Uma análise sobre a coesão referencial em produções textuais de alunos da educação básica Un análisis sobre la cohesión referencial en producciones textuales de los estudiantes de educación primaria An analysis on cohesion reference productions in education student’s textual basic |
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*Graduando do 5º período do Curso de Letras – Português da Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL, Campus III em Palmeira dos Índios Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID/CAPES/UNEAL **Mestre em Educação pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL Professor de Filosofia da Faculdade São Tomás de Aquino - FACESTA, em Palmeira dos Índios |
Max Silva da Rocha* José Bezerra da Silva** (Brasil) |
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Resumo Este artigo tem por objetivo analisar e compreender como alguns elementos textuais, neste caso a coesão referencial e suas ramificações, se mostram presentes e também de que forma se apresentam em produções textuais de alunos do ensino básico. Solicitamos aos nossos colaboradores da pesquisa que discorressem sobre o seguinte tema: Para que você estuda? Analisamos 10 amostras coletadas por esses discentes do 9º ano de uma escola pública localizada no município de Igaci, AL e notamos claramente inconsistências em seus textos. Analisamos essas produções e utilizamos como base teórica a Lingüística Textual e seu objeto de estudo, isto é, o texto. Para esse trabalho foi de suma importância os livros de Marcuschi (2008); Cagliari (2009); Koch (2012); Bortoni-Ricardo (2014) e Antunes (2005). Livros que foram essenciais durante toda pesquisa e realização desse estudo. Verificamos que os informantes alternaram várias palavras na escrita, ou seja, fizeram sim uso de elementos coesivos, porém sem conhecerem. Desse modo, os nossos colaboradores utilizaram alguns mecanismos lingüísticos coesivos tais como: substituição, referenciação, elisão e outros critérios textuais que tornam o texto coerente e coeso. Portanto, constatou-se que os textos apresentam vários problemas na sua estrutura, no entanto, muitos elementos coesivos foram encontrados nas produções finais dos alunos. Unitermos: Critérios de textualidade. Coesão referencial. Produções textuais.
Abstract This article aims to analyze and understand how some textual elements, in this case the reference cohesion and its ramifications, if present and also show how present in textual productions among elementary school students. We ask our employees research that would discourse on the following topic: What do you study? We have analyzed 10 samples collected by these students in 9th grade at a public school in the municipality of Igaci, AL and clearly noticed inconsistencies in his writings. We have analyzed these productions and used as the theoretical basis Textual Linguistics and its subject matter, i.e. the text. For this work was of paramount importance Marcuschi the books (2008); Cagliari (2009); Koch (2012); Bortoni-Ricardo (2014) and Antunes (2005). Books that was essential for all research and this study. We verified that the informants alternated several words in writing, or did so using cohesive elements, but without knowing. Thus, our employees used some cohesive linguistic mechanisms such as substitution, referencing, elision and other textual criteria that make coherent and cohesive text. Therefore, it was found that the texts have various problems in their structure; however, many cohesive elements were found in the final production of the students. Keywords: Textuality criteria. Reference cohesion. Textual productions.
Recepção: 12/06/2015 - Aceitação: 28/07/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 207, Agosto de 2015. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
O ensino superior brasileiro tem como suporte o ensino, a pesquisa e a extensão, a pesquisa se constitui em algo imprescindível para a obtenção de resultados sejam eles parciais ou conclusivos. Nessa perspectiva, abordamos a pesquisa, aqui tratada, com o intuito de trazer à tona o mundo caótico e complexo que encontramos no nível de educação básica na escola onde ocorreu a nossa observação e análise. Este trabalho tem como objetivo analisar as produções textuais de estudantes do 9º ano, com a finalidade de identificar a ausência da coesão referencial e suas ramificações. Analisamos 10 textos destes discentes do ensino básico de uma escola pública localizada no município de Igaci, AL. Notamos que a maioria dos alunos é da zona rural do município igaciense e que muitas das vezes levam consigo valores culturais e religiosos que influenciam fortemente o modo de aprendizagem. Tais produções para serem consideradas textos, precisam seguir uma linearidade e adequação ao sistema da língua conforme nos mostra Marcuschi (2008). Os informantes da pesquisa são de ambos os sexos e de uma variedade de idades entre as mais comuns são de 13 a 16 anos.
Vemos como o ensino básico está caótico em nossos dias e as pesquisas científicas precisam, urgente, mostrar meios e novos estudos para assim podermos compreender e tentar amenizar essa complexidade. O estudo aqui tratado mostra, com a análise final dos dados, como os resultados estão sendo negativos no ensino de formação básica. Este ensino é imprescindível em nossas vidas seja de estudantes ou de acadêmicos. Notou-se durante a coleta do corpus que alguns fatores desviam as atenções dos alunos tais como a conversa sobre novelas, fofocas, watsapps, Facebook, ou até mesmo com celulares escondidos e a mostra sobre as carteiras tendo acesso as redes sociais.
Tudo isso durante as aulas, vemos dessa forma que alguns valores não estão mais sendo levados a sério pelos alunos aqui estudados. “Lembro-me do meu tempo de estudante do ensino básico que não é um passado tão longínquo, que meus pais me incentivavam para ir à escola se não quisesse passar o resto de minha vida no cabo de uma enxada”.1 Tais valores não vemos mais nos dias de hoje pelo menos não como antes. Esses fatores são atuais e influenciadores porque a maioria dos alunos da escola observada são da zona rural do município.
A seguir, nos próximos itens, veremos como a educação básica está necessitado de novos meios de ensino e novas metodologias tendo assim muito a ser melhorada. O estudo aqui realizado identificou possíveis problemas que fazem com que essa dura realidade se torne algo tão rotineiro. Tudo isso veremos de um ponto de vista crítico. Atentemos nesse primeiro momento a seguinte pergunta: De que forma os alunos da educação básica estão utilizando a coesão referencial em suas produções? Este estudo mostra como se deu o processo da coesão textual e suas vertentes adotadas pelos informantes da pesquisa e como se deu todo esse processo. Adiante, nos próximos tópicos, veremos o resultado final da análise dos textos dos alunos do 9º ano do município igaciense.
Considerações sobre a linguagem
A linguagem é fascinante pois com ela tantos os humanos como os animas mantêm algum tipo de diálogo e interação. Não existe comunicação sem linguagem, pois ela sendo verbal ou não, consegue transmitir e passar qualquer tipo de mensagem. O estudo e avanço da linguagem nos remete a tempos longínquos e especificamente a três fases primordiais a saber: 1°) a gramática dos gregos que foi continuada pelos franceses, mas era totalmente desinteressada pela língua e era fundada sobre a lógica desprovida de qualquer vida científica; 2°) na segunda fase, temos os estudos filológicos com grande crescente. Eles apareceram em Alexandria e esse termo filologia está ligado, sobretudo, ao movimento científico da época e 3°) na terceira e última fase, temos a gramática comparada que vai estudar as relações das línguas e observar como elas se originaram vindo do latim vulgar, sânscrito, dentre outras ramificações lingüísticas. (Basseto, 2005, p. 34-35; Saussurre, 1995, p. 13-15)
Ferdinand de Saussure foi um dos primeiros estudiosos da língua e a definiu como um sistema de signos. Este mesmo autor foi quem deu o pontapé inicial dos estudos lingüísticos, ou seja, foi com ele que a lingüística se tornou de fato, uma ciência e tudo isso já no século XIX. Tomando como base os estudos e as pesquisas realizadas pelo autor, vemos que o objeto central da lingüística é a língua em si, tanto em sua diacronia como, principalmente, em sua sincronia. A diacronia está relacionada aos avanços da língua, isto é, desde as variações e alterações por uma comunidade de falantes já que o próprio Saussure afirma que ninguém por si só pode modificá-la. Na sincronia temos o estudo atual da língua e é nesse paradigma que ela é estudada com maior ênfase pelos lingüistas modernos. O signo lingüístico é outro paradigma imprescindível na teoria do pai da lingüística e esse mesmo signo é caracterizado por dois eixos a saber: o significado e o significante. O primeiro representa o conceito de uma determinada palavra pronunciada. Já o segundo, está relacionado apenas a imagem acústica, sendo assim não se tem uma palavra concreta, mas uma produção sonora. Um bom exemplo desses dois segmentos é se alguém pronunciar a palavra cachorro. O som e o pensamento que temos da palavra se configuram o significante e o conceito de que sabemos que é um animal, peludo, doméstico, dentre outras características, representam o significado. (Saussurre, 2006, p.80)
Durante todo esse trabalho tomamos como ponto principal a língua, uma vez que a comunicação se realiza através dela. Sabemos, e de forma alguma negamos, que dominar e entender esse sistema não é tarefa fácil, no entanto, fizemos uma análise de conteúdo na qual verificou-se como elementos lingüísticos estão sendo usados por discentes da educação básica, já que a linguagem, verbal ou não, está presente em praticamente tudo.
O texto
Tratar sobre o objeto de estudo da Lingüística Textual é sempre complexo uma vez que mantemos contato direto com uma gama de regras que precisam ser observadas e seguidas. Um texto é uma unidade mínima significativa de sentido independentemente de sua extensão conforme Halliday e Hasan (1976, p.195). Falar de texto é falar de comunicação e produção de sentidos que edificam a interação entre emissor e receptor como nos afirmam Azevedo e Tardelli (2004, p.45):
Produzir um texto na escola é, pois, realizar uma atividade de elaboração que se apura nas situações interlocutivas criadas em sala de aula; é um trabalho de reflexão individual e coletiva e não um ato mecânico, espontaneísta ou meramente reprodutivo.
Dessa forma, um texto não pode ser escrito de qualquer forma porque o sistema da língua não permite tal situação. Como é de conhecimento de todos, a concepção de texto é totalmente diferente ao ser comparada por dois eixos: o texto do ensino básico e o do nível superior. De fato, são duas situações totalmente antagônicas. Nesse sentido, é válido fazer o seguinte questionamento: Por que isso ocorre se os dois são textos? No ensino básico, vemos claramente as inconsistências encontradas nas produções textuais dos alunos, pois como é sabido por todos a fala influencia fortemente a escrita destes discentes. É por esse e outros motivos que vários textos apresentam tais problemas, ou seja, porque não é exigida por parte do corpo docente uma reescrita daquela produção que foi realizada. No ensino superior, a concepção de texto é outra uma vez que os acadêmicos mantêm contanto direto com os parâmetros lingüísticos e isso proporciona uma gama de recursos positivos para uma boa construção textual. A reescrita é algo imprescindível para o aprimoramento de uma boa produção textual, pois com ela o aluno pode notar situações que antes não tinha percebido e assim corrigir-se. Sobre a grande importância da reescrita vale ressaltar o que nos afirma Sercundes (2004, p. 89):
Partindo do próprio texto, o aluno terá melhores condições de perceber que escrever é trabalho, é construção do conhecimento; estará, portanto, mais bem capacitado para compreender a linguagem, ser um usuário efetivo, e conseqüentemente aprender a variedade padrão e inteirar-se dela.
Não temos dúvida que o método da reescrita favorece de forma equivalente a produção textual de qualquer aluno. Esse ato permite ao autor perceber que o texto é um conjunto inacabado e é uma absorção de conhecimento que edifica o ambiente da interação. No mais, o texto não pode ser escrito de qualquer forma porque necessita seguir os padrões lineares da língua. Texto na visão de Marcuschi (2008, p.72) “É a unidade de manifestação da linguagem”. A nosso ver, um texto não é um amontoado de palavras ele precisa se adequar ao sistema, pois a seqüenciação é primordial onde todas as partes de um texto devem estar interligadas por vários critérios de textualidade. Na escrita de um texto, é necessário considerar as normas que regem a produção e, sobretudo entender o que é um texto. Do ponto de vista de Koch (2012, p.30):
Um texto se constitui enquanto tal no momento em que os parceiros de uma atividade comunicativa global, diante de uma manifestação lingüística, pela atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de ordem situacional, cognitiva, sociocultural e interacional, são capazes de construir para ele, determinado sentido.
A nosso ver, apesar de termos vários elementos coesivos, as más produções textuais que encontramos nas 10 amostras coletadas não são apenas culpa dos alunos uma vez que muitos professores não cumprem os seus devidos papéis de educadores.
Coesão referencial: um olhar sob o viés da lingüística textual
No que diz respeito à coesão, convém frisar que é a ligação correta entre os elementos de um texto, ela funciona como uma parte entre frases e parágrafos que recebe o nome de conectores, onde sua função é agir juntamente com a coerência para dar um sentido amplo ao texto. Alguns mecanismos atuam na coesão onde servem como elementos de referência à língua que são: substituição, elipse, conjunção e Coesão lexical. Coesão lexical para Antunes (2005, p.50):
É impossível, pois, ressaltar que a continuidade que se instaura pela coesão é, fundamentalmente, uma continuidade de sentido, uma continuidade semântica, que se expressa, no geral, pelas relações de reiteração, associação e conexão.
Considerando que a coesão funciona como parte do sistema de uma língua, embora se trate de uma relação semântica, ela é realizada como ocorre com todos os componentes do sistema semântico – através do léxico gramatical.
Coesão referencial
A coesão referencial é utilizada nos textos para fazer menção a termos anteriormente mencionados. Desse modo, com esse mecanismo lingüístico podemos evitar várias repetições, mas sem perder a linearidade do texto. Como se sabe, a referência se dá pela parte externa do texto (exofórica) e pela interioridade do texto (endofórica). Essas duas partes estão subdivididas em catáfora e anáfora. A catáfora está relacionada a algo que o emissor irá dizer. Nesse sentido, é importante ressaltar que:
Há duas grandes modalidades de coesão: a coesão referencial e a coesão seqüencial. A primeira é definida como aquela em que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) componente(s) do universo textual. A segunda diz respeito aos procedimentos lingüísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos e mesmo seqüencias textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas, à medida que o texto progride. (Koch, 2009 apud Ricardo-Bortoni, 2014)
A seguir, veremos no corpus, como se deu toda essa análise de tais elementos lingüísticos inseridos em textos de alunos do 9° ano da educação básica.
Analisando os fragmentos do corpus
C1: “Eu queria ser psicóloga, mas para eu chegar lá eu preciso me esforçar bastante.”
Vemos claramente na citação acima que a informante utilizou alguns elementos da coesão referencial. No primeiro momento ela diz: “Eu queria ser... e logo depois ela diz que queria ser uma psicóloga. Percebemos que se fez presente a catáfora uma vez que tivemos uma idéia posterior ao que ainda iria ser dito. Vemos também uma conjunção coordenada sindética adversativa que é o mas exprimindo uma idéia de oposição. Também é notório o pronome me funcionando como objeto direto.
C2: “Pretendo seguir cada vez mais [...] pretendo seguir uma profissão seja ela qual for”
Nesse fragmento notamos o uso dos pronomes como forma de evitar uma vã repetição a fim de manter uma seqüenciação lógica. Na parte “seja ela qual for” está correlacionada a profissão, ou seja, temos a anáfora, pois o pronome ela faz total referência a um termo anteriormente mencionado com o intuito de manter a linearidade das idéias. Observou-se o uso de uma conjunção coordenada sindética alternativa, neste caso, o seja.
C3: “Meu objetivo é conseguir ser uma professora [...] farei o possível para alcançar isso.”
A informante nos diz que tem um objetivo a ser conquistado que é ser professora, mas em um determinado trecho do texto ela nos diz que fará o possível para alcançar isso. Desse modo, ela fez uso de um pronome demonstrativo para fazer menção a uma idéia anteriormente dita e evitando assim, repetições. Ela fez uso da anáfora uma vez que o pronome isso faz total alusão ao nome professora.
C4: “Penso ser alguém na vida e o que eu penso ser é... médica.
O trecho acima menciona uma idéia que ainda vai ser dita, ou seja, ser... médica. Desse modo, se configura a catáfora porque ela exerce a função de um termo que ainda está por vir. Fica também claro a elisão no verbo penso, isto é, eu penso. O “eu” é o sujeito oculto da oração acima.
C5: “Estudo para dar um futuro melhor a mim e minha família porque sei o quanto eles se esforçam por mim.”
Num primeiro momento, percebemos que o sujeito “eu” está oculto, nos verbos estudo e sei. Já temos um elemento coesivo, nessa frase, que é a elisão. O pronome “eles” faz referência aos familiares do informante. Temos a conjunção sindética explicativa apresentada pelo conector “porque”. Também temos o pronome possessivo “minha” dando uma idéia de posse. Desse modo, todos esses elementos servem para garantir a coerência e a coesão do texto.
C6: “Queria ser jogador de futebol [...] ou uma profissão dessa ou qualquer outra.”
Neste caso temos alguns pontos relevantes. Primeiro, temos um sujeito oculto que é a elisão do pronome “eu”. Segundo, uma conjunção coordenada sindética alternativa exposta nesta frase pelo conector “ou”. Depois, o pronome demonstrativo “dessa” está referenciando e retomando a idéia do nome profissão. O nome “outra” também faz total menção à profissão. Temos todos esses elementos lingüísticos com o objetivo de tornar o texto comunicativo e seqüencial.
C7: “Quero ter uma profissão para sustentar meus filhos e que eles me vejam como espelho.”
A elisão outra vez está presente nesse texto porque o verbo “quero” está na primeira pessoa do singular, isto é, eu quero. Pode-se ver que o pronome me faz total referência ao sujeito da frase.
C8: “Meu objetivo é ser... uma engenheira e com o estudo a gente consegue.”
Percebe-se que a catáfora se dá na parte em que o colaborador afirma: “meu objetivo é ser” em seguida ele completa a idéia com a profissão dita acima. Notou-se outro fator interessante nesse relato que é a expressão “a gente”. Esta expressão está sendo usada no lugar do pronome “nós”. Ela ocupa dentro dessa frase a função de um pronome de primeira pessoa do plural.
C9: “Eu venho para a escola estudar e também brincar nas horas vagas porque a vida não é só os estudos.
O entrevistado está nos dizendo que vem para a escola estudar e também brincar, ou seja, temos aí uma adição de duas situações e com isso está presente por meio do conector “e” uma conjunção coordenada sindética que é a aditiva. Neste mesmo trecho temos a anáfora onde se diz: “A vida não é só os estudos” está se referindo a um tema que já foi dito, neste caso a situação ir à escola. Percebeu-se também a elisão do pronome “eu” no verbo “venho” no segundo período dessa oração.
C10: “Eu estudo para ser alguém na vida, mas também (eu) estudo para aprender.”
Nesse fragmento o informante fez uso de dois elementos ligados a referência e também as ramificações da coesão, pois temos a elisão da primeira pessoa do singular quando ele diz: “estudo para aprender” observamos que o “eu” está omisso na frase. Tem-se também uma conjunção coordenada sindética adversativa que é a expressão, mas também. Todos esses elementos lingüísticos deixam o texto com sentido e coeso.
Considerações finais
A nossa pesquisa teve a intenção de responder a seguinte pergunta: De que forma a produção textual e, especificamente, a coesão referencial está sendo trabalhada no ensino básico e, necessariamente, numa escola de esfera pública localizada no município de Igaci - AL? Esse estudo procurou fazer toda uma análise minuciosa da turma do 9º ano, para assim, identificarmos as causas que fazem com que os textos desses estudantes tenham problemas de sentido como pode ser observado nos textos analisados. Percebemos que falta interação da parte docente para com os alunos uma vez que identificamos, nessa escola, um sistema totalmente mecanicista e repetitivo. Não podemos negar que encontramos vários elementos lingüísticos nas produções textuais, mas os discentes não sabem o que estão usando e não conhecem os critérios de textualidade.
Não é objetivo de nossa pesquisa atacar ou desqualificar os professores desta escola, mas sim, indagar a respeito do que os docentes estão trabalhando em sala de aula para qualificar o desempenho dos alunos em suas produções textuais. Esperamos, desse modo, manter um bom diálogo com professores de língua portuguesa e de outras áreas, a fim de buscar alguma alternativa de melhor compreensão no aspecto de ensino-aprendizagem. É papel fundamental do professor, neste caso o de língua portuguesa verificar as inconsistências apresentadas nos textos dos alunos. Nesse sentido, é válido fazermos as seguintes perguntas: a) os textos que os alunos produzem em sala de aula são analisados ou simplesmente corrigidos? b) há socialização dos textos em sala de aula? c) após o professor identificar alguns problemas textuais o texto é devolvido ao aluno para ele fazer as devidas correções? d) o que está sendo trabalhado em sala tem a ver com os textos que os alunos produzem? e) o uso da gramática normativa é utilizado para identificar como elaborar um texto coerente e coeso ou somente para expor as definições e nomenclaturas? Notamos durante toda a pesquisa que estas perguntas ficam sem respostas porque não há, na escola aqui analisada, uma preocupação com a produção de textos coerentes e coesos.
A partir da análise dos textos que coletamos, percebeu-se que as principais dificuldades dos alunos se encontram principalmente nos critérios de textualidade. Também foi dado importância ao processo da reconstrução destes textos, onde o aluno tem o contato com sua produção e observa o que faltou e reescreve outro texto mais coerente e coeso. Os dados apontaram que a ausência da leitura foi um dos principais incidentes ocorridos, onde os alunos não usaram adequadamente os critérios de textualidade em suas produções, para que houvesse um melhor entendimento por parte do leitor. Provavelmente, porque eles não foram instruídos pelos professores nem pela escola para se familiarizarem com tais critérios, uma vez que a escrita, nesta escola, tem prioridade, mas se escreve muitas das vezes, sem sentido. Sabemos que os textos produzidos por nossos informantes possuem sérios problemas, porém se os professores mudassem suas metodologias e mantivessem o diálogo proposto pela Lingüística Textual, não teríamos dúvidas que as produções melhorariam grandiosamente.
Por fim, resta-nos dizer que a pesquisa foi fascinante e desafiadora porque mantemos contato diretamente com estudantes e suas produções textuais, mas sabemos que as pesquisas científicas precisam, urgente, mostrar meios para solucionar esses problemas. Com essa pesquisa demos, de nossa parte, o pontapé inicial para outros futuros estudos que possam ajudar e melhorar o ensino básico, que como vimos, está em grande problemática. Isto posto, vale a pena ressaltar que a pesquisa é a essência do nível superior.
Nota
1. Citação referente a vida do autor Max Rocha.
Bibliografia
Antunes, I. C. (2005). Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo, Parábola editorial.
Azevedo, C. B. e Tardelli, M. C. (2005). Escrevendo e falando na sala de aula. In L. Chiappini. Aprender e ensinar com textos de alunos. São Paulo: Parábola Editorial.
Bakhtin, M. (1995). Marxismo e Filosofia da Linguagem. 7ª ed. São Paulo: Hucitec.
Bortoni-Ricardo, S. M. et al. (2014) Por que a escola não ensina gramática assim?. São Paulo: Parábola Editorial.
Cagliari, L. C. (2009) Alfabetização e Lingüística. 11ª ed. São Paulo: Scipione.
Charaudeau, P. e Maingueneau, P. (2004) Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto.
Halliday, M. A. K.; Hasan, R. (1976) Cohesion in English. New York: Longman.
Koch, I. G. V. (2012) A Coesão textual. 22ª ed. São Paulo: Contexto.
Koch, I. G. V. (2012) O texto e a construção dos sentidos. 10ª ed. São Paulo: Contexto.
Marcuschi, L. A. (2008) Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 3ª ed. São Paulo: Parábola Editorial.
Sercundes, M. M. I. (2004) Sobre o que se escreve na escola. In Chiappini L. Aprender e ensinar com textos de alunos.
Travaglia, L. C. (2012) A Coerência Textual. 17ª ed. São Paulo. Contexto.
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