Distúrbios osteomusculares relacionadas ao trabalho em profissionais de enfermagem que atuam no Programa de Saúde da Família Enfermedades muscoloesqueléticas
relacionadas con el trabajo en profesionales |
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*Fisioterapeuta especialista em Meio ambiente e Saúde Pública. Docente da Faculdade Guanambi **Médico Clínico Geral (Brasil) |
Keyla Iane Donato Brito Costa* João Flávio Rocha de Almeida** |
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Resumo Este estudo investiga o adoecimento de trabalhadores de enfermagem pelos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Participaram deste estudo 41 profissionais da equipe de enfermagem do Programa de Saúde da Família de Guanambi-Brasil. Evidenciou-se que os distúrbios osteomusculares têm alta prevalência entre os profissionais e estão relacionados às condições inadequadas do ambiente de trabalho. Unitermos: Doenças musculoesqueléticas. Saúde do trabalhador. Equipe de enfermagem.
Resumen Este estudio aborda las enfermedades de los trabajadores de enfermería por las lesiones muscoloesqueléticas relacionadas con el trabajo. Participaron en el estudio 41 profesionales de enfermería del Programa de Salud Familiar de Guanambi-Brasil. Se evidenció que las lesiones tienen una alta prevalencia entre los profesionales y se relacionan con las condiciones inadecuadas de los ambientes de trabajo. Palabras clave: Enfermedades muscoloesqueléticas. Salud del trabajador. Equipo de enfermería.
Recepção: 12/04/2015 - Aceitação: 18/08/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORTs) representam atualmente um grande problema de saúde pública no Brasil de acordo com Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) essas estão entre as doenças que se apresentam em maior incidência no país. Em relação às causas de afastamento do trabalho os DORTs perdem apenas para os acidentes ocupacionais.
Inicialmente foi proposta a terminologia LER (lesões por esforços repetitivos) para designar de forma genérica as patologias de origem ocupacional, porém, a adoção desse termo leva a falsa conclusão de que as todas as doenças ocupacionais são causadas exclusivamente pela repetitividade de tarefas, não permitindo, portanto, que afecções de outras etiologias sejam inclusas nessa classificação.
Sendo assim, o termo LER foi substituído pela nomenclatura DORTs para determinar as desordens de estruturas que dão suporte ao corpo como tendões, nervos, cápsulas, ligamentos, fáscias e músculos, relacionados à atividade laboral. Os DORTs têm sua gênese multifatorial e surgem da interação de fatores biomecânicos, organizacionais, ambientais e psico-emocionais.
A literatura tem demonstrado que entre os trabalhadores da saúde, os profissionais de enfermagem representam o principal grupo de risco para o desenvolvimento de doenças ocupacionais. Estes se apresentam constantemente expostos a fatores de risco advindos de sua profissão e condições inadequadas de trabalho. Os profissionais sujeitos a longas jornadas e ritmo acelerado de trabalho, horas extras excessivas, mobiliários inadequados, iluminação insuficiente, altas exigências cognitivas, além de possíveis sobrecargas de segmentos corporais em determinados movimentos estão sujeitos a desenvolverem patologias relacionadas à profissão.
As conseqüências das afecções relacionadas à atividade laboral são muitas, incluindo repercussões tanto no individuo acometido quanto para a sociedade de uma forma em geral. As doenças ocupacionais provocam incapacidades permanentes ou temporárias, geram altos custos com diagnóstico e tratamento e representam um enorme impacto financeiro para a Previdência Social.
Como as várias pesquisas que foram realizadas objetivaram conhecer as patologias de origem ocupacional, que acometem os profissionais de enfermagem, restringiam-se ao âmbito hospitalar, a necessidade de trabalhos referentes às condições ocupacionais em outros campos de atuação destes profissionais motivou a realização deste estudo. Portanto, no presente artigo procurou-se realizar um levantamento de dados referentes à saúde ocupacional dos profissionais de enfermagem que atua no programa de saúde da família.
O presente trabalho tem como objetivo geral investigar a ocorrência de DORTs em profissionais de enfermagem que compõe as equipes de saúde da família do município de Guanambi. Os objetivos específicos foram verificar a incidência de dores e doenças ocupacionais relacionando-as ao sexo e categoria profissional.
Metodologia
A amostra deste estudo é composta por 41 profissionais de enfermagem que atuam nas Unidades de Saúde da família da cidade de Guanambi-BA. Inicialmente foram selecionados 46 indivíduos, sendo que 5 deles foram excluídos do estudo por não concordarem em responder todos os questionamentos realizados.
A pesquisa dos dados foi realizada respeitando as recomendações éticas, assegurando todas as medidas para estabelecer respeito, resguardar a identidade e proporcionar a não maleficência dos entrevistados.
Foi aplicado um questionário em forma de entrevista e antes dos participantes responderem as perguntas, foi solicitado que os mesmos lessem e assinassem o termo de consentimento livre e esclarecido. As entrevistas foram marcadas e realizadas no local de trabalho dos profissionais participantes no período de Agosto a Setembro de 2014.
O questionário é composto por 28 questões objetivas a respeito das principais patologias, queixas dos profissionais relacionadas ao trabalho e variáveis sócio-demograficas. Além de questões sobre a percepção do individuo sobre a Relação Profissional, Mobiliário e Estrutura Física, Epi’s (Equipamento De Proteção Individual), Normas Regulamentadoras e Condição Biopsicossocial.
As questões foram elaboradas com base nos principais fatores relevantes relacionadas atividade ocupacional do enfermeiro e as principais afecções que acometem essa profissão, identificadas na literatura. Para a validação do questionário foi realizado um estudo piloto com 15% da amostra.
Trata-se, portanto de um estudo de abordagem quantitativa descritiva. Sendo que o tratamento estatístico dos dados obtidos foi realizado por meio de freqüências simples e relativas. Os dados foram analisados através da planilha eletrônica do Excel.
Resultados
Participaram do estudo 41 profissionais, sendo 3 auxiliares de enfermagem (7,31%), 16 enfermeiros (39%) e 22 técnicos em enfermagem (53,65%). Trinta e seis indivíduos são do sexo feminino (87,8%) e cinco indivíduos do sexo masculino (12,19%). A idade dos participantes variou entre 20 e 50 anos de idade.
Em relação ao tempo de profissão 61% desses apresentam menos de 5 anos, 9,75% têm entre 6 e 10 anos, 14,63% têm entre 11 e 15 anos, 9,75% têm entre 16 e 20 anos e 4,87% destes têm mais de 20 atuando na profissão.
De todos os entrevistados 23 indivíduos (56,09%) apresentam algum tipo de DORT. Destes, 12 relataram a presença de lombalgia (52,17%), 2 apresentaram tendinites (8,69%) e 9 destes relatam a presença de outros DORTs (39,13%). A tabela 1 demonstra a distribuição dos DORTs em relação à categoria profissional.
Quando questionados em relação à presença de dor, 73% dos entrevistados relataram a freqüência deste sintoma como “as vezes”, 4,87% como “quase sempre” e 21,95% disseram não apresentar nenhuma sintomatologia dolorosa. A distribuição da dor em relação a categoria profissional está apresentada na tabelas 2 .
Não foi possível estabelecer relação entre o sexo e freqüência de DORTs, visto que a amostra é composta em sua grande maioria por mulheres.
Tabela 01. Distribuição de DORTs em relação à categoria profissional
Tabela 02. Distribuição de dor em relação a categoria profissional
Discussão
Os resultados demonstraram que os trabalhadores de enfermagem relataram elevada ocorrência de sintomas músculo esqueléticos em diversas regiões do corpo, que corresponde a um total de 23 profissionais (56,09%). Entretanto, as estatísticas encontradas na literatura demonstra-se superiores aos achados deste estudo em relação a freqüência de DORTs. Magnago (2008), em uma revisão de artigos científicos que investigam os distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadores de enfermagem, constatou uma elevada ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadores de enfermagem com taxas em torno de 80 a 93%.
Vale ressaltar que na literatura pesquisada o levantamento de dados referia exclusivamente ao ambiente hospitalar, portanto, essa discrepância entre os resultados pode ser explicada pelo fato do presente estudo se diferenciar dos demais em relação ao campo de atuação do enfermeiro em que foi realizado. Além disso, a comparação dos resultados é influenciada pelas diferenças metodológicas entre os estudos, visto que as pesquisas utilizam diferentes instrumentos para avaliação e analise dos dados. Contudo deve-se levar em consideração que a variação entre os campos em que as pesquisas foram realizadas, exige a realização de novos estudos a fim de se considerar as possíveis variações em quantidade e qualidade dos fatores de risco entre os campos de atuação da equipe de enfermagem.
Segundo Magnago (2008), os auxiliares de enfermagem representava a categoria mais acometida por DORTs, porém neste estudo esses distúrbios foram mais freqüentes nos profissionais de enfermagem de nível superior, acometendo 68,75% dos indivíduos desta categoria. Seguido dos técnicos em enfermagem com 50%. Encontrando a menor freqüência nos auxiliares de enfermagem (33,33%).
A interpretação dos resultados permitiu verificar que a lombalgia é a afecção mais freqüente entre os profissionais, retomando assim, aos resultados obtidos por Calavaro et al segundo estes autores a dor lombar tem sido relatada como o sintoma osteomuscular de maior ocorrência com taxas variando de 30 a 60%. No presente estudo a lombalgia acometeu 52,17% dos indivíduos que apresentavam DORTs.
Seguindo essa perspectiva, Magnago (2007), Relata que distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadores de enfermagem atingem principalmente a região lombar.
Dos entrevistados 78,04% apresentavam dor relacionada a atividade laboral. Esse sintoma foi encontrado em todas as categorias estando presente em 100% dos auxiliares de enfermagem, 81,25% dos enfermeiros e 72,73% dos técnicos em enfermagem.
Como a maioria dos profissionais relataram a presença de dor como “as vezes” (73%), pôde-se verificar que apesar da grande incidência deste sintoma entre os profissionais esse se apresenta de forma esporádica.
A investigação dos sintomas faz-se necessário visto que grande parte das lesões em seus estágios iniciais de evolução apresenta como manifestações dor e desconforto. Segundo Bernardi (2010), ao considerar que existem estágios de evolução, o levantamento da sintomatologia permite o diagnostico precoce e, dentro do possível, a progressão do quadro.
Conclusão
Encontrou-se neste estudo uma alta prevalência de doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho dos profissionais de enfermagem. Porém, sugere-se que novos estudos sejam realizados para determinar a relação direta entre o profissional de enfermagem e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Para isto é necessário o levantamento dos fatores de risco que compõe o próprio individuo (intrínsecos) e fatores extrínsecos relacionados ao exercício da função e ambiente de trabalho. Afim de melhor descrever a relação entre o trabalho e o processo saúde- doença.
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