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Introdução

    Muito se fala na necessidade da prática de atividades físicas, e nos benefícios que estas trazem para a saúde do indivíduo. A atividade física é comumente definida como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulta em um gasto energético (Amorim & Dantas, 2002; Gobbi, 1997).

    Dentro das transformações trazidas com a prática física, a melhoria da capacidade aeróbia é tida como quesito fundamental na otimização da rotina diária do cidadão bem como na minimização dos efeitos do envelhecimento trazidos com o passar da idade (Mabuchi et al., 2007; Barbanti & Guiselini, 1985).

    Capacidade cardiorrespiratória pode ser a habilidade de realizar atividades físicas, de modo dinâmico, com a participação de grandes massas musculares com intensidade moderada e por períodos de tempo mais prolongados (De Vitta, 2001; Fernandes Filho, 2003).

    Partindo dos pressupostos supracitados, os varredores de rua ou comumente chamados de Garis, têm em sua rotina de trabalho diário, exigências físicas que de uma forma ou outra os coloca como indivíduos fisicamente ativos, mesmo que esta ativação seja oriunda apenas de sua profissão (Santos, 2008; Souza, 2007).

    Contudo é preciso refletir em até que ponto estas rotinas diárias contribuem para a melhoria da capacidade aeróbia destes Garis, ou seja, analisar esta tarefa ocupacional se é algo cotidiano na vida destes empregados ou uma atividade física convencional capaz de gerar benefícios como outra qualquer. Análises como estas, podem garantir no mínimo, melhores condições de trabalho aos profissionais das diversas áreas ou redirecionar melhor as ações destes indivíduos, garantindo melhores condições de trabalho e de vida a população economicamente ativa (Silveira et al., 1998).

    O objetivo do estudo foi avaliar a capacidade aeróbia (VO2 Máximo Relativo) dos garis atuantes na cidade de Alfenas, MG, classificando os valores obtidos e os respectivos indivíduos segundo o Protocolo para Avaliação da Aptidão Cardiorrespiratória - nível de capacidade aeróbica - Teste de Andar / Correr 12 Minutos de Cooper (Cooper, 1982) e de acordo com os índices populacionais de Yazbek & Battistella (Yazbek & Battistella, 1994).

Materiais e métodos

Amostra

    O espaço amostral foi composto por 15 indivíduos (garis), os quais em sua vida cotidiana têm uma jornada de trabalho de 6 a 8 horas/dia percorrendo um percurso de 15 a 17 km/dia de segunda a sábado, todos igualmente uniformizados (calça de brim e camisa de algodão) e calçados (tênis), com faixa etária entre 22 a 39 anos (± 28,6 anos de média), ambos do sexo masculino, considerados graças ao trabalho, fisicamente ativos. Estes indivíduos participaram da pesquisa de forma voluntária e mediante a devolução de um termo de consentimento devidamente lido e assinado.

    A coleta foi realizada em uma quadra na cidade de Alfenas - MG, medindo 30 metros x 20 metros totalizando 600 metros de percurso, previamente mensurados e marcados com subdivisões de 10 metros, todas com as mesmas condições de piso e inclinação, sendo realizadas no período da manhã. A execução de maneira incorreta ou a interrupção por qualquer motivo do teste aplicado foi considerada falha e os mesmos deveriam ser repetidos.

    Como teste e protocolo de obtenção de dados físicos, foi utilizado o Protocolo para Avaliação da Aptidão Cardiorrespiratória - nível de capacidade aeróbica - Teste de Andar / Correr 12 Minutos (Cooper, 1982).

Tipo de teste

    O tipo de teste utilizado no estudo foi o Teste de Pista (Corrida-Caminhada de 12 minutos), o qual é possível avaliar o sistema cardiovascular através de um teste de campo, para mensuração de grupos de homens e mulheres saudáveis com idade de 17 a 52 anos (BARBANTI & GUISELINI, 1985).

    O material necessário para este teste é qualquer pista de 400 metros ou algum terreno plano, previamente mensurado e marcado com subdivisões de 10 metros, um cronômetro e um apito (Fernandes Filho, 2003).

Procedimentos

    Os avaliados foram instruídos a correr ou caminhar a maior distância possível em 12 minutos. Eles foram informados que um ritmo constante é mais efetivo, mas que, se necessário, poderiam caminhar. Foi exigido dos avaliados que contassem o número de voltas completadas. O tempo decorrido foi anunciado em 9, 11 e 11,5 minutos. No final do teste o avaliado deveria parar e a distância foi calculada pelo corredor ou pelo professor de Educação Física mais próximo. Os valores obtidos foram comparados à tabela com os dados normativos de Cooper (Cooper, 1982). O resultado foi à distância percorrida e a partir dela foi realizado o cálculo da estimativa do consumo de oxigênio VO2 máximo, através da fórmula

VO2 máx (ml/kg/min) = D – 504 / 45

    Onde,

    D = Distância percorrida nos 12 minutos (Fernandes Filho, 2003).

    Através dos valores obtidos, foi possível classificar os indivíduos estudados, baseando-se no Índice de Consumo de Oxigênio para População em Geral de Yazbek & Battistella (Yazbek & Battistella, 1994).

Resultados

    A Figura 1 representa os valores obtidos individualmente na aplicação do teste de campo, onde o indivíduo de valor mais baixo percorreu 2100 metros e o de valor mais alto, 3019 metros.

Figura 1. Valores referentes às distâncias individuais percorridas pelos garis no teste, baseados no protocolo para avaliação da aptidão cardiorrespiratória de Cooper (Cooper, 1982)

    A Figura 2 representa a classificação do nível de aptidão física, considerando os garis estudados conforme distância percorrida no teste de campo baseados no protocolo para avaliação da aptidão cardiorrespiratória de Cooper (1982) (Tabela 1), onde 53% destes foram considerados com uma aptidão “Superior”, 20% com uma aptidão denominada “Médio”, 20% com uma aptidão denominada “Excelente” e 7% dos garis com uma aptidão denominada “Boa”.

Figura 2. Classificação da aptidão dos Garis conforme distância percorrida baseados no protocolo para avaliação da aptidão cardiorrespiratória de Cooper (Cooper, 1982)

    A Figura 3 representa os valores de VO2 máximo obtidos individualmente na aplicação do teste de campo, onde 35,46 ml/kg/minuto e 55,88 ml/kg/minuto, são o menor e o maior valor respectivamente, encontrados na pesquisa.

Figura 3. VO2 máximo relativo obtido individualmente na aplicação do teste de campo nos garis

    O Gráfico 4 representa o nível de aptidão física dos garis conforme VO2 Máximo Relativo, baseados nos índices do consumo de oxigênio para população em geral de Yazbek & Battistella (Yazbek & Battistella, 1994) (Tabela 2). De acordo com este índice, 87% dos garis estudados foram classificados como “Ativos e Treinados”, enquanto que os 13% restantes foram denominados como “Sedentários de Média Capacidade Física”.

Figura 4. Classificação da aptidão dos garis conforme VO2 máximo relativo baseados nos índices do consumo de oxigênio para população em geral de Yazbek & Battistella (Yazbek & Battistella, 1994)

Discussão

    Para a análise dos valores obtidos no presente estudo, foram utilizadas as Tabelas 1 (protocolo para avaliação da aptidão cardiorrespiratória de Cooper) e 2 (índices do consumo de oxigênio para população em geral de Yazbek & Battistella), que serviram de suporte para a classificação do grupo.

    Quando observamos os indivíduos de maneira individual e tendo como base as distâncias percorridas, observamos que o indivíduo de valor mais baixo, percorreu 2100 metros no teste, sendo classificado como na Média (2100 a 2400m) (Tabela 1), tendo este a idade igual há 37 anos. Já o indivíduo que percorreu a maior distância (3019 metros), obteve uma classificação igual à Superior (> 2830 metros) (Tabela 1), sendo sua idade igual há 23 anos.

    Na média obtida para o grupo, obtivemos um valor igual a 2710 metros o que os classifica em Excelentes (2650 a 2830 metros) (Tabela 1), tendo a idade média do espaço amostral igual há 28,6 anos. Portanto pode-se notar que os garis participantes do estudo estão com um bom nível de capacidade aeróbica, ou seja, a caminhada realizada por eles durante a execução de suas funções os torna fisicamente ativos, com níveis excelentes de aptidão cardiorrespiratória.

Tabela 1. Protocolo para avaliação da aptidão cardiorrespiratória de Cooper: nível de capacidade aeróbica - Teste de Andar / Correr 12 Minutos (Cooper, 1982)

    Quando voltamos nossa observação aos valores obtidos em VO2 Máximo Relativo, foi encontrado um valor igual a 35,46 ml/kg/min como menor valor, classificando o indivíduo como “Sedentários de Média Capacidade Física” (Tabela 2), tendo este 32 anos. Como maior valor, foi obtido o valor 55,88 ml/kg/min, o que classifica o indivíduo de 29 anos em “Ativos Treinados” (Tabela 2).

    O VO2 Máximo Relativo calculado para o grupo apontou que 87% destes foram classificados como “Ativos Treinados” (Tabela 2), enquanto que os 13% restantes, classificados como “Sedentários de Média Capacidade Física” (Tabela 2). Contudo, a média de VO2 Máximo Relativo, obtida para o grupo foi de 49,02 ml/kg/minuto, classificando-os como “Ativos Treinados” (Tabela 2). Logo, pode-se perceber que a maioria dos garis estudados são considerados como pessoas ativas, pois os índices de consumo de oxigênio por eles são elevados, mesmo sem estar explicitamente praticando alguma atividade física, e sim, exercendo as funções de sua profissão.

Tabela 2. Índices do consumo de oxigênio para população em geral (Yazbek & Battistella, 1994)

Conclusão

    Indivíduos na busca do melhor desempenho vêm adotando treinamentos intensivos, planejados, estruturados, repetitivos e sistematizados respeitando sessões e períodos diários de treinos, alimentação balanceada, suplementos, acompanhamento de profissionais das mais diversas áreas, todos em prol de um só objetivo que é fazer com que os mesmos adquiram maior performance ou simplesmente uma melhor qualidade de vida. Com isso, cada vez mais essa busca não está limitando-se apenas a treinos de força, mas também a treinos aeróbicos visando à melhora da capacidade aeróbia (cardiorrespiratória) que é de suma importância na sequência de um bom treinamento e na aquisição de uma melhor aptidão física.

    Este estudo na contramão dos argumentos citados acima, com dados obtidos após aplicação do Teste de Andar / Correr 12 Minutos em garis, constatou que mesmo sem o treinamento intenso e específico, vestimenta e alimentação inadequada, falta de acompanhamento profissional, além do estresse da rotina de trabalho, apenas com sua prática diária de execução das funções oriundas de sua profissão, quando observados em grupo, apresentaram resultados positivos no que diz respeito à capacidade aeróbia, de acordo com a distância percorrida e o VO2 máximo relativo, classificando-os como indivíduos ativos treinados.

    Portanto, conclui-se para o presente estudo e respectivo espaço amostral, que a atividade física específica, planejada e sistematizada por profissionais de Educação Física não pode ser considerada como único meio de obtenção da melhora das aptidões físicas dos indivíduos, considerando o quesito capacidade aeróbia (consumo de VO2 máximo relativo), que de alguma forma pode ser estimulada por situações laboratoriais no exercício de atividades profissionais cotidianas.

Bibliografia

• Amorim, F. S. y Dantas, E. H. M. (2002). Efeitos do treinamento da capacidade aeróbica sobre a qualidade de vida e autonomia de idosos. Fitness & Performance Journal, 1 (3), 47-55.

• Barbanti, V. J. y Guiselini, M. A. (1985). Exercícios aeróbicos: mitos e verdades. (1ª ed.) São Paulo: Baliero.

• Cooper, K. N. (1982). The Aerobics Program for Total Well-Being. (1 ed.) Toronto: Bantam Books.

• De Vitta, A. (2001). Bem estar físico e saúde percebida: um estudo comparativo entre homens e mulheres adultos e idosos, sedentários e ativos. (Dissertação de Mestrado). Universidade de Campinas – UNICAMP. Campinas.

• Fernandes Filho, J. (2003). A prática da avaliação física: Testes, Medidas e Avaliação Física em Escolares, Atletas e Academias de Ginástica. (2 ed.) Rio de Janeiro: Shape.

• Gobbi, S. (1997). Atividade física para pessoas idosas e recomendações da Organização Mundial de Saúde de 1996. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, 2 (3), 41-49.

• Mabuchi, A. S., Oliveira, D. F., Lima, M. P., Conceição, M. B. y Fernandes, H. (2007). Uso de bebidas alcoólicas por trabalhadores do serviço de coleta do lixo. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 15 (4), 71-79.

• Santos, I. V. A. (2008). Estudo dos riscos de acidentes de trabalho em coletores de lixo. En Actas do IV Fórum Ambiental da Alta Paulista. (pp. 112-121). São Paulo: ANAP.

• Silveira, E. A. A., Robbazi, M. L. C. C. y Luis, M. A. V. (1998). Varredores de rua: acidentes de trabalho ocorridos na cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, Brasil. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 6 (1), 79- 87.

• Souza, C. M. (2007). A dinâmica prazer-sofrimento na ocupação de catadores de material reciclável: estudo com duas cooperativas do Distrito Federal. (Dissertação de Mestrado). Universidade de Brasília - UnB. Brasília.

• Yazbek, J. R. P. y Battistella, L. R. (1994). Condicionamento Físico do Atleta ao Transplantado: Aspectos Multidisciplinares na Prevenção e Reabilitação Cardíaca. (2 ed.) São Paulo: Sarvier/Associação Paulista de Medicina.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 209 | Buenos Aires, Octubre de 2015 Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados