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A formação profissional docente

La formación profesional docente

The professional teachers training

 

Professor Assistente

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

(Brasil)

Kleber Silva Rocha

klebersrocha@msn.com

 

 

 

 

Resumo

          A temática formação de professores urge numa necessidade constante de debate, visto que, as discussões que giram em torno da profissionalização são crescentes, com isso há uma preocupação e interesse, tanto para os investigadores como para os formadores. A formação de docentes ganha um novo contorno ao se perceber que a escola de massas tem dado uma nova realidade sociológica, pedagógica e organizacional, discutir a formação a partir da concepção profissional do professor, poderá atender as novas demandas estruturais através da diferenciação, da especialização e da hierarquização de funções do estatuto.

          Unitermos: Formação profissional. Identidade profissional. Docência.

 

Abstract

          The theme teachers training is in a constant need for debate, since the discussions about the professionalization are growing, there is a clear worry and interest for both researchers and for trainers. Teachers training gets a new face when is realized that the school masses have given a new sociological, pedagogical and organizational reality, discuss the training from the professional conception of teacher, can meet the new structural demands through differentiation, specialization and the hierarchy ranking of the statute functions.

          Keywords: Professional qualification. Professional identity. Teaching.

 

Recepção: 29/07/2015 - Aceitação: 03/09/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 208, Septiembre de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A formação profissional do professor é um tema que requer ampla discussão no cenário atual, porque, o mundo contemporâneo marcado pelas aceleradas transformações, seja dos conhecimentos, da expansão tecnológica, das informações veiculadas pelos meios de comunicação, da expansão demográfica, entre outros, requer exigências educativas que respondam a essas mudanças sociais.

    Ser professor neste contexto exige um redimensionamento no próprio conceito de ser professor, ou seja, é preciso discutir a profissão do professor. Formosinho (2009) apresenta um conjunto de cartas de professores, nestas revelam diferentes perspectivas do que é ser professor, podendo ser abordadas em cinco características: missionário, militante, laboral, burocrático e romântico. Neste sentido, este mesmo autor compreende que há duas concepções distintas do professor, sendo elas: concepção laboral, a qual se apresenta nos discursos das cartas dos professores e a concepção profissional.

    A escola ao longo do processo histórico vem apresentando característica de formação com o princípio do professor sob concepção laboral, contudo percebe-se que para atender as demandas deste mundo contemporâneo, em que as escolas de massas têm dado uma nova realidade sociológica, pedagógica e organizacional, discutir a formação a partir da concepção profissional do professor, poderá atender as novas demandas estruturais através da diferenciação, da especialização e da hierarquização de funções do estatuto. (Formosinho, 2009)

    Portanto, discutir a profissão do professor é levar em consideração toda a construção histórica da profissão, embora as profissões remontem ao século XVII, as primeiras tentativas de sistematizar estudos sobre profissões só iniciaram no século XX. Alguns autores reconhecem que houve dois períodos relativos à conceptualização de profissão: o primeiro, anterior à década de 70 do século XX, baseado na abordagem funcionalista a fundamentava e o outro, posterior marcada pela emergência de uma pluralidade de teorias. (Santos, 2011)

    Mas antes de discutir a profissão do professor, devemos fazer a seguinte pergunta: O que é uma profissão? E para responder tal questão, leva-se em consideração o “tipo ideal” que é uma tipificação abstrata da realidade. “O ‘tipo ideal’, instrumento sociológico criado por Max Weber, foca o que é típico e essencial na realidade a descrever, expurgando-a do que nela é acessória ou acidental” (Formosinho, 2009, p. 31). Significa dizer, que as diversas correntes teóricas não estão de acordo entre si, permitindo a pontuação de uma determinada perspectiva de acordo com o contexto espaço-temporal e cultural dominante. Entre as correntes teóricas na terminologia da sociologia das profissões podemos citar as, funcionalistas e interacionistas que correspondem ao primeiro momento histórico da análise das profissões, que decorreu até os meados dos anos 70.

    Vejamos o construto do conceito de profissão a partir das correntes citadas. O funcionalismo adiciona uma variável ao pensamento social da época e que se consubstancia na lógica de que a organização social possui prioridade sobre o sujeito, na medida em que a sociedade, como um todo orgânico, contém uma finalidade própria onde cada elemento executa uma determinada função no sentido de agir um fim ou o bem comum. Então a influência epistemológica do funcionalismo na concepção de profissão se deu:

    [...] o objetivo principal da análise da profissão não é a sua distinção ou caracterização como atividade laboral, mas sim a sua apreensão enquanto conjunto de atores sociais específicos (o grupo profissional) que deve responder às exigências da organização econômica e social das sociedades modernas. (Durkheim, 1960 citado por Santos, 2011, pp. 15-16, grifo do autor)

    Por outro lado, as teorias interacionistas têm dupla abordagem da profissão: biografia e interação (Dubar & Tripier, 1998, citado por Santos, 2011), o que implica que todas as atividades laborais devam ser analisadas na sua complexidade e nas relações dinâmicas que estabelecem entre si como sistemas autónomos e como grupos de atores sociais onde os processos subjetivos de interação social atingem uma importância fulcral. Sendo assim, o funcionalismo privilegia os aspectos formais e organizacionais da institucionalização da profissão, enquanto que o interacionismo postula o conhecimento identitário da profissão. Sobre a identidade abordaremos mais à frente, mas saliento que esse breve relato sobre essas correntes é apenas para nos situar em termos de construto do conceito de profissão.

    Com a reconfiguração social que emergem a partir dos anos 60 do século passado, eclode um movimento crítico aos paradigmas funcionalistas e interacionistas, e os debates inacabados destas abordagens sobre a profissão dão lugar a novas abordagens sociológicas. O novo contexto histórico e econômico traz consigo o crescente monopólio financeiro e o controle econômico. Bem como as inovações tecnológicas que colocaram outra ênfase na competitividade e nos mercados de trabalho. “Estas novas correntes teóricas tendem a considerar as profissões como atores coletivos do mundo econômico que são objetivadas em torno do mercado do trabalho e estabelecem um controle das suas próprias atividades.” (Santos, 2011, p. 27)

    A partir deste movimento crítico surgem duas conseqüências metodológicas na análise das profissões:

    [...] a primeira, refere-se à análise dinâmica do processo de obtenção de estatuto de uma profissão, sendo que esta análise deixa de estar linearmente relacionada com as características estáticas e os atributos necessários à obtenção de um ‘tipo ideal’ de profissão. A segunda questão refere-se à passagem do reconhecimento e visibilidade social das profissões – fundamentada, essencialmente, nos aspectos endógenos – para as questões sociais inerentes ao processo da profissionalização. (Rodrigues, 2002, p. 34)

    Nessa perspectiva de profissionalização, como podemos definir “ser professor”? Essa compreensão perpassa pelo construto de uma identidade e dela falaremos mais tarde, mas antes vale ressaltar que a identidade dos professores, como toda identidade, faz-se e é este fazer-se que constitui o que somos enquanto sujeitos que assumem a própria história de seu tempo, especialmente porque trabalham para construir a história de outros tempo e espaços.

O construto identitário

    A identidade está intimamente ligada à cultura e ao pós-colonialismo, uma vez que fazer parte de um grupo cultural significa identificar-se com ele e diferenciar-se dos outros; e, com o colonialismo e a conseqüente “alter-ação” das culturas, questões surgem em torno dos processos de identificação. A identidade é um processo ambivalente: identificar-se com um grupo e ao mesmo tempo, diferenciar-se dos outros; logo, identidade e diferença parecem indissociáveis.

    Uma identidade não se faz como tal se não houver outra(s) identidade(s) da(s) qual(is) ela pode e precisa diferenciar-se, há identidade porque há um outro a constituí­-la. Como afirma Hall (2003, p. 110), as identidades são construídas pela diferença e não fora dela, o que implica o reconhecimento perturbador de que é apenas por meio da relação com o outro, da relação com aquilo que não "é", com aquilo que falta, com esse "exterior constitutivo", que o significado "positivo" de qualquer termo, faz a identidade ser construída. As identidades -continua o autor- podem funcionar, ao longo de toda a sua história, como pontos de identificação e apego apenas em razão de sua capacidade para excluir, para deixar de fora, para transformar o diferente em “exterior”:

    As discussões sobre identidade pôde definir identificação como um processo de outorga de nome, que faz com que cada um de nós coloque-se em categorias socialmente construídas, tendo a linguagem um papel importante nesse processo. Herdeiro mais recente desse debate, Goffmann (1998) vai desdobrar essa discussão e propor o quanto a identidade é socialmente outorgada, sustentada e transformada, reforçando o argumento de que as pessoas constroem suas identidades pessoais a partir dos grupos e culturas em que vivem. Nessa direção um paralelo interessante pode ser traçado entre a noção de como se constitui memória e como se constrói identidade.

    Tanto a sociologia quanto a psicodinâmica na modernidade preocupam-se com a fragmentação e a dissolução das comunidades, que faz com que as pessoas percam seu senso de pertencimento e de identidade, por isso mesmo a anomia, provocada pelas intensas transformações ocorrentes no mundo moderno, tem se tornado importante objeto de estudo no presente.

    Mais recentemente a área que mais tem se dedicado aos estudos sobre identidade tem sido a antropologia. A lingüística também presta especial atenção a esse assunto, principalmente em estudos sobre a teoria da comunicação. Além de todas essas áreas da produção de conhecimento nas ciências humanas, o surgimento dos Estudos Culturais marca a história do conceito de identidade e escritos de autores como Hall são muito importantes para sua revisão. Suas idéias relacionam identidade e diferença, apresentando identidade como uma construção relacional, que necessita do diferente para se constituir.

    as sociedades da modernidade tardia são caracterizadas pela ‘diferença’; elas são atravessadas por diferentes divisões e antagonismos sociais que produzem uma variedade de diferentes ‘posições do sujeito’ – isto é identidade – para os indivíduos. Se tais sociedades não se desintegram totalmente não é porque elas são unificadas, mas porque seus diferentes elementos e identidades podem, sob certas circunstâncias, ser conjuntamente articulados. Mas essa articulação é sempre parcial: a estrutura da identidade permanece aberta. (Hall, 2005, p.17)

    Hall vai além, na medida em que seus estudos retomam todo esse percurso do conceito e sintetizam explicações que aproximam a dinâmica dos significados estabelecidos pela língua da dinâmica social em busca de identidade. Para ele:

    ... os significados das palavras não são fixos, numa relação um-a-um com os objetos ou eventos no mundo existente fora da língua. O significado surge nas relações de similaridade e diferença que as palavras têm com outras palavras no interior do código da língua. [...] Observa-se a analogia que existe aqui entre língua e identidade. Eu sei quem ‘eu’ sou em relação com o ‘outro’ [...]. Como diria Lacan, a identidade, como o inconsciente, ‘está estruturada como a língua’. O que modernos filósofos da linguagem – como Jaques Derrida, influenciados por Saussure e pela ‘virada lingüística’ – argumentam é que, apesar de seus melhores esforços, o/a falante individual não pode, nunca, fixar o significado de sua identidade. As palavras são ‘multimodulares’. Elas sempre carregam ecos de outros significados que elas colocam em movimento, apesar de nossos melhores esforços para cerrar o significado. Nossas afirmações são baseadas em proposições e premissas das quais nós não temos consciência, mas que são, por assim dizer, conduzidas na corrente sanguínea de nossa língua. Tudo que dizemos tem um ‘antes’ e um ‘depois’ [...]. O significado é inerentemente instável: ele procura o fechamento (a identidade), mas ele é constantemente perturbado (pela diferença). Ele está constantemente escapulindo de nós. Existem sempre significados suplementares sobre os quais não temos qualquer controle, que surgirão e subverterão nossas tentativas para criar mundos fixos e estáveis. (Hall, pp. 40-1)

    A identidade aparece como o resultado de uma busca, uma ação em sentido contrário à instabilidade constante. Não é algo que se conquiste facilmente, tão pouco que não exija esforços para sua manutenção. É preciso vigília constante. A diferença de ser despossuída, de não ter terra, que foi elemento de atração para o movimento, internamente é insuficiente. Outras muitas diferenças surgem, de forma a concorrer ou suplementar o que inicialmente significou ser sem-terra. Isso causa nova instabilidade e mantém o movimento interno do grupo.

    Teoricamente, identidade se tornou, em si, um assunto interdisciplinar que passou a ser estudado sob diversos prismas. Os historiadores, por sua vez, aproximam-se desse debate, impulsionados pelos ventos da interdisciplinaridade, mas também por toda a discussão gerada pelos pensadores ditos pós-modernos.

    Considera-o como uma formação social na qual, sob o impacto do fim da predominância da influência religiosa, da democratização, da informatização e do consumismo, o mapa e o status do conhecimento estão sendo retraçados e reescritos.

Identidade profissional

    Vejamos o processo da construção da identidade no víeis profissional, a teoria da construção de identidades profissionais de Dubar (1997) faz deste reconhecimento à fonte de formação da identidade. Nesta, o grupo profissional deixa de ser referente para a formação da identidade e são os lugares sociais das relações concretas (os contextos do trabalho) os novos mapas para a sua construção. As identidades profissionais são definidas como identidades sociais onde os saberes profissionais, constituindo um verdadeiro universo simbólico, assumem particular relevância nas lógicas de reconhecimento.

    De acordo com Dubar (1997) a construção de novas identidades profissionais para a mudança social real exige que as mudanças instrumentais dos sistemas de produção do trabalho acompanhem as mudanças de comunicação das relações de trabalho, o que implica que as mudanças instrumentais entrem em contradição com as relações de poder existente. “[...] produzir identidades e atores sociais orientados para a produção de novas relações sociais e susceptíveis de se transformarem eles mesmos através de uma ação coletiva” (Dubar, 1997, p. 104)

    A relação de trabalho é um processo em constante construção e com características dinâmicas, possuindo múltiplas interações sociais, a identidade apresenta-se como algo complexo e principalmente na componente profissional.

    a formação profissional assume uma importância fulcral neste processo, devendo contemplar não apenas a aquisição de saberes e o desenvolvimento de competências, mas também a integração das dinâmicas referidas, nomeadamente patentes nos processos motivacionais, representacionais e sociais. Desde a formação inicial, deve realizar-se uma socialização profissional, pelo menos de forma antecipatória, promovendo o conhecimento da realidade da profissão e permitindo o confronto e a (re)elaboração das representações profissionais, incluindo a imagem da profissão e de si próprio relativamente à profissão. Este processo deve articular-se com o esclarecimento e a (re)estruturação do projeto profissional individual, relacionado com a motivação para a profissão. (Nascimento, 2007, p. 208)

    Para Dubar (1997) a transformação da identidade assim preconizada depende da articulação durável de um aparelho de legitimação e de uma reinterpretação da biografia passada. Sendo que, esse aparelho de legitimação é um aparelho de conservação que permite a transformação do mundo vivido pela transformação da linguagem e um laboratório de transformação que permite a conservação de uma parte da identidade antiga ao longo da identificação a outros significativos novos percebidos como legítimos.

    A partir dessas análises sobre identidade e identidade profissional, entende-se que o professor é um profissional que está sempre se fazendo, e este fazer, se constitui através da identidade docente, cuja compreensão não se desvincula dos projetos sociopolíticos vigentes, dos processos de socialização experimentados pelo professor, dos saberes e práticas que permeiam seu trabalho. A identidade profissional não se desloca das múltiplas experiências de vida, tanto pessoal quanto profissional. Apoiada nesse pressuposto ressalta a história de vida, a formação e a prática docente como elementos constituintes do processo identitário profissional do professor.

    Para se pensar, compreender e refletir sobre essa formação de professores, as instituições responsáveis por esse processo formativo, deve direcionar para uma nova concepção de formação docente, neste sentido, além de oferecer a formação de professores com identidade própria, não pode deixar de re-pensar e re-significar o exercício da docência a favor da formação profissional mais consistente do professor, de modo a atender melhor as demandas a ele impostas no dia de hoje.

Bibliografia

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Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados