Análise do apoio matricial na atenção primária à saúde no Brasil Análisis del apoyo matricial en la atención primaria de la salud en Brasil Analysis of matrix support in primary health care in Brazil |
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*Médica. Professora do curso de medicina da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Paraná **Enfermeiro. Doutorando em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros, Minas Gerais ***Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde Docente do curso de medicina da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Paraná |
Regina Maria Gonçalves Dias* Thiago Luis de Andrade Barbosa** Ludmila Mourão Xavier Gomes*** (Brasil) |
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Resumo A estratégia de apoio matricial é extremamente relevante para o desenvolvimento do trabalho em saúde da equipe de atenção primária. O matriciamento em saúde é uma metodologia que proporciona e assegura um auxílio para assistir casos especializados a profissionais e equipes responsáveis pela atenção no campo da saúde. Nesse sentido este estudo objetivou é investigar a produção bibliográfica sobre o matriciamento na atenção primária. Trata-se de um estudo descritivo de revisão bibliográfica realizado nas bases de dados Literatura Latino-Americana e de Ciências do Caribe (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO) com uso das seguintes palavras-chaves: matriciamento, apoio matricial e atenção primária. Os resultados apontaram que estratégia de apoio matricial, vem de encontro à consolidação de alguns princípios da atenção primária, tais como a coordenação do cuidado, através da responsabilização da equipe de referência, servindo de ponto de encontro dos objetivos do cuidado, facilita o acesso e a longitudinalidade do cuidado, estimula o vínculo à equipe de referência, aumenta a resolubilidade no cuidado através de decisões e ações compartilhadas, colaborativas e atinge de maneira indelével a integralidade do cuidado, pois, atende as necessidades levantadas com foco na pessoa, família e comunidade por uma equipe interprofissional com vários olhares e consequente opções de solução. Unitermos : Atenção primária. Apoio matricial. Estratégia de saúde da família.
Abstract The matrix support strategy is extremely important for the development of work in health primary care team. The matricial health is a methodology that provides and ensures aid to assist the cases specialized professionals and staff responsible for attention in the health field. In this sense this study aimed to investigate the bibliographic production on the matricial in primary care. This is a descriptive study of literature review conducted in the databases Latin American and Caribbean Sciences (LILACS) and Scientific Electronic Library Online (SciELO) using the following keywords: matricial, matrix support and primary care . The results showed that matrix support strategy, is against the consolidation of some principles of primary care, such as coordination of care through the empowerment of the reference staff, serving as a meeting point of care objectives, facilitates access and the longitudinality care, stimulates the link to the reference staff, increases in solving care through decisions and actions shared, collaborative and reaches indelibly comprehensive care therefore meets the needs raised focusing on the person, family and community by a multidisciplinary team with various looks and consequent solution options. Keywords: Primary health care. Matrix support. The family health strategy.
Recepção: 20/05/2015 - Aceitação: 4/07/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 207, Agosto de 2015. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
O matriciamento em saúde é uma metodologia que proporciona e assegura um auxílio para assistir casos especializados a profissionais e equipes responsáveis pela atenção no campo da saúde. Trata-se de trabalho complementar àquela em sistemas hierarquizados, que utilizam mecanismos de referência e contrarreferência, centros de regulação e protocolos (Brasil, 2011).
Há vinte e cinco anos Gastão Campos estuda a metodologia Paidéia de cogestão das instituições e do cuidado em saúde e através da valorização da clínica ampliada e compartilhada surgiram os arranjos de gestão e processo de trabalho que se intitularam posteriormente de Apoio Matricial. A partir de 2003, a Política de Humanização do Sistema Único de Saúde no Brasil, propõe o matriciamento estratégia da humanização, fortalecendo e estimulando processos integradores e produtores de responsabilização, estabelecimento de equipes multiprofissionais e transdisciplinaridade, atuação em rede, utilização dos espaços coletivos de educação permanente e a construção da autonomia dos sujeitos. Em 2008, oficialmente foi lançado através dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), cujo trabalho é baseado na estratégia do Apoio Matricial (Oliveira, 2013).
O apoio matricial torna-se um dispositivo que permite a interlocução entre os equipamentos de assistência à saúde e os demais serviços internos e externos à rede de atenção à saúde. Contribui para a organização do processo de trabalho e o serviço a fim de tornar horizontais as diversas especialidades, fazendo com que estas permeiem todo o campo das equipes de saúde (Machado e Carnata, 2013).
A estratégia de apoio matricial é extremamente relevante para o desenvolvimento do trabalho em saúde da equipe de atenção primária. Nesse sentido este estudo objetivou é investigar a produção bibliográfica sobre o matriciamento na atenção primária.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo de revisão bibliográfica realizado nas bases de dados Literatura Latino-Americana e de Ciências do Caribe (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO) com uso das seguintes palavras-chaves: matriciamento, apoio matricial e atenção primária. O período considerado para busca dos artigos foi de 2005 a 2014. Os dados obtidos nos artigos foram escritos no formato de resultados e discussão.
Resultados e discussão
O Apoio Matricial é um suporte técnico especializado que é ofertado e dá retaguarda técnopedagogica e assistencial a uma equipe interprofissional de saúde, favorece a ampliação de seu campo de atuação em uma concepção de saúde ampliada, através de integração dialógica entre diversificadas especialidades e profissões, predispõe a educação permanente, o trabalho em cogestão, em rede e tem como consequência a qualificação das ações decorrentes, oportuniza a personalização da referência e contrarreferência e constroem juntos protocolos (Onocko e Campos, 2007), facilitador, portanto, da educação interprofissional e práticas colaborativas inseridas nas diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) publicadas em 2010 de forma que o especialista integra-se ao trabalho das equipes que necessitam de seu apoio especializado.
A estratégia de apoio matricial tem atuação complementar, vem de encontro à consolidação de alguns princípios da atenção primária, tais como a coordenação do cuidado, através da responsabilização da equipe de referência, servindo de ponto de encontro dos objetivos do cuidado, facilita o acesso e a longitudinalidade do cuidado, estimula o vínculo à equipe de referência, aumenta a resolubilidade no cuidado através de decisões e ações compartilhadas, colaborativas e atinge de maneira indelével a integralidade do cuidado, pois, atende as necessidades levantadas com foco na pessoa, família e comunidade por uma equipe interprofissional com vários olhares e consequente opções de solução (Arona, 2009).
A implementação de matriciamento objetiva garantir às equipes de saúde da atenção primária maior apoio quanto à responsabilização do processo de assistência, garantindo a integralidade da atenção no sistema de saúde. São feitas intervenções com o olhar do gestor municipal buscando implementar mudanças de programas e ações que descentralizem o acesso à especialidade e ao mesmo tempo disponibilizem insumos para que o matriciamento ocorra. O apoio matricial propicia estabelecer a contribuição de distintas especialidades e profissionais na construção de rede compartilhada entre a referência e o apoio, personalizar a referência e contrarreferência, definir responsabilidade pela condução do caso com a equipe de referência, buscando elaborar juntos protocolos a fim de reduzir filas de espera.
No matriciamento há componentes relevantes: equipe de referência, profissional de referência e clínica ampliada.
Equipe de referência (ER) tem a responsabilidade pela condução de um caso individual, familiar ou comunitário em uma área adscrita (Campos, 2007), conduzem o cuidado e assistência de forma à construção de vínculo entre profissionais e usuários, de maneira longitudinal, ao longo do tempo. Estas equipes recebem o apoio matricial de especialistas para intercâmbio de informação e elaboração de projetos terapêuticos construídos coletivamente através de discussões prospectivas de casos, deste modo funcionam com eleição de prioridades, avaliação de risco e vulnerabilidade, traçam um plano de ação, compartilham objetivos e definem estratégias, procedimentos e responsabilidades de modo compartilhado (Campos, 2007).
O profissional de referência tem a função de definir o profissional que busca a reorganização da estrutura e do funcionamento dos serviços de saúde segundo duas diretrizes: responsabilidade do profissional encarregado da condução de um determinado caso clínico ou sanitário, e ampliar possibilidade de construção de vínculo entre profissional e paciente (Arona, 2009).
O apoiador matricial é o profissional que seria representado pelo especialista na área deve ter um perfil e conhecimentos diferentes daqueles que receberão o apoio matricial, e que agreguem recursos e saber à equipe com objetivo de aumento da resolutibilidade do caso estudado (Brasil, 2011).
A clínica ampliada trata-se da constituição de equipes de referência buscando criar possibilidades de se operar com clínica ampliada nos serviços de saúde, possibilitando uma combinação de equipes de especialistas com apoio matricial especializado (Brasil, 2011).
O apoio matricial apresenta dois grandes eixos: suporte assistencial e técnico-pedagógico. O funcionamento ocorre em rede com construção compartilhada entre a referência e contrarreferência. A responsabilidade pela condução do caso é compartilhada entre a equipe matricial e a equipe de referência, buscando elaborar juntos protocolos a fim de reduzir filas de espera (Arona, 2009; Brasil, 2011).
De acordo com Campos (2007) há duas formas para se estabelecer o contato entre equipe de referência e matricial: o primeiro remete à combinação de encontros periódicos e regulares; o segundo, encontros em casos imprevistos e urgentes, em que não seria recomendável aguardar a reunião regular. A integração de profissionais de várias categorias durante este processo de trabalho no apoio matricial permite uma ampliação de olhares e possibilidades de práticas inovadoras do cuidado, aumentando o potencial de resolutividade, com qualidade sem descaracterizar a atenção primária.
Um dos exemplos de experiências exitosas no Brasil sobre o matriciamento é na área da saúde mental. A Reforma Psiquiátrica ocorrida no país aponta para a superação do modelo hospitalocêntrico no atendimento ao portador do transtorno mental, tendo em vista um cuidado que não afaste o indivíduo do seu espaço social. Nessa perspectiva destaca-se o papel da atenção primária como espaço privilegiado de intervenção mostrando-se como uma estratégia significativa para traçar ações no seu território de abrangência (Bezerra et al., 2009).
A incorporação da prática da saúde mental na atenção primária é difícil de se efetivar caso não haja capacitações dos profissionais, supervisões e estratégias institucionais (Bezerra et al., 2009). Nessa perspectiva o matriciamento é imprescindível para que a equipe de referência da atenção primária assuma e se responsabilize pela assistência e cuidados prestados ao portador de transtorno mental.
O apoio matricial às equipes da atenção primária é proveniente dos profissionais da equipe do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que são considerados ordenadores da rede de saúde mental. partir dos CAPS, pois estes são serviços que ocupam. Para que o matriciamento ocorra produzindo melhora dos resultados terapêuticos aos clientes atendidos é necessário maior articulação e estreitamento dos laços entre o CAPS e a atenção primária (Pinto et al., 2012).
Estudos apontam que diante da articulação entre as ações de saúde mental e o processo assistencial da atenção primária, algumas transformações ocorrem inclusive na forma de como é conduzido o atendimento do paciente. O usuário se ao receber a consulta é privilegiado por ter um especialista ao lado e por possuir um processo de escuta e atenção às suas necessidades. Além disso, os profissionais reconhecem que as práticas são modificadas com as vivências experienciadas no cotidiano do apoio matricial (Arona, 2009; Pinto et al., 2012; Bezerra et al., 2009).
No Brasil há escassa literatura sobre o apoio matricial. Não há relato de outras experiências exitosas do matriciamento que não seja envolvendo saúde mental e equipes multiprofissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família..
Considerações finais
Conclui-se que o matriciamento na atenção primária é uma metodologia essencial para capacitação dos profissionais a fim de desenvolverem uma prática com maiores resultados terapêuticos. Devido às lacunas na literatura recomenda-se que sejam realizados novos estudos que abordem experiências exitosas em outras áreas da atenção à saúde a fim de estimular a implementação dessas práticas.
Bibliografia
Arona, E.C. (2009). Implantação do matriciamento nos serviços de saúde de Capivari. Saúde e sociedade, 18 (1), 26-36.
Bezerra, E. y Dimenstein, M. (2008). Os CAPS e o trabalho em rede: tecendo o apoio matricial na atenção básica. Psicologia, ciência e profissão, 28(3), 632-645.
Brasil. Ministério da Saúde. (2011). Guia prático de matriciamento em saúde mental. Brasília (DF).
Machado, D.K.S. y Camatta, M.W. (2013). Apoio matricial como ferramenta de articulação entre a saúde mental e a atenção primária à saúde. Cadernos de Saúde Coletiva, 21 (2), 224-232.
Pinto, A.G.A., Jorge, M.S.B., Vasconcelos, M.G.F., Sampaio, J.J.C., Lima, G.P. y Bastos, V.C. (2012). Apoio matricial como dispositivo do cuidado em saúde mental na atenção primária: olhares múltiplos e dispositivos para resolubilidade. Ciência e saúde coletiva,17 (3), 653-660.
Wetzel, C., Pinho L.B., Olschowsky, A., Schneider, J.F., Camatta, M.W. y Guedes, A.C. (2014). O matriciamento enquanto dispositivo para o cuidado em saúde mental na Estratégia de Saúde da Família. Revista de enfermagem UFPE on line, 8 (6), 1702-1708.
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