Motivos que levam crianças, jovens e adultos a praticarem taekwondo Motivos que llevan a los niños, jóvenes y adultos a practicar taekwondo Reasons that lead children, youth and adults a practice taekwondo |
|||
*Psicóloga (licenciatura e formação. Especialista em Saúde Coletiva. Especialista em Psicologia Cognitivo-Comportamental. Mestre em Psicologia Social – UFPB Doutora em Psicologia – UFRN. Pós-Doutoranda em Psicologia – Unifor Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UNIFOR **Graduando em Psicologia pela UNIFOR ***Psicóloga. Mestranda em Psicologia pela UNIFOR (Brasil) |
Cynthia de Freitas Melo* Leonardo de Sousa Meireles** Darli Chahine Baião*** |
|
|
Resumo O Taekwondo é uma arte marcial que pode ser praticado por pessoas de todas as idades, atraídas por diferentes motivações e beneficiadas em sua saúde física, mental e social. O presente trabalho tem como o objetivo verificar os motivos que levam crianças, jovens e idosos a praticarem o Taekwondo. Para realização desta pesquisa exploratória e descritiva, de cunho qualitativo, foram realizadas entrevistas com três pais das crianças, cinco jovens e seis idosos, guiadas por um roteiro de entrevista semiestruturada, avaliados por meio de análise de conteúdo de Bardin. Entre os resultados, observou-se que os pais colocam as crianças para fazer Taekwondo por questões de autodefesa, sociabilidade e autoconfiança. Os jovens começam a fazer por convites de conhecidos, motivados inicialmente pela melhora da saúde física. Já, os fatores que são motivadores para a permanência são: o bem-estar, o sonho de ser campeão mundial, o clima no ambiente de treino, o crescimento moral e técnico e o desejo de educar com o Taekwondo. Os idosos demonstraram ter identificação com as artes marciais desde a juventude, embora nunca as tenha praticado. Dentre os motivos para a prática deles destacaram-se: a realização de um desejo antigo, condições apropriadas para praticar, superação pessoal, a saúde física, o reencontro com a família na arte, integração em uma comunidade e as amizades encontradas. Pode-se concluir que a prática do Taekwondo pode trazer ganhos em todas as fases do desenvolvimento humano, e que, independente das motivações iniciais, a prática da arte marcial transforma-se em um estilo de vida. Unitermos: Psicologia do Esporte. Psicologia da Saúde. Taekwondo. Motivação.
Abstract Taekwondo is a martial art that can be practiced by people of all ages, attracted by different motivations and assisted in their physical, mental and social. The present work has as objective to verify the reasons why children, young and old to practice Taekwondo. For realization of this exploratory and descriptive research of qualitative nature, interviews were conducted with three parents of children, five boys and six elderly, guided by a semi-structured interviews, assessed by Bardin content analysis. Among the results, it was observed that parents put the kids to do Taekwondo for self-defense issues, sociability and self-confidence. Young people begin to do for known invitations, initially motivated by improved physical health. Already, the factors that are motivating for the stay are: the well-being, the dream of being world champion, the mood in the training environment, moral and technical growth and the desire to educate with Taekwondo. The elderly have demonstrated identification with martial arts since his youth, although he never practiced. Among the reasons for the practice of them stood out: the realization of an old dream, appropriate conditions to practice, personal development, physical health, the reunion with family in art, integration into a community and friendships found. It can be concluded that the practice of Taekwondo can bring gains at all stages of human development, and that, independent of the initial motivation, martial art practice becomes a lifestyle. Keywords: Sport Psychology. Health Psychology. Taekwondo. Motivation.
Recepção: 22/05/2015 - Aceitação: 10/08/2015
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
A procura pelas artes marciais tem crescido muito nos últimos anos, ganhando cada vez mais espaço em academias de ginástica, clubes esportivos, escolas, entre outros ambientes, permitindo a inserção de pessoas com diferentes idades e contextos (Silva, 2003). Diversas são as razões que levam as pessoas a praticarem essas artes, como: defesa pessoal, esporte, qualidade de vida, caminho de crescimento espiritual, defesa pessoal, controle da agressividade, hobby ou estilo de vida. Motivação que dependerá do papel que a arte marcial exerce sobre a vida dos praticantes (Samulski, 1992; Hackney, 2012).
A arte marcial é caracterizada por um conjunto de técnicas, filosofias e tradições de combate, na qual cada modalidade é herdeira de uma determinada tradição e constitui um todo coerente em que as técnicas são devidamente enquadradas por conceitos filosóficos e por rituais tradicionais (Reid & Croucher, 1983).
A maior parte é de origem oriental, mas, apesar disso, cada uma apresenta características próprias e distintas. Pode-se dividi-las em dois grupos: 1) As que se utilizam de técnicas de projeções, quedas e torções, como é o caso do Judô, Aikido, Jiu-Jitsu; e 2) As que usam os pés, as mãos e outras partes do corpo para golpear e bloquear: Karatê, Kung Fu, Taekwondo (Sanchez, 2010).
O Taekwondo é uma das modalidades em ampla expansão no Brasil e América Latina, mostrando-se eficaz no desenvolvimento físico, mental, moral e social de seus praticantes (Rocha, 2009). Existe, todavia, uma carência de estudos sobre a motivação dos seus praticantes; de forma a utilizar esse combustível propulsor no estímulo de novos praticantes.
A motivação denota os fatores que levam os indivíduos à ação ou a inércia em diversas situações. Seu estudo implica no exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo ou executar algumas tarefas, com maior empenho do que outras, ou, ainda, persistir numa atividade por longo período de tempo (Cratty, 1983). É, portanto, um dos temas mais estudados na Psicologia do Esporte e na Educação Física, buscando explicar como se desenvolve a motivação de iniciação e manutenção de pessoas em práticas esportivas (Knijnik, Greguol & Santos, 2001; Scalon, 2004).
Além do bem estar, a prática de artes marciais também possibilita excelentes ganhos para saúde e qualidade de vida dos seus praticantes, em especial aos idosos, uma vez que no processo de envelhecimento, ocorrem algumas transformações que apresentam uma grande influência no comprometimento da qualidade de vida do indivíduo idoso, acarretando perda de autonomia e dependências físicas, psicológicas e econômicas em relação à sociedade e à família. Além disso, a inserção desses indivíduos pode aumentar também a expectativa de vida, melhorando as funções orgânicas, garantindo maior independência social e um efeito benéfico no controle, tratamento e prevenção de doenças, retardando as alterações associadas à idade (Neto, 2011).
Diante do exposto, o objetivo do presente estudo é verificar os motivos que levam crianças, jovens e idosos a praticarem Taekwondo. Um tema intrigante e que merece ser compreendido, a partir de uma visão multidisciplinar, num diálogo entre a Psicologia do Esporte, Psicologia da Saúde e Educação Física.
Método
Tipo de estudo
O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, de cunho qualitativo, que pretende conhecer e aprofundar-se sobre essa temática.
Participantes
Contou-se com a participação de 14 alunos de uma academia em Fortaleza (Ceará-Brasil), seguindo critério de saturação. Foram 3 pais de crianças (1 menina e 2 meninos), 5 Jovens (2 mulheres e 3 homens com idades entre 18-25 anos) e 6 Idosos (1 mulher e 2 homens) que praticam o Taekwondo diariamente.
Instrumento
Foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada, contendo questões sobre: 1) A inserção do aluno ao Taekwondo; 2) Os motivos que levaram a fazer Taekwondo; e 3) Importância da prática.
Procedimentos éticos e de coleta de dados
Inicialmente, o projeto de pesquisa foi autorizado pela direção da academia; em seguida foi aprovado pelo Comitê de Ética da Unifor, com parecer N.987.183, de 26/02/2015. Posteriormente, entrou-se em contato com os alunos jovens e idosos de Taekwondo e com os pais das crianças praticantes, explicando os objetivos da pesquisa e solicitando sua participação com autorização por escrito, via Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As entrevistas foram realizadas na academia, com auxílio de gravador.
Análise dos dados
As entrevistas foram avaliadas através de Análise de Conteúdo de Bardin (1977).
Resultados e discussão
O corpus geral foi composto por 11 entrevistas, constituindo as Unidades de Contexto Inicial (UCI), divididas em três blocos de análises. No primeiro bloco, existem três entrevistas realizadas com pais de crianças. Contabilizaram-se ao todo 116 Unidades de Contexto Elementar (UCEs), distribuídas em três categorias: 1. A escolha da arte marcial; 2. Motivos para colocar o filho no Taekwondo; e 3. Mudanças no comportamento ocorridas após o Taekwondo.
O segundo bloco é composto por cinco entrevistas com os jovens. Contabilizaram-se 322 UCEs, distribuídas em cinco categorias: 1. A descoberta do Taekwondo; 2. Motivos para começar a praticar o Taekwondo; 3. Percepções sobre o Ambiente de Treino; 4. Motivação atual para a prática de Taekwondo; e 5. Benefícios encontrados com o Taekwondo.
O terceiro bloco é composto por três entrevistas com os idosos. Contabilizaram-se 387 UCEs, distribuídas em sete categorias: 1. A descoberta do Taekwondo; 2. Motivos para começar a praticar o Taekwondo; 3. Identificação com a arte marcial; 4. Percepções das outras pessoas sobre sua prática de Taekwondo; 5. Adaptação aos treinos de Taekwondo; 6. Benefícios encontrados com o Taekwondo; e 7. Motivação atual para a prática de Taekwondo.
Análise das categorias abordadas nas entrevistas com os pais das crianças
A categoria 1 – “A escolha da arte marcial”, composta por 39 UCEs, aborda as experiências de como foi que se deu essa escolha pela prática do Taekwondo e quem foi o autor do interesse. Observou-se que as crianças entram no Taekwondo a partir da escolha dos pais ou pela sua própria escolha. “Quando veio conhecer o Taekwondo, ele viu que tinha outras opções lá [...], mas ele preferiu o Taekwondo [...] eu não impus pra ele, sabe? Até porque eu não conhecia também, né, fui conhecer através dele“ (Participante 2). Corrobora com o estudo de Cratty (1983), que mostra como motivadores a diversão, bem-estar físico, competições e novas amizades como principais fatores.
A categoria 2 – “Motivos para colocar o filho no Taekwondo”, composta por 26 UCEs, aborda evidencia que os pais colocam seus filhos pra se socializarem, para a autodefesa e para terem mais confiança, corroborando com os estudos de Vianna e Duino (2009). “Ele tava com problema na escola de muita briga, apanhar muito, falta de confiança, baixa estima, e a gente procurou no TKD essa cura parcial pra ele [...]” (Participante 2).
A categoria 3 - “Mudanças no comportamento ocorridas após o Taekwondo”, composta por 51 UCEs mostra que os pais consideram que essa arte marcial pode ajudar a criança na sociabilidade, na autoconfiança e na inclusão de princípios morais. “Ele socializa hoje de uma maneira que a gente fica assim, impressionada. Ele tira brincadeiras, e que tenho certeza que se não fosse o TKD, ele não tava nesse progresso” (Participante 1).
Dados que corroboram com a literatura, que mostra que a dimensão da sociabilidade, também é importante na fase da infância, podendo estar relacionada com a necessidade psicológica inata de relacionamento ou pertencimento, gerando promoção de saúde e sensação de bem-estar (Rocha, 2009).
Análise das categorias abordadas nas entrevistas com os jovens
A categoria 1 - “A descoberta do Taekwondo”, composta por 21 UCEs, aborda as experiências dos jovens ao conhecerem a arte marcial. Observou-se que todos eles começaram a fazer TKD a partir do convite de conhecidos, amigos ou irmãos. “Um amigos meu fazia TKD já faz um tempo [...]. Aí eu comecei a assistir o treino e comecei a me interessar” (Participante 3), reforçando-se a importância dos pares entre os adolescentes, como pessoas influentes nas formações de juízos de valores, nas escolhas de esportes e na formação da identidade (Bombonatto, 2007; Gáspari & Shwartz, 2001).
A categoria 2 – “Motivos para começar a praticar o Taekwondo”, compostas por 52 UCEs, mostra que, inicialmente, a busca ocorreu pela necessidade de atividade física que propiciasse saúde física, também pela identificação com alguém próximo que pratica a arte marcial ou pela própria identificação com a arte marcial. “O principal foi a questão física mesmo, a questão que eu tinha engordado muito na época e precisava fazer alguma atividade pra emagrecer” (Participante 2). Dados que corroboram com o estudo de Rocha (2009) que mostra que o que motiva os praticantes de Taekwondo são as dimensões saúde e prazer.
A categoria 3 – “Percepções sobre o Ambiente de Treino”, composta por 27 UCEs, aborda as percepções dos alunos diante das relações interpessoais contidas no grupo. Observou-se que todos gostam do clima, pelas amizades, pela descontração no ambiente de treino, que apesar de ser marcado pela disciplina, por esses fatores o treino ocorre de maneira leve. “Cara, o ambiente de treino é ao mesmo tempo um ambiente de treino descontraído e ao mesmo tempo sério [...] descontraído porque antes de começar o treino, as pessoas ficam conversando assuntos casuais, do dia a dia e tal [...] mas, apesar disso, durante o treino [...] o pessoal logo deixa esse clima descontraído de lado e se concentra muito nos ensinamentos” (Participante 5). Destaca-se, pois, que, apesar as aulas ocorrerem de forma leve, o Taekwondo é marcado por uma séria de regra de conduta disciplinar dentro do Do-Jang (Sanchez, 2010).
A categoria 4 – “Motivação atual para a prática de Taekwondo”, composta por 63 UCEs, evidencia como principais fatores o bem causado pela prática, as competições, o crescimento moral e técnico dentro do Taekwondo e o desejo de um dia educar com esta arte marcial. “O que me motiva também é o sonho de ser campeã mundial, eu tenho isso na cabeça e um dia vou conseguir ser campeã mundial” (Participante 1). Contempla-se que este aspecto específico da arte marcial induz um enfrentamento do aluno a uma situação real, pois competir representa estar preparado para enfrentar desafios com maior nível de excelência e não medir esforços para atingir os melhores resultados (Sampedro, 2014).
A categoria 5 – “Benefícios encontrados com o Taekwondo”, com 164 UCEs, destaca os benefícios físicos, o ter um lugar para aliviar o estresse do dia a dia e a internalização de conceitos referentes aos princípios do Taekwondo, que são: cortesia, integridade, perseverança, autocontrole e espírito indômito. “Tou desenvolvendo muita paciência, porque tem as formas e os movimentos que são difíceis, você não consegue fazer da noite pro dia, é preciso muita repetição, muita dedicação, e no dia a dia você vai tentando por em prática e vai resolvendo seus problemas diários, né [...] Fiquei mais tranquilo [...]” (Participante 5).
Reforça-se, pois, que o Taekwondo contribui no processo de amadurecimento do praticante estimulando a sensibilidade e percepção. Através do convívio com pessoas sadias, o Taekwondo pretende colaborar com o processo de formação do indivíduo para a sua participação ativa na sociedade. A repetição dos movimentos desenvolve a paciência e a autoconfiança do aluno (Sanchez, 2010).
Análise das categorias abordadas nas entrevistas com os idosos
A categoria 1 – “A descoberta do Taekwondo”, composta por 78 UCEs, refere-se às experiências dos idosos ao conhecerem a arte marcial. Observou que todos eles começaram a praticar depois de colocar os filhos, embora demonstrem ter a identificação com a arte marcial desde a juventude que, por questões particulares, não praticaram antes. “Quando era mais jovem, me lembro de uma época, tinha uma revista chamada Kung Fu, a revista tinha um encarte que era do Taekwondo [...] Eu sempre gostei das artes marciais” (Participante 3).
A categoria 2 – “Motivos para começar a praticar Taekwondo”, composta por 55 UCEs, destaca que todos os idosos sempre tiveram vontade de praticar arte marcial, e o que os motivaram a se inserir na arte foi a integração com a família, a superação pessoal, condições apropriadas para se realizar o desejo antigo de praticar uma arte marcial, e questão da saúde física. “Primeiro a questão da vontade, que eu sempre tive vontade e vi naquele momento a possibilidade de fazer, porque tinha pessoas me ajudando a realizar um sonho que eu tinha, desde criança [...]. Eu estava me separando e andava muito conturbada, tanto que meu médico tinha me mandado procurar um exercício físico o mais rápido para auxiliar na minha depressão, nos meus problemas de saúde [...] também precisava procurar alguma coisa que me desse força pra enfrentar aquele momento que não tava sendo fácil pra mim” (Participante 1).
A categoria 3 – “Identificação com a arte marcial”, composta por 35 UCEs, relata que as artes marciais, para esse grupo, remetem a desejos e identificações pessoais, que muitas vezes não são compreendidas pelos outros, pelo preconceito relacionado a arte marcial como algo violento ou como algo voltado para homens. Observando-se a necessidade de superação da resistência das pessoas próximas para atingir a realização pessoal. “Eu sempre gostei das coisas que não eram habituais para mulher [...] e a luta em si me chamava muito a atenção porque eu achava que através da luta a mulher se superava em vários limites [...], mas há 20 anos atrás era muito mais complicado e quem tentava ser diferente as vezes levava algumas lapadas como eu levei” (Participante 1).
A categoria 4 – “Percepções das outras pessoas sobre sua prática de Taekwondo”, composta por 39 UCEs, denota como os participantes percebem o olhar que as outras pessoas estabelecem sobre eles por praticarem o Taekwondo. Observou-se que a admiração das outras pessoas diante da admiração por fazer algo que, teoricamente, não deveria ser feito na idade é muito motivador “Hoje eu tenho uma evolução que não é das melhores, mas o grupo de pessoas que estão fora do Taekwondo, ficam admirados com alguns exercícios que eu faço, com a minha flexibilidade que as pessoas mais jovens fora do Taekwondo não têm [...] acham que seria impossível uma pessoa na minha idade tá treinando como eu tou treinando [...] pra mim é uma satisfação enorme, pra mim isso demonstra que qualquer um pode participar do Taekwondo e trazer uma melhor qualidade de vida” (Participante 3). Pode-se inferir, portanto, que o Taekwondo afasta o conceito de que a velhice remete a um sentimento de inutilidade, dando suporte para ter a sua própria autonomia (Neto, 2011).
A categoria 5 – “Adaptações aos treinos de Taekwondo”, composta por 61 UCEs, aborda as experiências dos primeiros treinos. Observou-se, inicialmente, que houveram dificuldades como a vergonha, e uma certa limitação física, que foram sendo superadas com o passar do tempo, evidenciando com a boa convivência do grupo. ”E uma coisa que venho trazendo, é uma coisa que tenho bastante dificuldade, em razão da idade um pouco mais avançada, então, eu tenho que me virar com o que tenho [...]. Eu fui muito bem recebido pelos alunos, a adaptação a nível pessoal não foi difícil, muito pelo contrário, me sinto bem, me sinto jovem, as pessoas são legais, eu passo minha experiência e recebo em troca a experiência dos mais jovens, foi um encaixe perfeito, uma troca” (Participante 2). Pode-se inferir, portanto, que, apesar das alterações físicas ocorridas na velhice (Neto, 2011; Filho, 1997), o Taekwondo faz o praticante se superar a cada obstáculo encontrado pela frente.
A categoria 6 – “Benefícios encontrados com o Taekwondo”, composta por 72 UCEs, aborda os benefícios que foram encontrados ao longo da experiência com a arte marcial. Observou-se que o Taekwondo, além da saúde psíquica, física e do bem-estar, trouxe um espírito de comunidade e a reaproximação da família. “Encontrei amigos [...] me reencontrei como pessoa, me sinto bem, me sinto feliz, me sinto renovada, me sinto outra pessoa quando tou praticando [...]. Reencontrei principalmente minha família, já que eu pratico com meus 3 filhos e isso criou um laço de amizade, de fortalecimento e de intimidade” (Participante 1). Observa-se, portanto, que o prazer eliciado pelo Taekwondo está além dos benefícios encontrados por uma prática de uma atividade comum (Freitas & Santiago, 2006).
A categoria 7 – “Motivação atual para a prática de Taekwondo”, composta por 56 UCEs, aborda as questões mantenedoras para a prática da arte marcial. Contemplam-se as amizades, a integração dentro de uma comunidade, formada em sua maioria por jovens, e também as possibilidades de renovar o espírito de juventude. “Me sinto integrado numa comunidade, que quem tá na minha idade mais ou menos observa e fala (“Ah, os jovens”) e eu tou no meio desses jovens [...]. Minha idade física é uma, mas a mental está acompanhando os jovens” (Participante 3).
Considerações finais
O presente trabalho permitiu realizar um diálogo entre duas áreas crescentes da Psicologia: a Psicologia do Esporte e a Psicologia da Saúde com a Educação Física. Ao caminhar pela área do esporte, buscou-se estudar os comportamentos de pessoas envolvidas no contexto esportivo e do exercício físico, compreendendo como os fatores psicológicos (motivação) influenciam o desempenho físico e como a participação nessas atividades afeta o desenvolvimento emocional, a saúde e o bem-estar de uma pessoa nesse ambiente. Ao enveredar pela área da saúde, buscou-se entender as questões relativas à saúde, trazendo a aplicação dos conhecimentos e das técnicas psicológicas à saúde e aos cuidados de saúde.
Pode-se compreender que diversos são os motivos que levam crianças, jovens e adultos a praticarem o Taekwondo. Apesar disso, independente da faixa etária, é evidente a importância da inclusão dos conceitos morais do Taekwondo: cortesia, integridade, perseverança, autocontrole e espírito indomável.
Observou-se, também que a prática de Taekwondo representa diversas fontes de motivação como: a busca pela saúde física; a superação de seus próprios limites; a aproximação da família e a integração em uma comunidade de pessoas com diferentes idades.
Contempla-se, portanto, que o Taekwondo apresenta-se como uma arte marcial que pode gerar benefícios em todas as fases do desenvolvimento humano e que, independente das motivações iniciais, a sua prática transforma-se em um estilo de vida, proporcionando mudanças positivas e trazendo inúmeros ganhos para a vida de quem o pratica.
Bibliografia
Bombonatto, Q. (2007). sentido da escola. In: Revista Mente e Cérebro: O olhar adolescente: os incríveis anos de transição para a idade adulta. 3ª ed. São Paulo: Editora Duetto.
Cratty, B. (1983). Psicologia do esporte. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil.
Freitas, C. M. de. & Santiago, M. de S. (2006). Aspectos motivacionais que influenciam a adesão e manutenção de idosos a programas de exercícios físicos. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, Recife, 3(8), dezembro, 92-100.
Gáspari, J. C. de. & Schwartz, G. M. (2001). Adolescência, Esporte e Qualidade de Vida. In: Motriz, jul./dez., 7(2), 107-113.
Hackney, C. (2012). A filosofia aristotélica das artes marciais. Revista de artes marciais asiáticas, América do Norte, 5, julho.
Knijnik, J. D., Greguol, M. & Santos, S. da S. (2001). Motivação no esporte infanto juvenil: Uma discussão sobre razões de busca e abandono da prática esportiva entre crianças e adolescentes. J. Health Sci. Inst = Rev. Inst. Ciênc. Saúde; 19(1):7-13, jan.-jun. 2001.
Neto, V. R. (2011). Os benefícios da prática do Karatê na vida dos idosos. Educação Física em Revista, Brasília, 1-7.
Vianna, J. A. & Duino, S. R. (1999). Perfil dos praticantes de Artes Marciais: A expectativa dos iniciantes. Motus Corporis, Rio de Janeiro, 6(2), 113–118.
Rocha, J. M. (2009). Motivação a pratica regular de atividades físicas: Um estudo com praticantes de Taekwondo. Monografia (Especialização), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Reid, H. & Croucher, M. (1983). O caminho do guerreiro: o paradoxo das artes marciais. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Cultrix.
Samulski, D. (1992). Psicologia do Esporte. Belo Horizonte: Imprensa Universitária/UFMG..
Scalon, R. M. (2004). A Psicologia do Esporte e a Criança. Porto Alegre: Edipucrs.
Sampedro, L. R. (2014). Motivação à prática regular de atividades físicas: Um estudo com praticantes de Taekwondo. Tese (Doutorado), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Sanchez, R. H. (2010). Conhecimentos gerais de Taekwondo-ITF. Fortaleza: Acesso, 70 p.
Silva, T, T. (2003). O currículo como fetiche: a prática e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autentica.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 20 · N° 208 | Buenos Aires,
Septiembre de 2015 |