A psicomotricidade aplicada a pessoas com deficiência no centro de atendimento educacional especializado: significados e perspectivas La psicomotricidad aplica a las personas con discapacidad en un centro de formación especializada: significados y perspectivas The psychomotor applied to disabled people in the center of specialized education: meanings and perspectives |
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*Mestrando em Educação pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro/UFTM **Mestre em Promoção de Saúde pela Universidade de Franca/UNIFRAN (Brasil) |
Willian Campos Amorim Carlos Henrique de Freitas Lima |
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Resumo No intuito de conhecer as relações entre a psicomotricidade aplicada a pessoas com deficiência(s) no âmbito escolar, mais especificamente no Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE) que funciona em uma escola de ensino fundamental, na cidade de Itirapuã/SP. O trabalho em si buscou indagar as relações, por meio de entrevista com a coordenadora do centro e de um questionário com a equipe multidisciplinar, entre os alunos de acordo com sua faixa etária, tipos de deficiências e debilidades (cognitivas, físicas ou motoras), bem como as especificidades de suas respectivas deficiências, ao qual são fatores influentes em seu desenvolvimento, com as atividades propostas no centro, dando ênfase na abordagem psicomotora. Unitermos: Psicomotricidade. Pessoas com deficiências. Ensino Fundamental.
Abstract In order to know the relationship between psychomotor applied to disabled people (s) in the school, specifically in Specialized Educational Service Center (CAEE) who works in a primary school in the town of Itirapuã / SP. The work itself sought to investigate the relationships through interview with the coordinator of the center and a questionnaire with a multidisciplinary team of students according to their age, types of deficiencies and weaknesses (cognitive, physical or motor) well as the particularities of their respective shortcomings, which are influential factors in their development, with proposed activities in the center, with emphasis on psychomotor approach. Keywords: Psychomotor. People with disabilities. Elementary School.
Recepção: 10/07/2015 - Aceitação: 28/08/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Uma das grandes polêmicas nos últimos tempos é a inserção das pessoas com deficiências nas escolas regulares. Existe uma série de problemas apontados por professores e comunidade escolar, e nesse contexto podemos verificar falhas de conceitualizações entre os termos educação inclusiva e educação especial, necessidades especiais e problemas de aprendizagem.
A proposta da inclusão escolar e a interpretação da educação especial, entendida como Atendimento Educacional Especializado (AEE), está a cada dia, mais presente no cotidiano escolar, e, produziram muitos equívocos ao serem colocadas em prática nas nossas escolas. Esta “[...] situação aponta para uma necessidade de oferecer aos professores-alunos em serviço uma experiência de formação que venha ao encontro de suas reais necessidades quando se depararem com os desafios do ensino regular e especial” (Batista et al, 2007, p. 15).
Ninguém de uma hora para outra se transformará em especialista em deficiências ou debilidades, e nem as instituições educativas terão plenas condições de formar este profissional em pouco tempo com eficácia, a fim de atenderem as pessoas com deficiências e com necessidades especiais.
Dessa forma, um Centro de Atendimento Educacional Especializado decorre de uma nova concepção da educação especial, sustentada legalmente, pois a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) (1996), nos aponta uma educação de igualdade para todos, abrindo espaço para o repensar pedagógico, nas metodologias e práticas, e é uma das condições necessárias para o sucesso da inclusão escolar das pessoas/alunos com deficiências (visual, física, intelectual, auditiva e múltipla), independente de qual seja (Batista, 2006).
Mas, para que tudo isto ocorra, a escola tem que romper com certos paradigmas que fazem com que sejam cópias de modelos rígidos e fechados. A escola deve se adaptar aos alunos e não ao contrário. Inovar significa buscar soluções novas e adequadas, buscando a melhoria da qualidade de ensino para atender a diversidade.
Assim, a importância de buscar novas respostas é muito evidente, o que deve induzir aos profissionais que fazem parte de um Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE) a acreditar em uma intersecção entre a Psicomotricidade e sua área específica de atendimento (Costa, 2001).
Segundo Gonçalves (2010) o desenvolvimento psicomotor ou a Psicomotricidade humana deve ser entendida como o resultado das inúmeras transformações que são geradas no individuo e no seu entorno (intrínseco e extrínseco), a partir de sua interrelação.
Dessa forma, a Psicomotricidade à luz da educação especial e inclusiva deve buscar a transformação do indivíduo para que este se ajuste ao meio, que também sofre uma transformação provocada pelo movimento do indivíduo, modificando-se e gerando, com isso, uma representação como forma criadora de novas relações. Essas representações são as expressões das experiências individuais de cada sujeito, levando a um entendimento com o próximo e com a significação social.
Então, a Psicomotricidade como ciência que estuda o movimento humano na sua ação relacional, “[...] incorpora os aspectos motores, emocionais e cognitivos que impulsionam a realização deste movimento, não fragmentando o indivíduo na sua interação de desenvolver-se” (Gonçalves, 2010, p. 25, grifo nosso).
O estudo desta abordagem psicomotora utilizada por uma equipe multidisciplinar muitas das vezes inconscientemente, pode nos demonstrar as mais variadas formações técnicas, onde cada um exerce um primordial para o desenvolvimento, como um todo, do indivíduo. Também, buscar-se-á analisar se a prática da educação psicomotora quando precoce, pode ajudar na solução de problemáticas que permeiam o cotidiano das pessoas que possuem deficiências.
Métodos
Para a elaboração deste trabalho e dos objetivos propostos, utilizou-se como instrumento de aferição de medidas uma entrevista individual com a Coordenadora do CAAE e um questionário dissertativo delineado dentro na semântica da psicomotricidade e sua aplicação dentro do contexto do atendimento educacional especializado, na E.M.E.B. Olívio Faleiros da cidade de Itirapuã/SP com demais profissionais da equipe multidisciplinar.
Para tanto foram levantados o conceito de psicomotricidade, suas especificidades, aplicações e sua relação com a deficiência e os processos de desenvolvimento, dando uma leve explanada sobre a temática aos sujeitos-alvo desta pesquisa: diretora da escola onde funciona o CAEE, a coordenadora/psicopedagoga, fisioterapeuta, professora de educação especial, fonoaudióloga.
A entrevista individual com a coordenadora do CAAE consistiu em coletar dados iniciais sobre o público atendido pelo centro.
Após esta entrevista inicial pode-se elaborar um questionário, onde as questões levantas adentraram no tema principal de nosso estudo a Psicomotricidade e o Atendimento Educacional Especializado. O questionário aplicado era composto por dez questões.
A análise do questionário proposto foi realizada por meio de análise de conteúdo, onde as respostas foram analisadas individualmente e comparadas lado a lado, no intuito de tabular o teor dos dados obtidos.
Por fim, as respostas foram separadas por categoria onde uma análise descritivo-interpretativa se fez necessária para possibilitar uma transcrição dos conteúdos obtidos no questionário de forma crítica.
Resultados e discussão
A estruturação dos resultados e análise dos dados foi delineada a partir da entrevista individual realizada inicialmente com a coordenadora do CAEE e das respostas obtidas através do questionário aplicado aos demais integrantes da equipe multidisciplinar que compõem o centro, onde os dados iniciais da entrevista foram apresentados nas figuras a seguir:
Figura 1. Quantitativo e percentual de pessoas atendidas pelo CAEE de Itirapuã/SP, separados por sexo
A partir dos dados obtidos na entrevista individual com a coordenadora do CAEE de Itirapuã/SP, pode-se analisá-los a fim de elaborar a Figura 1, onde se pode perceber que o centro atende cerca de 37 pessoas, onde 25 (68%) são do sexo masculino e 12 (32%) são do sexo feminino. Assim, o CAEE atende mais pessoas do sexo masculino que do sexo feminino, mais do que o dobro.
Já a segunda questão da entrevista buscou saber qual a faixa etária de todos os atendidos pelo CAEE, onde se pode explicitar os dados na Figura 2, abaixo:
Figura 2. Quantitativo e percentual de indivíduos atendidos pelo CAEE de Itirapuã/SP, separados por faixa etária
Nesta segunda questão da entrevista individual com a coordenadora do CAEE, pode-se averiguar as faixas etária em que se encontram os atendidos pelo centro. Percebe-se que dos 37 indivíduos a maioria são crianças de 0 a 5 anos (13%) que compreendem a idade em que estão no ensino infantil e crianças de 6 a 12 ano (49%) que compreendem a idade em que estão no ensino fundamental I – anos iniciais – e início do ensino fundamental II. Averiguou-se também que além dos adolescentes de 13 a 15 anos (8%) – ensino fundamental II –, e, de 16 a 18 anos (11%) idade que compreende o ensino médio o CAEE também atende indivíduos 5 adultos, com idade entre 19 a 30 anos (13 %) e 1 adulto (3%) acima de 31 anos, para ser mais preciso com 48 anos de idade, que podemos ver possuir uma idade adulta bem avançada e que mesmo assim ainda precisa de atendimento, pois não foi estimulada precocemente.
Por fim, na última questão da entrevista individual com a coordenadora do CAEE, buscou-se averiguar quais os tipos de deficiências que os atendidos apresentavam, no intuito de constatar a heterogeneidade do público atendido em razão de sua(s) deficiência(s), como podemos ver na Tabela 1, abaixo.
Tabela 1. Relação do quantitativo de indivíduos atendidos pelo CAEE de acordo com as deficiências apresentadas
c. Quais tipos de deficiências os atendidos pelo CAEE apresentam? |
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Nº de Indivíduos |
Tipos de Deficiência Apresentadas (Siglas) |
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C.T.) |
(D.Ap.) |
(D.C.) |
(D.I.) |
(D.F.) |
(D.Mult.) |
(E.P.) |
(S.D.) |
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5 |
X |
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8 |
X |
X |
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1 |
X |
X |
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2 |
X |
X |
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2 |
X |
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9 |
X |
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2 |
X |
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1 |
X |
X |
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1 |
X |
X |
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1 |
X |
X |
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1 |
X |
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2 |
X |
X |
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1 |
X |
X |
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1 |
X |
X |
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Legenda das Siglas |
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C. T = Condutas Típicas - Autismo |
D. F. = Deficiência Física |
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D. Apr. = Distúrbio de Aprendizagem |
D. Mult. = Deficiência Múltipla |
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D. C. = Distúrbio de Conduta |
E. P. = Estimulação Precoce |
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D. I. = Deficiência Intelectual |
S. D. = Síndrome de Down |
Dessa forma, pode-se analisar que a grande maioria dos atendidos pelo CAEE possuem Deficiência Intelectual (6 indivíduos), seguido de Distúrbio de Aprendizagem (5 indivíduos), onde percebe-se que uma maior intervenção deve ser realizada com ênfase no aspecto cognitivo.
Após detalhar as respostas da entrevista inicial com a coordenadora do CAEE percebe-se que o público atendido é bastante heterogêneo, uns possuem um tipo de deficiência, outros dois tipos e uma grande parte possuem mais de dois tipos de deficiência, e dessa forma o trabalho da equipe multidisiciplinar deve ser bem estruturado para atender as exigências pedagógicas deste tipo de público, onde dentro desta concepção algumas competências devem ser trabalhadas dentro da estimulação psicomotora, facilitando a comunicação do indivíduo com seu mundo (Gonçalves, 2010).
Dando seqüência a pesquisa foram analisadas as respostas do questionário aplicado a equipe multidisciplinar do CAEE, onde podemos ver a seguir todos os dados analisados, onde E1 = Professor PEBII – Educação Especial; E2 Diretora da Escola; E3 = Coordenadora da Educação Especial; E4 = Fisioterapeuta; E5 = Fonoaudióloga.
A Questão 1 serviu para entender a autodescrição que os profissionais têm de sim mesmos, onde pode-se perceber que os entrevistados E1, E2 e E5 não se referiram a sua profissão específica (Professor PEBII – Educação Especial, Diretora da Escola e Fonoaudióloga) e sim deram apenas informações sobre suas funções gerais desempenhadas. Já os entrevistados E3 e E4 responderam esta questão apenas informando sua especificidade (Coordenadora da Educação Especial e Fisioterapeuta), não dando informações mais detalhadas de suas funções dentro do CAEE.
Na Questão 2, pode-se perceber mais afinco qual o nível de entendimento da real função exercida dentro do CAEE, onde se contata, unanimemente, que todos os entrevistados têm plena consciência que os objetivos de sua intervenção, seja ela no âmbito administrativo, pedagógico e de estimulação, são de extrema importância, pois nota-se que uma área está elencada a outra e vice-versa, e nos permite afirmar que estes profissionais, na ótica de Le Bouch (1987), estão centrados na realidade do grupo, eles se tornam “condutor-participante”, empenhados no processo grupal, e estão muito próximos às experiências vividas pelos alunos, podendo então orientar suas ações no sentido de um aprendizado significativo para o público atendido.
Na Questão 3, percebe-se que os entrevistados enfatizam a importância da existência deste CAEE, onde a melhoria do bem-estar, a estimulação, a relação dos pais, dentre outras relacionadas aos atendidos pelo centro. Dessa forma, fica evidente a real função do CAEE na visão dos entrevistados fundindo-se às diretrizes de Brasil (2010, p. 21), onde o “AEE tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem barreiras para plena participação dos alunos, considerando suas necessidades especificas”.
Cabe ressaltar também a resposta de E3 que enfatiza a importância dos pais em relação aos atendimentos de seus filhos ‘com ou sem deficiência’, pois “é muito comum ver famílias se movimentando, em busca de atendimento ou mesmo, freqüentando serviços diferentes, sem ter a noção do que estão fazendo” (Aranha, 2004, p. 7). Assim, fica evidenciado que além da intervenção junto aos alunos/pessoas com deficiência o trabalho com a família é primordial para o bom andamento das ações elaboradas pelo CAEE.
A Questão 4, tratou do relacionamento entre os alunos ditos “normais” em relação aos alunos/pessoas com deficiência que freqüentam a escola e/ou fazem acompanhamento junto ao CAEE. Os entrevistados responderam com veemência que existe uma boa relação entre ambos, onde ressaltam a naturalidade com que se relacionam, além do acolhimento e da interação com respeito e aceitação às diferenças. Dentro deste contexto ressalta-se as palavras de Le Boulch (1987, p. 39) que diz: “É nestas situações [...] que podem ser vividas as atitudes sociais de organização, de comunicação, de cooperação.”
Assim, percebe-se através das respostas dos entrevistados, que o CAEE está proporcionando um dinamismo pedagógico efetivo, voltado para alterar a situação da exclusão, onde reforça a importância dos ambientes heterogêneos na busca pela promoção do aprendizado de todos os alunos (Brasil, 2010).
Já a Questão 5, buscou indagar da equipe multidisciplinar qual a visão eles têm das maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos com deficiência em freqüentar uma escola regular. O entrevistado E1 enfatizou a baixo autoestima do aluno e da família. Já E2 citou a questão do comprometimento da equipe envolvida no atendimento a esta clientela; e E3 a falta de preparo, ou seja, formação inadequada, onde E5 salientou a resistência da figura do professor na realização do trabalho diferenciado. Além disso, o entrevistado E4 afirmou também que a acessibilidade é um problema existente, pois em sua visão muitos lugares da escola ainda não são adaptadas para receber alunos com deficiência motora, se contrapondo a idéia de Brasil (2010, p. 24), onde afirma que a “acessibilidade deve ser assegurada mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas, urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, equipamentos e mobiliários – nos transportes escolares, bem como as barreiras nas comunicações e informações”.
A partir da Questão 6, a entrevista volta-se para o maior foco desta pesquisa, a Psicomotricidade. Nesta questão busca-se aferir o nível de conhecimento que os profissionais entrevistados têm em relação a tal área, no âmbito teórico-prático. Analisando as respostas percebe-se que E1 e E5 acreditam, com certa desconfiança, ter conhecimento da área, mas não afirmam com convicção. Enquanto E2, E3 e E4 fazem uma breve síntese de qual o significado de Psicomotricidade. Dessa forma, percebe-se que, por menor que seja, todos os entrevistados possuem conhecimento sobre a Psicomotricidade.
Dando seqüência à pesquisa, a Questão 7, buscou saber a opinião dos entrevistados sobre a abordagem psicomotora aplicada às pessoas com deficiência. Os entrevistados E1, E4 e E5 afirmaram que esta abordagem favorece o desenvolvimento humano como um todo, principalmente com as crianças, pois desenvolvem mais rapidamente suas habilidades motoras e psíquicas, conforme afirma Gonçalves (2010, p. 85) “para a Psicomotricidade, o essencial é a intenção, a significação e a expressão do movimento, traduzindo o psiquismo de cada indivíduo”. Já o entrevistado E2 enfatizou que a psicomotricidade utiliza aquisições das mais variadas ciência, como: biologia, psicologia, psicanálise, sociologia, lingüística, entre outras. Dessa forma, percebe-se que a psicomotricidade por si só não é trabalhada de maneira individual e são utilizadas abordagens de outras áreas do conhecimento como complementos.
Por fim, o entrevistado E3 afirmou que a abordagem psicomotora é essência principalmente para o grupo de crianças com autismo, pois nestas crianças o desenvolvimento acontece através de uma dialética permanente entre o eu e o mundo que a criança descobre seu corpo que é meio de ação, intermediário e obrigatório entre ela e o mundo (Lapierre e Aucouturier, 1986).
Na Questão 8 do questionário aplicado, buscou-se saber quais os elementos da abordagem psicomotora os entrevistados utilizam nas suas ações de intervenção, bem como quais os procedimentos são adotados. Todos os entrevistados afirmaram com veemência utilizar de elementos da abordagem psicomotora junto ao público atendido no CAEE, mesmo que muitas das vezes inconscientemente, onde constata-se que os profissionais utilizam de variados procedimentos adotando desde jogos (de memória, quebra-cabeças, de encaixe – com tamanhos variados), brincadeiras, atividades pedagógicas, entre outros. Cabe ressaltar que o entrevistado E5 foi o profissional que mais detalhou a abordagem psicomotora aplicada, onde direciona sua intervenção a determinadas partes do corpo, mesclando atividades de equilíbrio corporal, exercícios de orientação espaço-temporal, coordenação motora, entre outros. Dessa forma, percebe-se a importância da abordagem psicomotora junto à intervenção aplicada às pessoas com deficiência, bem como a importância do ambiente, dos métodos e materiais utilizados, pois como afirma Bagatini (1991, p.56):
É muito importante que este ambiente passe a fazer parte do universo da criança, para que possa ser iniciado o trabalho. Neste ambiente, já deverão estar os materiais que posteriormente farão parte dos exercícios orientados, ara que possam ser manipulados pela criança, livremente. Assim,, também os materiais pertencentes à sala devem ser bem familiares ao educando, para que o trabalho orientado seja iniciado.
Dando seqüência a análise das respostas do questionário, na Questão 9, buscou-se entender dos entrevistados, se estes sabiam qual relação que a Psicomotricidade tem com sua área específica de intervenção. Os entrevistados relataram que suas áreas de intervenção tem tudo a ver com a Psicomotricidade, onde E1 relatou que a Psicomotricidade diz respeito ao indivíduo em sua totalidade; E2, afirmou ter uma relação pedagógica e psicológica; E3, disse que a envolve a integração social, a consciência e higienização do próprio corpo; E4, afirmou que a Psicomotricidade e sua área de intervenção trabalham esquema, corporal, lateralidade, concentração, ritmo dentre outras habilidades motoras, e por fim, E5, afirma que basicamente a relação da Psicomotricidade e sua área tem a ver com o trabalho de estimulação.
Assim, percebe-se que os entrevistados identificam a Psicomotricidade como fator intrínseco de seu trabalho de intervenção, e que fornecem subsídios metodológicos na elaboração de atividades que propiciem estimulação de habilidades cognitivas e motoras, seguindo a linha de raciocínio de Gonçalves (2010) que estrutura a psicomotricidade sobre três pilares: o querer fazer (emocional), o poder fazer (motor) e o saber fazer (cognitivo). Esse trabalho de estimulação com pessoas/crianças com deficiência(s) deve ser adequado aos possíveis desequilíbrios desses pilares, onde estes provocam a desestruturação no processo de aprendizagem e dificultam o trabalho de intervenção.
Por fim, na Questão 10, buscou-se analisar as impressões dos entrevistados em relação ao que falta no CAEE para uma real intervenção psicomotora, dentro do contexto de suas especificidades de intervenção. As respostas forram muito diferentes umas das outras. E1, afirmou que há muito a se fazer e a acrescentar apesar de este entrevistado acreditar que suas intervenções psicomotoras já estão adequadas; E2, enfatizou a importância de se capacitar a família para dar mais apoio junto às atividades já desenvolvidas; E3, foi mais enfático pois afirma que ‘falta espaço físico adequado e mais profissionais para um trabalho melhor’; E4, afirma que no CAEE a psicomotricidade já é trabalhada, assim como afirmou E1, mas ainda ressaltou que o que falta é uma maior interação entre os profissionais para que o trabalho seja efetivamente realizado de maneira multidisciplinar; e, por fim, E5, diz faltar um profissional específico.
O que pode-se analisar nesta questão são algumas problemáticas que devem ser melhoradas no CAEE afim de os profissionais conseguirem realizar suas intervenções com vistas a uma [re]educação psicomotora. O “muito a acrescentar” que E1 afirma, pode ser feito com capacitações e formação continuada, pois percebe-se que o grupo de profissionais são capacitados, mas muito tem a aprender e aplicar com as crianças/pessoas com deficiência. Além de uma formação mais sólida estes profissionais também enfatizam o trabalho junto à família dessas crianças/pessoas com deficiência, como disse E2, pois o trabalho com este público não deve se restringir ao AEE e aos profissionais que lá atendem, e sim, deve ser continuado e estendido ao ambiente familiar para um desenvolvimento mais eficaz. A adequação do espaço físico, como citado por E3, é o ponto chave para a melhoria dos atendimentos, pois de nada adiantaria os profissionais serem altamente gabaritados em suas especificidades de atendimentos sem condições mínimas para um trabalho efetivo. Outro ponto tocado nesta questão foi a falta de interação entre os profissionais, citada por E4, onde esta problemática se minimizaria com reuniões periódicas e elaboração de atividades/atendimento em conjunto. Por último, a falta de um profissional específico, relatado por E5, nos mostra que se tivesse um profissional específico dentro o trabalho psicomotor seria mais eficaz, bem como a consciência do que se está trabalhando com estas crianças/pessoas com deficiência seria mais bem fundamentada, pois nesta concepção os exercícios corporais e as atividades despertadoras, essencialmente, ao longo da escolaridade visam assegurar o desenvolvimento harmonioso dos componentes corporais, afetivos, intelectuais da personalidade do indivíduo, objetivando a conquista de uma relativa autonomia e da apreensão refletida do mundo que o cerca (Le Boulch, 1987).
Considerações finais
Percebe-se ao final deste trabalho, que há muito que fazer no contexto das pessoas com deficiência, principalmente com crianças em idade escolar. Grandes avanços já foram conquistados, porém a educação deveria construir uma escola inclusiva e que garantisse o atendimento essencial à diversidade humana.
Na semântica da Psicomotricidade, os profissionais que atendem nestes centros de AEE, como é o caso do CAEE de Itirapuã/SP, devem buscar novos conhecimentos e aliá-los a sua prática de intervenção, pois o que interessa a criança/pessoa com deficiência é viver com igualdade e dignidade, e estas podem ser melhor desenvolvidas se a equipe multidisciplinar conhecer, elaborar suas ações e avaliar sua intervenção.
O que se percebeu é que no rol das atividades psicomotoras os profissionais além de conhecer e saber o que estão fazendo, em um plano consciente, devem avaliar os processos dinâmicos considerando também o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento da criança/pessoa com deficiência, quanto às suas possiblidades de aprendizagem e desenvolvimento futuros, configurando assim uma ação terapêutica-pedagógica processual e formativa, sempre analisando o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual, observando os aspectos qualitativos que indiquem as possíveis intervenções profissionais. Muitas serão as dificuldades, mas cabe a cada um de nós fazer a sua parte na construção de uma sociedade mais inclusiva.
Bibliografia
Aranha, M. S. F. (org.) (2004). Educação inclusiva: família. v. 4. Brasília: MEC/SEE.
Bagatini, V. (1992). Psicomotricidade para deficientes. Porto Alegre: Sagra – DC Luzzatto.
Batista, C. A. M.; Ropoli, E. A.; Mantoan, M. T. E.; Figueiredo, R. V. (2007). Atendimento educacional especializado: orientações gerais e educação a distância. Brasília: SEESP/SEED/MEC.
Batista, C. A. M. (2006). Educação inclusiva: atendimento educacional especializado para a deficiência mental. 2ª ed. Brasília: MEC, SEESP.
Brasil (2010). Marcos político-legais da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC/SEE.
Costa, A. C. (2010). Psicopedagogia e psicomotricidade: pontos de intersecção nas dificuldades de aprendizagem. 2ª ed. Petrópolis/RJ: Vozes.
Gonçalves, F. (2010). Psicomotricidade e educação física – quem quer brincar põe o dedo aqui: a utilização das linguagens do movimento como suporte na formação psicomotora de crianças da educação infantil e fundamental I. São Paulo: Cultural RBL.
Lapierre, A. e Aucouturier, B. (1986). A simbologia do movimento: psicomotricidade e educação. Traduzido por Márcia Lewis. Porto Alegre: Artes Médicas.
Le Boulch, J. (1987). Educação psicomotora: psicocinética na idade escola. Traduzido por Jeni Wolf. Porto Alegre: Artmed.
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