O ‘lugar’ do corpo na mídia impressa: um olhar a partir da análise da revista Lola El “lugar” del cuerpo en medios impresos: una visión desde el análisis de la revista Lola |
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*Licenciada em Educação Física. Especialista em Movimento Humano, Sociedade e Cultura (UFSM) **Licenciada em Educação Física. Especialista em Movimento Humano, Sociedade e Cultura, Mestra em Educação (UFSM) ***Licenciada em Educação Física. Especialista em Movimento Humano, Sociedade e Cultura (UFSM) Mestra em Ciência do Movimento Humano (UFRGS) ****Licenciada em Educação Física, Especialista em Movimento Humano, Sociedade e Cultura Acadêmica de Mestrado em Gerontologia (UFSM) |
Roberta Bevilaqua de Quadros* Sofia Wolker Manta** Suélen Andrés*** Tatiane Rocha Razeira**** (Brasil) |
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Resumo Este artigo teve como objetivo analisar a relevância/ incidência de reportagens sobre as representações de corpo vinculadas na mídia impressa. O estudo teve caráter qualitativo, descritivo e exploratório, A partir disso, foram analisados três exemplares, dos meses de agosto, setembro e outubro do ano de 2011 da Revista Lola da Editora Abril. A categoria analisada nesses exemplares foi o corpo tendo como subcategorias deficiência, gênero, envelhecimento e saúde. A análise dos dados se deu de forma qualitativa e descritiva a partir dos resultados e dos objetivos do estudo. Os resultados apontaram que o corpo feminino ainda é visualizado no aspecto biológico e fisiológico, na qual a funcionalidade, a estética, a beleza e os tratamentos corporais corretivos são os únicos meios possíveis para manter a mulher saudável e bonita. Pode-se perceber nas reportagens a predominância da imagem da mulher que não está nos padrões hegemônicos, e sim, aquela que busca o poder e ascensão social, autônoma e bem sucedida. Já na relação entre corpo e envelhecimento às reportagens mostram mulheres que minimizam os efeitos do envelhecimento por meios cirúrgicos, destacam tratamentos estéticos, exercícios físicos, entre outros, em busca da manutenção de um padrão de beleza e da juventude. Sendo assim, pode-se perceber que a vinculação do corpo destinado às reportagens ainda é valorizado apenas como biológico e fisiológico, afastando toda e qualquer possibilidade de beleza que não seja representado por corpos magros, malhados e esteticamente bem cuidados. Unitermos: Corpo. Mulher. Velhice. Mídia.
Resumen Este artículo tiene como objetivo analizar la relevancia / impacto de las notas sobre las representaciones del cuerpo vinculados en los medios impresos. El estudio fue de tipo cualitativo, descriptivo y exploratorio. A partir de esto, se analizaron tres números de los meses de agosto, septiembre y octubre de 2011 de la revista Lola de Editora Abril. La categoría analizada de estas muestras fue el cuerpo que tiene como subcategorías discapacidad, género, edad y salud. El análisis de los datos se hizo de manera cualitativa y descriptiva a partir de los resultados y los objetivos del estudio. Los resultados mostraron que el cuerpo de la mujer se sigue mostrando en el aspecto biológico y fisiológico, en el que la funcionalidad, la estética, la belleza y tratamientos corporales correctivos son el único medio posible para mantener la mujer sana y hermosa. Se puede ver en las notas el predominio de la imagen de mujeres que no se encuentran en los patrones hegemónicos, y sí, el de la que busca el poder y el ascenso social, independiente y exitosa. En cuanto a la relación entre el cuerpo y el envejecimiento las notas muestran a mujeres que minimizan los efectos del envejecimiento por medios quirúrgicos, enfatizan tratamientos estéticos, ejercicios físicos, entre otros, en busca de mantener un estándar de belleza y juventud. Así, se puede ver que la vinculación del cuerpo destinado a los reportajes todavía se valora sólo como biológico y fisiológico, eliminando cualquier posibilidad de belleza que no sea representado por cuerpos delgados, moldeados y estéticamente bien mantenidos. Palabras clave: Cuerpo. Mujer. Vejez. Médios de comunicación.
Recepção: 10/07/2015 - Aceitação: 26/08/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Pensar o corpo atravessa várias questões que envolvem aspectos históricos, sociais, culturais, políticos e mercadológicos. Para Andrade (2002), o corpo é o lugar de buscas de significados, e pode ser considerado elemento discursivo dos interesses sociais, culturais e econômico, dando o exemplo: a mídia e a medicina.
O corpo visualizado em revistas configura-se em um conjunto de sentido para o qual direcionam inúmeras instâncias enunciativas, com objetivos que vão desde a simples venda até a construção de um imaginário limitador de condutas, de sentimentos e opiniões a respeito do papel social das mulheres (Flausino, 2003).
E através do consumo deste corpo, produz-se e transforma-se a nossa natureza e nossa biologia, incidindo no comportamento diário das pessoas, no autocontrole para utilizar-se de diferentes mecanismos de correções para permanecer e se manter dentro de um padrão de beleza e saúde.
Sendo assim, este trabalho justifica-se por analisar a relevância/ incidência de reportagens sobre as representações de corpo vinculadas na mídia impressa, pois entendemos que essas constroem sentidos, significados e estereótipos que estão associados à mercantilização dos corpos, que funcionam como um corpo mítico, um corpo selecionado e construído num espaço de relações e confrontos entre as culturas, preferencialmente a dominante, que é hegemônica e que tem poder de compra.
Metodologia
Este estudo caracterizou-se por ser qualitativo do tipo descritivo e exploratório, pois teve como objetivo realizar uma investigação sobre o corpo vinculado na mídia impressa, tendo como referência a Revista Lola.
Capas da revista Lola
Esta revista teve seu lançamento em 28 de agosto de 2010, estando apenas na sua 13ª edição. É publicada pela Editora Abril destinada ao público feminino de maior poder aquisitivo, bem-sucedida profissionalmente, exigente, bem-humorada e com mais de 30 anos.
O corpo editorial da revista é composto na sua maioria por mulheres tendo um percentual referente a assuntos sobre sociedade 23%; estilo de vida 29%; moda 25%, beleza 19% e outros 4%.
A Revista Lola tem atualmente uma média de circulação de 78 mil exemplares, sendo a distribuição feita 17% no Sul do Brasil, 64% no Sudeste, 10% no Nordeste e 7% Centro-Oeste e Norte apenas 2%1.
A partir disso, foram analisados três exemplares, dos meses de agosto, setembro e outubro do ano de 2011, esse recorte foi em decorrência da prevalência das temáticas a serem discutidas, sendo possível assim, identificar essas categorias para análise e discussão.
A categoria analisada nesses exemplares foi o corpo tendo como subcategorias a deficiência, gênero, envelhecimento e a saúde. A análise dos dados se deu de forma qualitativa e descritiva a partir dos resultados e dos objetivos do estudo.
Resultados e discussão
Os resultados serão apresentados conforme a freqüência de vezes com que a categoria corpo apareceu em reportagens em relação com as subcategorias. A referida análise será apresentada na tabela a seguir.
Tabela 1. Freqüência da categoria e subcategorias presentes nas reportagens da Revista Lola
Como se pode perceber não foram encontradas reportagens sobre mulheres com deficiência nos exemplares analisados, o que reforça a invisibilidade das diferenças nas identidades e corpos femininos, considerando apenas um “modelo”.
A revista Lola evidencia mulheres bem sucedidas nas diferentes faixas etárias e com o corpo simplesmente “invejável”, não dá enfoque para “receitas” para “ser ou ficar” como elas, as matérias trazem entrevistas com mulheres expondo seus hábitos alimentares, estéticos e bem como a prática de exercícios físicos.
Através da análise da relação do corpo com a subcategoria saúde, ficou evidente de como a estética, a beleza, os cuidados com a pele, cirurgias estéticas, prática de exercícios físicos e dietas alimentares são sugeridas ao público feminino de forma a “manter” uma vida saudável e com prestígio.
Pode-se observar que a própria procura pela beleza confundia-se com saúde, pois na revista esta é vista como ausência de doença, o que contrapõe a Organização Mundial da Saúde (OMS), a qual concebe saúde como perfeito equilíbrio biopsicossocial e não meramente ausência de doenças.
Segundo Flausino (2003) desde o século XX no Brasil as revistas destinadas ao público feminino, reproduzem seus discursos dentro de uma lógica de beleza relacionada à saúde do corpo, e estando esse corpo, controlado, disciplinado e moldado aos padrões de corpo presentes nas capas das revistas, mais se afasta o risco de desenvolver doenças.
O mesmo autor ainda situa que ao comprar e consumir as capas de revistas, as leitoras buscam uma forma de diferenciação social, ou seja, um prestígio por aquilo que é aceito como beleza e ressalta:
[...] quem compra a revista, compra o corpo, o comportamento e as relações de poder às quais ele está preso e contra as quais ele resiste em sua materialidade (é o efeito sanfona, as celulites renitentes, o desejo da carne que deve ser reprimido ou vivenciado, etc.) (Flausino, 2003, p. 07).
Baseado na reportagem supracitada pode-se trazer a discussão sobre o processo de envelhecimento da mulher e suas relações com o corpo. Na busca de compreender as representações de corpo e envelhecimento nessa publicação, percebe-se que o mesmo é reduzido a um caráter biológico. Isso fica evidente na matéria “Eu, máquina” por Luara Calvi Anic (Lola, agosto pag. 90) onde mulheres de diferentes idades são mostradas seminuas, e cada uma delas relata como se sente em relação ao seu corpo e sobre sua idade.
Nesses relatos as entrevistadas mencionam aspectos puramente fisiológicos e biológicos, como metabolismo, digestão, rugas, medicamentos, alimentação, exercícios físicos, flacidez, menopausa entre outros. Como expressa a entrevistada Vera Barreto: “setenta anos é uma idade em que você realmente sente falhas na máquina, por causa do uso”.
A revista mostra dicas sobre cuidados com a pele, cabelos, exercícios e alimentação para cada idade 30, 40, 50, 60 e 70 anos. Como se todos envelhecessem da mesma forma em cada década de vida. Entendemos o envelhecimento como um processo que engloba vários fatores, biológicos, fisiológicos, psicológicos e sociais.
Buscando compreender esse processo e seus fatores, iniciamos discorrendo sobre alguns conceitos que acreditamos serem importantes para melhor discutir e analisar o tema em foco.
O senso comum entende o velho, o idoso como aquele que tem muitos anos de idade e uma grande experiência acumulada. Ser idoso é uma condição visível, e o envelhecer não é somente um “momento” na vida de um indivíduo, entende-se como um processo extremamente complexo e pouco conhecido. Implicando tanto para quem o vivencia como para a sociedade que o assiste.
Para Fraiman (1999) a idade é uma das variáveis que regulam o comportamento social e as relações entre indivíduos e grupos em todas as sociedades. A ONU adotou a idade de 60 anos para se categorizar a pessoa na qualidade de idoso, ou da terceira idade atualmente.
O envelhecimento é para diversos autores, entendido como um processo evolutivo, um ato contínuo, isto é, sem interrupção, que acontece a partir do nascimento do indivíduo até o momento de sua morte (Costa, 1998).
Pensamos que no processo de envelhecer não se pode pensar somente em perdas, em deixar de ser produtivo, em tornar-se dependente, em modificar hábitos, na luta contra doenças crônicas e debilidades orgânicas, na proximidade da morte, na ameaça à sexualidade, à inteligência. É preciso pensar na sabedoria conquistada pelas experiências e vivências, na abertura e aceitação para uma nova etapa da vida, aprendendo a conviver com as limitações que surgem durante o processo de envelhecimento.
De acordo com Fraiman (1999), o envelhecimento é parte do desenvolvimento humano integral e não uma predestinação ao fim entende-se como resultado dinâmico de um processo global de uma vida, durante a qual o indivíduo se modifica incessantemente. Estas mudanças que um ser humano experimenta em qualquer idade podem ser lentas ou abruptas, conscientes ou inconsciente, culturais, históricas, sociais, psicológicas ou biológicas.
Para muitos idosos as perdas físicas são sofridas com maior intensidade e numa freqüência maior do que em qualquer outra idade, o medo do novo, o desejo de manter a situação antiga, o estigma da morte iminente e a aceitação das mudanças visíveis no corpo, onde a velhice é visibilizada, nos cabelos brancos, nas rugas, na flacidez muscular, etc.
A reportagem mostra corpos numa curva crescente dos 30 aos 70 anos de idade, corpos mostrados de forma sensual, onde as mulheres desnudas são mulheres, assim como as leitoras da revista, bem sucedidas, independentes e com alto nível social. Mostra corpos invejáveis e desejáveis, mas que não são possíveis a todas as mulheres. A matéria ainda traz dicas de beleza para alcançar, conquistar corpos como os expostos nas páginas da revista, cria-se um manual de beleza a ser seguido, e se culpa as mulheres que não o fazem, como se fosse simples assim, seguir e conseguir.
As preocupações e os cuidados com o próprio corpo, buscando uma aparência saudável e próxima à da juventude, são comportamentos socialmente esperados principalmente às mulheres e dizem respeito a esta feminilidade hegemônica, construída, muito fortemente, nesta relação das mulheres com seus corpos.
Portanto, a velhice parece ser uma fase em que a preocupação com o corpo é acentuada, seja pelas modificações corporais, intensificadas com o passar dos anos, seja por uma forte pressão social, estimulada pela mídia, que vê como inevitáveis as crises identitárias nessa fase da vida.
Cada pessoa desenvolve o seu processo de envelhecimento, e antes de encararmos o envelhecer como uma situação global e homogênea, é preciso ter em vista as diferentes possibilidades de envelhecer, não se pode eliminar a velhice, mas se pode mudar a maneira de envelhecer.
Outra análise do corpo na perspectiva da revista Lola, nos exige discorrer sobre as relações de gênero. Pois tendo gênero como uma “[...] construção social do feminino e do masculino, atentando para as formas pelas quais os sujeitos se constituem e eram constituídos, em meio a relações sociais de poder” (Louro, 2002, p. 15). Que podemos verificar uma forma diferente de ver a mulher na revista Lola, pois sai da hegemonia feminina, onde a mulher é vista como a boa mãe, boa esposa, delicada e feminina e a coloca num status de mulher poderosa e independente.
A revista Lola, enquanto instancia pedagógica, colabora na produção e divulgação de estereótipos do que é ser mulher, todavia sendo a revista voltada para mulheres bem-sucedidas profissionalmente, exigentes, bem-humoradas e com mais de 30 anos.
Percebemos que em muitas matérias onde a mulher esta num posto de poder, ou em um lugar que seria de um “homem”, a mulher se apropria de atributos e atitudes “masculinas” para defender seu posto, como no caso da matéria “Ela e os lobos” por Gilles Lapouge, onde a chamada principal foi “Um cérebro feminino chega à direção do Fundo Monetário Internacional. Cristine Lagarde diz que leva sua experiência de advogada, ministra, executiva- e de mulher. [...]”. Mas que experiência de mulher que ela se refere?
No decorrer da matéria, aparece o questionamento em relação à imagem de uma “mulher masculina” (Lola, agosto, p. 80) para posteriormente afirmarem sua feminilidade “feminina ela é. Alta, elegante, contida, voz suave, sorridente e até mesmo engraçada, bem penteada, classuda, ela seduz”.
Assim, considerando o mote que a revista preconiza, seu público alvo, podemos dizer que ela vem criando uma nova forma de ver mulher, pois mesmo que ela reforce estereótipos do que é ser mulher, a revista traz uma nova forma de ver esta mulher feminina, traz uma mulher forte, independente, capaz desempenhar vários papéis e dona de si.
Considerações
Na tentativa de estarem de acordo com as representações hegemônicas de corpo, as pessoas procuram adequar seus corpos a uma norma vigente, na obsessão do corpo magro, bonito e elegante. Nesse sentido, a mídia impressa como o caso de revistas de moda e comportamento direcionadas ao público feminino, induzem, reforçam, disciplinam e normatizam corpos ideais.
No entanto, nem todas as mulheres possuem acesso aos tratamentos estéticos, intervenções cirúrgicas e demais informações de sucesso estético, mas procuram se adequar a padrões impostos socialmente e culturalmente, independentemente de poder aquisitivo. Referindo-se a Revista Lola, essas possibilidades são de fácil acesso apenas pelas leitoras que se enquadram em um poder aquisitivo (alto) que permite a essas modificações.
As mulheres na velhice estão livres de compromissos, podem vivenciar experiências das quais até então eram privadas e esse momento para elas se apresenta como um período propício para realizações e cuidar se si. Mas da mesma forma que estão livres de compromissos anteriores, como casa, filhos e marido, acabam por estabelecer outros, atualmente, a difícil tarefa de tentar manter-se jovem, com aparência saudável e bonita, buscando uma representação de corpo sempre jovem.
Nota
Fonte on line: www.lolavocenaoprecisavocequer.com.br
Bibliografia
Andrade, S. S. (2002). “Uma boa forma de ser feliz”: Representações de corpo feminino na revista Boa Forma. 139f. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Braga, A. (2005). Corpo e Agenda na Revista Feminina. Cadernos IHU Idéias, São Leopoldo. Ano 3 – Nº 40.
Capodieci, S. (2000). A idade dos sentimentos: amor e sexualidade após os sessenta anos. Trad. de Antônio Angonese. São Paulo, Edusc.
Costa, Elisabeth Maria Sene. Estudos clínicos e psicodramáticos sobre o envelhecimento e a terceira idade. Disponível em: http://www.google.com.br/estudosclinicosepsicodramáticos/gerontodrama. Acesso em: 25 de novembro de 2011.
Flausino, Márcia Coelho (2003). As velhas/novas revistas femininas. In: INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – BH/MG – 2 a 6 Set.
Fraiman, Ana P. (1999). Coisas da Idade. São Paulo, SP: Ed. Gente.
Louro, Guacira Lopes. (2002). O Corpo Educado – pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte, MG: Ed. Autência.
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