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Ballet e Break: há influência de gênero na prática destas danças?

Ballet y Break: ¿existe influencia de género en la práctica de estas danzas?

Ballet and Break: does influence of gender in practice these dances?

 

*Graduandos do curso de Educação Física e Saúde da Universidade de São Paulo

**Mestrando em Mudança Social e Participação Política na Escola de Artes, Ciências

e Humanidades da Universidade de São Paulo. Membro do LUDENS (Núcleo

Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas)

e PISE (Pesquisas Interdisciplinares em Sociologia do Esporte)

***Possui doutorado em Sociologia do Lazer pela Unicamp, pós-doutorado em Sociologia

do Esporte pela Universidade do Porto e atualmente é Professor Associado da Escola

de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo

Henrique Ferreira da Silva*

Júlia Beatriz Evaristo*

Renan Vidal Mina**

rvidalmina@gmail.com

Marco Antonio Bettine de Almeida***

marcobettine@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A dança é uma expressão artística presente em diversas culturas e sua prática se mantém envolta por aspectos polêmicos que circunscrevem a esfera mais ampla da sociedade. Sendo assim, tomando como objeto de estudo, o ballet e o break, este artigo busca entender, através de revisão bibliográfica, como as questões de gênero podem influenciar na prática de diferentes estilos de dança.

          Unitermos: Dança. Gênero. Ballet. Break.

 

Abstract

          Dance is an artistic expression present in different cultures and their practice remains surrounded by controversial aspects that encompass the broader sphere of society. Thus, taking as object of study, the ballet and the break, this article seeks to understand, through literature review, how gender issues can influence the practice of different dance styles.

          Keywords: Dance. Gender. Ballet. Break.

 

Recepção: 30/08/2015 - Aceitação: 03/10/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Buscando entender como as questões de gênero podem influenciar na prática do break e do ballet, optamos em iniciar este estudo elucidando alguns conceitos chaves que são pertinentes para a compreensão do mesmo. Nesse sentido, para definir o que é gênero, é necessário esclarecer que os conceitos de sexo e sexualidade são distintos.

    Compreendemos, em resumo, que a sexualidade é a forma como o indivíduo se relaciona sexualmente com o outro, isto é, caso se relacione com alguém do mesmo sexo, denomina-se homossexual; caso se relacione com alguém do sexo oposto, denomina-se heterossexual. Já o conceito de sexo, por sua vez, é estabelecido a partir do aparato biológico que o individuo apresenta, ou seja, sua genitália.

    Mesmo com o estabelecimento dessas diferenças, ainda nos deparamos com a aplicação do conceito de sexo como base sociológica para a construção da concepção de gênero. Em nossa sociedade, a figura da mulher ainda se encontra muito associada às imagens de “dona de casa” e “mãe”, sendo educadas para isso desde a infância. As mulheres são vistas como essencialmente delicadas, amorosas, prioritariamente preocupadas com o lar e a família, além de apresentarem certa submissão aos anseios masculinos. Quanto aos homens, cabem características como força, virilidade, capacidade de proteção e provedor do lar.

    (...) as meninas brincam com panelinhas, bonecas, de casinha, sendo motivadas através dos brinquedos, a maternidade e cuidar do lar e da família, reprodução da prole. Os meninos brincam com carrinhos, de bombeiro, polícia, caminhão, bicicleta, brincadeiras diretamente ligadas a profissões, imputando a idéia de que, ao homem cabe a função de trabalhar para sustentar a família (Santana e Benevento, 2013, p. 1).

    Para Scott (1995), estas conotações são responsáveis por guiar a conduta de homens e mulheres nos mais variados ambientes, situações e, inclusive, nas relações de poder. Trata-se de um conjunto de exigências sociais claramente impostas ao indivíduo e reproduzidas através das gerações. Delimita-se gradativamente seu papel na sociedade a partir do seu sexo: são definidos desde o nome, a cor do enxoval, as responsabilidades e obrigações (desde auxiliar ou não em tarefas domésticas até a prestação de serviço militar obrigatório, por exemplo). A identidade das pessoas, ou melhor, o gênero, é construído conforme seus atributos fisiológicos são reconhecidos como pertencentes a um determinado grupo.

    Buscando superar esse cenário, realçamos a necessidade de não restringir a definição de gênero em uma concepção estritamente fisiológica. Scott (1995) argumenta que o gênero é um elemento constitutivo das relações sociais, baseado nas diferenças percebidas entre os sexos. Corroborando com Scott (1995), Beauvoir (1980) sustenta a ideia de que não se nasce ou homem ou mulher, e, sim, torna-se um ou outro.

Discutindo as questões de gênero na dança: os casos do ballet e do break

    As confusões quanto à definição de gênero também se reproduzem no universo artístico-cultural de nossa sociedade, sendo um destes o da dança. Mesmo que os diferentes estilos de dança possam expressar atributos do gênero feminino, masculino ou até mesmo de ambos, ainda se tem uma visão muito forte de que a prática do ballet, por exemplo, está mais próxima das características do gênero feminino do que do masculino. A coreografia desse tipo de dança ainda carrega o enredo dos contos de fadas, dos ideais femininos (Figura 1). Os figurinos, os movimentos, a sua expressão que incita à leveza e à suavidade, e o próprio corpo, pré-definido como delicado e magro, legitimam o papel e a função da mulher que foram historicamente construídos na sociedade.

Figura 1. Meninas em aula de ballet

    O estranhamento causado pela visão de um homem bailarino é consequência do processo de classificação de gêneros e de feminização do ballet. Segundo Sorignet (2004), não é incomum que as pessoas considerem a aproximação do homem em relação ao ballet como um “deslize” no comportamento masculino. O homem, em um ambiente reputado como feminino, rapidamente tem a sua sexualidade questionada.

    Paralelamente ao universo "cor de rosa e de contos de fadas" do ballet, no qual a presença masculina é bastante incipiente, emerge a cultura do hip-hop, configurando-se em uma válvula de escape e de quebra de valores tradicionais. No interior dessa cultura, desenvolveu-se o break, um estilo de dança que, diferentemente do ballet, é marcado pela predominância dos homens. O break é um estilo marginalizado, seus movimentos são vigorosos e de força, denotando resistência e certa brutalidade, características estas que são opostas à delicadeza reproduzida no ballet (Figura 2). Desde a sua gênese, o break é estruturado em torno de uma perspectiva masculina de expressão, supostamente não favorecendo a presença feminina, já que esta última, devido aos padrões sociais discutidos acima, “não se enquadra” neste perfil.

Figura 2. Rapazes dançando break na rua

    De acordo Alves (2009), nas poucas vezes em que há participação feminina no break, esta se limita a um papel secundário, com as mulheres disponibilizando seu corpo para melhorar a imagem do grupo, como apresentadoras ou como decoração no fundo do palco.

Considerações finais

    Como vimos no decorrer do texto, há influência de gênero na prática do ballet e do break. Homens que dançam ballet não são bem aceitos socialmente, podendo, inclusive, se defrontarem com situações constrangedoras em que a própria sexualidade é colocada à prova pela sociedade. O mesmo ocorre com as mulheres que dançam break.

    A visão convencional de que o ballet é uma dança feminina, fortalecida a partir da aplicação do conceito de sexo como base para a definição de gênero, cria um obstáculo que dificulta a entrada de homens nesse ambiente. Assim como o break e sua representação, majoritariamente masculina, criam obstáculos para a participação feminina.

    Com efeito, a insistente utilização da concepção tradicional de gênero reflete em um processo de repressão ao corpo. A sociedade, munida de seus padrões sociais e culturais historicamente construídos, protege suas normas e pressiona os indivíduos a assumirem seus “devidos papeis”.

Bibliografia

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