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Dislexia e Educação Física: estudo de caso das dificuldades encontradas por uma graduanda de Educação Física no município de Aimorés, MG

Dislexia y Educación Física: un estudio de caso de las dificultades encontradas
por una estudiante de la Educación Física en el municipio de Aimorés, MG

Dyslexia and Physical Education: a case study of the difficulties encountered
by a student of Physical Education in the municipality of Aimores, MG

 

*Especialização em Esporte e Atividade Física Inclusiva

para pessoas com deficiência - Ngime - UFJF

**Professor orientador - Ngime – UFJF

Professor do curso de Educação Física – UNEC

Liza Rose Medeiros Garcia Mendes*

Cláudio Silva Porto**

claudiosporto@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo investigar as possíveis barreiras enfrentadas por uma acadêmica do curso de Educação Física com dislexia durante seu estágio de ensino. Metodologicamente é um estudo de caso, realizado no município de Aimorés/MG, em que o instrumento utilizado foi um questionário adaptado por Porto (2014) e proposto por Abreu (2012), contendo 13 questões estruturadas. As questões envolviam temáticas relativas à inclusão, a dislexia, as possíveis dificuldades no percurso acadêmico, as adaptações dos docentes e das instituições. Os dados informam que as principais barreiras/dificuldades se referem: a fala, a leitura, a escrita, o raciocínio, a interpretação, e ao cálculo. Cabe destacar que a socialização e a autoestima no âmbito escolar carecem de incentivos, pois os docentes não sentem preparados para atuar com pessoas com necessidades educacionais especiais. Ademais, a ajuda da família torna-se fundamental para progressão nos estudos, na graduação, ingresso e atuação na carreira profissional.

          Unitermos: Dificuldade de aprendizagem. Dislexia. Educação Física.

 

Abstract

          This study aimed to investigate the possible barriers faced by an academic course in Physical Education with dyslexia during her teaching internship. Methodologically is a case study, conducted in the municipality of the city of Aimores, MG, where the instrument was a questionnaire adapted by Porto (2014) and proposed by Abreu (2012), containing 13 structured questions. The questions involve issues relating to inclusion, dyslexia, possible difficulties in the academic route, adaptations of teachers and institutions. The data show that the main barriers/difficulties concern: speech, reading, writing, reasoning, interpretation and calculation. It is noteworthy that the socialization and self-esteem in schools lack incentives because teachers do not feel prepared to work with people with special educational needs. Furthermore, the help of family is fundamental to progress in studies, graduation, entry and performance in professional career.

          Keywords: Learning difficult. Dyslexia. Physical Education.

 

Recepção: 01/08/2015 - Aceitação: 28/09/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O distúrbio de aprendizagem é uma disfunção neurológica que interfere na captação da informação recebida pelo aluno. Crianças com esse tipo de problema não conseguem realizar habilidades fundamentais no mesmo ritmo que as outras, pois ele se manifesta na capacidade de ouvir, falar, ler, escrever, raciocinar e calcular. O distúrbio de aprendizagem afeta a sua vida, interferindo também em seu sucesso acadêmico, necessitando intervenção terapêutica e apoio escolar em programas alternativos. Seu diagnóstico deve ser realizado por diferentes profissionais, já que se trata de um sistema complexo de informações (Nascimento et al, 2014).

    Dislexia significa etiologicamente “dificuldade com palavras”. Mas um grupo, variado de autores, diz que esse transtorno se referiu não só a problemas de leitura, mas também os da escrita, nas relações espaciais, na obediência a instruções, na seqüência temporal, na capacidade de memorização, entre outros problemas que afetam o dia a dia dos indivíduos, trazendo como conseqüência dificuldades de aprendizagem. Ela pode se manifestar de duas formas: desde a infância (evolutivas/desenvolvimento) ou em indivíduos que já foram leitores competentes (adquirida) e que sofreram alguma lesão cerebral. Estas dificuldades não são causadas pela falta de inteligência, mas se devem principalmente, pelo recebimento de informações dos canais sensoriais em que a criança não consegue processar devidamente a mensagem recebida (Abreu, 2012).

    O aparelho auditivo é afetado pela dificuldade em distinguir semelhanças e diferenças entre sons acusticamente próximos. O processo de ouvir corretamente tem grande influência na capacidade de ler, escrever e na pronúncia das palavras (Abdo et al, 2010).

    A percepção visual fica prejudicada, pois há a dificuldade em discriminar visualmente as letras (grafemas), feitas em linhas separadas ou distantes e dificuldades com relação ao tamanho e a forma. Além disso, ainda não se consegue fazer linhas retas ou curvas e ângulos e pode-se ter dificuldade com a orientação vertical ou horizontal (Capellini et al, 2007).

    O movimento de crianças disléxicas envolve muitas áreas disfuncionais, onde é importante observar claramente a atividade elétrica nas áreas de integração sensório/visual e auditiva e nas áreas psicomotoras. Portanto podemos assegurar que algumas crianças disléxicas demonstram disfunções cerebrais da organização proprioceptiva que interferem com o potencial de aprendizagem e planificação das ações independentemente da inteligência e motricidade normais. O problema parece residir entre o intelecto/psíquico e o motor (Fonseca, 1995).

    O autor, afirma que a linguagem se emerge pela ação e pela motricidade e que só mais tarde ela vai antecipar a ação regulando-a e estruturando-a de forma sistemática, sendo posteriormente liberta do contexto da ação.

    Nas escolas, as palavras indagar, questionar e problematizar estão presentes no dia a dia do professor, sendo assim, os mesmos esperam por alunos que aprendam rápido, pois precisam cumprir um padrão de metodologia e resultados (Ferraz, 1996).

    Este estudo teve como objetivo investigar as possíveis barreiras enfrentadas por uma acadêmica do curso de Educação Física com dislexia durante seu estágio de ensino. Portanto, este trabalho se justifica pela importância de obtermos uma visão atual e realista sobre a inclusão.

Materiais e métodos

População e amostra

    Foi feita análise de uma pessoa disléxica com 24 anos, graduanda em Educação Física, estagiária em uma escola no município de Aimorés/MG.

Instrumentos e procedimentos de coletas de dados

    Foi utilizado um questionário adaptado por Porto (2014), proposto por Abreu (2012), contendo 13 questões estruturadas. A entrevista ocorreu na escola onde a graduanda realiza seu estágio.

    Pesquisa de caráter qualitativo, em que o método utilizado foi o estudo de caso que tem objetivo de investigar as possíveis barreiras enfrentadas por uma acadêmica do curso de Educação Física com dislexia durante seu estágio de ensino. Ademais, investigou-se a literatura científica a fim de comparar estudos e aprofundar na temática abordada.

    A amostra foi composta por uma estudante de graduação em Educação Física com idade de 24 anos, vinculada a uma escola no município de Aimorés como estagiária. A acadêmica possui dislexia, e objetivando investigar as possíveis barreiras enfrentadas no estágio e durante a formação aplicou-se o questionário adaptado por Porto (2014) e proposto por Abreu (2012), contendo 13 questões estruturadas.

    A participante recebeu informações sobre a pesquisa e seus objetivos e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados e discussões

    A primeira pergunta era acerca do que a inclusão nos faz refletir sobre o princípio da igualdade que tem extrema importância, pois ela se resume no ensino comum de crianças com e sem deficiência. A educação inclusiva é um meio e não apenas um alvo (Beyer, 2005).

    Diversas práticas tem se observado na tentativa de incluir pessoas com deficiência ou com necessidades educativas especiais, mas nota-se que há diversas barreiras sociais que dificultam esta ação. Tal fato pode ser observado com a amostra deste estudo de caso, pois quando questionada se a inclusão faz parte do seu dia a dia?”. A entrevistada respondeu que “às vezes sim e outras não”.

    Segundo Glat (2007, p. 20),

    A Educação Inclusiva Significa um novo modelo de escola em que é possível o acesso e a permanência de todos os alunos e onde os mecanismos de seleção e discriminação, até então utilizados, são substituídos por procedimentos de identificação e remoção das barreiras para a aprendizagem (...). (Glat, 2007, p. 20).

    Para conhecer sua problemática melhor, foi feita a seguinte pergunta: há quanto tempo sabia que era disléxica, como foi lhe passada essa informação e por quem? E a resposta: “desde a Escola Primária (1º Ciclo), foi explicado à família que tinha uma deficiência através de um médico especialista”.

    De acordo com Siqueira e Giannetti (2010), o médico tem papel fundamental na orientação dos pais e na importância da educação dessas crianças, pois a atenção ao desenvolvimento neuropsicomotor, identificação dos sintomas precoces descartando causas extrínsecas e intrínsecas correlacionadas com os aspectos socioculturais e pedagógicos, problemas auditivos e visuais deixando claro que transtornos prolongam pela vida toda e que famílias mais esclarecidas quanto a essas e outras informações, tende a ajudar seus filhos a terem um melhor desempenho.

    No percurso acadêmico, foram citadas as seguintes dificuldades: “leitura muito lenta e incorreta, escrita com erros ortográficos, dificuldades de atenção/concentração, interpretação/compreensão, lentidão na execução das tarefas, caligrafia irregular, confusão com algumas letras, omissão/inversão de letras, desorientação e medo de falhar”.

    Fonseca (2009), afirma que embora a dislexia proporcione as dificuldades mencionadas acima, ela não é um fator de QI baixo, ao contrário de que muitos pensam, trata-se de uma dificuldade de aprendizagem, com manifestações de variadas formas ou até mesmo, visuais e auditivas, sendo que o desenvolvimento da criança dependerá muito do ambiente escolar em que está inserida. Por isso, é importante que a escola esteja atenta a inclusão e na formação de professores para proporcionar a criança com dislexia, um ambiente propício à aprendizagem, respeitando suas limitações e desenvolvimento.

    Durante a aplicação do questionário, foi levantada outra questão, sobre o comportamento e atitude dos professores, o que diziam/faziam perante essas dificuldades, no entanto, a resposta que mais chamou a atenção, foi à seguinte:

    “chamavam-me de preguiçosa e distraída. Quando eu fazia perguntas, os meus colegas riam e a professora não fazia nada e isso me deixava muito chateada. Hoje, quando tenho perguntas, não pergunto mais aos professores, prefiro tirar minhas dúvidas na internet ou com minha mãe”.

    Um professor, quando recebe um aluno com dislexia em sua sala de aula deve entender que ele é um ser com capacidade e inteligência para o processo da aprendizagem (Abreu, 2012). Cabe ao professor inserir o aluno e não excluí-lo do meio escolar, respeitando o seu tempo de aprendizado.

    Já em outro momento, a acadêmica foi ressaltada: “Como você costumava ultrapassar essas dificuldades? Como fazia para aprender e acompanhar a turma? Qual método você utilizava, já que os professores ensinavam de forma generalizada? Ela relatou: “já filmei várias aulas. Quando chegava em casa, via e ouvia a filmagem várias vezes, mas na hora da prova, acho que por causa do nervosismo e estresse para entender as questões, esquecia tudo.

    Hennigh (2003), nos acerca sobre a forma correta do docente passar o conteúdo para que uma pessoa disléxica possa melhor compreendê-lo e diz que em primeiro lugar, o docente deve usar métodos multissensoriais, dando a oportunidade de uma melhor aprendizagem. Em segundo lugar, o professor deve promover a leitura de forma positiva. Em terceiro, o professor deve tentar trabalhar para não acontecer um “rótulo” do diagnóstico da dislexia, que poderá afetar a autoestima da criança, podendo quebrar expectativas entre professor/aluno e aluno/professor. Em quarto lugar o professor deve estabelecer para o aluno, padrões de leitura, a fim de eliminar padrões típicos do distúrbio. Por fim, deve acontecer um reforço principalmente de leituras fundamentais, pois ela é o que mais atrapalha a criança com dislexia.

    Quando indagada, o que a levou a seguir em frente, surge uma opinião e uma grande determinação: “ter vontade de aprender sempre mais. Relatando também, que sentiu realmente que tinha capacidade quando foi incentivada pela família a fazer uma prova em uma escola federal bem conceituada e conseguiu passar”.

    A Constituição da República Federativa do Brasil (1988), cap. III, art. 205 diz que a educação é um direito de todos e que a família e o Estado tem importante papel em disseminar a qualidade e ajudar no desenvolvimento da pessoa, a fim de que a mesma possa ter preparação e desenvolvimento futuramente no seu trabalho.

    Sobre o questionamento das práticas pedagógicas para uma melhor inclusão de pessoas disléxicas, remete-se a resposta da entrevistada: “a instituição em que estou fazendo a graduação atualmente ainda está em evolução, pois considero que a maioria dos professores, ainda não estão preparados, para lidar com alunos diferenciados.”

    Segundo Glat (2007), o aluno precisa ter na escola um suporte e condição adequada na busca de um aprendizado de qualidade, de acordo com suas afirmações:

    Também entendemos que a possibilidade ou potencial de aprendizagem de um indivíduo não se constitui uma característica ou condição intrínseca fixa, determinada por seu diagnóstico clínico ou qualquer outra avaliação quantitativa. Na realidade, suas possibilidades se ampliam na medida em que lhe proporcionamos suportes e condições adequadas de aprendizagem, nos diversos campos de conhecimentos. Pode-se dizer, então, que é o atendimento de suas necessidades que determina as possibilidades de aprendizagem do aluno. (...). (Glat, 2007, pag. 191).

    Quando foi questionada em relação às quais são os aspectos mais importantes na escola e uma resposta educativa adequada às crianças com dislexia? Foi assinalado: “os métodos de ensino adequados, constante motivação e encorajamento, adequação de estratégias e conteúdos, boa relação afetiva e materiais de ensino adequados”.

    Vejamos o que diz Abreu (2012):

    Para que sejam criadas, a todos os alunos, condições de sucesso, torna-se imprescindível perceber quais os fatores que, de algum modo, podem estar envolvidos ou até mesmo, serem os responsáveis pelo insucesso do mesmo. A atenção às diferenças individuais de cada aluno implica uma flexibilização da organização escolar e das estratégias de ensino, da gestão de recursos e do currículo, de forma a proporcionar o desenvolvimento de todos, atendendo às suas características pessoais e necessidades educativas de cada um (Abreu, 2012, pag. 54).

    Portanto, o autor nos alerta sobre a importância de serem criadas várias oportunidades para que o aluno tenha sucesso na vida acadêmica.

Conclusão

    No presente estudo, pode-se concluir que são várias as dificuldades das pessoas com dislexia, principalmente: ao falar, ler, escrever, raciocinar, interpretar, calcular, se socializar e ter autoestima. Cabe destacar que a socialização e a autoestima no âmbito escolar carecem de incentivos, pois os docentes não sentem preparados para atuar com pessoas com necessidades educacionais especiais. Ademais, a ajuda da família torna-se fundamental para progressão nos estudos, na graduação, ingresso e atuação na carreira profissional.

    Hoje uma pessoa com qualquer tipo de transtorno ou deficiência também tem dificuldades, por causa principalmente do preconceito. Há muito a ser superado e ainda ser melhorado nas escolas e na visão da população em prol e melhoria da qualidade dessas pessoas, mas com o apoio apropriado, é possível alcançar um desenvolvimento satisfatório, promovendo a elas aprendizado e autonomia para alavancar suas vidas em todos os sentidos.

    Os dados da pesquisa foram limitados para uma pessoa com dislexia em um ambiente natural que sofreu várias influências. Portanto, as deduções foram feitas através de comparações das respostas obtidas com a contextualização bibliográfica. Futuras réplicas e generalizações trarão novas descobertas que poderão surgir de formas diferentes, por serem de outra época, situação e pessoa, pois haverá um grande volume de dados qualitativos, implicando em poucos guias e proteção contra a ilusão. Neste estudo de caso, mesmo as respostas sendo condizentes às observações, ainda há chances de erros. Para tanto, este estudo vem oportunizar que outros sejam desenvolvidos. Um exemplo é descobrir como pessoas com dislexia fazem para se manter empregadas, ou como professores disléxicos fazem didaticamente para superar as limitações e serem profissionais respeitados. Enfim, disseminar mudanças nas metodologias de ensino na busca de uma inclusão mais eficaz e eficiente traz uma nova esperança de futuro melhor para as pessoas que têm necessidades educacionais especiais.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 209 | Buenos Aires, Octubre de 2015
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados