus aspectos climáticos.

    Assim, a dança parece-me deve accommodar-se ao clima e caracter das naçoens. As que habitão paizes frios adoptão danças violentas, e proprias para excitar o calor: ás meridionais pelo contrario convem as danças brandas, e até certo ponto molles e sensuaes. Dados estes principios, entendia eu que ao nosso Brasil convinhão as danças desta ultima classe, danças flexiveis sem ser pantomimicas, requebradas sem degenerar em deshonestas. Em geral me parecia que as danças hespanholas erão as mais adequadas ao nosso clima; porem, estas danças requerem certa configuração, certo ar garboso, certa flexibilidade muscular, tem regras prescriptas, e deste modo não chegarião a todo bicho careta.

    Ao final, o autor ameniza seu tom de crítica a prática da Valsa no Brasil, considerando outros aspectos e, inclusive, sua própria condição e suas limitações.

    Bem sabem que sou um pobre roceiro, que sou quasi montezinho, e que assim pensamenteio, provavelmente por ignorar os profundos arcanos do bom e do grande tom, sciencia aliás de summa importancia. Bem pode ser que nesses mesmos corrupios haja muitas vantagens, que, por delicadas e recônditas, escapão ao meu fraco bestunto; talvez sejão elles um meio mais de civilisação, e enlace de famílias, talvez sejão um symbolo da união conjugal pelo muito cosidos que girão os pares. Neste caso dignem-se desculpar a minha grosseria, attendendo á puresa de minhas intençõens.

    O “Correio Official de Minas”, em 1859, publica um texto sobre agricultura com a nota: “A. de Saint Hilaire diz que os brasileiros devem ser muito gratos aos africanos, porque forão elles que lhes ensinarão a agricultura e a dança”.

    Nota-se uma visão desfavorável a dança no caso do “Arauto de Minas” de 1883 em que se lê: “Onde vires muitas meninas pallidas e magras, è porque abundam ali salas de dança, e pouco se trabalha”.

    O periódico “A União”, datado de 19 de janeiro de 1887, traz um artigo sob o título “Ressureições”, no qual se discute a retomada, no século XIX, de cerimonias antigas. Este texto faz referência a dança em alguns trechos como:

    Em França, nos salões da moda, predominam o menuete e a pavana, que dentro de pouco tempo serão danças preferidas. A alta sociedade mundana procurava substituir a valsa, a polka, a quadrilha, o cotillon, e não podendo inventar nenhuma cousa nova, volveu aos tempos antigos.

    [...]

    Pelo que as chronless galantes de Pariz relatam, os bailes modernos tendem a desapparecer, como desappareceram, pelo menos dos salões, os bailes populares, e não faltarão de certo poetas que lhes consagrem sentidas elegias, nem futuros moralistas que se pejem de os descrever.

    Os bailes do século passado tiveram uma vida muito ephemera, e esse facto deriva-se immediatamente de uma causa unica – a monotonia d’essas danças, ceremoniosas, graves, que exigiam uma arte consumada a uma distincção finissima. O menuete, que ha bons duzentos annos el-rei Luiz XIV teve a gentileza de dançar em Versalhes, foi de certo inventado pra uma sociedade desde o berço consagrada ao ceremonial dos salões da arte, gente desde creança educada n’aquellas maneiras affectadas e compostas que tanto distinguiam os cortezãos, n’aquellas galanterias requintadas que não se podiam imitar sem o imitador cahir n’um burlesco actor. Além d’isto, essa gente, pelas exigencias do meio em que vivia, andava, falava, movia-se e até pensava de um modo diverso de toda a gente; tinha regularidade monotona e banal do pendulo de um relogio, por que, se se permitisse um gesto mais frouxo, desabariam os promentorios do penteado, e seria certa numa queda produzida por algum desvio dos empinadissimos tacões! Os sectarios d’esta epocha rejeitavam a valsa, de certo, e só podiam admitir as danças graves e correctas, cheias de passos cadenciados, mesuras respeitosas, danças que bem podiam supprir a falta de qualquer uarcotico!

    Com a educação de hoje, o menuete e a pavana poderão admittir-se a serio?...

    [...]

    Neste resuscitar de cousas meio apodrecidas, quem sabe se se reproduzirão os bailes populares que muitas nações conservam como uma religião?... Cada paiz exhibiria então o seu baile differente, e com certeza ver-se-iam cousas deliciosas. A Hespanha contribuiria com o seu flamenco, a sua jota, a sua gallegada, danças typicas e alegres, que traduzem a vivacidade d’aquelle povo impetuoso e ardente; a Inglaterra dançaria o reel; a Grecia, o agrismene; a America do Sul, o fandango e a chica; a Autralia, o corrobonis, a França, a farandola e o auvergnat; a Italia, tarantella; a Dinamarca, o lotour; Portugal, as suas danças campestres, tão vivas e coloridas, e até o Congo que já figura no almanack Gotha, concorreria com a sua dança gorilla. E havia de ser curiosa esta exhibição, porque todas as danças definem as nacionalidades a que pertencem, e contribuem muito para a historia dos seus costumes.

    A dança, seja como for, não perderá nunca de moda. Tem a sua raiz nas tradições e faz parte dos divertimentos mundandos e dos exercicios physicos.

    [...]

    O grande apostolo da educação de creanças, Froebel, introduziu os bailes nos seus jardins de infancia, o Jahm Schoneber, Servis, Sing, Snibs e outros adoptaram a dança nos seus methodos de educação physica.

    [...]

    Homero chamou a dança – o mais doce e perfeito dos gozos humanos – e Homero não era nenhum tolo.

    Menuete ou valsa, pavana ou quadrilha, a dança há de morrer com o mundo. E o que é a vida senão uma dança continua?...

    Um artigo intitulado “As mulheres feias”, que foi constatado em diversos periódicos, a exemplo do “Diario de Minas”, em 1874, e também em jornais de vários outros estados brasileiros, revela a importância da dança nas relações entre homens e mulheres, o que pode ser bem percebido por trechos como:

    O marido da mulher bella pouco dansa, come pouco, não tira os olhos do lugar onde está a mulher escolhida do seo coração, franze o sobr’olho quando ella danda com algum, passeia agitado pelas salas, e finalmente depois da terceira quadrilha pretexta uma enxaqueca e põe-se a fresco sem mais cerimonia.

    Antes de entrar no salão do baile não se esquece da recommendação habitual:

    -Não danses muito que não te fica bem, amor. E a respeito de walsas, polkas, nem falar n’isso é bom. Nada de polkas nem walsas, vê lá!

    O consorte da mulher feia é mais generoso:

    -Dansa, meo bem, dansa a vontade. Olha é hygenico até! Faze de conta que estás solteira; não te importes comigo. Diverte-te, minha dôr, diverte-te até não poder mais.

    “O Baependyano”, registra em 1881 um texto extenso dedicado à “Educação physica”, publicado em várias partes, em uma delas, denominada “Gymnastica”, lê-se o trecho:

    Dançar: para ser util á saude, não deve ser executada immediatamente depois da comida, como nenhum exercicio violento, nem prolongar-se durante toda a noite, e em logares pouco espaçosos relativamente ao numero das pessoas.

    E´o exercicio das mulheres; contrapeza os effeitos nocivos de suas occupações sedentarias.

    Este exercicio dá aos homens, que fazem d’elle seu emprego, formas que se aproximam muito as das mulheres.

    Com effeito, os dançarinos de profissão teem os musculos das pernas, das côxas e da parte inferior do tronco – fortemente desinvolvidos, os das extremidades superiores o são muito menos; seu peito, suas espadoas parecem estreitas e apertadas.

    No ano de 1885 o “Pharol” apresenta, já na primeira página de 18 de julho, um artigo denominado “A Dança”. Neste texto, aspectos históricos são abordados e se questiona o que possivelmente possa ter sido algum posicionamento de educadores sobre a prática da dança:

    Em summa, a dança teve seguidores em todos os tempos e em todos os paizes, e ainda hoje, referindo-nos ás mais populares, faz a tarantella a delicia dos napolitanos, os bolores e o fandango a dos hespanhóes, a mazurca, a krakoviana e outras, a dos povos do norte da Europa.

    Será a dança prejudicial como querem certos educadores? Quando é exercida no campo, em pleno ar, pelos camponezes, ou ainda parcamente nas salas pelos que as costumão frequentar – não. Neste caso até a hygiene e a boa educação a recommendão, porque excita o sistema muscular, acelera a respiração e a circulação, e imprime a toda a economia mui-actividade.

    Nos grandes bailes onde o calor asphyxia mais do que em uma estufa, onde o ar que se respira é viciado, dançando-se o cotillon ou a walsa até se exhaurirem as forças sim. Não haverá medico que não reprove a dança tocando este excesso.

    Em 1886 o “Arauto de Minas” publica um artigo intitulado “O baile”, que tece críticas severas de forma generalizada. Alguns trechos do texto chamam a atenção:

    É’ o prazer estrepitoso dos loucos. O iman seductor de nossa sociedade.

    O baile é o centro da loucura. Muitas vezes é a perdição de alguns que não sabem reflectir meia hora antes do folguedo.

    Ali reside o alimento das paixões humanas. Experimenta-se, muitas vezes, essa especie de prazer que se extingue nos deleites.

    O baile corrompe, perverte e seduz; mas nem por isso deixa de ter uma grande utilidade.

    Esta utilidade é usufruída pelo philosopho.

    Este vai ao baile não dansa, observa. Estuda a sociedade com todos os seus caracteristicos.

    No baile ve se o seductor fazer a corte á moça inexperiente e ingenua mais cheia de vaidade e orgulho.

    A vaidade e o orgulho constituem um incentivo para a perdição.

    [...]

    No baile ve-se tambem o tolo imitar os admans dos platonicos salão, os galants, para alcançar a victoria em algum conquista que emprehende.

    Este torna-se o palhaço de todos.

    [...]

    Ainda ha outros inconvenientes no baile que os não preciso mencionar.

    Estes inconvenientes provêm de um mal que nos acompanha: a educação. Eis o caso em que se deve observar as palavras de Bonald: A instrucção forma os sabios: a educação forma homens.

    Trate-se, portanto, de dar uma boa educação aos filhos, que elles serão os primeiros a honrar o nome de seus pais, praticando actos de valor. E que esta educação estenda-se á mulher, que ella será a melhor guarda da sua honra.

    [...]

    O bom senso dos que estudam comprehende o ridículo dos que se atiram á essas emoções.

    Os frivolos, no momento de prazer esquecem-se de si mesmo. E o observador consciente estuda-lhes os sentimentos – tirando d’esse estudo um grande partido para si e um lucro vantajoso para a sociedade moralisada.

    O grande mister do que se entrega ao estudo dos outros é concluir pelo estudo de si proprio. O baile é para este um livro pratico, onde elle vai estudar a sociedade.

    E é justamente o que mais se diverte. Não se atira ao delirio da dança para assistir ao espetaculo dos loucos.

    O baile é a festa dos que deixam em casa as faculdades mentaes, para não reflectirem nos devaneios que praticam, creio ser a definição mais apropriada.

    O “Diario de Minas” de 1889 publica em “Colaboração” um texto de Caxambú, intitulado “Excuasões Hygienicas” contendo o seguinte trecho: Uma moça que não dansa é ave que não canta. Representa nos salões o papel de uma estatua ambulante.

    No ano de 1893 o periódico “Minas Geraes” noticia em “Factos diversos”, o processo de uma dama contra um cavalheiro que em uma dança a teria levado a uma fratura de perna:

    Todas as pessoas apaixonadas pela dansa seguirão com interesse os debates de um processo que será proximamente julgado pelos tribunaes inglezes.

    Segundo o Medical Pres and Circular, uma jovem dama de Newark fracturou uma perna em resultado de uma quéda feita no momento em que ella dansava; esta dama acaba de intentar acção contra o seu cavalheiro, que ella reputa responsavel, baseando-se em que aquelle fez prova de uma grande falta de dextreza, causa única do deplorável acidente de que foi victima.

    Em 1894 o periódico “Minas Geraes” traz, na parte oficial, um documento que seria o termo de renovação de um contrato de uma cessão da Secretaria da Agricultura para uso de águas medicinais de Caxambu e Contendas, dada ao cidadão Francisco de Paula Mayrink, para exploração. Este termo estabelece que: O empresario mandará nivelar o terreno, drenar o sub-sólo e plantar um parque na area cercada que fica á margem direita do Bengo e poderá construir dentro do mesmo parque edificios proprios para exercicios de gymnastica, dança, patinação e outros divertimentos congeneres.

Anúncios

    Muitos anúncios foram encontrados registrando a fuga de escravos e em suas caracterizações aparecia a habilidade para a dança.

    Foi localizado um anúncio de partitura musical para dança, “galop” e “mazurca”, no jornal “Pharol” de 1884.

    Os livros de dança anunciados à venda em periódicos do século XIX em Minas Gerais foram: Arte de Dança (1881-1898), Arte de dança de sociedade (1882-1894) e Cotilhão (1895).

Sociedades de dança

    Foram encontradas as seguintes referências a sociedades ou clubes que ofertavam aulas/ensaios de dança ou bailes: Club 4 de julho (1886), Club Academico (1896), Club Democrático (1895), Club Democrático Primeiro de Janeiro (1886-1891), Club Juiz de Forano (1900), Club Luso Brazileiro - Juiz de Fora (1897), Club Myosotis - Ouro Preto (1895-1898), Club União Democrata - Ouro Preto (1899), Club União Luzo-Brazileiro - Juiz de Fora (1882-1885), Gremio Appolo (1897-1898), Riso da mocidade, estrella do Brasil (1887), S.U.E.C. (1893), Sociedade Familiar de Dança Primeiro de Janeiro – Juiz de Fora (1881-1883), Sociedade Phliarmonica (1882), Sociedade Recreativa Principal de Napoli (1892). A “Sociedade Familiar de Dança Primeiro de Janeiro” anunciou em 1º. de janeiro de 1883, pelo periódico “Pharol”, de Juiz de Fora, que “festeja hoje o seu terceiro anniversario”. O mesmo periódico comunica em 9 de outubro de 1883 que a “Sociedade Familiar de Dança Primeiro de Janeiro, fundada nesta cidade, passou a denominar-se Club Democrático Primeiro de Janeiro, pondo-se assim mais em contacto com a democracia, de que é parte”. Este registro permite perceber que as duas sociedades são uma única que mudou de nome em outubro de 1883. A “sociedade de dança Riso da mocidade” teve sua existência constatada nesta pesquisa devido a uma nota policial publicada no periódico “O Pharol”, de 1887, informando que a polícia estivera no referido clube em busca de escravos fugidos sem encontra-los. O “Club Juiz de Forano” foi constatado pela notícia da reunião de rapazes para sua fundação, no periódico “Pharol”, em 1900.

Espetáculos

    O reconhecido hábito de se realizar bailes em teatros foi constatado também em Minas Gerais, devido a diversos anúncios informando que após a realização da representação a plateia seria convertida em salão de dança, como por exemplo se constata na edição no 52 do ano de 1900, periódico Minas Geraes.

    “O Universal” publica em 1834 o anuncio de um espetáculo teatral preparado por José Chiarini e sua Companhia, prevendo para tal a “dança da corda”, “Sollo aziatico, em caráter Tareo”, “dança Grotesca” e jovens dançando “Lundú jocozo”, entre outras apresentações de cunho circense. O mesmo jornal noticia em 1840 que Lourenço Corrêa de Mello trará a cena o drama “O Triumpho da America”, e após seu encerramento uma “exótica figura” apresentará uma dança a solo.

    Em 1858 o “Correio Official de Minas” anuncia, sob o título “THEATRO” que em 16 de outubro Agostinho Abelia fará uma representação de física e prestidigitação que incluirá na primeira parte “A dança dos feiticeiros” e na terceira parte “O novo dançarino da corda”. No ano seguinte o mesmo periódico anuncia que no “THEATRO DO O. PRETO”, a benefício de S. José, haverá uma apresentação vaudeville na qual constará a dança “Remendão de Smyrna”.

    O “Noticiador de Minas”, em 1872, anuncia um espetáculo a ocorrer no “THEATRO”, cuja segunda parte prevê a apresentação de “Dança hespanhola”.

    No ano de 1875 o “Diario de Minas” noticia que haverá “Dança de Anãos” no “Theatro”, juntamente com o drama “Principe Russiano”, em benefício das obras da matriz da freguesia de Antonio Dias.

    Em 1877, no “Arauto de Minas” lê-se que no “Theatro S. Joannense” a empresa de Azeredo Leite apresentará um espetáculo dividido em cinco partes e na quinta parte D. Francisca Leite e Dantas apresentarão “Uma noite de carnaval”, que será um número com música e dança encerrado com “Kan-Kan” e “fadinho brazileiro".

    “O Pharol”, em 1877 noticia que no “Theatro Perseverança” será apresentada, pela primeira vez na cidade, uma peça chamada “Nho Quim”, que já fora apresentada “600 vezes em todos os theatros da corte”. O mesmo periódico, no mesmo ano, para o mesmo teatro, noticia a comedia “Os amores d’um sachristão”, com dança. “O Pharol”, em 1882 noticia, com a chamada “Theatro Perseverança Companhia Dramatica de Amelia Escudero” um espetáculo no qual os irmãos François e Niuica dançam um dueto. O mesmo periódico, no ano seguinte, noticia dois espetáculos, um que inclui uma “dança hungara", realizada pelos irmãos Idalia e Roza e outro com uma “Dança aldeã”, apresentada pelos jovens Albanito e Adelita. O mesmo periódico, em 1886, traz novamente uma notícia sobre um espetáculo da Companhia Amelia Escudero, desta vez, na quarta parte do espetáculo trazendo uma opereta de 1 ato, “A União Iberica”, com dança de Baptista Machado e, na quinta parte, a comédia franco brasileira “Nhô-Quim”, com canto e dança. No ano seguinte, o mesmo periódico noticia para o “Theatro Perseverança” o drama “Mãe”, que termina com música e dança. Em 1890, ainda no “Pharol” noticiam-se outros espetáculos, um, sob o título “Prestidigitação”, no “Theatro de Juiz de Fora” em que fora apresentada uma “dança dos esqueletos” que causou admiração geral pela forma com que o artista trabalhava diversos objetos e outro, no mesmo teatro, cuja segunda parte traria “dança americana”, desempenhada pelo jovem C. Herbet, em um pedestal. O mesmo periódico anuncia em 1892 um espetáculo contendo um número de dança chamado “fadinho portuguez”.

    Em 1890 o “Pharol” noticia um espetáculo de nome “O Periquito” que conta com um personagem mestre de dança, chamado Lucas, interpretado por Sr. Peret. Em 1894 o periódico “Minas Geraes” publica que o “Theatro Ouro-Pretano” trará variedades incluindo uma apresentação intitulada “O Periquito” que conta com o personagem Lucas, um mestre de dança representado pelo Sr. Leite. No ano de 1897 o “Pharol” noticia um espetáculo com as mesmas características, títulos e personagens. O mesmo periódico, no mesmo ano, noticia ainda um espetáculo que contém uma parte denominada “O Mestre de Dança”.

    O periódico “Minas Geraes” de 1898 noticia uma apresentação vaudeville, no “Theatro”, sob direção do ator Germano Alves, com a “machina Cinematograho Lumiére", cuja terceira parte apresentará jogos de malabares e dança do ventre na África.

Danças

    A Dança de Baile mais constatada foi a Valsa. Esta constatação em relação à Valsa parece compatível com o registrado por Giffoni (1974) que aborda a sua prática nos bailes do estado, citando Valsa Americana, Valsa Vienense (1896), Valsa Prussiana, Valsa Francesa e Valsa Rodada. Em seguida, e nesta ordem quantitativa ocorreram citações de: Quadrilha, Mazurca, Polka, Schottish, Contradança, Cotilon, Cateretê, Habanera, Fandango, Batuques, Cancan, Hespanhola, Galopes, Bolero, Maxixe, Samba, Cracoviana, Congo e Lundu.

    Sobre o Batuque, no ano de 1874 o “Diario de Minas” publica a Lei número 2061 do Governo Provincial, que, em seu Titulo 4º “Da segurança publica”, Capítulo 2º “Sobre medidas preventivas de damno”, Artigo 83, registra sua proibição. No ano de 1881 o periódico “A Actualidade” publicou na “SecçãoOfficial” a “Resolução N. 2756 – de 20 de dezembro de 1880”, contendo o que denominou “código de posturas da Camara Municipal de S. Gonçalo do Sapucahy” cujo Artigo 119 explicita: E’ prohibida a dança de batuque com algazarra, que incommode ao publico, nas casas das povoações: multa de 2$000 de cada pessoa que se achar no batuque. Em 1888 nova publicação oficial no periódico “A União”, traz a “Resolução N. 3886 – de 1.o de setembro de 1888” que Approva para todas as camaras municipais da provincia o additamento feito ás posturas da camara municipal do Rio Novo, por Barão de Camargos, vice-presidente da provincia de Minas Gerais, registrando em seu Artigo 15: E’ prohibida a dança de batuques e cateretê em qualquer logar do município: pena de dispersão do ajuntamento e multa de 5$000 sobre cada um que nelles se achar e 20$ ao dono da casa ou cabeça da reunião. O batuque é citado em um texto intitulado “O tropeiro” em uma coluna de variedades do periódico “Correio Official de Minas” do ano de 1857. O texto aborda a vida e o trabalho de um tropeiro e em determinado trecho, lê-se:

    Depois de tão arduo trabalho, durante quasi um dia inteiro, parece muito razoavel que este homem, á noite, só procure repousar das fadigas da jornada; mas é um engano, porque se á noite elle encontrar no rancho, ou perto d’elle, um cateretê ou um batuque, tomará a viola, sua constante companheira, e irá sapatear como se nada tivesse feito, e envolvido na dansa a noite inteira, ao romper do dia retomará os seus afazeres, sem que se queixe do menor cansaço.

    O “Constitucional” de 1868, edição 85, publica um trecho curto de um texto abordando o Batuque e relacionando-o com o Cateretê:

    Sabes, ó leitor, o que è batuque? E’ uma especie de dansa selvegem que começa e finalisa sempre as embigadas, e parece-me que será bem vulgar, porque nosso Bernardo Guimarães em uma de suas obras diz:

    Já ressoão timbales e fufos,

    Ferve a dansa do cateretê,

    Taturana batendo os adufos,

    Sapateia cantando – o le-rê!

    Getirana bruxinha tarasca,

    Arranhando fanhosa bandurra,

    Com tremenda embigada descasca

    A barriga do velo Caturra.

    Que pagode! que pagode! que pagode.

    Em 1887 o periódico “Pharol” registra uma pequena nota sobre a história da Valsa: Um escriptor allemão descobriu que ha agora cem annos que foi composta a primeira walsa. Em 1787 um compositor hespanhol, Vicente Martins, fez representar em Vienna uma opera contendo uma dança de novo gênero, que não tardou a ser adoptada em todas as salas.

    O “Pharol”, em 1876 apresenta uma nota sobre a polka, noticiando o falecimento de quem em tese a teria inventado:

    Inventor da polka. – Os jornaes de Vienna annuncião a morte de Neruda, musico distincto que inventou, ou talvez mais exactamente, poz a polka em moda. Neruda vivia ha alguns annos no campo, nos arredores de Praga, com sua mulher. Forão ambos assassinados por ladrões. Foi em Praga, em 1832, que Neruda creou a polka. Obteve um grande êxito em Vienna. Alguns anos depois, Raab dansou a polka no theatro de Odeon, em Pariz. Esta dansa tornou-se moda em pouco tempo.

    Outras danças foram constatadas, em geral, com caráter cênico, circense ou religioso, como por exemplo: dança de caboclinhos (1887); dança indiana (1856); dança dos feiticeiros (1858); dança de corda (1844, 1866); dança Macabra (1893); dança de mangulia (1895); dança de velhos (1883, 1891, 1897, 1900); dança da serpentina (1894, 1895, 1900); dança de camponeses (1900).

Conclusões

    A prática das Danças de Baile, já identificada no século XVIII, teve continuidade durante o século seguinte em Minas Gerais, fazendo parte da sociedade em diferentes aspectos.

    Comparativamente com outros estados, em Minas Gerais encontraram-se poucos nomes de profissionais atuantes com ensino de Danças de Baile no século XIX (Zamoner, 2013b, c, d; Zamoner, 2014a, b, c, d, e).

    Possivelmente a Dança de Baile mais praticada em Minas Gerais no século XIX foi a Valsa, primeira Dança de Salão, a exemplo de diversos outros estados brasileiros.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 209 | Buenos Aires, Octubre de 2015
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