A prática do atletismo nas aulas de Educação Física do Ensino Fundamental II no município de Divinópolis, MG La práctica del atletismo en las clases de Educación Física en Escuela Primaria en el municipio de Divinópolis, MG Practice of athletics in Physical Education classes of elementary school in the city of Divinopolis, MG |
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*Licenciado em Educação Física pela Fundação Educacional de Divinópolis – FUNEDI/UEMG **Bacharel em Educação Física pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Licenciado em Educação Física pela Universidade FUMEC Especialista em Administração e Marketing Esportivo pela Universidade Estácio de Sá – UNESA Mestre em Ciências do Esporte pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Doutorando em Ciências do Esporte pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG |
Fábio Ferreira Rezende* Lucas Savassi Figueiredo** (Brasil) |
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Resumo Apesar de ser considerado um dos conteúdos clássicos da educação física e um esporte base, devido à utilização de algumas das habilidades fundamentais do ser humano, o atletismo é pouco difundido nas instituições de ensino brasileiras. O presente estudo busca investigar se os professores de educação física escolar do ensino fundamental II de Divinópolis-MG contemplam seus alunos com a prática do atletismo, e qual a visão destes profissionais quanto às condições para trabalhar o conteúdo, bem como suas percepções a respeito do mesmo. Participaram deste estudo 14 professores de Educação Física com atuação no ensino fundamental II. Para coleta de dados foi utilizado um questionário com sete perguntas fechadas. Os resultados demonstram em sua maioria que espaço físico e materiais são aspectos que necessitam de melhorias, mas que mesmo com essas limitações os professores conseguem em seus planos de aula contemplar práticas específicas do atletismo. Também foi verificada maior necessidade de momentos fora das aulas tradicionais em que se busque motivar e oportunizar os alunos para a competição, por exemplo. Em função destes achados percebe-se que é necessário oportunizar aos alunos o “atletismo da escola”, para que se amplie a gama de movimentos e experiências vivenciadas no ambiente escolar, mas principalmente pelas contribuições em sua construção pessoal. Unitermos: Atletismo. Prática docente. Ensino Fundamental II.
Abstract Although considered one of the classic contents of physical education and a basic sport, due to the use of some of the fundamental skills of the human being, athletics is not yet widely taught in Brazilian educational institutions. This study investigated whether the school physical education teachers Divinopolis-MG elementary school II contemplate their students with the practice of the sport, and what is the vision of these professionals regarding the conditions for work content, as well as their perceptions about its relevance. The study featured 14 physical education teachers with expertise in basic education II. For data collection was used a questionnaire with seven closed questions. The results showed that most physical spaces and materials are aspects that need improvement, but even with these limitations teachers still try to contemplate in their lesson plans specific athletics practices. It was also reported an increased need for nontraditional school moments in which you seek to motivate and create opportunities for students to compete, for example. Based on these findings it is perceived the need to create opportunities for students to experience "school athletics," in order to broaden the range of motor and life experiences in the school environment, but mainly for the contributions in their personal development. Keywords: Athletics. Teaching Practice. Elementary School.
Recepção: 07/01/2015 - Aceitação: 20/06/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 209, Octubre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Desde a pré-história o ser humano já praticava habilidades motoras presentes no atletismo, que serviam como ferramentas essenciais à manutenção da sobrevivência (Duarte, 2000). De acordo com Becker (2012) o atletismo tem sua história considerada tão antiga quanto à própria origem do homem, pois, constata-se que é uma modalidade que se desenvolveu através de algumas capacidades motoras deste. Apesar de ser um dos esportes mais tradicionais no meio esportivo e considerado como esporte base, devido à prática das habilidades fundamentais do ser humano como correr, saltar, arremessar, lançar e marchar, o atletismo é praticamente esquecido nas instituições de ensino brasileiras (Matthiesen, 2009; Santos e Matthiesen, 2013).
Considerando o avanço tecnológico do mundo contemporâneo, o avanço dos grandes centros urbanos e as dificuldades com segurança e trânsito, o movimentar-se está mais restrito aos indivíduos e principalmente as crianças. As habilidades de correr, saltar e lançar que se praticavam em brincadeiras de rua como a queimada, pique pega e rouba bandeira acontecem cada vez menos neste cenário. Sendo assim, busca-se através de atividade lúdicas e pré-desportivas vencer as barreiras da contemporaneidade e promover também a manutenção da saúde, bem como a prevenção de doenças crônicas como a obesidade. De acordo com Borba (2006), as questões ambientais são as principais causadoras de obesidade infantil, pois atualmente, nas grandes cidades, as crianças quase não tem espaço para atividades físicas, consomem uma dieta rica em alimentos altamente calóricos, ficam muito tempo de seu dia em frente a aparelhos eletrônicos, o que conduz ao sedentarismo.
O atletismo na educação física escolar se torna, portanto, de fundamental importância, uma vez que através de vivências de habilidades motoras fundamentais como o correr, saltar, lançar e arremessar pode colaborar para uma melhoria nos processos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças quanto às esferas motora, cognitiva e afetiva. Para Gallahue (2005), o desenvolvimento motor está relacionado às áreas cognitiva e afetiva do comportamento humano, sendo influenciado por muitos fatores. Dentre eles destacam os aspectos ambientais, biológicos, familiares, dentre outros. Esse desenvolvimento é a contínua alteração da motricidade, ao longo do ciclo da vida, proporcionado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente, permitindo, portanto, a atuação do professor de Educação Física sobre alguns dos aspectos desta tríade.
2. O atletismo enquanto conteúdo das aulas de educação física escolar
Durante o ensino fundamental II as crianças estão em um momento importante de seu desenvolvimento físico, motor e cognitivo, sendo o atletismo um possível conteúdo que potencializa o desenvolvimento destes. É, portanto, necessário oportunizar aos alunos o acesso ao atletismo, tendo em vista que o movimentar-se está ficando cada vez mais restrito na formação destes alunos da educação básica, ora pelo fator contemporâneo, ora por leis que desapropriam a disciplina do currículo escolar e ora pela falta de planejamento das instituições de ensino e professores. Tal modalidade pode proporcionar vivências que geram desafios, trabalho em equipe e respeito, além disso, a modalidade oferece com sua prática uma manutenção da saúde e o combate a doenças como a obesidade e diabetes. Segundo Becker (2012), o esporte abre portas para crianças e jovens de comunidades escolares e economicamente menos favorecidas, e estabelece conceitos de liderança, trabalho em equipe, cria elos sociais, disciplina e forma cidadãos comprometidos desde a infância.
Embora nas aulas de Educação Física os aspectos corporais sejam mais evidentes e a aprendizagem esteja vinculada à experiência prática, o aluno precisa ser considerado como um todo, no qual aspectos cognitivos, afetivos e corporais estão inter-relacionados em todas as situações (Brasil, 1997).
Para Nascimento (2010), a educação física como disciplina, trata da cultura corporal, temas envolvendo o esporte numa dimensão social, como jogo, ginástica, dança, entre outros esportes. Em consonância com o projeto pedagógico a educação física contribui para o desenvolvimento de capacidades de análise, compreensão, explicação e atuação por parte dos alunos na realidade social em que estão inseridos, de forma autônoma, criativa e crítica.
O atletismo está presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais - (PCN’s), especificamente no bloco de conteúdos de esportes, jogos, lutas e ginásticas; tendo também o bloco de atividades rítmicas e expressivas que vão de encontro ao bloco de conteúdos de Conhecimento sobre o corpo (Brasil, 1998). Segundo os PCN’s, as habilidades motoras deverão ser aprendidas durante toda a escolaridade, do ponto de vista prático, e deverão sempre estar contextualizadas nos conteúdos dos outros blocos. Do ponto de vista conceitual e procedimental, podem ser observadas, praticadas e apreciadas dentro dos esportes, jogos, lutas e danças (Brasil, 1998).
O presente estudo busca investigar a realidade escolar e prática docente dos professores de Educação Física do ensino fundamental II quanto à aplicação do atletismo enquanto conteúdo das aulas de Educação Física Escolar em Divinópolis-MG.
3. Materiais e métodos
O presente estudo transversal teve caráter descritivo, do tipo levantamento (Thomas e Nelson, 2002). Como instrumento para a coleta de dados, foi utilizado um questionário com sete perguntas fechadas, após passar por um processo de elaboração e ser validado junto a três professores da disciplina Atletismo em diferentes faculdades de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Este instrumento foi aplicado para uma amostra não probabilística por conveniência de quatorze professores de escolas da cidade de Divinópolis, que trabalham com os anos finais do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano), após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram tratados e apresentados por meio de Estatística Descritiva (Reis, 1998).
4. Resultados e discussão
Dos 14 professores que participaram deste estudo, 9 atuam na rede estadual de ensino, 4 na rede municipal e 1 deles atua na rede particular. Em média os professores participantes do estudo têm 11 (±6,91) anos de atuação na educação física escolar.
Inicialmente foi investigado como os docentes avaliam o espaço físico disponível nas instituições em que atuam quanto à aplicação do atletismo (Figura 1).
Figura 1. Espaço Físico disponível para a prática do Atletismo
Conforme os resultados reportados, de fato todas as escolas em que os professores lecionavam não possuíam uma pista de atletismo para corridas, arremessos e saltos. Porém este fator não pode se tornar um empecilho para a prática do atletismo na educação física escolar. Esta dificuldade já foi previamente apontada por Melo et al. (2011) e Krug (2008), e inclusive apontada como não exclusiva do atletismo. Cabe ao professor fazer adaptações no espaço disponível: em uma quadra é possível trabalhar corridas de velocidade explorando seus limites, pode-se aplicar uma corrida de revezamento em seu entorno e demarcar um espaço de transição do bastão na parte central da quadra próximo às linhas paralelas das laterais. Outra possibilidade é a de demarcar metragens na quadra indicadas por cones, bambolês, dentre outros, e aplicar os conteúdos de arremesso e lançamentos. Com cones, cordas, elásticos e colchonetes também é possível aplicar aulas de saltos e corridas de obstáculos.
De acordo com Calvo (2005), outro dos argumentos utilizados pelos professores para o não ensino do atletismo na escola é a falta de recursos materiais específicos para sua prática. Desta forma foi verificada na próxima questão a opinião dos professores com relação à adequação dos recursos materiais disponíveis em suas escolas para a prática do atletismo (Figura 2).
Figura 2. Recursos Materiais Disponíveis para a prática do Atletismo
Calvo (2005) cita que são muitos os argumentos para o não ensino do atletismo na escola, sendo o principal a falta de espaço adequado, a falta de materiais específicos e por se tratar de um esporte com características essencialmente individuais, passível de causar desinteresse por parte de alguns alunos. Para Becker (2012) entende-se que o atletismo é um elemento cultural, em especial um conteúdo clássico da Educação Física, quando se depara com inúmeras possibilidades de ensiná-lo. Utilizando locais diversos, materiais adaptados e jogos pré-desportivos, o interesse das crianças e suas possibilidades de realização são garantidos, permitindo o seu ensino, conhecimento e difusão no âmbito escolar.
A realidade escolar nem sempre traz questões favoráveis no que se diz respeito a recursos materiais e até mesmo espaço físico como já apresentado nas Figuras 1 e 2. Apesar dessas dificuldades não se pode negligenciar a prática do atletismo por estes motivos, visto que vários dos implementos do atletismo podem ser construídos com materiais alternativos. Com meias, sacos plásticos, areia e fitas adesivas se consegue construir o implemento peso, com diferentes pesos e diâmetros adaptando suas especificações a formação dos alunos. Através de cabos de vassouras e canos PVC é possível trazer os dardos. Com a utilização do papelão e/ou pratos plásticos pode-se confeccionar discos. Outras possibilidades suprem a ausência dos implementos específicos, denotando este como um percalço totalmente transponível na prática docente. Mais do que simplesmente tornar disponíveis os materiais, a confecção permite ainda uma interessante possibilidade de torná-los atrativos e adaptados às crianças de diferentes idades.
Também foi de interesse neste estudo investigar se os professores incluem o atletismo nos seus planos de aula. De acordo com Oliveira (2006), iniciar a criança e o jovem no esporte está incluso no currículo da Educação Física Escolar, e o atletismo está inserido nos conteúdos dos Parâmetros Curriculares Nacionais juntamente com dança, ginástica, jogos e lutas. Ainda segundo o autor, o que se observa é que as modalidades esportivas de maior prestígio nacional dentro das escolas e da própria sociedade são as coletivas e têm como objeto central a “bola”.
Figura 3. Planos de Aula e práticas específicas do Atletismo
Segundo os PCN’s a Educação Física escolar não pode reproduzir a miséria da falta de opções e perspectivas culturais, nem ser cúmplice de um processo de empobrecimento e descaracterização cultural. Ou seja, o mesmo espaço-tempo que viabiliza o futebol e a “queimada” deve viabilizar o vôlei, o tênis com raquetes de madeira, os jogos pré-desportivos, a dança, a ginástica, as atividades aeróbicas, o relaxamento, o atletismo, entre inúmeros outros exemplos (Brasil, 1998).
Através da questão seguinte, objetivou-se identificar através da opinião dos professores, se os alunos se sentem motivados quando os docentes oferecem em suas aulas de educação física práticas do atletismo (Figura 4).
Figura 4. Aceitação da prática do Atletismo na Educação Física Escolar
Percebe-se um grande equilíbrio na opinião dos professores com relação ao interesse de seus alunos a prática do atletismo na educação física escolar, este fator pode se dar por vários aspectos, um deles é a falta de disseminação do atletismo pelas mídias televisivas e eletrônicas, fazendo assim com que alunos tendam a estas práticas gerando consequente desinteresse quando o professor ministra aulas relacionadas ao atletismo. O aspecto técnico pode ser outro fator desestimulante, cabendo então ao professor ser maleável com relação a técnicas e regras específicas do esporte, trabalhando de forma lúdica e através de jogos pré-desportivos. Tornar o atletismo uma atividade esportiva agradável nas escolas é o desafio proposto, desenvolvendo uma didática diferenciada, com metodologias que atendam melhor as necessidades dos alunos (Oliveira, 2006).
Para Calvo (2005) quando inserimos uma modalidade esportiva nas aulas de educação física deve-se adequá-la à realidade dos alunos e da própria escola, considerando os conhecimentos e experiências de vida dos alunos, ou seja, adaptando o esporte a uma perspectiva pedagógica. Pensando neste contexto e relacionando-o ao atletismo, o autor ainda especificou que alguns educadores em suas aulas acabam retratando como esporte de rendimento, focalizando somente os aspectos técnicos, desta forma o profissional empobrece seu trabalho em virtude de não desenvolver processos pedagógicos, sem promover, portanto, outras formas de conteúdo, como conteúdos históricos e adaptados às atividades lúdicas e pré-desportivas.
Buscando compreender de quais formas os professores do ensino fundamental II de Divinópolis-MG propõem o ensino do atletismo, investigou-se sobre o trabalho de aulas teóricas do conteúdo de atletismo (Figura 5).
Figura 5. Aulas Teóricas sobre o conteúdo de Atletismo
A educação física faz parte do currículo escolar, sendo uma área de conhecimento que deve transmitir não somente conhecimentos práticos e sobre o corpo. Para que ocorra uma transformação pedagógica é preciso pensar na aplicação de conteúdos teóricos da modalidade de atletismo. Muitos profissionais da área postulam a Educação Física como uma disciplina, no entanto, desenvolvem as aulas caracterizando-a como uma atividade (Lorenz e Tibeau, 2003). Limitam-se a comandar exercícios e atividades desportivas esquecendo sua principal função como educador que é a elaboração e transmissão de conhecimentos (Kolyniak, 2000). De acordo com Nascimento (2010), para que a educação escolar seja revista com novas perspectivas, é importante que o aluno adquira não só o conhecimento prático, o conhecimento histórico deve fazer parte do aprendizado do aluno.
Segundo Calvo (2005), devido às informações restritas e, muitas vezes, inadequadas acerca do assunto, percebe-se que falta uma abordagem mais aprofundada e sistemática do atletismo para que se possa usufruir com base em outros objetivos, como lazer, saúde, aspectos históricos, os quais também devem ser difundidos.
Tendo em vista as interações que podem ocorrer entre os alunos na prática de mini-competições e eventos do atletismo na educação física escolar, buscou-se investigar se os professores entrevistados realizam competições ou eventos relacionados ao esporte durante o calendário escolar (Figura 6).
Figura 6. Competições e eventos relacionados ao Atletismo no calendário escolar
A proposta de realizar competições e eventos relacionados ao atletismo vai de encontro à ideia de oportunizar aos alunos a prática deste esporte e em consequência possibilitar uma maior disseminação da modalidade, bem como oportunizar relações interpessoais e intrapessoais, onde estes alunos estarão em interação direta com a comunidade escolar e consigo mesmo, compreendendo suas possibilidades e limitações, aprendendo e vivenciando o perder e o ganhar presentes em modalidades esportivas (Martins Junior, 2003). A competição pode ser mais um meio para a educação, de acordo com Scaglia, Medeiros e Sadi (2006), não se iniciando apenas quando o árbitro apita para começar, ou encerra quando termina o jogo, mas desde a preparação do evento, marcando o sentido de congraçamento e responsabilidade entre os alunos, passando por uma série de manifestações de relações sociais e culturais, garantindo a participação ativa e motivante em seu desenvolvimento da prática e conhecimento do esporte.
De acordo com Oliveira (2006), no atletismo escolar, não interessa somente alunos velozes, ágeis, resistentes e fortes, deseja-se participar da formação dos indivíduos capazes de aprender as possibilidades e reconhecer suas limitações, que confrontem jogos e temas lúdicos da cultura corporal, que reconheçam o atletismo como prática social e deixe de ser um esporte mecânico, desvalorizado e muitas vezes esquecido nas aulas de Educação Física Escolar. Os jogos, as brincadeiras, a construção são caminhos que levam desde os primeiros anos da escolaridade até o ano final do ensino médio ao conhecimento e aprendizagem. Integrar a modalidade atletismo como mais uma opção de expressão corporal é indispensável na educação de corpo inteiro (Freire, 1997).
A última questão foi elaborada em busca de uma compreensão sobre a percepção de competência dos professores entrevistados para ministrar o conteúdo atletismo nas aulas de Educação Física Escolar (Figura 7).
Figura 7. Capacitação dos Docentes para ministrar o conteúdo de atletismo
Devido a questões culturais e a realidade escolar brasileira, muitos docentes só conhecem a modalidade atletismo a partir das vivências na graduação em educação física, estando esta disciplina incluída no programa de conteúdos dos currículos nacionais de ensino. Segundo Matthiesen (2009), é necessário compreender o atletismo, adaptar os materiais, modificar as regras, diminuir distâncias e alturas, variar pesos, usar jogos e brincadeiras, possibilitando a realização da modalidade nas várias faixas etárias existentes, contribuindo assim no interesse pela modalidade.
É necessário que os professores tenham uma nova concepção pedagógica com relação ao atletismo da escola, que valorizem suas contribuições motoras, cognitivas e afetivas e tenham uma nova visão com relação ao esporte. Para Oliveira (2006), a grande tarefa da transformação didático-pedagógica dentro das escolas brasileiras é aumentar sua atratividade e a sua compreensão: porque fazer, como fazer, quando fazer e como melhorar esse fazer, com diferentes estímulos e diferentes formas de adquirir conhecimento.
5. Conclusão
Os professores do ensino fundamental II de Divinópolis-MG em sua maioria declararam atender em seus planos de aula superficialmente os conteúdos relacionados ao atletismo. A oferta deste conteúdo, ainda que superficialmente, se dá ainda que nenhum dos professores considere o espaço físico escolar e os materiais disponíveis apropriados para a prática do atletismo. Este é um ponto positivo verificado, demonstrando que, conforme sugerido por Pedrosa et al. (2012) existem diversas maneiras de transpor as barreiras físicas e materiais para o ensino do atletismo na escola.
Há de ser ressaltar, entretanto, que o conteúdo apenas se trabalha no ensino fundamental II de forma superficial, o que talvez demande a necessidade de refletir e abolir dos docentes a visão inadequada sobre o que é o atletismo e quais são suas possibilidades na escola. Surge, portanto, uma preocupação quanto ao entendimento dos professores acerca do atletismo: se entendido como uma modalidade de técnica e rendimento, ou se compreendidas as possibilidades do “atletismo da escola”, ou seja, adaptando-se ao espaço físico, recursos materiais e realidade dos alunos (Vago, 1996).
Quanto à percepção da aceitação do conteúdo atletismo por parte dos alunos os resultados demonstram dados preocupantes, em que grande parte do alunado não possui interesse ou possui muito pouco interesse no conteúdo. É importante ressaltar que o interesse dos alunos com relação à modalidade diz respeito não apenas ao que acontece dentro das aulas de Educação Física. A modalidade indiscutivelmente é pouco difundida não só no ambiente escolar, mas também pelos principais meios de comunicação, trazendo desconhecimento acerca da prática (Sampaio, 2010). O professor de educação física, entretanto, ainda atua como o principal motivador, possuindo diversas estratégias na apresentação do conteúdo, como aulas teóricas e promoção de competições e eventos (Pieri e Huber, 2013). Com relação a estes aspectos foi verificada neste estudo a necessidade de ampliação destas estratégias, visto que as aulas teóricas, quando existentes, foram classificadas em sua maioria como raras, e os eventos e competições seguiram o mesmo padrão.
Tais estratégias didáticas poderiam contribuir para chamar a atenção para o esporte educativo, aquele que leva o aluno à aprendizagem e aquisição de novos conhecimentos, através de trocas de experiências coletivas e individuais, em respeito à cultura que o aluno traz consigo. Um esporte que solicite a presença do aluno no seu todo, no cognitivo, no físico, no social, no simbólico, no motor, de ações, de entendimento e que permita resoluções de problemas (Oliveira, 2006).
Finalmente, quanto à percepção de competência dos profissionais para ministrar o conteúdo atletismo elucida-se, novamente a dicotomia entre a percepção do “esporte na escola” e “esporte da escola”, conforme discutido por Vago (1996). A perspectiva escolar deveria prioritariamente priorizar aos alunos o contato com a modalidade adaptada, que permita a participação de todos e um entendimento que perpasse a vivência prática, sem, entretanto, se restringir aos aspectos técnicos e regulamentares do esporte de alto rendimento.
Uma vez que o Atletismo faz parte dos conteúdos dos Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso oportunizá-lo aos alunos, promovendo assim o “atletismo da escola”. Tendo sempre em vista atividades lúdicas e pré-desportivas e o interesse dos alunos, é possível trazer posteriormente técnicas e regras do esporte, assim a contribuindo com a disseminação da modalidade e proporcionando uma interação entre as crianças. Criando vínculos, oportunizando o trabalho coletivo e cooperativo nas aulas de Educação Física é possível contribuir para que os alunos levem as experiências vividas para outros contextos, para que ampliem seu leque de movimentos, brincadeiras e experiências, mas principalmente em seu processo de desenvolvimento pleno acerca da realidade ao seu redor.
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