Ergonomia física: estudo de caso
referente à avaliação de risco lombar através da equação NIOSH em uma
indústria Ergonomía física: estudio de
caso de la evaluación de riesgo lumbar Physical ergonomics: case study of
the lumbar risk assessment by NIOSH equation |
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Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) |
Diego Luiz de Mattos Alexandre Crespo Coelho da Silva Pinto Eugênio Andrez Diaz Merino Antonio Renato Pereira Moro |
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Resumo Este trabalho teve como objetivo avaliar o risco para coluna lombar em uma atividade com deslocamento manual de cargas, em uma empresa de papelão ondulado, localizada no estado de Santa Catarina. O posto analisado é o de formateiro, responsável pelo abastecimento da máquina com chapas de papelão ondulado para processamento e transformação em caixas. Para tal, utilizou-se a equação NIOSH, ferramenta específica para tal aplicação. Os resultados nos indicam um risco moderado de lesão. Recomendações podem ser feitas a partir desse resultado. Trata-se de um estudo de caso, realizado no ano de 2014. Unitermos: Ergonomia física. Risco lombar. Equação NIOSH.
Abstract Keywords: Physical ergonomics. Lumbar risk. NIOSH equation.
Presenteado em II Bioergonomics – International Congress of Biomechanics and Ergonomics do 4 ao 7 de junho em Manaus, Amazonas, Brasil.
Recepção: 08/06/2015 - Aceitação: 30/07/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 207, Agosto de 2015. http://www.efdeportes.com |
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1. Introdução
As patologias que acometem os trabalhadores aumentam dia após dia no atual contexto produtivo. Um desses problemas é a dor lombar. Também conhecida como lombalgia, as condições de trabalho bem como a falta de informação são fatores importantes no desenvolvimento da doença. Para mensurar os riscos, a equação NIOSH oferece uma abordagem científica de grande valia. O diagnóstico através dessa ferramenta pode ser um viés para melhorias. Cabe as organizações mapear, conhecer e combater os riscos associados aos seus processos, pensando em sua sobrevivência a longo prazo, qualidade de vida do trabalhador e valor social.
2. Referencial teórico
2.1. Ergonomia
Segundo Iida (2005), ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Para Grandjean (1998), a ergonomia é a ciência da configuração de trabalho adaptada ao homem e tem como principal objetivo o desenvolvimento científico para a adequação das condições de trabalho às capacidades das pessoas que o realizam.
A ergonomia pode ser dividida em três áreas de domínio.
Ergonomia física: Segundo a International Ergonomics Association (2000), é a especialização da ergonomia que concerne às características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação à atividade física.
Ergonomia cognitiva: no que concerne aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio, e resposta motora, conforme afetam interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema.
Ergonomia organizacional: no que concerne a melhoria dos sistemas sócio-técnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e processos.
A ergonomia física será o ponto analisado nesse trabalho. Dentre suas ferramentas, encontra-se com destaque para avaliação de risco para coluna lombar, a equação NIOSH, ferramenta adotada para tal finalidade neste estudo.
2.2. Lombalgia
Define-se lombalgia como dor, tensão muscular, rigidez localizada abaixo da margem costal e acima da dobra glútea inferior, com ou sem dor nas pernas. Tal condição atinge muitas pessoas e está associada a elevados custos, como utilização dos serviços de saúde, absenteísmo no trabalho e incapacidade (Tulder; Koes, Bombardier, 2002; Teixeira et al, 2011).
França et al (2008) relatam que a lombalgia atinge nos dias atuais todas as nações industrializadas. Afeta de 70% a 80% da população adulta em algum momento da vida, com predileção por adultos jovens, em fase ativa.
O termo lombalgia se refere à dor na coluna lombar, sendo um dos sintomas mais comuns das disfunções da coluna vertebral. Esta, aliás, é uma disfunção que acomete ambos os sexos, podendo variar de uma dor aguda, se durar menos de quatro semanas; subaguda, com duração de até 12 semanas; e crônica, se persistir por mais de 12 semanas (Pires & Samulski, 2006; Silveira et al, 2010).
Umas das causas relatadas da lombalgia é o levantamento manual de cargas. Para Gonçalves (1998), muitos são os fatores estudados sobre o levantamento de peso que podem influenciar na sua eficiência. Inclusive como causas de muitas lesões ocasionadas por este movimento, alguns destes fatores são: posicionamento das articulações no início e durante o levantamento, a quantidade de carga, a velocidade de execução do movimento, a altura em que a carga se encontra no início do levantamento, a presença ou não de puxadores e os seus vários tipos, o uso de acessórios como o cinto de suporte lombar, a pressão intra-abdominal.
Segundo o mesmo autor as lesões na coluna, resultantes de levantamentos de pesos, são responsáveis por quase 12% de todas as lesões industriais e que 85% a 99% de todas as lesões graves na coluna, particularmente nos níveis de L4/L5 e L5/S1.
2.3. NIOSH
Com o intuito de avaliar a demanda física das tarefas de levantamento manual de cargas e quantificar o risco de lesões por sobrecarga na coluna lombar, relacionado a cada tarefa específica (GARG, 1995), foi concebida a Equação de Levantamento Revisada do National Institute for Occupational Safety and Health (Teixeira et al, 2011).
Chaffin & Andersson (1984) e Gonçalves (1998) relacionando a incidência de lesões ocorridas principalmente por levantamentos de carga em situações de trabalho, relatam que a NIOSH (National Institute for Ocupational Safety and Health) constatou que as taxas de lesões musculoesqueléticas, isto é, o número de lesões por hora/homem no trabalho, e taxas de severidade, ou seja, o número de horas perdidas devido às lesões por hora/homem no trabalho aumentam significativamente quando: objetos pesados e volumosos são levantados ou quando são levantados ao nível do solo e (com certa freqüência), quando a posição do objeto com respeito ao corpo encontra-se muito distante, quando o período de duração da atividade é prolongado e quando alguns indivíduos não são cuidadosamente selecionados e treinados para as tarefas de levantamento.
De acordo com Teixeira et al (2011, pg. 741),
(...) o Limite de Peso Recomendado (LPR) é o produto da equação e é definido como o peso da carga que aproximadamente todos os trabalhadores saudáveis poderiam suportar por um período de até 8 horas diárias, sem aumentar o risco de desenvolverem lombalgia relacionada ao trabalho.
O LPR é obtido através da seguinte equação:
LPR = Cc x FH x FV x FD x FA x FF x FP
ou
LPR = 23 x [25/H] x [1-(0,003|V-75|)] x [0,82 + (4,5/D)] x [1 – (0,0032 A)] x FF x FP
Sendo:
LC = Carga Constante = 23 kg;
HM = Multiplicador horizontal
VM = Multiplicador vertical
DM = Multiplicador de distância
AM = Multiplicador assimétrico
FM = Multiplicador de freqüência
CM = Multiplicador de pega
RWL = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM
RWL = limite de peso recomendado
LI = peso da carga (L) / Limite de peso recomendado (RWL)
LI = índice de levantamento
As autoras complementam que:
“uma vez calculado o LPR para uma dada tarefa de levantamento de cargas, ele é comparado com o peso real da carga levantada. Essa relação fornece o Índice de Levantamento (IL)” (TEIXEIRA et al, 2011, pg. 742).
3. Procedimentos metodológicos
O posto de trabalho estudado é a Saída da Impressora, e o profissional que labora nesse posto é chamado de formateiro. Trata-se da parte final do processo, onde as caixas de papelão ondulado saem da impressora para a formação dos paletes. Na figura a seguir encontra-se a visão geral da máquina.
Figura 01. Imagem geral da Martin DRO.
Fonte: A empresa
Para a confecção do trabalho utilizou-se a observação direta in loco, e indireta, através de filmagens e fotografias. A Análise Ergonômica do Trabalho da empresa forneceu as informações acerca da função avaliada.
4. Resultados
Para entendimento da situação avaliada, levantou-se o trabalho prescrito e o trabalho real observado.
Trabalho prescrito:
Formateiro
É responsável pelo abastecimento, ajustes da mesa e máquina, controle das tintas utilizadas para impressão, clichês e também em algumas vezes substitui o Operador da máquina conferindo as dimensões, esquadro, impressão e ajustes necessários das máquinas.
Lavar o recipiente de tinta localizado dentro da impressora (tinteiro), para eliminar resíduos de tintas utilizadas em outro pedido de produção;
Fixar os clichês no cilindro porta clichês;
Colocar o recipiente de tinta na impressora, colocar o filtro dentro do recipiente e baixar a bomba de sucção, para abastecer a impressora de tinta;
Trazer para próximo da impressora as pilhas de chapas que serão convertidas em caixas e ajustar o esquadro da máquina com as medidas da chapa;
Regular o aplicador automático de cola, de acordo com a medida da caixa, conforme pedido do cliente;
Manter limpo seu ambiente de trabalho, recolhendo paletes, refiles, baldes de tinta e colocando-os no lugar determinado.
Trabalho real:
É nesse posto que formateiro abastece a máquina com chapas de papelão ondulado.
Figura 02. Abastecimento.
Fonte: O autor baseado nas informações da empresa
Esse profissional deve pegar manualmente as chapas, eleva-as através e seus membros superiores e insere-as no espaço de abastecimento da máquina. Normalmente pega 8 a 12 chapas por vez, dependendo do tamanho e peso. Realiza essa atividade basicamente 75% do turno, porém em intervalos de 1 a 2 horas, e no tempo restante auxilia o operador e os auxiliares de produção.
Diagnóstico
De posse das características de trabalho da máquina DRO procurou-se estabelecer um diagnóstico. Esse é formado pela avaliação através da ferramenta Equação NIOSH para movimentação manual de carga e por considerações sistêmicas de todas as características e informações disponíveis.
Equação NIOSH para movimentação manual de carga – Formateiro
Dados, fotografia 03:
H = 83,8 cm. Destaca-se que H deve ser ≥ 25 e ≤ 63. Dessa forma:
H = 63 cm;
V inicial = 50,4 cm;
V final = 137,9 cm;
D = 87,5 cm;
Peso do objeto = 6 kg;
Freqüência = 4/min;
Qualidade da pega: razoável (definida como se cada mão fizesse flexão de 90º);
Assimetria = 90º (faz rotação da coluna).
Duração dessa atividade (tempo médio nessa altura) = > 1 e < 2 horas;
Figura 03. Avaliação com a equação NIOSH.
Fonte: O autor baseado nas informações da empresa
Resultados:
LC (Carga constante) = 23 kg;
HM (Multiplicador horizontal) = 0,39
VM (Multiplicador vertical) = 1,06
DM (Multiplicador de distância) = 0,87
AM (Multiplicador assimétrico) = 0,71
FM (Multiplicador de freqüência) = 0,72
CM (Multiplicador de pega) = 0,95
RWL= LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM
RWL (limite de peso recomendado) = 4,01 kg
LI = peso da carga (L) / Limite de peso recomendado (RWL)
LI (índice de levantamento) = 1,49 (representa uma atividade de risco moderado de lesão).
5. Conclusão
Este trabalho teve por objetivo avaliar através da equação NIOSH, a atividade de abastecimento de máquina, realizada pelo formateiro em uma indústria catarinense de caixas de papelão ondulado. Os resultados nos indicam um risco moderado de lesão. Devem-se considerar melhorias no posto e na atividade, levando em conta esse risco, pois mesmo sendo moderado poderá acarretar custos à empresa e aos trabalhadores, se não tratado. A partir disso, recomendações serão traçadas pelos pesquisadores, para que a empresa possa tomar medidas de prevenção, buscando minimizar os efeitos do posto em questão, e visando propiciar saúde ao trabalhador e agregar valor ao produto através de qualidade social.
Bibliografia
Almeida, R. G. (1984). A ergonomia sob a ótica anglo-saxônica e a ótica francesa. Vértices, Campos dos Goytacazes, v. 13, n. 1, p.115-126, jan./abr. 2011.
Chaffin, D. B. & Andersson, G. B. J. Ocupational Biomechanics. New York, John Wiley e Sons.
Ferreira, M. C. (2008). A ergonomia da atividade se interessa pela qualidade de vida no trabalho? Reflexões empíricas e teóricas. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 1, p. 83-99.
França, F. J. R. et al. (2008). Estabilização segmentar da coluna lombar nas lombalgias: uma revisão bibliográfica e um programa de exercícios. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.15, n.2, p.200-6, abr./jun.
Garg, A. (1995). Revised NIOSH equation for manual lifting: a method for job evaluation. AAOHN J, v. 43, n. 4, p. 211-216.
Gonsalvez, M. (1998). Variáveis biomecânicas analisadas durante o levantamento manual de carga. Motriz - Volume 4, Número 2, Dezembro.
Grandjean, E. (1998). Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 4ª ed. Porto Alegre: Bookman.
Iida, I. (2005). Ergonomia: projeto e produção. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blücher.
International Ergonomics Association (IEA). Disponível em: http://www.iea.cc. Acesso em: 02 de janeiro de 2014.
Pires, F. O. & Samulski, D. M. (2006). Visão interdisciplinar na lombalgia crônica causada por tensão muscular. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 14, n. 1, p. 13-20, São Paulo.
Silveira, M. M. et al. (2010). Abordagem fisioterápica da dor lombar crônica no idoso. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 8, nº 25, jul/set.
Teixeira, E. R. et al. (2011). Índice de levantamento da equação do NIOSH e lombalgia. Revista Produção Online. Florianópolis, SC, v.11, n. 3, p. 735-756, jul./set.
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