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Percepção da qualidade de vida de idosos inseridos em um 

programa de exercícios físicos: o Projeto Saúde na Praça

Percepción de la calidad de vida de las personas mayores que participan
en un programa de ejercicios físicos: el Proyecto Salud en la Plaza

Perception of quality of life of seniors inserted in an exercise program: Health in the Square Project

 

*Profissional de Educação Física/UNESA

Professora do Projeto Saúde na Praça/RJ

**Profissional de Educação Física/UCB

Docente-Pesquisador na Universidade Estácio de Sá/RJ

Especialista em Educação e Desenvolvimento Humano

Mestrado em Educação. Doutorando em Ciência do Desporto – UTAD/Portugal

www.edvaldodefarias.com

Camila Seródio de Souza*

camila-serodio@hotmail.com

Edvaldo de Farias**

edvaldo.farias@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O aumento quantitativo da população idosa torna-se a cada dia um fator mais significativo em todo o mundo e a preocupação com a qualidade de vida no processo de envelhecimento vem demandando mais estudos e ações com vistas à prevenção dos seus efeitos deletérios. Assim, a pesquisa em tela teve como propósito verificar a percepção da qualidade de vida de idosos de ambos os sexos, praticantes regulares de exercícios físicos no Projeto Saúde na Praça, oferecido por uma rede de farmácias na cidade do Rio de Janeiro e para isso utilizou-se da aplicação do questionário WHOQOL-bref em um grupo de 25 mulheres entre 60-80 anos, cuja participação no programa acontece de forma regular há mais de 12 meses. Os resultados demonstraram que, de maneira geral, os idosos abordados estão satisfeitos com os seus níveis de qualidade de vida, enfatizando que o aspecto mais potencializado é o das relações sociais enquanto que o domínio físico apresentou os menores resultados nas suas percepções. Pode-se concluir com a pesquisa que aqueles aspectos que possuem relação direta com as práticas de exercícios físicos apresentaram bons resultados enquanto que os fatores limitantes inerentes a esta faixa etária, como dor ou uso de medicamentos, não impossibilitaram a prática de exercícios físicos e nem foram percebidos como impeditivos dessa prática. Conclui-se com a pesquisa que investigações dessa natureza deveriam fazer parte de todos os programas dessa natureza como forma de monitorar não somente as percepções como também as expectativas em relação aos programas e seus efeitos biopsicossociais.

          Unitermos: Projeto social. Terceira idade. Saúde. Bem-estar.

 

Abstract

          The increase of the elderly population is becoming meaningful all over the world and the concern with quality of life in the aging process has increased. Encouragement for healthy habits and physical exercises has been shown to be critical to ensure the physical, mental and social wellness of elderly. This research aimed to verify the perception of quality of life in elderly regular physical exercises, practitioners of the Health in the Square Project by applying the WHOQOL-bref questionnaire and verify the influence domains of quality of life in daily of this population. The results show that in general, older people are satisfied with their quality of life, social relations are considered the best aspect, and the physical domain had the lowest result. We can conclude that the aspects that have direct or indirect relation with the exercise had been successful and that limiting factors as pain or the use of drugs not prevent to physical activity.

          Keywords: Physical exercise. Elderly. Health. Wellness.

 

Recepção: 27/05/2015 - Aceitação: 10/09/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Organização Mundial de Saúde - OMS (2002) utiliza o padrão da ONU para categorizar a população acima de 60 anos de idade, apesar de alguns países desenvolvidos/em desenvolvimento ainda considerarem tal idade adulta, e portanto, anterior a esta classificação. Por isso, é importante ressaltar que a idade cronológica não é o melhor indicador para determinar o envelhecimento, então cada país deve formular suas políticas de acordo com a sua população. No Brasil o Estatuto do Idoso assegura os direitos de todos os indivíduos com 60 anos ou mais com sendo sinônimo da terceira idade (Brasil, 2003).

    De acordo com o IBGE (2010) a população brasileira vem envelhecendo como conseqüência da queda da taxa de natalidade e mortalidade e com o avanço da tecnologia na área da saúde ao mesmo tempo e por conseqüência direta do desempenho das ciências, que evoluem cada vez mais no controle e tratamento de doenças, retardando os efeitos deletérios do envelhecimento, aumentando por conseguinte a expectativa de vida. Porém, o crescimento da população idosa não é uma exclusividade do Brasil (Matsudo et al, 2000) e de acordo com Andrews (2000), o aumento do número de idosos é um fenômeno mundial e estima-se que em 2050, este número será de quase dois bilhões, ou seja, uma em cada dez pessoas terá mais de 60 anos de idade.

    Com foco no envelhecimento saudável foi criado o conceito de envelhecimento ativo cuja base é garantir saúde, participação e segurança por meio da adoção de um estilo de vida ativo, assegurando uma vida saudável e qualitativamente melhor durante o envelhecimento (Brasil, 2005). A OMS define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” e Nahas (1997), definia qualidade de vida como sendo a resultante de um conjunto de parâmetros individuais, socioculturais e ambientais que caracterizam as condições de vida do ser humano, individual ou coletivamente, considerando que a saúde além de envolver a dimensão física, engloba outras, ligadas as relações sociais e a saúde mental, sendo a autonomia e independência do idoso fundamentais para garantir a saúde durante o processo de envelhecimento (Brasil, 2005).

    Assim, envelhecer não é somente experimentar a diminuição das capacidades, pois umas se perdem e outras se desenvolvem (Santos, 2001 apud Pires, 2007) e segundo a OMS (2002), o envelhecimento não deve ser enfrentado como uma doença, já que existem idosos saudáveis que contribuem significativamente na sociedade.

    Para Netto (2004), a velhice é composta simultaneamente de pessoas doentes e sãs, como em qualquer fase da vida, ainda que existam doenças singulares aos idosos e, sendo assim, o envelhecimento é um processo inerente a todo ser humano e a individualidade biológica possui grande influência nessa etapa da vida (Bernardi; Reis & Lopes, 2008). Oliveira (2005 apud Pires, 2007) relata que o bem-estar do indivíduo não sofre tanta influência da idade, mas sim dos fatores que estão relacionados a ela, como a perda de pessoas do convívio social, a saúde fraca ou mesmo a falta de cuidados com a saúde no cotidiano, itens que, se devidamente controlados, fazem com que a idade cronológica não seja relevante e decisiva para a qualidade da vida.

    Nóbrega et al.(1999) e Netto (2004) são unânimes ao afirmar que durante o envelhecimento humano, diversos processos fisiológicos sofrem diminuição na sua eficácia e eficiência e que, mudanças físicas são mais perceptíveis, como pele ressecada, cabelos brancos e calvície, além das alterações no sistema cardiovascular com mudanças estruturais no coração, perdas na elasticidade de vasos sanguíneos comprometendo assim sua elasticidade e causando tênue aumento da pressão arterial.

    Além disso a gordura corporal tende a aumentar paralelamente à redução da massa corporal magra induzindo a perda de força muscular, que pode ser minimizada com a prática de exercícios físicos regulares (Souza et al., 2002). Sobre isso, Nóbrega et al. (1999) afirmam que por volta dos 60 anos de idade há uma queda na força muscular de 30% a 40% quando comparada à força máxima entre 20-30 anos, fase da maturação do sistema neuromuscular. Ao mesmo tempo ocorre a perda de massa óssea nos idosos, principalmente no sexo feminino, podendo evoluir para a osteoporose e conseqüente risco de fraturas.

    A estatura também é afetada pela redução da massa óssea na coluna vertebral, com uma perda aproximada de 1cm a cada 10 anos a partir dos 40 anos (Schneider & Irigaray, 2008) que, acompanhada pela desidratação dos discos intervertebrais, reduz a mobilidade da coluna e gera compressão vertebral, favorecendo a hipercifose, e conseqüente redução da estatura (Fiatarone-Singh, 1998 apud Matsudo, 2002).

    Alterações neuromotoras e sensoriais também afetam a terceira idade, causando alterações no equilíbrio corporal, reflexos e respostas a estímulos externos além de prejudicar a mobilidade (Netto, 2004; Ruwer, 2005). Para Ruwer; Rossi & Simon (2005), o transtorno no desequilíbrio é a principal causa da diminuição da autonomia do idoso, pois além de aumentar os riscos de queda acaba reduzindo as tarefas diárias e a funcionalidade nas AVD’s.

    Algumas doenças crônicas estão associadas ao envelhecimento e são as que mais acometem a população mundial de idosos. A OMS (2005) cita as doenças coronarianas, hipertensão, diabetes tipo II, câncer, AVC, DPOC, artrite, osteoporose, distúrbios mentais e cegueira como as doenças que mais atingem os idosos. Contudo, o início dessas doenças associadas ao envelhecimento, pode ser retardado ou prevenido, pois elas são apontadas como a principal causa de incapacidade nos idosos, que por sua vez, associadas ao sedentarismo e dependência geram transtornos de saúde relacionados ao envelhecimento (Nóbrega et al., 1999).

    O Ministério da Saúde (2007) indica que a falta de atividade física, comum entre os idosos, colabora com o acometimento de doenças crônicas ao mesmo tempo em que fazê-los traz benefícios como a melhora do controle da pressão arterial, perfil lipídico e peso corporal, além da melhora no equilíbrio, postura, resposta imunológica e qualidade de sono. Apesar de muitas vezes os fatores fisiológicos se tornarem barreiras para a prática de exercícios físicos na terceira idade, na maioria dos casos são fatores sociais e psicológicos que tendem a levar os idosos à inatividade física (Dantas, 1997).

    Idealizado pela Venâncio Produtos Farmacêuticos Ltda.® e conduzido pela New Form Eventos Esportivos Ltda.®, o projeto Saúde na Praça, criado há 3 anos, tem como objetivo estimular a prática de exercícios físicos promovendo qualidade de vida, convívio social, ganhos de saúde e aumento da autoestima. O projeto é realizado atualmente em duas praças no bairro da Tijuca e duas no bairro da Barra da Tijuca, ambos na cidade do Rio de Janeiro e já conta com a participação de mais 700 pessoas. A empresa e os patrocinadores têm como meta o aumento progressivo do número de idosos participantes, como forma de oferecer uma contribuição para melhorias incrementais na condição de saúde e bem estar dessa população.

    As aulas são sempre organizadas e conduzidas por profissionais de Educação Física, têm 45 minutos de duração, ocorrem de 2 a 3 vezes por semana e os recursos utilizados são bambolês, bolas e bastões, dentre outros materiais de apoio para realização dos exercícios. Além dessas práticas são realizados também eventos de confraternização, interação social e monitoramento da saúde como cafés da manhã, passeios culturais, eventos em datas festivas além da aferição de pressão arterial e freqüência cardíaca. Todo o projeto é oferecido de forma gratuita, sendo exigido apenas do participante o atestado médico com liberação para tais práticas e a freqüência regular as aulas. (Pedrenho & Almeida, 2014).

    Esta iniciativa constitui assim uma ação singular para a vida de cada participante e tal singularidade, segundo Gonçalves, 2004 (apud Almeida; Gutierrez & Marques, 2012) é levada em conta na percepção subjetiva da qualidade de vida dessas pessoas e, diante desta assertiva o WHOQOL Group desenvolveu um instrumento simultaneamente em 15 centros internacionais, com o objetivo de criar uma avaliação de qualidade de vida aplicável em diversas culturas, não com foco na mensuração de doenças o, sintomas, mas sim as interferências da saúde e da doença na qualidade de vida. Este mesmo grupo, com propósito de superar as dificuldades da aplicação de um instrumento muito longo e pouco prático criou o WHOQOL-bref com vistas a facilitar a avaliação da qualidade de vida baseado nos dados gerados pelo WHOQOL-100 (WHOQOL Group, 1996).

    Diante deste contexto, a pesquisa teve o objetivo de avaliar a percepção de qualidade de vida de idosos inseridos no Projeto Saúde na Praça, cuja finalidade é induzir mudanças e melhorias na qualidade dessas pessoas além da prevenção dos efeitos deletérios do envelhecimento.

Material e método

    Para a coleta dos dados foi utilizado o instrumento WHOQOL-bref, que possui como objetivo avaliar a autopercepção da qualidade de vida. O instrumento é composto por 26 perguntas, nas quais os informantes são convidados a posicionarem-se com suas percepções sobre os aspectos físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Além do WHOQOL-bref, os indivíduos abordados responderam perguntas prévias com o objetivo de estratificá-los e identificá-los.

    A participação na pesquisa foi voluntária mediante convite pessoal feito pelos pesquisadores e foram considerados válidos um total de 25 (vinte e cinco) mulheres, com idade entre 60 e 80 anos, participantes do Projeto Saúde na Praça em uma das suas unidades de funcionamento, na Barra da Tijuca/RJ.

    Todos os sujeitos tiveram sua participação livre e esclarecida devidamente registrada em formulário próprio - TCLE, cujo modelo encontra-se no Anexo A. A abordagem foi feita sempre no ambiente do projeto, no início/ final das aulas, e o preenchimento foi individual sem interferência dos pesquisadores. A autenticidade da pesquisa foi registrada como instrumento público por meio do Termo de Autoria e Originalidade – TAO, cujo modelo encontra-se no Anexo B. Após a coleta dos dados, foi procedida a sua análise com utilização da ferramenta Cálculo dos Escores e Estatística Descritiva do WHOQOL-100 utilizando o Microsoft Excel, desenvolvida e disponibilizada por Pedroso; Pilatti & Reis (2009).

Resultado e discussão

    Com fins de caracterizar os sujeitos da pesquisa, foram coletados, em adição ao instrumento, os seguintes dados: idade, motivação para participar do projeto e tempo de participação no projeto. A média de idade foi de 68,48 anos. O tempo de participação no projeto foi de 76% participando há mais de um ano, sendo que 60% estão no projeto desde o seu início, o que representa fidelização a esta prática, segundo Saba (2001), quando afirma que a fidelização à prática de exercícios se dá a partir do momento que a freqüência regular ultrapassa os seis primeiros meses.

    Quanto aos principais fatores motivadores para participar do programa, obtivemos como respostas a manutenção da saúde (84%) e a convivência e sociabilização (52%) como os mais citados. A Figura 1 apresenta esta disposição dos resultados, corroborando posicionamento de Nóbrega et al. (1999), ao afirmar que um bom programa de atividade física direcionado para a terceira idade deve ser complementado com lazer e socialização, incluindo atividades em grupos. Esses resultados vão ao encontro do propósito do Projeto supracitados.

Figura 1. Motivação para participação do Projeto Saúde na Praça

    Em seguida, foram avaliados os domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente relacionados à qualidade de vida dos entrevistados e os resultados globais obtidos neste inquérito estão descritos graficamente nas figuras apresentadas a seguir.

    No que diz respeito ao domínio relações sociais (80,67%), que englobam as relações pessoais e o apoio de amigos e familiares, foi o que obteve o maior escore. Porém, nesta versão reduzida do WHOQOL-100, este domínio não possui grande relevância no valor total da qualidade de vida (Fleck et al., 2000). O domínio físico (69,57%) atingiu o menor escore, o que pode ter sido conseqüência dos altos valores das facetas: dor e desconforto (69,00%) e dependência de medicação ou de tratamentos (59,00%) que contribuem negativamente na percepção da qualidade de vida. Sobre tal resultado, Duda (1991) cita que a diminuição das capacidades físicas é fator limitante para o ingresso de idosos em exercícios físicos estruturadas, que muitas vezes não se percebem competentes para a realização de exercícios. Portanto, cabe ao profissional de Educação Física motivar e incentivar qualquer participação do idoso em exercícios físicos, mostrando os benefícios e impactos positivos. Entretanto, contrapondo com o que Duda (1991) diz, mesmo que estas facetas tenham apresentado escores negativamente elevados, não parecem ter se tornado empecilho para a participação no projeto. A pesquisa feita por Eiras et al. (2010), com idosos que praticam exercícios físicos ao ar livre, encontrou resultados semelhantes quanto a dores e problemas de saúde que impedem os idosos de praticarem exercícios. Porém, em seu estudo esse fator também não se tornou uma barreira.

    Já as facetas mobilidade (90%) e atividades da vida cotidiana (87%) obtiveram os maiores escores entre as alunas no domínio físico. Como já citado anteriormente, a Organização Pan-Americana da Saúde (2005) considera a independência e a autonomia fundamentais para garantir uma boa qualidade de vida no processo de envelhecimento já que as AVD’s são determinantes para a independência do indivíduo, juntamente com a capacidade de se deslocar (Oliveira; Goretti & Pereira, 2006). A interpretação gráfica destes resultados pode ser feita analisando a figura 2 a seguir.

Figura 2. Facetas do Domínio Físico

    Ainda relacionado ao domínio físico, as facetas energia e fadiga (81,00%) e capacidade de trabalho (85,00%), detalhadas na figura 3, tiveram médias elevadas, se tornando relevantes já que a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS (2005) afirma que um idoso que envelhece de forma saudável possui mais condições de trabalho, isso faz com que mais indivíduos participem ativamente da sociedade e contribuam de forma significativa para a mesma, diminuindo gastos com aposentadorias e pensões.

Figura 3. Facetas do Domínio Físico

    O domínio psicológico, por sua vez, apresentou um escore total de 71,33%, sendo as facetas autoestima e imagem corporal e aparência, apresentadas com uma média de 78,00% e 83,00%, respectivamente visualizáveis na figura 4 apresentada a seguir. A estética, que está relacionada com esses fatores, foi citada por 40% das alunas como uma das motivações para participar de um programa de atividade física. Este resultado confirma a posição de Chaim; Izzo & Sera (2009) que apresentam a idéia de que quando indivíduo possui uma autoestima elevada, sente-se mais confiante, capaz e adequado à vida, fazendo com que seu cotidiano seja mais satisfatório. Para estes autores, o profissional da área da saúde deve dar atenção e conhecer detalhadamente a influência da autoestima e da concepção do idoso em relação ao próprio corpo, de modo que leve em consideração nas suas prescrições todos os aspectos que englobam a saúde deste segmento social, ou seja, as dimensões: física, emocional, psicológica dentre outras.

Figura 4. Facetas do Domínio Psicológico

    A média total da percepção da Qualidade de Vida foi de 73,73%, graficamente apresentadas na figura 5, que pode ser considerada uma média boa, ou seja, significativa e positiva. Este valor da percepção da Qualidade da Vida possui relevância no contexto onde foi mensurado na medida em que Santos et al. (2002) referia que uma boa ou ótima qualidade de vida é um forte indicador de boas condições de vida, de trabalho, de desenvolvimento de potencialidades e outros fatores da vida do indivíduo. Além disso, e de acordo com posicionamento da OMS (1998) a prática de exercícios exerce, de alguma forma, influência positiva na qualidade de vida de seus praticantes, sendo assim, a atividade física um fator de influência direta nesse aspecto e nessa faixa etária.

Figura 5. Média total da Qualidade de Vida

Conclusão e recomendações

    Pode-se concluir que o nível de fidelidade ao projeto Saúde na Praça é consideravelmente alto e que a maioria dos participantes aderiu e permanece desde o começo do projeto, realizado na praça próxima as suas residências oferecendo, portanto, conveniência associada aos benefícios agregados as suas vidas e percebidos por eles mesmos.

    Além disso foi possível verificar que as aulas transformaram-se em algo mais do que simples “sessões de ginástica”, pois passaram a ser percebidos como um agradável ambiente social, onde estas pessoas puderam fazer e encontrar amigos, combinar atividades de lazer fora do Projeto, conversar sobre felicidades e problemas e, sobretudo, compartilhar experiências. Além disso, uma importante constatação é de que o projeto, inicialmente desenhado para pessoas na terceira idade, passou a ser freqüentado por muitas outras pessoas que, mesmo não sendo idosas, procuram e lá encontraram uma oferta de prática de exercícios físicos orientados capaz e manter os ganhos sem precisar freqüentar um ambiente convencional de uma academia, usando espaços públicos e ao ar livre, o que promove maior socialização e cria, por conseqüência, espaço para aumento das interações sociais.

    Mais que uma proposta fitness, o projeto incentiva também a cultura, a incorporação de hábitos saudáveis a vida e muitos outros fatores que vão além da dimensão física, deixando claro que seu diferencial não é a prática de exercícios em si, mas que por meio destas práticas é possível fazer inserções capazes de mudar e melhorar a vida das pessoas, transformando-se em uma proposta diferente e mercadologicamente escassa, haja vista a quantidade de pessoas que freqüentam as aulas e uma outra igual que aguarda por vagas para poder participar.

    Finalmente, não são apenas os números que demonstram a relevância social do projeto Saúde na Praça, mas também os relatos diários dos alunos sobre as melhorias que experimentaram em suas vidas depois de aderir a ele, os elogios as aulas ministradas e a satisfação e felicidade que puderam ser observadas nos eventos e confraternizações, nos quais a adesão era sempre próxima de 100%.

    Também foi perceptível que todos os aspectos que apresentaram boas médias nos resultados supracitados possuem relação direta ou indireta com a prática de exercícios físicos orientados. Além disso, os aspectos que poderiam desencorajar a prática deles não se tornaram empecilhos, mas sim fatores motivadores para serem superados.

    Finalmente, podemos afirmar que além do fator físico, outros fatores também devem ser levados em conta na elaboração de um programa de exercícios para a terceira idade, já que essa população busca, além da melhoria da saúde, possibilidades de lazer e sociabilização, que contribuem emocional, social e psicologicamente. Com isso, é lícito afirmar que profissionais de Educação Física precisam perceber a importância da sua contribuição técnica na melhoria de vida desse segmento da sociedade, já que o seu papel vai muito além de simplesmente ministrar aulas que proporcionem benefícios físicos.

    Projetos sociais, como o Saúde na Praça, são importantes para a população idosa e devem ser implantados por políticas públicas, já que melhorias na qualidade de vida induzidas pela prática de exercícios físicos nesse segmento tornam-se benéficas para o Estado, ao reduzir gastos com os serviços de saúde, fazendo com que sejam vistas como ações primárias em relação à prevenção de doenças e preservação da saúde.

    Por derradeiro, a pesquisa deixa como recomendações a aplicação deste instrumento em outros núcleos do mesmo projeto e em projetos de natureza e propósitos semelhantes, tornando-se uma diretriz de controle dos resultados. Além disso, a pesquisa deixa como contribuição a perspectiva de expansão do projeto Saúde na Praça para faixas etárias anteriores à terceira idade de modo a agir preventivamente em relação a muitos aspectos que são conseqüentes diretos do envelhecimento, merecendo portanto atenção antes dessa fase da vida.

Bibliografia

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Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados