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Representações sobre corpo e velhice
e suas implicações no cotidiano dos sujeitos

Representaciones sobre el cuerpo y la vejez y sus implicancias en la vida cotidiana de los sujetos

Representations about body and old age and their implications in the everyday of the subjects

 

*Doutor em Educação Física e docente

na Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, SP

**Discente do curso de Pedagogia

na Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, SP

(Brasil)

Adalberto dos Santos Souza*

Ana Alice Fernandes Nagahama**

Ariadine Zaramella Nogueira**

Stefane Silva**

neysouza11@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A pesquisa sobre as representações a respeito do corpo e da velhice e as suas implicações no cotidiano dos sujeitos, teve como base o fato de que cada vez mais a nossa sociedade está pautada na apologia ao novo, considerando o velho como algo descartável, improdutivo. A partir disto, propusemos uma pesquisa sobre o tema na Unidade Curricular Práticas Pedagógicas Programadas III (PPP III), oferecida no curso de pedagogia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Escolhemos como público para a realização da pesquisa, os alunos dos cursos oferecidos na Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Unifesp, no Campus da Cidade de Guarulhos-SP. O objetivo da investigação foi o de identificar e discutir como os acadêmicos dos cursos oferecidos no Campus percebem o processo de envelhecimento na contemporaneidade e a relação desse processo com o seu corpo. Para atingirmos os objetivos desejados elaboramos um roteiro de entrevistas que foi aplicado de forma aleatória a 30 alunos que circulam cotidianamente nas dependências da Universidade. Após a tabulação e interpretação dos dados, pudemos perceber que os alunos ainda têm uma visão sobre o corpo e a velhice que passa por construções sociais fortemente influenciadas pela mídia, e que ainda não é claro para eles, os significados relativos ao envelhecer, inclusive, na visão de muitos deles, a velhice inicia-se a partir dos 40 anos, o que faz com que a sua percepção do envelhecer esteja ligada estritamente a idade cronológica.

          Unitermos: Corpo. Velhice. Representações sociais.

 

Abstract

          The research about the representations regarding the body and of the old age and their implications in the daily of the subjects, he had as base the fact that more and more our society is ruled in the apology to the new, considering the old as something disposable, unproductive. Starting from this, we proposed a research on the theme in the Unit Curricular Programmed Pedagogic Practices III (PPP III), offered in the course of pedagogy of the Federal University of São Paulo (Unifesp). We chose as public for the accomplishment of the research, the students of the courses offered in the School of Philosophy, Letters and humanities of Unifesp, in the Campus of the City of Guarulhos-SP. The objective of the investigation was it of to identify and to discuss as the academics of the courses offered at the Campus notice the aging process in the contemporaneity and the relationship of that process with his body. For us to reach the wanted objectives elaborated an itinerary of interviews that was applied from a random way to 30 students that circulate daily in the dependences of the University. After the tabulation and interpretation of the information, we could notice that the students still have strongly a vision on the body and the old age that it goes by social constructions influenced by the media, and that it is not still clear for them, the relative meanings when aging, besides, in the vision of many of them, the old age begins starting from the 40 years, what does with that his/her perception of aging is linked strictly the chronological age.

          Keywords: Body. Old age. Social representations.

 

Recepção: 30/03/2015 - Aceitação: 20/06/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 207, Agosto de 2015. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A constante busca pela “construção” de um corpo “perfeito” e da juventude “eterna”, que atenda ao padrão de cada sociedade sempre fascinou o homem desde a Grécia antiga, berço da civilização ocidental onde surgiu a ideia do corpo perfeito conquistado por meio da atividade física. Seus homens “malhavam” por um físico ideal de inspiração divina, se exibiam e se admiravam. Eles perceberam que a nudez, além de bela, melhorava o desempenho do atleta, sobretudo nas competições gregas - os Jogos Olímpicos. Desejar um corpo belo, forte e rápido era um meio de se aproximar dos deuses e, com isso, da perfeição, tanto no caso dos homens, quanto das mulheres. Mas, sabemos também, que esta busca sempre ajudou a ditar o padrão corporal das mais diversas sociedades.

    Em virtude deste pressuposto, é que surgiu a intenção em realizar uma pesquisa que procurasse identificar e discutir como os acadêmicos da Unifesp, na área de Humanidades, percebem o processo de envelhecimento e a sua relação com as representações sobre corpo na contemporaneidade. Sendo que o termo representação é utilizado aqui com o mesmo sentido dado por Chartier (1990), no qual a representação é o produto do resultado de uma prática.

    Para atingirmos o objetivo proposto, desenvolvemos uma pesquisa em conjunto com os alunos matriculados na Unidade Curricular PPP III, oferecida pelo curso de Pedagogia da Unifesp. Ela ocorreu nas dependências da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) no campus de Guarulhos. A metodologia utilizada foi uma combinação entre as abordagens qualitativa e quantitativa. Em relação à abordagem qualitativa, Minayo (2004) afirma que este tipo de pesquisa busca responder as questões particulares, a partir de um nível de realidade que não pode ser quantificado, na medida em que ela trabalha com o universo de significados, motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes, que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

    O estudo constou de três partes básicas, primeiro um levantamento bibliográfico acerca do tema, seguido da pesquisa de campo com a realização de uma entrevista semiestruturada e, finalmente, a análise e interpretação dos dados (Gil, 2009).

    Sobre a forma de abordagem, a opção pela entrevista semiestruturada se deu pelo fato da mesma, segundo Lüdke e André (1986), ter como grande vantagem em relação a outras, o fato de permitir a captação imediata e corrente da informação desejada. O fato da entrevista semiestruturada não ter uma ordem rígida de questões, permite segundo os autores, correções esclarecimentos e adaptações que a tornam de sobremaneira eficaz na obtenção das informações (idem, p. 34).

    As entrevistas foram realizadas com os alunos dos cursos de História, Ciências Sociais, Filosofia, Pedagogia, Letras e história da arte. Foram escolhidos de forma aleatória 30 alunos que circulavam cotidianamente nas dependências da Universidade. Destes 30 entrevistados, 15 eram homens, 14 mulheres e um se declarou homossexual.

    O roteiro utilizado para as entrevistas contou com 07 questões que tinham como objetivo avaliar o pensamento destes alunos a respeito dos significados sobre corpo e o envelhecimento na atualidade. Posteriormente a coleta de dados, eles foram tabulados e categorizados para a realização da analise temática de conteúdo dos depoimentos dos sujeitos pesquisados. As categorias criadas para a análise do material foram feitas de acordo com o Modelo Misto, que na visão de Laville e Dione (1999), possibilita com que algumas categorias sejam definidas a priori, não impedindo, contudo, que elas possam ser revistas em função do que a análise apontar.

Corpo e velhice: construindo representações

    Explicar como são construídas as representações sobre o corpo e o conceito de velhice pela lente das ciências humanas é avançar em relação às explicações centradas apenas na perspectiva biológica. Pensar estas representações na sua totalidade nos aproxima da perspectiva cultural, e com isso, o corpo deixa de ser apenas um conjunto de ossos, músculos e articulações para se tornar sede de signos sociais. O corpo passa a ser pensado como linguagem e comunicação, ao invés de ser somente expressão física.

    A partir desta perspectiva, podemos também pensar em como a construção das representações sociais sobre corpo, em nossa sociedade, sofre uma influencia cada vez mais contundente dos meios de comunicação de massa. Segundo Thompson (1998, p.44) isso ocorre porque “os indivíduos que recebem os produtos da mídia são geralmente envolvidos num processo de interpretação através do qual esses produtos adquirem sentido”. O autor acrescenta que isso não ocorre de forma súbita e singular, e sim, de forma lenta,

    [...] “no qual algumas mensagens são retidas e outras são esquecidas, no qual algumas se tornam fundamento de ação e reflexão, tópico de conversação entre amigos, enquanto outras deslizam pelo dreno da memória e se perdem no fluxo e refluxo de imagens e ideias.” (Thompson, 1998, p.46).

    Portanto, representação, linguagem e comunicação estão intimamente ligadas, e ao mesmo tempo, influenciadas pelos meios de comunicação de massa, no que diz respeito a suas construções. Fato este que veremos com maior detalhe nas falas dos entrevistados.

    Esse fluxo e refluxo das informações e como elas são “internalizadas” por cada um pode trazer aos sujeitos um sentimento de solidão em relação ao seu corpo, um isolamento que na visão de Barbosa, Matos & Costa (2011), cria “guetos individuais”. De fato, cada vez mais pessoas investem no seu corpo, na busca pela juventude eterna, e a mídia, astutamente, investe cada vez mais pesadamente em exibir corpos considerados dentro do padrão estético culturalmente aceito como ideal. O que se vende é a possibilidade de se permanecer vivo, belo e jovem.

    As indústrias de beleza e saúde hoje possuem no corpo o seu maior consumidor, o que faz da ambiguidade sobre o conhecimento do corpo um traço da cultura moderna. O corpo transforma-se em objeto, material de consumo corrente, transforma-se, simplesmente, em um objeto de preocupação estética (Volp et al, 1995). A necessidade humana de se encaixar nesse padrão estético pode desencadear uma imagem de crise, seja ela dos fundamentos da nossa cultura ou mesmo à própria crise individual, o que faz com que ocorra uma batalha interna entre as representações sobre o corpo que temos e o corpo que queremos.

    As propagandas dos produtos ligados à estética corporal são apresentadas quase sempre associadas a um corpo saudável, sensual e jovem, objetivando um vínculo do produto a ser consumido, com momentos de prazer (Da Matta, apud Gonçalves, 1997). Este corpo suscetível aos interesses que o padronizam, deve ser compreendido como resultante de fatores socioculturais cuja construção se faz de modo interdependente do meio de interação e, por isso, reflete aspectos ressaltados em um contexto. A sua autoimagem é reavaliada durante toda a vida conforme a dinâmica do ambiente, e está atrelada a aspectos psicológicos que envolvem uma autopercepção.

    Verifica-se, atualmente, uma valorização de imagens de juventude, saúde e beleza como ideais a serem alcançados, padrões esses difundidos pelos mais diversos meios de comunicação. Tais modelos reforçam a visão antagônica entre juventude e velhice, atividade e passividade. Nesse contexto, o ciclo biológico não é o único aspecto ressaltado, pois o corpo assume uma conotação simbólica que resulta das construções sociais, cuja imagem ideal é a da saúde e da beleza associada à juventude.

    Este dilema sobre o corpo não é algo novo, através da história da civilização, diferentes discursos científicos, poéticos ou religiosos tentaram dar conta da questão do corpo, do mistério de seu funcionamento, tomá-lo como seu objeto. Do ponto de vista conceitual, não há um corpo único, comum a todas as áreas do conhecimento ou das artes, mas sim diferentes discursos que tentam capturar esta problemática. Por exemplo, na Grécia antiga o corpo era tido como algo natural ao ser humano, na concepção religiosa ele era tido como algo divino, e no iluminismo, era a razão.

    Autor fundamental para a compreensão sobre este debate é Michel Foucault. Em suas obras ele estimula a analisar o corpo em seus confrontamentos com outros corpos, seja no cotidiano escolar, familiar, social, “público” e “privado”. Segundo o autor, os processos de subjetivação dos seres humanos – pelo emprego de relações de poder sobre o corpo – só podem ser entendidos como mecanismos sociais partindo do princípio de que tal corpo apresenta aspectos, formas de percepção e inserção constantes para o exercício de relações de poder.

    Foucault (2015) tenta identificar os mecanismos específicos de tecnologias, através dos quais o poder realmente se articula com o corpo. Para ele a disciplina vem tornar o corpo mais eficiente e mais dócil, e vice-versa. Estipula o que pode fazer e o que não deve fazer. Com base em tecnologias disciplinares, constrói-se uma “anatomia política” para melhor competência do corpo, diretamente ligada a maior enquadramento;

    Assim, desenvolvem-se formas para aperfeiçoar as forças corporais e igualmente para diminuí-las, em outras palavras, com o poder disciplinar produz-se, sempre, algum tipo de exercício sobre o corpo. Na atualidade, como resposta à revolta do corpo, encontramos um novo investimento que não tem mais a forma de controle-repressão, mas de controle-estimulação: “Fique nu... mas seja magro, bonito, bronzeado!” (Foucault, 1996, p. 147),

    Em relação aos conceitos sobre velhice, verificamos que esse saber precário é produto de uma visão parcial engendrada na prática de cada profissional e de preconceitos fortemente enraizados no cultural. Portanto, é o olhar do outro, culturalmente construído, que aponta o nosso envelhecimento (Goldfarb, 1998). A autora acrescenta que desde o nascimento a vida se desenvolve de tal forma que a idade cronológica passa a se definir pelo tempo que avança, e o tempo fica definido, assim, como sinônimo de uma eternidade quantificada, uma cota.

    Para Goldfarb (1998), nesta perspectiva o substantivo velho da lugar a “um senhor de terceira idade” ou “uma senhora de idade avançada”, e a muitas outras tentativas de nomeação de alguma coisa que não é mais nominável no discurso do homem da modernidade. Com isto, ser jovem ou velho torna-se algo ambíguo, uma vez que as noções de juventude e velhice passam por transformações constantes ao longo de nossa existência.

    A princípio, todos nós sabemos reconhecer um velho, contudo, é muito difícil defini-lo; com qual parâmetro o faríamos? A idade pode ser biológica, psicológica ou sociológica à medida que se enfoca o envelhecimento em diferentes proporções das várias capacidades dos indivíduo. Será que poderíamos utilizar um referencial biológico que desse conta da aparência ou das patologias tidas como clássicas para este período da vida? (como cabelos brancos, rugas, osteoporose, artrose, hipertensão, perda de memória, cardiopatias etc.). Mas como usá-los se estes sinais se manifestam muitas vezes bem antes que uma pessoa possa ser definida como velha ou em processo de envelhecimento? Estes são apenas alguns dos dilemas que enfrentamos ao tentar conceituar a velhice.

    Embora a ciência atual esteja colaborando para superar a maioria deles, ainda são controversas algumas definições. Será que poderíamos arriscar uma definição mais psicológica? (tomando parâmetros como enrijecimento do pensamento, certo grau de regressão, certo tipo de reminiscência ou à depressão). Mas será que esses parâmetros falam de todas as velhices? Ou se assemelham mais a um apanhado de negatividades do que a uma descrição correspondente a uma categoria universal. E se tomássemos como base a definição do ponto de vista das conquistas sociais; a aposentadoria, por exemplo. Faz de um sujeito um velho?

    Mesmo entre as pessoas acima de sessenta anos, as percepções das perdas, das incapacidades e das doenças são aspectos salientes das representações da velhice, o que torna a definição conceitual do que vem a ser muita idade um juízo de valor. Além disto, quando o corpo e tempo se entrecruzam, trazem como consequência o nascimento de diversas representações sobre a velhice, e com isto, cada pessoa passa a ter uma velhice singular, ou seja, as velhices passam a ser incontáveis.

    Com isto, retornamos aos questionamentos iniciais. Uma pessoa se torna velha a partir de um declínio orgânico, ou é a maneira como a veem que a define como velha? E quando uma pessoa se torna velha, é a partir de uma certa idade ou há um intervalo específico para isso? Será que o envelhecimento é um processo contínuo desde o nascimento?

    É justamente esta possibilidade de representações distintas sobre o corpo e a velhice, e as suas implicações no cotidiano dos sujeitos, que nos levou a pesquisar como elas são construídas pelos alunos que estudam na Unifesp no campus de Guarulhos.

O campo

    A imersão no campo ocorreu durante o primeiro semestre de 2014 e foram realizadas 30 entrevistas. Os entrevistados responderam a 7 questões determinadas previamente pelo grupo de pesquisadores, e como o objetivo era o de avaliar a construção das representações dos alunos a respeito dos significados sobre corpo e o envelhecimento, optamos por utilizar um roteiro de questões, estratégia muito recorrente na pesquisa semiestruturada (Gil, 2009).

    Após tabulação e a análise dos dados, algumas respostas saltaram aos olhos. Entre elas estão à questão da aparência e da mobilidade na velhice, e a dificuldade em determinar a partir de qual idade inicia-se o envelhecer. Sobre a aparência a mobilidade, a maioria das respostas apontava para uma negação do “ser velho”, em especial pela indústria midiática. Segundo eles, a televisão e a mídia, em geral, se preocupam em mostrar a jovialidade com algo eterno, trazendo a necessidade de uma busca constante, por parte das pessoas, pelo mito o da juventude eterna.

    Em relação à dificuldade para determinar a partir de qual idade inicia-se o envelhecer, percebemos que tal fato é influenciado pela idade de cada um dos entrevistados, e esta concepção varia de acordo com ela. A faixa etária média dos alunos era entre 18 e 30 anos, e na visão da maioria, a velhice inicia-se entre 41 e 60 anos. Embora a distância entre uma idade e a outra, como determinante da velhice seja longa, pudemos notar como fato que explica isto, que quanto mais próximo dos 40 anos, mais distante e a idade para se determinar o que é ser idoso. Ou seja, para quem tem 18, velho é ter 30, para quem tem 30, o velho é o de 50 ou 60, e assim sucessivamente.

    Outro dado relevante é que a maioria dos nossos entrevistados não relaciona a morte com envelhecer, sendo que em um total de 30 entrevistados, 25 responderam que não há uma relação direta, o que há na visão deles, é uma relação entre o estilo de vida de algumas pessoas e uma possível causa morte precoce.

    Percebemos durante o campo, que pensar no envelhecer ainda é raro entre os jovens, e essa reflexão do que vem a ser o envelhecimento parece algo distante de seus imaginários. Os entrevistados de maneira geral apresentaram dificuldades em compreender as questões colocadas a eles sobre o que é envelhecer em nossa sociedade.

    Quanto perguntados sobre a discriminação em relação ao “idoso”, 20 entrevistados relataram que já haviam presenciado algum tipo de discriminação, sendo que a maioria delas ocorreu em locais públicos, em especial nos transportes coletivos.

    Em uma das questões, perguntamos sobre a relação entre atividade, produção e a velhice, 18 responderam que os termos se relacionam e que é possível se manter ativo e produtivo na velhice, o que apresenta um dado que diverge do senso comum.

    Já quando questionados sobre a existência de um padrão de beleza na velhice, 25 afirmaram que há, mas poucos souberam exemplificar qual o padrão. 23 alunos também disseram nunca ter pensado ou ter feito algum tratamento estético para retardar o envelhecimento, contudo, quando perguntados se fariam algum tratamento, 25 responderam que possivelmente realizariam. Observamos que pensar sobre o envelhecimento ainda é algo raro entre os jovens, tal reflexão do que vem a ser o envelhecimento parece algo distante de seus imaginários.

    Destacamos aqui algumas respostas sobre o item padrão de beleza na velhice para compreendermos melhor a fala dos entrevistados.

    “sim existe padrão de beleza. A pessoa deve ser bem cuidada. Existem velhinhos que não se cuidam e ficam feios” (entrevistado 3);

    “Sim, é o padrão imposto pela mídia, onde a velhice deve se mostrar atual, com pessoas em boa forma física, saudáveis e com a pele bem conservada” (entrevistado 7);

    “Sim, todos os velhinhos tem um jeito de se vestir, creio que é algo de antigamente” (entrevistado 12).

    Percebe-se pelas falas que o olhar sobre a velhice, mesmo partindo de alunos dos cursos ligados a área das ciências humanas, ainda é enviesado e carregado de preconceitos, fato que reflete a concepção de velhice vigente em nossa sociedade.

    Esta falta de clareza sobre que é ser idoso no Brasil, fez surgir vários nomes para denominar as pessoas que estão nesta fase da vida. Terceira idade e idoso são apenas alguns deles. Não nos debruçaremos na discussão deles neste momento, contudo, o que se faz necessário é refletir criticamente sobre os efeitos que tais representações trazem consigo, e com isto, resignificar tais representações para que se valorizem os sujeitos como um todo e não apenas a imagem estampada com o tempo em nossos corpos.

Considerações finais

    Após a realização da pesquisa, pudemos perceber que em nossa sociedade ocidental contemporânea, a preocupação com o corpo e a aparência é algo essencial, e que tornar-se velho, para muitos, é carregar marcas negativas. Percebemos também a urgência de se resignificar os conceitos sobre a velhice, e que esta ressignificação não fique apenas no campo teórico, mas que a prática cotidiana das pessoas possa trazer qualidade vida aos que chegarem a esta fase da vida. Este alerta se faz necessário porque percebemos pela fala dos entrevistados, que a visão sobre o corpo e a velhice ainda é pautada por construções sociais fortemente influenciadas pela mídia. Não se mostrou claro para os alunos pesquisados, os significados relativos ao envelhecer e, quando se estabelece que a velhice inicia-se a partir dos 40 anos, fica evidente uma percepção do envelhecer ligada apenas a idade cronológica, sendo que isto se traduz na grande dificuldade em que eles tiveram para determinar o início do envelhecer. Diante destes dados, podemos inferir que entre os fatores intervenientes para a construção das representações sociais sobre corpo e o processo de envelhecimento em nossa sociedade, o que aparece de forma mais clara é o dos meios de comunicação de massa. Talvez seja por esta influencia que vivemos sob a égide da imagem perfeita, e que por isto, que o ser jovem e de vigor físico de hoje, tenha tanta dificuldade de se aceitar como o velho de amanhã. É imperativo que essas concepções sobre a beleza, o corpo e a velhice sejam resignificadas, e que ao invés de vivermos em um mundo de idosos que não se reconhecem no espelho, possamos viver em um mundo no qual os sinais do tempo sejam vistos de outra forma.

Referências bibliográficas

  • Barbosa, M. R., Matos, P. M., & Costa, M. E. (2011). Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje. Psicologia & Sociedade, 23(1), 24-34. Universidade do Porto, Portugal.

  • Chartier, R. (1990). A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand.

  • Foucault, M. (2015). Os corpos dóceis. Os recursos para o bom adestramento. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes. p. 117-161.

  • Foucault, M. (1996). Poder-corpo. In: Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal.

  • Gil, A.C. (2009). Métodos e Técnicas e Pesquisa Social. 5ª ed. São Paulo: Atlas.

  • Goldfarb, D. C. (1998). Corpo, tempo e envelhecimento. São Paulo: Ed. do Psicólogo.

  • Gonçalves, M. A. S. (1997). Sentir pensar, agir-corporeidade e educação. 2ª ed. Campinas: Papirus.

  • Laville, C. & Dionne, J. (1999). A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em humanas. Porto Alegre: ArtMed.

  • Lüdke, M; André, M. E. D. (1986). A Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU.

  • Thompson, J. B. (1998). A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petróplis, Rio de Janeiro: Vozes.

  • Volp, C. M.; Schwart, G. M; Deutsch, S. (1995). O conceito do corpo. Revista Motriz, v. 1, n. 2, 107-110, Dezembro.

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