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A influência da religião na prática das aulas de Educação Física

La influencia de la religión en la práctica de las clases de Educación Física

The influence of religion in the practice of Physical Education classes

 

Licenciado em Educação Física

UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense

(Brasil)

Alexandre Rocha de Souza

djalexandryrocha@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A Educação Física enquanto disciplina escolar tem o objetivo de proporcionar aos alunos a possibilidade de compreender o mundo em que vive, e se compreender enquanto parte da sociedade em que está inserido. No entanto alguns alunos acabam por serem proibidos de freqüentarem as aulas por motivos religiosos. Diante disto, partiremos neste trabalho em busca de respostas para estas proibições. Para isto usaremos como metodologia uma pesquisa bibliográfica que viajará ao passado tentando buscar na fundação de cada religião questões que possam vir a responder nossa questão norteadora: Quais os motivos e/ou causas da não participação nas aulas de Educação Física por alunos que freqüentam igrejas em função dos dogmas religiosos? Acreditando que ao investigar os motivos possamos chegar a uma proposta de aula que possa estar contemplando indivíduos que convivem com estas questões.

          Unitermos: Educação Física. Religião. Participação. Dogmas religiosos.

 

Abstract

          Physical education as school discipline aims to provide students with the ability to understand the world you live in, and understanding as part of the society in which it appears. However some students end up being forbidden to attend classes on religious grounds. Given this, we leave this job for answers to these prohibitions. For this we will use as a bibliographical research methodology that will travel to the past trying to look at the foundation of every religion issues that may answer our main question: What are the reasons and/or causes of non-participation in physical education classes for students who attend churches role of religious dogmas? Believing that while investigating the reasons can reach a proposed class who might be contemplating individuals living with these issues.

          Keywords: Fitness. Religion. Participation. Religious dogmas.

 

Recepção: 19/07/2015 - Aceitação: 23/08/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Durante o decorrer da graduação momentos importantes se fizeram presentes, estes momentos foram fundamentais para o crescimento e amadurecimento de idéias existentes e o surgimento de novas concepções. Uma idéia que particularmente possuía era que a religião em forma de “doutrinas religiosas” pudesse influenciar na vida de indivíduos que as seguem, o que durante os períodos de estágios obrigatórios, confirmou-se.

    Em uma das observações escolares pude constatar que alguns alunos não participavam das aulas de Educação Física. Decidi então questionar o professor da disciplina sobre o motivo da falta de participação destes, foi quando tive a certeza de que a religião realmente influenciava consideravelmente no desenvolvimento dos indivíduos. A resposta do professor foi categórica: “Eles não participam porque a religião deles não permite”. Diante desta constatação, me senti motivado a pesquisar mais a respeito das religiões e suas influências nas aulas de Educação Física.

    Quando falamos em Educação Física no âmbito escolar, devemos levar em consideração o conceito colocado pelo Coletivo de Autores (1992, p. 50) que diz:

    Educação Física é uma pratica pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal.

    Tendo este conceito como base, partimos do pressuposto de que a Educação Física escolar não trata apenas de jogos e esportes, mas sim do estudo da cultura corporal e para isto, algumas abordagens são necessárias nessas aulas para que o aluno venha a se apropriar da cultura. Para se ensinar Educação Física, é indispensável que exista na metodologia do professor em algum momento a contraposição de saberes dos alunos e muitas vezes se torna obrigatório a quebra de alguns paradigmas incutidos em sua cultura. Para o Coletivo de Autores (1992, p. 32) o confronto do saber é: “fundamental para a reflexão pedagógica. Isso porque instiga o aluno, ao longo de sua escolarização, a ultrapassar o senso comum e construir formas mais elaboradas de pensamento”.

    O intuito, portanto, é realizar uma pesquisa com a finalidade de compreender a influência da religião nas aulas de Educação Física escolar.

    O objetivo da pesquisa é buscar compreender quais os motivos e/ou causas da não participação nas aulas de Educação Física por alunos que freqüentam igrejas em função dos dogmas religiosos impostos.

    Para a realização do trabalho, fizemos uma revisão bibliografia do assunto. Esta revisão consistiu em uma busca dos mais variados segmentos religiosos, a fim de conseguir mapeá-los.

    A revisão fizemos a leitura do livro “O Livro das Religiões” de Gaarder et al (2001), que trata da história das religiões, trazendo suas origens, fundadores e distribuição geográfica destas. Fizemos uma busca de artigos que falassem sobre a relação da cultura corporal e determinadas religiões para que pudéssemos desenvolver a discussão a seguir.

1.     Conceito de religião

    O conceito de religião tem origem no termo latim religare que tem o significado de religação e refere-se ao conjunto de crenças ou dogmas relacionados com a divindade. Ximenes (1954, p. 805) define religião como: “crença na existência de força(s) sobre-humana(s), criadora(s) do Universo”. Ou ainda como: “cada um dos vários sistemas organizados que se baseiam nessa crença, e que possuem doutrinas e rituais próprios”.

    Marx (apud Hainchelin, 1963, p.14) define a religião como: “o suspiro da criatura acabrunhada pela infelicidade, a alma de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma época sem espírito. É o ópio do povo”.

    Sabemos que existem inúmeros segmentos religiosos, e que para cada religião existe uma crença diferente, ou com detalhes diferenciados. Cada religião traz consigo elementos dogmáticos, elementos estes que se apresentam carregados de significados que precisamos entender para que esse trabalho possa ser compreendido.

1.1.     As religiões

    A seguir traremos breves definições sobre as diferentes religiões existentes, levando em consideração as regiões onde surgiram, as crenças, regiões onde estão instaladas dentre outros aspectos.

    Para esta tarefa, utilizaremos como base “O Livro das Religiões” de Gaarder et al (2001).

1.1.1.     Hinduísmo

    O hinduísmo é uma religião originaria da Índia e que possui adeptos no Nepal, em Bangladesh e no Sri Lanka. Na Índia 80% da população é hinduísta.

    O hinduísmo é uma religião projetada para que seja eterna, não possuindo fundador, credo fixo ou qualquer tipo de organização. Sua maior característica é a imensa capacidade de abranger novos modos de pensamento e de expressar sua religião.

    A palavra hinduísmo significa indiano e é relativo ao rio Indo.

    Seu surgimento está datado de 1500 a.C. a 200 a.C. quando nobres passaram a dominar o vale do rio Indo. Suas crenças tinham ligação com outras religiões indo-européias, como a grega, a romana, e a germânica. No culto ariano (culto dos nobres) se faziam importantes os sacrifícios. Fazia-se oferendas para alcançar favores e manter as relações sob controle. A base religiosa se dá por meio de castas que são diferentes níveis de classes sociais. Cada casta tem diferentes regras de conduta e de prática religiosa.

    A base religiosa do sistema hinduísta é a noção de pureza e impureza. Para um brâmane (sacerdote), tudo o que tenha a ver com coisas corporais ou materiais é impuro. Uma vez impuro se faz necessário uma espécie de purificação, sendo que esta pode vir a ser banhar-se em um dos rios sagrados da Índia.

    Os hinduístas acreditam que a alma do homem é imortal, sendo assim, ela não envelhece e morre junto com o corpo tornando-se livre para renascer em um outro corpo após a morte (do primeiro corpo), não levando em consideração as castas, acreditando ainda que esta alma poderá até renascer em um animal.

    Os hinduístas prestam seus cultos que variam de casa para casa, mas no geral compreendem em sacrifícios, orações, recitação de textos sagrados e meditação. Quase sempre um banho purificador é o primeiro passo.

    Para os hinduístas o que a pessoa faz é mais importante do que aquilo que acredita.

1.1.2.     Budismo

    O budismo foi fundado por um príncipe chamado Sidarta Gautama que nasceu no ano de 560 a.C. vivendo no nordeste da Índia.

    O budismo cresceu dentro do hinduísmo, com um caminho singular para a salvação. O budismo possui muitos conceitos em comum com hinduísmo.

    Para Buda, o ser humano é escravizado por uma série de renascimentos e colhe exatamente aquilo que plantou. As ações de acordo com este sistema geram reações automáticas e que fugir delas é tão difícil quanto fugir de sua própria sombra.

    De acordo com Buda, o homem ao achar-se um “eu”, cai na ignorância e essa ignorância traz a ele conseqüências graves, uma vez que traz consigo o desejo e com ele o pecado.

    O budismo vê a vida como uma série de processos mentais e físicos que fazem com que o homem viva em constante alteração.

    O culto deste sistema se baseia apenas em venerar as relíquias de Buda e de outros homens santos, mas apesar de venerarem as imagens de Buda queimando incensos e pondo flores e outras oferendas diante delas, os budistas não consideram isto como uma adoração formal. Buda foi apenas o guia da humanidade, o mestre glorificado.

1.1.3.     Religiões africanas ou primais

    As religiões africanas tradicionais não possuem textos escritos, tornando assim difícil seu estudo. Boa parte do conhecimento que se tem sobre essas religiões são baseados em relatos de observadores europeus.

    Uma fonte de conhecimento sobre estas religiões são os mitos que permanecem vivos através de exposições orais, contudo deve-se levar em consideração que o passar dos anos pode ter feito com que estas histórias mudassem seus sentidos.

    As religiões primais assim como todas as outras são influenciadas por elementos externos, muitas adotaram elementos do islã e outras do cristianismo.

    Cada povo na África equivale a uma diferente religião. Cada religião possui uma maneira peculiar de se dirigir a Deus, seus próprios rituais de cultos e suas maneiras de ver, sentir e agir. No entanto estas religiões possuem muitas peculiaridades em comum, levando-se em consideração que estas tribos eram nômades.

    Para estas tribos os mortos são considerados ainda participantes da família, tornando-se uma espécie de “espírito espião”, pois exerce o papel de vigiador dos costumes da tribo que deverão ser seguidos pelos demais.

    Todas as tribos possuem um líder. O papel desse líder varia muito de tribo para tribo e ainda passou a ser influenciado após a colonização européia do continente.

    O líder não é apenas um governante tribal, mas também exerce o papel de juiz e carrega consigo a justiça e as leis, tendo também o papel de sacerdote o que lhe dá o dever de oferecer os sacrifícios da tribo aos deuses.

    Para os tribais, o líder é o representante dos deuses na terra e também o porta voz dos homens perante os deuses.

1.1.4.     Judaísmo

    A palavra judaísmos vem da palavra judeu relativo a Judéia (nome de uma parte do antigo reino de Israel). A religião leva ainda o nome de mosaica, que considera Moisés como um de seus fundadores.

    Uma das características e talvez a principal delas, é que o judaísmo é uma religião intimamente ligada a fatos históricos. O núcleo do judaísmo era a vida na sinagoga, local de culto onde os fiéis se encontravam para orar e ler as escrituras.

    O povo judeu durante muito tempo assumiu um papel de liderança nos países por onde firmavam residência, tendo seu ponto alfa na Espanha nos séculos XII e XIII.

    Desde a idade média até hoje os judeus são perseguidos, constantemente são acusados de terem assassinado Jesus.

    Sem dúvida nenhuma a maior das perseguições sofrida pelos judeus foi na Alemanha, entre 1933 e 1945, em que cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados pelo exército nazista de Hitler.

    Durante milhares de anos os judeus esperaram um Messias (que significa o ungido), que viria para criar um reino de paz na Terra.

    Ainda hoje se encontra entre os judeus quem acredite na chegada do Messias, outros acreditam que ele não viria em formato humano, mas sim em uma futura “era messiânica”, outros ainda acreditam que essa promessa tenha se cumprido com a fundação de Israel, em 1948.

    Para os judeus as escrituras sagradas são encontradas na Bíblia, que traz em seu interior uma coleção de textos de natureza histórica, literária e religiosa.

    No interior das sinagogas, existe uma espécie de altar, no entanto, não é permitido qualquer tipo de imagem ou objeto nele. No interior destas sinagogas existe uma espécie de armário denominado Arca. Esta Arca fica localizada na parede da sinagoga que fica na direção de Jerusalém. Ali se guardam os escritos sagrados, a Torá, escritos em pergaminhos.

    As sinagogas prestam serviços aos sábados, segundas e quintas-feiras, sendo que a cada cerimônia, é lido um trecho do texto que se encontra em hebraico e a leitura é feita de forma que ao longo de um ano toda a escritura seja lida.

    Os judeus possuem uma alimentação específica, sendo que dentre estas está incluída a proibição de comer qualquer tipo de alimento a base de sangue, já que a vida está no sangue.

    Os judeus não fazem distinção nítida entre a parte ética e a parte religiosa de sua doutrina. Tudo pertence à lei de Deus.

1.1.5.     Islamismo

    O islã teve origem na Arábia e ainda hoje está intimamente relacionado a cultura árabe. Entre outras razões, pelo qual o livro sagrado dos muçulmanos, o Corão ou Alcorão, foi escrito em árabe. O islã está altamente difundido na África e na Ásia e é praticado por uma sétima parte da população mundial (cerca de 15%), sendo a segunda maior religião do planeta, ficando atrás apenas do cristianismo.

    A palavra árabe islã significa “submissão”. Percebe-se na raiz do nome, que o homem tem que se entregar a Deus, ficando a disposição Dele para fazer todas as suas vontades. Este é uma condição para que você se torne um muçulmano.

    No islã, não está compreendida apenas a esfera espiritual, mas estão abrangidos também os aspectos da vida humana e social. A interpretação da lei, o direito, sempre ocupou espaço relevante na história do islã.

    Por muitos anos no Ocidente o islã ficou conhecido como “maometanismo”, pelo fato de ser influenciada pelo profeta Maomé.

    Maomé nasceu em Meca, na Arábia por volta de 570 d.C. e se tornou órfão ainda criança. Um de seus tios cuidou e sustentou-o até o dia em que o levou para trabalhar como condutor de camelos de uma rica viúva chamada Khadidja que mais tarde se tornaria sua esposa. Khadidja foi a primeira a seguir Maomé enquanto profeta.

    Todo ano, Maomé se retirava até uma caverna que ficava nos arredores de Meca para meditar. Esse também era o costume de monges e eremitas cristãos, todavia estes fundamentavam suas meditações em textos dos evangelhos.

    No corão, estão presentes revelações de Maomé. Assim os mulçumanos da mesma forma que os judeus e os cristãos, passaram a ter um livro sagrado. O corão só foi escrito após a morte do profeta.

    Após sua primeira revelação, Maomé começou a pregar em Meca. Proclamando-se profeta ou mensageiro de Deus, levantou ira nas famílias poderosas de Meca, pois suas ações levavam estes poderosos a crer que estava tentando roubar os poderes da autoridade política da cidade.

    Após a morte de seu tio e de sua esposa as coisas tenderam a piorar para o profeta e seus seguidores em Meca. Nessa época Maomé possuía seguidores na cidade de Medina, os quais estavam dispostos a lhe aceitar como um dos seus. Desta forma Maomé acabou por deixar Meca em 622 em segredo em direção a Medina.

    Em Medina, se tornou um líder religioso e político e conseguiu se firmar financeiramente assaltando caravanas que pertenciam a famílias de Meca. Maomé morreu por volta do ano de 632.

    O credo do islã está resumido em: “não há Deus senão Alá, e Maomé é seu profeta”. Alá em árabe significa “Deus”.

    O islã não proíbe a que se usufrua da vida na terra, mas deixa claro que acredita que a vida na terra é apenas uma preparação para uma vida eterna após o julgamento final.

1.1.6.     Cristianismo

    O cristianismo é a filosofia de vida mais comum entre as populações ocidentais. Compreender o cristianismo é essencial para conhecer o modo de vida da sociedade onde vivemos.

    A Bíblia, livro sagrado que embasa a doutrina cristã, é o livro mais lido do mundo hoje e em toda a história humana. A história do cristianismo se baseia em passagens bíblicas. A história do cristianismo segundo a Bíblia, teve início junto com a formação do universo através da palavra de Deus.

    No livro de Gênesis capítulo 1, versículo 1 em diante encontramos a descrição de como Deus formou o planeta.

    No Salmo 33, versículo 9 encontra-se uma passagem que diz: “por que Ele diz e a coisa acontece, Ele ordena e ela se afirma”, dando conta de que a crença em Deus é única e indiscutível.

    Para os cristãos, é fundamental entender e acreditar que Deus sustenta o mundo, e que se ele houvesse se retirado após a fundação do mundo, este teria entrado em colapso.

    De acordo com o livro sagrado para os cristãos, algumas gerações se passaram até que Jesus de Nazaré, o ungido de Deus nascesse. No cristianismo se acredita que Jesus seja o próprio Deus encarnado, e que portanto estar com ele é estar intimamente próximo do criador. Com a chegada de Jesus, os cristãos passaram a ter ensinamentos próprios, sem que dependessem das pregações judaicas. Embora Jesus fosse um judeu, ele passou adotar homílias próprias, que diziam dentre outras coisas o seguinte: “Vós aprendestes o que foi dito a vossos antepassados... Eu, porém, vos digo...”.

    Jesus nasceu por volta de 749 do calendário romano, viveu sua juventude na Judéia em um período em que o território judaico era comandado por tropas romanas. Por volta do ano 29 e 30 de nosso calendário, Jesus foi condenado por blasfêmia por um tribunal religioso judaico, sendo assim condenado a morte por Pôncio Pilatos.

    Os cristãos acreditam que Jesus após a morte tenha ressuscitado após três dias, e que continua vivo até os dias atuais, sendo que no dia do julgamento final este voltará para julgar os vivos e os mortos.

    Após a morte de Jesus, seus seguidores (intitulados apóstolos) continuaram a pregar seus ensinamentos.

    A cruz é o maior símbolo da fé cristã, tendo em vista de que foi em uma cruz que Jesus foi assassinado.

2.     A Educação Física

    A educação física existe desde o surgimento do homem primitivo, este utilizava sem nenhum conhecimento acadêmico de elementos ligados a esta ciência para escapar do perigo das feras e inimigos, conseguir alimentos, para homenagear deuses, para festejar vitórias entre outras. O homem desta época, por possuir um contato muito grande com a natureza, precisava correr, saltar, marchar, arremessar, nadar, jogar, etc. (Gutierrez, 1985).

    Durante toda a sua existência o homem precisou se adaptar e buscar mudanças necessárias para que sua vida se tornasse mais fácil. As dificuldades encontradas pelo homem para o convívio em sociedade levaram este a fundar diversos esportes de forma primitiva. O fato de o homem precisar caçar para comer, o levou a criar ferramentas que pudessem auxiliar nesta tarefa. Assim por exemplo surgiu o lançamento de dardo, quando o homem criou uma espécie de lança a qual utilizava para abater animais que serviriam para a sua alimentação. Outras modalidades ainda surgiram com influência do homem primitivo. Por serem nômades estes homens da antiguidade seguidamente precisavam lutar com inimigos por território e estas lutas muitas vezes se davam até a morte, para facilitar a vitória o homem passou a incorporar em suas lutas técnicas que até então não possuía, surgindo assim as primeiras técnicas de arte marcial. Ainda com o intuito de lutar por território e tendo em vista que muitas tribos haviam se apropriado de técnicas que auxiliavam nas lutas, outras tribos deram início a um processo de invenção da lâmina, o que seria utilizado como arma (espada) para facilitar a eliminação dos adversários, o que levou a fundação do esporte hoje denominado esgrima.

2.1.     Educação Física Escolar

    “Enquanto disciplina escolar a educação física teve seu inicio no ano de 1774, quando Johann Bernard Basedow a incluiu na grade curricular de ensino da escola-modelo de Dessau na Alemanha e em 1801 passou a figurar no ensino público da Dinamarca” (Revista Escola).

    A educação física enquanto objeto de estudo tem por objetivo trabalhar as áreas do desenvolvimento motor, social e cognitivo dos alunos, colaborando na formação de indivíduos críticos para que possam analisar o mundo a sua volta. No entanto a ciência ainda encontra alguns tipos de pré-conceitos que particularmente acreditava ser motivado pelo formato esportivisado que as aulas de educação física possuíam em seus primórdios, porém com as pesquisas, concluímos que não apenas a prática esportiva era “discriminada”, mas também algumas manifestações culturais e folclóricas como: cultura afro-brasileira, carnaval, capoeira entre outras.

2.2.     A discriminação

    Algumas denominações religiosas exercem influência discriminatória à prática docente de profissionais do ramo de educação física por meio de dogmas religiosos impostos por líderes ligados a elas.

    Para tentar entender um pouco sobre o assunto utilizamos como alicerce o trecho de Ferreira (apud Rigoni, 2010) que diz que

    ...todas as crenças supõem uma classificação das coisas em “reais” ou “ideais” e que, para ele, estão ligadas ao profano e ao sagrado, respectivamente. E também diz que a divisão entre sagrado e profano traduz o pensamento religioso. A exemplo disto teríamos os homens como profanos e, portanto, reais e os deuses como sagrados e, portanto, ideais. Os ritos, por sua vez, são responsáveis pela comunicação entre ambos.

    Isso nos faz acreditar que o corpo para algumas religiões é tido como algo “real” e, portanto “profano”. Ximenes (1954) classifica o profano como: “não sagrado; que desrespeita coisas sagradas”, no entanto a Bíblia Sagrada, livro que rege as ideologias das igrejas cristãs nos traz na primeira carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, capítulo 6 e versículo 19 que: “acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?”.

    Acreditando que o professor tem um caráter formador, entende-se que este deva proporcionar aulas que possam ser vivenciadas por todos, como diz Stumpf (apud Oliveira, 2010):

    Si pretendemos que a educação física contribua para o desenvolvimento dos alunos como cidadãos, é necessário priorizar o princípio da inclusão, criando condições efetivas para que os alunos (meninos, meninas, habilidosos, gordinhos, magrinhos, portadores de necessidades especiais e outros) possam participar das aulas...

    Quando Stumpf fala em outros, podemos entender que estes “outros” possam vir a ser alunos que freqüentam determinadas religiões cujos dogmas não autorizam suas participações nas aulas de educação física.

    Quando o corpo deixa de ser menosprezado pela religião que o proíbe de se manifestar, deixa também de ser manipulado pelo sistema, que por ser ditador, caminha paralelo a religião, porém, em caminhos completamente diferentes e conflituosos e para isso o professor de educação física e suas aulas são imprescindíveis, pois possuem o papel de romper barreiras impostas pelo sistema capitalista, proporcionando o desenvolvimento de seus alunos e marcando suas vidas positivamente.

    As restrições impostas por pais e líderes religiosos através de dogmas, podem e vão influenciar diretamente na vida destas crianças quando adultas, pois o único mundo que conhecerão será o vivido que infelizmente não é o mundo real muitas vezes.

2.3.     A influência

    A Educação Física exerce fundamental importância na formação do individuo enquanto ser inserido no contexto social, assim como também a religião, no entanto encontramos em alguns seguimentos religiosos a idéia de que a Educação Física exerce um papel negativo no desenvolvimento de seus fiéis, proibindo assim estes de freqüentarem as aulas desta disciplina.

    De acordo com pesquisa realizada por Dresch (2013) a única argumentação para não praticar atividades físicas é de que na Bíblia existe uma passagem que diz: “Pois o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser” (1Tm 4,8) o que não se caracteriza como um argumento relevante.

    Em pesquisa realizada sobre as religiões existentes, nenhum outro motivo foi encontrado para tais proibições, levando-nos a acreditar que a Educação Física passa a ser um objeto passível de discriminação, levando em conta a sua abrangência esportiva. Ou de contato e exposição corporal?

    Levando-se em consideração o que nos traz o Coletivo de Autores (1992), a educação física tem o papel de transformar o mundo por meio de vivencias que possibilitem a apropriação do conhecimento tendo como instrumento as diferentes possibilidades encontradas na cultura corporal, acreditamos que esta possa auxiliar de forma positiva na conscientização de indivíduos religiosos.

    Dentro de diferentes religiões, existem diferentes culturas, e a Educação Física pode desempenhar o papel de identificador destas, auxiliando aos alunos que participam destas diferentes religiões a se identificarem como seres inseridos na sociedade. Acreditando ainda que a Educação Física não possui o papel de ensinar a prática de esporte, mas de ensinar a apropriação da cultura corporal, e de que esta pode ser por meio do esporte, a vemos, portanto como uma formadora de oportunidades para tornar o individuo critico.

3.     Conclusão

    A realização desta pesquisa nos proporcionou varias possibilidades de analisar questões de diferentes formas, possibilitando, portanto compreender o papel desempenhado pela Educação Física e também o papel desempenhado pela religião, entendendo que estas possuem caráter distinto, porém acreditando que possam se tornar aliadas em futuras caminhadas.

    Aprendemos que a Educação Física em seu papel de apropriação da cultura corporal, muitas vezes deixa a desejar pelo fato de não possuir uma linha de ação formada, nos levando a entender que muitos professores ainda se formam e ao chegar à escola apenas disponibilizam bolas para que os alunos joguem.

    Entendemos que a Educação Física deve criar métodos que visem a divulgação de sua nova identidade, sabendo que em muitos casos esta nova identidade pode vir a ser menosprezada por décadas, mas que pode também ser identificada como a maneira apropriada de trabalhar, possibilitando assim novas parcerias.

    Compreendemos que a religião, não está exercendo o seu papel, nos referindo ao significado da palavra do latim “religare” que visa religar algo ou alguém ao outro. E que esta também está desempenhando o papel de discriminadora sem ao menos conhecer o verdadeiro papel que a Educação Física exerce dentro da escola.

No entanto, pensando no bem estar dos alunos, acreditamos que o professor deve se adaptar a diferentes visões que existem a respeito da disciplina, proporcionando assim possibilidades para o desenvolvimento de uma prática.

    Portanto é relevante salientar que os futuros professores devem estar preparados para a diversidade cultural que encontrarão ao ingressarem na escola.

    Estes argumentos nos fazem concluir que tanto religião quanto professor devem deixar de lado determinadas questiúnculas, e se dedicarem a um único propósito que é querer o melhor para o ser humano. O dia em que a religião e a Educação Física assumirem o seus reais papéis estas diferenças passarão a ser apenas divergências de opiniões mas que podem muito bem ser resolvidas entre si.

    Sugiro levantar hipóteses sobre possíveis causas da influência da religião no impedimento da participação nas aulas de EF.

Bibliografia

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