A influência do exercício físico na qualidade de vida de mulheres hipertensas La influencia del ejercicio físico en la calidad de vida de mujeres hipertensas The influence of physical exercise in the quality of life of hypertensive women |
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*Licenciada em Educação Física Professora de Educação Física. Escola Adventista de Vila Matilde **Professor Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) ***Enfermeira, Doutora em Ciências. Professora do Mestrado em Promoção da Saúde – UNASP/SP (Brasil) |
Marziani Moura Mendes Guimarães* Rafael Leal Dantas Estrela** Gina Andrade Abdala*** |
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Resumo A hipertensão arterial é reconhecida como fator de risco determinante para um aumento significativo das doenças cardiovasculares, comprometendo os níveis de morbimortalidade e conseqüentemente a qualidade de vida das pessoas. Um dos fatores protetores de inestimável valor na prevenção e reabilitação desses agravos é a prática regular de exercícios físicos. O objetivo deste estudo é comparar a qualidade de vida de 31 mulheres hipertensas que praticam exercícios físicos num programa chamado Movimenta Cruz das Almas (grupo A) com o grupo B, formado por 44 mulheres usuárias que não praticam. Foi aplicado o Questionário de Minichal-Brasil, que é um instrumento específico para avaliação da qualidade de vida de hipertensos cujo Alpha de Cronbach para o domínio Estado Mental (EM) foi de 0,847 e para o domínio de Manifestações somáticas (MS) foi de 0,724. Os resultados mostraram que houve diferença nas médias das dimensões Estado Mental e Manifestações Somáticas entre os grupos A e B (p<0,05) por meio do teste t de Student. Por meio da análise do qui-quadrado de Pearson foram encontradas associações entre seis perguntas da dimensão EM e duas perguntas da dimensão MS entre os grupos A e B (p<0,05). Dessa forma, pôde-se concluir que o programa de exercício físico ofertado pelo projeto Movimenta Cruz das Almas tem sido um instrumento benéfico para as mulheres hipertensas tanto na dimensão mental quanto somática. Tais benefícios possibilitaram concretamente o aprimoramento da qualidade de vida dessas hipertensas. Unitermos: Exercício físico. Hipertensão arterial. Qualidade de vida.
Abstract Hypertension is recognized as a major risk factor for a significant increase in cardiovascular disease, affecting the levels of morbimortality and consequently the quality of life of people. One of the protective factors of inestimable value in the prevention and rehabilitation of these injuries is to practice regular physical exercise. This study aimed to compare the quality of life of 31 hypertensive women practicing physical exercises (group A) in a program called Move Cruz das Almas with group B, made up of 44 women who do not practice. Minichal-Brazil Questionnaire was administered, which is a specific instrument for assessing quality of life of hypertensive patients, whose Cronbach’s Alpha for the Mental State (MS) domain was 0.847 and for Somatic manifestations (SM) was 0.724. The results showed that there were differences in mean dimensions of MS and SM between groups A and B (p<0,05) using the t test Student. Chi square as associations were found in six questions of the MS domain and two question of the MS between groups A and B (p<0,05). Thus, we conclude that the exercise program offered by Move Cruz das Almas Project have been beneficial for hypertensive women in both mental and somatic dimension. These benefits allowed concretely improve the quality of life of those with hypertension. Keywords: Physical exercise. Hypertension. Quality of life.
Recepção: 18/03/2015 - Aceitação: 02/07/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Ao longo da história houve grandes mudanças no estilo de vida da população, o que repercutiu diretamente no perfil epidemiológico do povo brasileiro (Kuhnem, 2008), observando-se um aumento simultâneo na mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, influenciado pelo sedentarismo (Malta et al, 2006).
Isso têm contribuído para o aumento de pessoas com hipertensão Arterial Sistêmica - HAS (Pierin, 2004), que, segundo Cardoso et al (2010), constitui um grave problema de saúde publica no Brasil afetando 22 a 44% da população, levando aos problemas cardiovasculares e a diminuição da qualidade de vida de muitas pessoas (Brito et al, 2008).
A hipertensão é conhecida como uma doença multifatorial (VI Diretriz Brasileira de Hipertensão, 2010; Wilmore & Costill, 2001), podendo desencadear a arteriosclerose, o infarto do miocárdio, a insuficiência cardíaca, o acidente vascular cerebral e a insuficiência renal (Wilmore & Costill, 2001). Isso resulta em alto custo, principalmente pelo tratamento de complicações decorrentes da doença (Kuhnem, 2008). Em função dessas informações pode-se perceber a indubitável necessidade de encontrar soluções para a prevenção e tratamento da hipertensão.
O tratamento da hipertensão arterial pode ser medicamentoso ou não (Bündchen, 2009). As medidas não medicamentosas estão relacionadas com a modificação no estilo de vida, o que inclui a prática regular de exercício físico (Wilmore & Costill, 2001). Afinal, o exercício físico promove um efeito hipotensor cardioprotetor (VI Diretriz Brasileira de Hipertensão, 2010; Wilmore, Costill 2001), podendo desencadear a arteriosclerose, o infarto do miocárdio (Campos et al, 2009; VI Diretriz Brasileira de Hipertensão, 2010).
Doenças e mortes são atribuídas ao estilo de vida atual e principalmente ao sedentarismo (Malta et al, 2006). Os sedentários apresentam maior risco de desenvolver problemas cardiovasculares. A atividade física é indicada tanto para reduzir doenças cardiovasculares, como também reduzir a incidência da HAS, mesmo em indivíduos pré-hipertensos (VI Diretriz Brasileira de Hipertensão, 2010).
A prática regular de exercício aeróbio está associada com inúmeros benefícios para a saúde cardiovascular e essa prática provoca efeitos positivos na redução do controle da HAS (Figueira et al, 2013).
Alguns estudos apresentam o exercício físico aeróbio para prevenção e tratamento da pressão arterial (Cardoso et al, 2010). Portanto, são indicadas as atividades moderadas que se mantém entre 70% e 80% da freqüência cardíaca (VI Diretriz Brasileira de Hipertensão, 2010).
É importante ressaltar, que a participação do exercício anaeróbico também é recomendada na melhoria da saúde cardiovascular, no entanto alguns estudos sugerem que o mesmo não deve ser exclusivo para o tratamento da hipertensão (Cardoso et al, 2010; VI Diretriz Brasileira de Hipertensão, 2010).
A VI Diretrizes Brasileira de Hipertensão Arterial (2010) indica a realização de 30 minutos de atividades físicas diárias para que adultos cultivem uma boa saúde cardiovascular, um bom controle da hipertensão e uma melhor qualidade de vida. É recomendado exercícios aeróbios e anaeróbios intercaladamente para que haja um melhor resultado (VI Diretriz Brasileira de Hipertensão, 2010).
Acredita-se que a atividade física regular possa efetivamente contribuir de modo positivo para o aprimoramento da qualidade de vida das mulheres hipertensas (Bündchen, 2009; Cardoso et al, 2010; VI Diretriz Brasileira de Hipertensão, 2010). Portanto, o presente estudo teve como objetivo analisar as influências do exercício físico na qualidade de vida de mulheres hipertensas.
Métodos
O estudo foi baseado no modelo transversal, de cunho descritivo, analítico e exploratório. Na presente pesquisa foi utilizado o questionário de qualidade de vida Minichal-Brasil, validado no Brasil por Schultz et al (2008). O referido instrumento avalia duas dimensões da qualidade de vida relacionada à saúde em hipertensos, contendo 17 questões de múltipla escolha, sendo nove questões para avaliar o estado mental e sete questões para avaliar as manifestações somáticas. Existe também uma questão para verificar se o tratamento da hipertensão tem prejudicado a qualidade de vida dessas pessoas. O participante responde às questões fazendo referência aos últimos sete dias (Schulz et al, 2008).
As respostas dos domínios foram distribuídas em uma escala de freqüência do tipo de Likert e teve quatro opções de respostas: não absolutamente que corresponde à pontuação igual a 0, sim um pouco que é igual a 1, sim bastante que corresponde a 2 e por fim a opção sim muito que recebe pontuação 3. Portanto, nesta escala, quanto mais próxima do 0 estiver o resultado, melhor a qualidade de vida. O domínio do estado mental compreende as questões de 1 a 9, sendo a pontuação máxima de 27 pontos. O domínio de manifestações somáticas compreende as questões de 10 a 16 e tem pontuação máxima de 21 pontos (Schulz et al, 2008).
A pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética da Faculdade Maria Milza cujo número de autorização foi 185754/2008.
A distribuição dos integrantes da amostra apresentou a seguinte organização:
Grupo A: formado por 31 mulheres hipertensas que praticam exercício físico no projeto Movimenta Cruz.
Grupo B: constituído por 44 mulheres hipertensas que ainda não tinham iniciado a prática de exercício físico no projeto.
Foi elaborado um banco de dados no programa Statistical Package for Social Science (SPSS for Windows), versão 16.0 onde os dados foram pré-codificados para posterior processamento e análise. Foram feitas análises descritiva e analítica por meio da média, desvio padrão, teste t de Student para amostras independentes e o qui-quadrado de Pearson.
Resultados
Dentre as mulheres que participaram da pesquisa, 41,9% tinham 35-59 anos e 58,1% de 60-85 anos. No grupo dos que praticavam exercícios físicos (n=31), a média de idade era de 62,87 (dp= 11,27), peso médio de 67,48 Kg (dp=11,32) e altura média de 1,57m (dp=0,047). No grupo dos que não praticavam exercícios físicos (n=44), a média de idade era de 59,86 (dp=10,15); peso médio de 69,55Kg (dp=12,55) e altura média de 1,57m (dp=0,078).
A maioria do grupo era de idosos (58,1%). No Brasil, de acordo com o Estatuto do Idoso as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos são reconhecidas como idosas (Santaren, 2006; Schneider & Irigay, 2008).
Neste estudo, no total de 75 mulheres hipertensas que responderam ao questionário, pode-se notar que entre os que não praticavam exercícios físicos (Grupo B), a população era mais jovem e possuíam níveis mais elevados no peso (Tabela 1)
Tabela 1. Participantes do Grupo A (praticantes de exercícios) e Grupo B (não praticantes de exercícios)
segundo médias e desvio padrão da idade, peso e altura. Cruz das Almas, 2010
Fonte: dados primários
Quanto à confiabilidade do instrumento foi feito a análise de consistência interna pelo coeficiente Alpha de Cronbach para ambos os domínios da QV do Minichal-Brasil. Este coeficiente varia de 0 e 1, e quanto maior esse valor, melhor a confiabilidade (Schultz et al, 2008). Nesta amostra, o Alpha de Cronbach para o domínio Estado Mental foi de 0,847 e para o domínio de Manifestações somáticas foi de 0,724.
A Figura 1 relata os valores gerais de pontuações obtidos nos domínios Estado Mental e Manifestações Somáticas do questionário Minichal-Brasil. Sendo relevante lembrar que, quanto mais próximo do (0) melhor é a qualidade de vida. A partir desse resultado certifica-se que os participantes no Projeto Movimenta Cruz Das Almas do grupo A demonstraram possuir uma melhor qualidade de vida, pois os resultados conferem menor pontuação tanto no domínio Estado mental, quanto no Manifestações Somáticas.
Figura 1. Grupos A e B, segundo escore do domínio Estado Mental e Manifestações Somáticas
da QV-Minichal-Brasil (Quanto menor o valor da média, melhor a QV). Cruz das Almas, 2010
Ao realizar o teste t de Student, observou-se que há diferenças entre as médias dos grupos A (praticante de exercício) e B (não praticante) com p<0,01. Isso significa que praticar exercício físico é benéfico para a qualidade de vida, especialmente paro o domínio Estado Mental (Tabela 2). O tamanho do efeito é de 1,16 para o Estado Mental e de 0,54 para as Manifestações Somáticas.
Tabela 2. Teste t de Student dos Grupos A e B segundo o estado mental e as manifestações somáticas
da QV dos hipertensos que praticam e não praticam atividades físicas. Cruz das Almas, 2010
Fonte: Dados primários. Ambos com p<0,01.
Quanto à pergunta 17 você diria que sua hipertensão e o tratamento dessa tem afetado a sua qualidade de vida; entre os que praticavam exercício físico (Grupo A), 83,9% afirmaram que a hipertensão e o tratamento dessa não afetava ou talvez afetava um pouco a sua qualidade de vida contra 53,5% das mesmas respostas para os que não praticavam exercício. Na análise do qui-quadrado (X2=7,433), houve associação estatisticamente significante (p=0,006) entre essas variáveis com um tamanho de efeito de 0,317, ou seja, aproximadamente 10% na contagem das freqüências dos que praticam exercícios físicos poderia ser explicada pelos que disseram que o tratamento dela não afetava sua qualidade de vida.
No presente estudo, ao coletar os dados sobre os domínios Estado Mental e Manifestações Somáticas de QV destas mulheres hipertensas, encontrou-se que as praticantes de exercícios físicos apresentaram uma porcentagem maior em todos os resultados dos dois domínios. (Tabela 3 e 4). Para facilitar a compreensão, as respostas foram agrupadas em 0-1 (não, absolutamente – sim, um pouco) e 2-3 (sim, bastante- sim, muito) e foi realizado o teste Qui-quadrado (X2) e a probabilidade exata de Fisher (em um caso).
Estado Mental
Neste domínio, somente três perguntas não apresentaram associação estatisticamente significante entre praticar exercício e ter um melhor desempenho no Estado Mental. As demais perguntas como ter dificuldades nas relações sociais, exercer um papel útil, sentir agoniado e tenso, sentir que a vida é uma luta, sentir-se incapaz de desfrutar atividades e sentir-se esgotado e sem forças estiveram associadas a um melhor desempenho no domínio Estado Mental, ou seja, praticar exercícios físicos funciona como fator protetor para a qualidade de vida.
Tabela 3. Comparação dos resultados dos grupos A (pratica exercício) e B (não pratica) segundo
o domínio Estado Mental de Qualidade de Vida do Minichal-Brasil em Cruz das Almas, 2010
Manifestações Somáticas
Somente duas perguntas neste domínio estiveram associados significantemente com o desfecho de qualidade de vida Minichal-Brasil. São elas teve sensação de que estava doente e teve inchaço no tornozelo. Elas foram associadas a um melhor desempenho no domínio Estado somático, dessa forma pode-se afirmar que o exercício físico pode melhorar a qualidade de vida em relação à saúde.
Tabela 4. Comparação dos resultados dos Grupos A (pratica exercício) e B (não pratica) segundo o domínio
Manifestações Somáticas de Qualidade de Vida do Minichal-Brasil em Cruz das Almas, 2010
Discussão
Assim como no presente estudo, a investigação de Bündchen (2009) evidenciou que há uma melhor percepção de qualidade de vida relacionada à saúde dos hipertensos que praticavam exercício físico (Bündchen, 2009).
Estado Mental
No primeiro quesito deste domínio, em relação à tabela 3 do questionário tem dormido mal – aquelas mulheres que praticavam exercícios também dormiam melhor. Atualmente os exercícios são recomendados como uma intervenção não farmacológica para melhorar o padrão do sono. Segundo Martins (2001), os efeitos do exercício em relação a um bom sono têm sido estudados a mais de 30 anos e um estudo recente realizado em São Paulo com praticantes e não praticantes de exercício mostraram que as queixas de insônias entre os entrevistados que participavam do exercício regularmente, eram de 27,1% e 28,9% enquanto entre os nãos praticantes foram de 72,9% e 71,1% respectivamente (Martins, Mello, Tufik, 2001).
Para as perguntas sobre as relações sociais e pessoais tem dificuldade de manter relações sociais habituais e dificuldade de relacionar-se com as pessoas, aqueles que praticavam exercícios tinham melhor convivência. As perdas do auto-conceito podem ser melhoradas com as interações sociais, e estas podem ser alcançadas a partir de um melhor convívio social que a prática da atividade física proporciona (Bündchen, 2009).
A variável sente-se que não está exercendo um papel útil na vida - está relacionada ao domínio psíquico. Aqueles que praticavam exercícios tinham menor possibilidade e não se sentirem úteis na vida. Uma vida fisicamente ativa pode contribuir diminuindo o declínio funcional do indivíduo, o que permite principalmente ao idoso sentir-se mais útil na vida apresentando mais energia para as suas atividades diárias, maior satisfação com o melhor desempenho físico e menor necessidade de tratamento médico (Kuhnem, 2008).
Relacionado à pergunta tem se sentido agoniado e tenso, observou-se que os praticantes de exercício também eram menos agoniados e tensos. Há uma relação entre exercício físico e estado comportamental do indivíduo, melhorando os transtornos do humor e sendo muito importante nos aspectos psicobiológicos e na melhora do estado de ansiedade (McArdle, Katch, Katch, 2008; Mello et al, 2005; Babyak et al, 2000).
Em relato do quesito tem a sensação de que a vida é uma luta continua pôde-se observar que as respondentes que participavam das atividades do projeto, obtiveram resultados mais positivos. Quando o indivíduo participa de atividades recreativas e exercícios físicos grupais, percebe-se aumento significativo na motivação, aprimoramento do auto-conceito e elevação do sentimento de auto-eficácia, favorecendo o bem-estar geral que atua positivamente no âmbito da saúde mental (Mello et al, 2005; Babyak et al, 2000).
Após a análise das respostas para a pergunta sente-se incapaz de desfrutar suas atividades habituais de cada dia, percebeu-se que praticamente todas que praticavam exercícios responderam “não” a esse quesito. O sedentarismo associado ao avanço da idade promove uma perda da aptidão física geral. Todo este processo pode limitar os indivíduos no que concerne à realização das tarefas habituas que podem ser ainda mais prejudicadas se as referidas limitações atingirem o aparelho locomotor, pois isto proporciona aumento do risco de quedas e de fraturas (Campos et al. 2009; Santaren, 2006; Cadore, Pinto, Kruel, 2012).
Comparando os grupos A e B com relação às respostas para a pergunta tem se sentido esgotado e sem força, apenas 3,2% das entrevistadas que praticavam regularmente exercícios responderam sim bastante e sim muito. Já está comprovado que a falta de aptidão física pode levar a falta de equilíbrio corporal ocasionando quedas, comprometendo também a realização de tarefa simples do cotidiano (Campos et al. 2009). Tanto pessoas sedentárias como idosas, com o passar do tempo perdem massa muscular e força por conta do processo degenerativo do sistema nervoso que acarreta desaparecimento de moto neurônio no corno anterior da medula espinal (McArdle, Katch, Katch, 2008). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 5% a 10% da população idosa no Brasil já sofreu algum tipo de acidente doméstico grave. Assim, as fibras brancas entram em processo de atrofia total - Hipotrofia de desuso.
Os trabalhos do exercício de força preservam a massa muscular (Cadore, Pinto, Kruel, 2012). Com o aumento da força muscular, haverá uma elevação do limiar anaeróbio e da capacidade aeróbia, melhorando a resistência para exercícios de baixa intensidade, ou seja, as pessoas passam a ter maior força e capacidade de realizar exercícios por períodos mais prolongados (Cadore, Pinto, Kruel, 2012).
Manifestações somáticas
Neste domínio foi encontrada uma associação estatisticamente significante entre praticar exercício físico e ter melhor desempenho nas manifestações somáticas somente para as duas perguntas: teve a sensação que estava doente e teve inchaço no tornozelo (X2 = 9,96 e 4,32 respectivamente), valores de p <0,005 (Tabela 4, área hachurada).
O sistema imunológico (SI) é de grande eficiência no combate a microorganismos. A principal função do SI é prevenir ou limitar infecções causadas por microrganismos como bactérias, vírus, fungos e parasitas (Leandro, 2007).
Ainda em relação a este assunto, autores descrevem os efeitos positivos do exercício físico (EF) no fortalecimento do SI. O exercício físico é capaz de alterar funções do SI dependendo da intensidade, duração e do tipo de esforço físico. O exercício físico moderado (<60% do VO2 máx.) parece estar relacionado ao aumento da resposta dos mecanismos de defesa orgânica. O stress provocado pelo EF parece ter um efeito estimulador de citosinas, proteínas que promovem a ativação de outros componentes do sistema imunológico, importantes para manter o SI em equilíbrio (Leandro, 2007).
Em relação à pergunta teve inchaço nos tornozelos, a hipertensão arterial pode levar a sérios problemas cardiovasculares. Tais problemas podem promover alterações estruturais no ventrículo esquerdo, contribuindo para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Pessoas com uma ICC e problemas circulatórios são propensos a ter edemas ocasionados por uma maior quantidade de líquido acumulado principalmente nas pernas e nos tornozelos (Wilmore & Costill, 2001).
Sabe-se que a prática de atividade física ajuda na terapia reabilitadora da insuficiência cardíaca congestiva porque contribui para a melhoria da circulação e o rendimento cardíaco (McArdle, Katch, Katch, 2008). Este é um dos principais mecanismos de que o coração dispõe para aumentar a sua função cardíaca (McArdle, Katch, Katch, 2008).
Quanto às demais perguntas, não houve associação estatisticamente significante entre praticar exercício e ter uma melhor qualidade de vida nas manifestações somáticas deste grupo.
Conclusões
Os dados confrontados revelam que as mulheres que participavam do programa de exercícios físicos apresentaram resultados consideráveis em sua qualidade de vida principalmente no Estado Mental em que seis das nove perguntas estiveram significantemente associadas com o desfecho da qualidade de vida. Além disso, duas das perguntas do domínio Manifestações Somáticas também estiveram significantemente associadas com o praticar exercícios físicos.
A versão brasileira do questionário de qualidade de vida para o hipertenso – Minichal-Brasil se mostrou confiável para esta população específica útil na avaliação de QV de hipertensos brasileiros. O teste t de Student também comprovou que existe uma diferença estatisticamente significante entre as médias da QV daqueles que praticam e não praticam exercícios físicos.
Diante destes resultados, percebe-se que mulheres hipertensas que praticam exercícios físicos são beneficiadas tanto na esfera mental quanto somática. Tais benefícios possibilitaram concretamente o aprimoramento da qualidade de vida dessas hipertensas.
Como esse grupo foi praticamente de hipertensas do sexo feminino, convém avaliar como o homem se configura nos resultados do Estado Mental e nas Manifestações Somáticas da QV para futuras comparações de gênero. Seria também interessante uma amostragem maior e mais representativa de vários centros de atividades desportivas para uma análise estatística mais robusta.
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