Investigação sobre a transmissão transgeracional em uma comunidade de Caxias do Sul, RS Investigación sobre la transmisión transgeneracional en una comunidad de Caxias do Sul, RS |
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*Psicóloga egressa do Curso de Psicologia da Faculdade da Serra Gaúcha **Doutora em Psicologia pela Universidade Autônoma de Madrid no Programa de Fundamentos y Desarrollos Psicoanalíticos e Professora da Faculdade da Serra Gaúcha (Brasil) |
Francis Mari Rech* Magda Medianeira de Mello** |
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Resumo O presente estudo busca investigar os significados transgeracionais implicados na preservação do patrimônio da comunidade de Galópolis/RS, comunidade de Caxias do Sul, tendo como objetivos específicos averiguar o impacto desta para os moradores jovens e idosos, verificando as semelhanças e diferenças atribuídas por estes à preservação material e imaterial da comunidade. A escolha desta temática justifica-se pelo fato de Galópolis/RS estar passando por um processo de tombamento histórico de algumas de suas edificações mais antigas e com isso mobilizando a comunidade. Existe assim um desejo de descobrir os significados atribuídos pelos moradores a esta patrimonialização e preservação das memórias locais, e de que maneira este processo impacta na comunidade em geral. Para tanto foi realizada uma pesquisa de cunho exploratório e abordagem qualitativa, utilizando análise de conteúdo de Bardin, onde foram entrevistados três jovens e três idosos sendo estes escolhidos aleatoriamente. A pesquisa demonstrou a importância do patrimônio e das memórias locais na transgeracionalidade e na constituição de uma identidade cultural. Unitermos: Patrimônio. Memória. Identidade.
Resumen El presente estudio tuvo como objetivo investigar los significados tansgeneracionales implicados en la preservación del patrimonio de la comunidad Galópolis, RS de Caxias do Sul. Tiene con objetivos específicos comprobar su impacto para los residentes jóvenes y de edad avanzada, indagando similitudes y diferencias asignadas por éstos con respecto a la preservación material e inmaterial de la comunidad. La elección del tema se justifica debido a que Galópolis, RS esta experimentando un proceso de patrimonialización de parte de sus construcciones más antiguas y por lo tanto generando una movilización de la comunidad. Existe un deseo de descubrir los significados atribuidos por los residentes a preservar el patrimonio y memorias locales y como éste proceso genera impactos sobre la comunidad en general. Con esto se realizó una investigación de naturaleza exploratoria con enfoque cualitativo donde se entrevistó a tres jóvenes y tres adultos mayores siendo estos elegidos al azar. La investigación ha demostrado la importancia del patrimonio y los recuerdos locales en la transmisión entre las generaciones y la constitución de una identidad cultural. Palabras clave: Patrimonio. Memoria. Identidad.
Recepção: 22/06/2015 - Aceitação: 30/07/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 207, Agosto de 2015. http://www.efdeportes.com |
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1. Introdução
A rapidez com que as mudanças estruturais estão ocorrendo nas cidades e no mundo faz com que se busque uma forma de perpetuar a história e a origem do próprio homem e da sua comunidade, como um legado que é passado de geração em geração com o intuito de criar marcas nos sujeitos, com um simbolismo que vai além do bem material e passa a ser uma identidade cultural. De acordo com Bosi (2003), lembrar não é reviver, mas sim reconstruir e repensar as experiências do passado, das quais as novas gerações recebem não apenas a história escrita, mas um legado de memórias que entra de forma constitutiva no presente e na formação da identidade cultural.
A vila de Galópolis, hoje um bairro de Caxias do Sul/RS e com mais de cento e vinte anos de história é um exemplo de preservação do patrimônio histórico e cultural. Seu fundador, Hércules Galló, veio da Itália em 1899 e criou a cooperativa de Tecidos Teveres e por esta localizar-se em um vale com poucas terras planas para a agricultura, se destacou pela produção do lanifício, trazendo assim muitos moradores para a região, interessados em trabalhar na fábrica. Neste cenário, e com a chegada da ferrovia em Caxias do Sul, Galópolis se destacou no ramo da tecelagem e possibilitou condições para que a população de operários permanecesse na comunidade e prosperasse até os dias de hoje, na qual as famílias permanecem desde a origem e o lanifício continua em pleno funcionamento. Hoje, Galópolis passa por um processo de tombamento na qual toda a comunidade é considerada patrimônio territorial de Caxias do Sul (Bueno, 2012).
A preservação histórica e cultural ocupa um lugar no imaginário dos sujeitos, no qual os significados atribuídos ao patrimônio, como símbolo de uma comunidade, passam a desempenhar um papel na construção da identidade, sendo ressignificado a partir da relação existente entre os sujeitos e a sua comunidade, articulando as emoções e afetos envolvidos na conservação destas memórias.
A escolha desta temática justifica-se pelo fato de Galópolis estar passando por um momento de tombamento histórico e com isso mobilizando a comunidade, já que existe um desejo de descobrir os significados e as implicações atribuídas pelos moradores a esta patrimonialização e preservação das memórias e de que maneira este processo impacta na comunidade em geral.
2. Patrimônio, memória e identidade
A preservação e as práticas de proteção aos patrimônios históricos no Brasil são complexas, envolvendo investigação, documentação e definição do bem cultural, práticas pautada nos valores simbólicos e culturais. Para Sant’Anna (2003) a proteção do patrimônio, além da questão burocrática, incorpora os testemunhos dos moradores e o levantamento dos processos sociais ocorridos ao longo dos anos, assim a leitura da identidade urbana é historicamente construída a partir dos espaços físicos e das práticas sociais e culturais, que estabelecem vínculos afetivos e simbólicos com a comunidade.
O tombamento do patrimônio exerce um valor social e cultural por se tratar de um processo de transformação, tanto dos objetos materiais quando dos imateriais, em um legado histórico, testemunha do processo de criação e transformação da comunidade, ou seja, um processo simbólico de legitimação e idealização da identidade coletiva (Magalhães, 2005). Ferreira (2006) destaca a existência de um sentido que é evocado pelo termo patrimônio que é da “permanência do passado”, ou seja, uma necessidade de assegurar algo que é significativo do desaparecimento.
O patrimônio material, como por exemplo, uma casa tombada como patrimônio histórico, deixa de ser apenas uma representação do concreto ou uma ideia abstrata da própria comunidade, ela passa a ter um significado, por sua referência e pelo próprio sentido atribuído, e assim passa a ser uma imagem simbólica, um símbolo de referência para a cultura local. Para Chevalier (1982) o símbolo tem a função de mediação, socialização e transformação, responsável por uma identidade coletiva, formada a partir das memórias, bens materiais e valores partilhados pelos sujeitos inseridos em determinado contexto.
Sá (2005) fala sobre memória histórica dividindo-a em “memória histórica oral”, como uma memória coletiva, e a “memória histórica documental” que inclui não só documentos escritos, mas também os espaços arquitetônicos, transformados em lugares de memória, como os museus. As memórias coletivas são resultantes da elaboração de fatos ocorridos na comunidade pelos próprios membros do grupo. São estas memórias comuns, construídas por pessoas que não necessariamente as tenham vivido, mas sim que se encontram ligadas de alguma forma ao contexto sócio–histórico–cultural.
A transmissão dessas memórias ocorre também de forma inconsciente através de vias simbólicas nas dimensões tanto do imaginário quanto do real e nos vínculos geracionais familiares. Segundo Bosi (2003), as memórias compartilhadas pelos idosos fazem uma mediação entre as gerações, pois, eles são responsáveis por difundir informalmente a cultura e é a partir da recuperação e da preservação do patrimônio, tanto material como imaterial, que se cria um vínculo com o passado, pois este é o gerador de força à formação da identidade da comunidade. Existe para esta um valor histórico inestimável, principalmente no que se refere ao patrimônio material, justamente por invocar o imaterial. Nesse sentido, a patrimonialização visa resguardá-los das destruições e descaracterizações, o que vai muito além da própria preservação do objeto em si.
Em O Mal-estar na Civilização (1930/1996), Freud trazia a questão do sofrimento do individuo frente às regras de uma cultura, essas têm por objetivo regular as relações do homem em sociedade. Neste mesmo texto, Freud fala sobre a sublimação das pulsões através do desenvolvimento cultural, que pode ocorrer de diversas formas, inclusive artísticas e ideológicas, assim se desenvolve um superego cultural, e este é transmitido através das gerações, pela própria cultura local. Freud (1921/1996) referia-se a um conceito de mente grupal como algo comum aos indivíduos de uma mesma cultura e que pode ser transmitido entre as gerações de diversas formas, inclusive negativamente.
Uma forma de compreendermos melhor como isso funciona, é através do conceito de transgeracionalidade, na qual o que é passado entre as gerações pode ser alienante e não estruturante quando é imposta ao outro sem que possa ser elaborado por estes, criando-se assim criptas na psique. Esses segredos do passado velam por uma esperança de que as gerações seguintes possam realizar algo que ficou para trás e que seja considerado um fracasso. Este conceito de transgeracionalidade faz nos compreender que no inconsciente do individuo há algo que pertence ao inconsciente do outro, de outras gerações e que é imposto sobre os descendentes (Abraham e Torok, 1995). Freud (1913/1996), em Totem e tabu, já se referia a transgeracionalidade como um patrimônio, uma herança constituída através das relações entre as gerações e que inclui a transmissão dos objetos perdidos e não simbolizados, e acontece de forma verbal e não verbal.
Juntamente com a história contada e narrada, na qual grande parte dela trás orgulho a quem as conta, com a intenção de perpetuá-las através das novas gerações, existe também as palavras não ditas, escondidas e veladas, tornando-se assim segundo Abraham e Torok (1995) criptas vivas, as quais constituem nos sujeitos um mundo fantástico por conta das lacunas existentes nos segredos que foram “partilhados” entre as gerações, sendo estes vistos como fantasmas inconscientes, produtos da transmissão de conteúdos inconsciente dos pais ao inconsciente do filho, elementos herdados que visam garantir os referenciais sociais. Eiguer (1997) propôs que a patologia do transgeracional é ao mesmo tempo estruturante e desorganizadora do eu, uma vez que, esse modelo de identificação se tornou alienante ao sujeito, já que os afetos herdados através de seus ancestrais constituem o seu sistema de representações inconscientes e geram fixações destes conteúdos como um aprisionamento no páthos ancestral, considerado uma patologia de difícil elaboração para o sujeito.
3. Análise dos resultados
A pesquisa foi realizada em 2014 e abrangeu o universo da comunidade Galópolis/RS. Empregou-se uma “amostra estratificada” (Michener, 2005), dividindo a população em grupos com características importantes e se selecionaram amostras aleatórias de cada grupo, tendo como sujeitos participantes desta pesquisa seis moradores locais, (três jovens e três idosos). Na realização da coleta de dados utilizou-se como instrumento metodológico a pesquisa exploratória com entrevista semiestruturada (Godoy, 1995). Para a realização da análise dos dados foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo Temática, de acordo com Bardin (2009) e Minayo (2002), este tipo de análise tem como objetivo avaliar os dados coletados a partir de recortes comuns aos discursos dos sujeitos. Deste modo, investigaram-se os significados atribuídos pelos moradores da comunidade ao tombamento do patrimônio histórico local, na qual foi compreendido o sujeito social e a construção da identidade destes a partir das memórias como um fenômeno coletivo que constitui a identidade e dão aos sujeitos a sensação de pertencimento.
3.1. A partir da escuta dos jovens moradores de Galópolis/RS
Ficou claro nas entrevistas realizadas com estes que existe uma união cultura tão própria do local e essas atribuições referem-se ao fato da comunidade vir se mantendo basicamente como uma continuidade das famílias fundadoras na qual a relação estabelecida entre os membros duram gerações. A questão da herança transmitida de uma geração a outra, desempenha diferentes papeis e interpretações. O sujeito que herda, segundo Allouch (2004) só o pode fazer através da perda de algo de si e perda se refere à castração de algo. Nem sempre existe o desejo de herdar, assim como nem sempre o que é herdado é algo positivo, pois, este herdeiro muitas vezes é obrigado pelo Outro a dar continuidade, manter o que é herdado, seja ele material ou imaterial, fazendo com que se perca a possibilidade de decidir e desejar estar neste lugar. Freud (1913/1996) diz que aderir a uma cultura é a forma que o Homem encontrou para proteger-se do sentimento de desamparo frente à morte e que as figuras paternas remetem ao Superego (como substituto da vontade paterna), sendo este o intermediário entre o Id e o mundo exterior, ou seja, a influência do contexto a qual o sujeito está inserido, um emaranhado entre passado e presente impregnado por marcas da tradição e cheio de conotações morais e culturais, pois, o sujeito "é o veículo mortal de uma substância (possivelmente) imortal – como o herdeiro de uma propriedade inalienável, que é o único dono temporário de um patrimônio que lhe sobrevive".
Por meio dos relatos dos entrevistados pode-se perceber que os jovens entendem que a preservação do patrimônio cultural vem a contribuir com a valorização da própria comunidade, além de expor a todos a história local juntamente com as vivências dos antigos, contando a história de Galópolis desde a sua fundação. No processo de constituição do sujeito, o vínculo estabelecido com as pessoas de gerações anteriores é essencial. O modo como o sujeito se identifica com a cultura local, deixará marcas que trarão significativos desdobramentos nas suas relações sociais. O vínculo estabelecido entre os membros do grupo familiar, segundo Correa (2003), constitui o “berço psíquico do sujeito” que se dá por um processo na qual está envolvida uma transmissão psíquica que atravessa as gerações.
Constataram-se nas falas dos participantes jovens referências importantes à identificação com o local a que pertencem. Tais considerações permitem refletir sobre os efeitos de suas histórias de vida nas relações estabelecidas entre as gerações e a própria comunidade. No que se refere a esta temática os entrevistados mostraram, através de suas falas, que se identificam com o local onde moram e querem manter a história sempre presente como uma forma de conhecer como era a vida na comunidade antigamente, demonstrando a importância da integração da comunidade ao receber e passar a cultura dos antigos, como os costumes que passam de geração em geração.
Segundo Mograbi e Herzog (2006) é a partir da internalização de regras oriundas da cultura e da influência tanto dos pais como das gerações anteriores, que se dará a construção de um ideal de Eu. Este servirá de modelo ao sujeito no que diz respeito ao que deve ou não ser feito, fazendo parte assim da constituição cultural destes. Freud (1923/1996) citava o “Eu como um precipitado de identificações” e frisava a importância do outro na constituição psíquica do sujeito, pois, este só se constrói a partir dos intercâmbios com a cultura na qual está inserido.
3.2. A partir da escuta dos idosos moradores de Galópolis/RS
Nas entrevistas realizadas com os idosos fica claro que existe uma comparação, por parte destes, no que se refere às mudanças ocorridas na modernidade e que apesar de gostarem de viver em Galópolis, percebem as diferenças como algo negativo. Para Birman (2006) a volta ao passado faz se importante, não no sentido nostálgico, mas sim para que se possa perceber as mudanças ocorridas e pensar o contemporâneo como um produto historicamente construído, refletindo a importância dessa troca na subjetividade dos sujeitos que pertencem a uma mesma cultura. Esse Paraíso Perdido nos fala de algo que se foi e que não volta mais, uma forma de pensar no passado como modelo de perfeição, mesmo que não o tenha sido. Freud (1937/1996) nos fala de “tempo de rememoração” como ressignificante da historização, na qual este é fundamental na construção da subjetividade, da “história vivencial” do sujeito que resiste a ação do próprio tempo cronológico. É a partir do presente que as “marcas mnêmicas” são ressignificadas gerando novos acontecimentos significativos como o próprio luto sobre o que foi vivido.
Para Boff (2003) a palavra morada vai muito além do espaço físico, é preciso pensá-la em um sentido existencialista como uma relação que liga o ambiente físico às pessoas. Essa morada é impregnada de significações na qual fazem os sujeitos sentirem-se pertencentes a um lugar. Esse habitat do Homem está relacionado ao ambiente em que se vive de forma geral, com suas edificações, objetos, memórias, pessoas e toda a forma de relacionar-se com o meio social e cultural. Quando um idoso nos conta ou relembra um fato ou uma época vivida por ele, isso pode desencadear diversas emoções referentes às memórias passadas, fazendo com que possa elaborar o luto de uma perda significativa, e isso pode ocorrer, apenas com o falar sobre. Assim, ressalta Lacan (1953/1983, p.21) que "a história não é o passado. A história é o passado na medida em que é historiado no presente – historiado no presente porque foi vivido no passado".
É nessa Morada que se desloca no espaço-tempo que ocorrem as identificações culturais. Nasio (1991) esclarece que é através da identificação com objetos transcendentes, no caso um museu ou uma casa histórica, que é possível assegurar uma continuidade do que foi vivido, mesmo que de certa forma, seja ilusória. Essa reminiscência é uma forma de se exercitar a memória histórica que só pode ser elaborada no outro, no meio social, na qual a sua função principal é articular o passado e o presente dando um sentido a realidade e a continuidade do ser.
As relações históricas são fundamentais na construção da subjetividade e identidade dos sujeitos, pois, existe uma forte ligação entre elementos sociais e o processo de produção de subjetividade. Uma identidade cultural a partir da necessidade do outro para que assim possa ser inserido na cultura. Em função disso, compreende-se através das entrevistas, que existe, por parte dos idosos, uma dificuldade de compreender a importância que eles têm em ocupar este lugar de modelo identitário para as novas gerações. Sobre isso, Freud (1921/1996) aborda o valor das identificações com o grupo na constituição do sujeito, na qual essas não podem ser vistas de forma isolada. Os idosos detém a memória coletiva do que é histórico e cultural pertencente a uma dada cultura e as transmitem ao grupo de diversas formas, sejam elas contadas as gerações seguintes, por fotos, objetos e mesmo tradições que se mantém ao longo dos anos. Para Dockhorn e Macedo (2008), essa legitimação do passado “protege” os sujeitos do sentimento de desamparo e do vazio identitário que é tão comum nas sociedades contemporâneas.
Considerações finais
Diante do que foi exposto pelos participantes, jovens e idosos, foi possível observar, a partir das entrevistas, que existe uma deficiência na comunicação e no entendimento das ideias no que se refere à preservação da identidade cultural por diferentes gerações. Em relação a isso, Kaes (1998) fala que o sujeito da herança é dividido entre ser um fim em si e ser o elo de uma cadeia intersubjetiva à qual está sujeitado e os membros mais antigos do grupo tendem a manter as novas gerações em uma espécie de matriz de investimentos, na qual designam lugares e lhes apresentam objetos de satisfação, sendo assim, esse sujeito é nomeado, representado e situado conforme o desejo dos porta-vozes do grupo.
Pôde-se constatar que, mesmo frente às diversas modificações culturais que ocorreram nas últimas décadas e que transformaram as configurações familiares, a preservação do patrimônio histórico e cultural da comunidade de Galópolis/RS é de extrema importância para a construção de uma identidade na qual o sujeito social se constitui a partir das memórias locais e sentem-se pertencentes à comunidade local. Observou-se como um aspecto importante do estudo a constatação de que ambas as partes envolvidas nas entrevistas, jovens e idosos, se identificam com a comunidade e a preservam como uma forma de manter e contar a história da comunidade. As contribuições do estudo demostram de forma significativa a importância de se preservar a cultura local a partir de processos como o tombamento do patrimônio através de leis que possam garantir a proteção de locais que venham a acrescentar e garantir que a identidade de uma comunidade seja mantida.
A construção de uma identidade e da própria subjetividade dos sujeitos são fatores do campo social e cultural referidos pelos participantes nas entrevistas, os quais evidenciam a importância de se manter um legado histórico para as próximas gerações. A partir das entrevistas com os participantes foi possível compreender a existência de diferenças geracionais que não impedem que a comunidade mantenha a sua história viva na memória de todos que se sentem pertencentes a ela. É importante salientar que o presente estudo buscou aprofundar a temática no que se refere ao patrimônio histórico cultural e as memórias locais na construção de uma identidade coletiva dos moradores da comunidade de Galópolis, não tendo a pretensão de esgotar as possibilidades, uma vez que se percebe a complexidade e a amplitude de fatores envolvidos, mas sim de ampliar a área de estudos envolvendo a psicologia.
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