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Caracterização da pressão plantar de praticantes 

de ballet do Corpo de Dança do Amazonas

Caracterización de la presión plantar de practicantes de ballet del Grupo de Danza de Amazonas

Pressure characterization plant ballet practitioners of Amazonas Dance Group

 

Centro Universitário do Norte – UNINORTE

(Brasil)

Sidney William Barros Sousa | Érica Queiroz da Silva

Gleina Silva de Carvalho | Janete da Costa Barroso

Maria Medeiros Camurça | Raquel Hidalgo da Cunha

sidney_william@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A baropodometria avalia os índices de pressão plantar em diferentes áreas podais, detectando pontos específicos de incidência das forças sobre os pés e determinante na identificação dos níveis de carga em bailarinos. Este estudo objetiva caracterizar as pressões plantares dos bailarinos do Corpo de Dança do Amazonas. O tipo de estudo é exploratório e descritivo. A amostra é composta de 15 bailarinos com idades entre 18 e 40 anos, de ambos os sexos. Utilizou-se o aparelho de marca FootWork, para verificar a pressão plantar, onde cada participante esteve posicionado sobre a plataforma, permanecendo imóvel na forma bipodálica, com os pés descalços com base irrestrita, braço ao longo do corpo e olhar fixo em um ponto por 30 segundos. Os dados quantitativos foram descritos através de porcentagem. Os resultados obtidos evidenciaram que a região de maior pico de pressão plantar entre os bailarinos analisados é o retropé direito.

          Unitermos: Ballet. Pé. Biomecânica. Avaliação.

 

Abstract

          The baropodometry evaluates the pressure indices plantar in different areas of the feet, detecting specific points of impact forces on the feet and determinant in identifying the condition and load levels in dancers. This study aims to characterize the plantar pressures of the dancers of Amazonas Dance Corps. The type of study is exploratory and descriptive. The sample is composed of 15 dancers aged 18 to 40 years, of both sexes. We used the FootWork brand device, to check the pressure plantar, where each participant was positioned on the platform, standing still in bipedal way, barefoot with unrestricted basis, arm along the body and stare at one point by 30 seconds. Quantitative data were described in of percentage. The results showed that the region of the highest peak plantar pressure between the dancers was the right hind foot.

          Keywords: Ballet. Foot. Biomechanics. Assessment.

 

          Presenteado em II Bioergonomics – International Congress of Biomechanics and Ergonomics do 4 ao 7 de junho em Manaus, Amazonas, Brasil.

 

Recepção: 08/06/2015 - Aceitação: 30/06/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 206 - Julio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A dança, sendo uma das manifestações artísticas mais antigas já conhecidas, possui um intuito comum nas suas várias modalidades, que é expressar emoções através dos movimentos.

    Cada estilo possui técnicas específicas, construídas historicamente, as quais podem influenciar não somente no desempenho do praticante, como ter repercussões na forma de alterações biomecânicas das estruturas de sustentação, provenientes das posturas adotadas e da sua reiterada manutenção em razão de exigências de aprendizado e treinamento.

    Para a melhor compreensão dos distúrbios de má distribuição da carga sobre os pés, faz-se necessário conhecer a morfologia fisiológica do pé.

    O pé humano, evoluído de uma estrutura móvel de preensão dos primatas para um órgão de sustentação para o bipedalismo, sofreu diversas modificações ao longo do tempo, com destaque para o calcâneo e o tálus, que assumiram posição mais massiva e horizontal, respectivamente, a fim de suportar o peso do corpo (Palastanga, Palastanga e Soames, 2010).

    Viladot apud Miranda (2008) conceitua o pé como apoio indispensável à bipedestação e peça imprescindível para a marcha. O pé humano, antes uma estrutura flexível de preensão para um firme complexo estabilizador. Sendo composto por 33 articulações e 26 ossos agrupados como os sete ossos do tarso: tálus, calcâneo, navicular, cubóide e cuneiformes medial, intermédio e lateral; cinco ossos do metatarso: numerados do medial para lateral; e 14 falanges: três para cada um dos dedos, exceto para o hálux, que tem apenas duas.

    O complexo articular do pé, embora deva ser estudado como um todo, possui várias articulações: articulação talocrural (que executa os movimentos de dorsiflexão e flexão plantar), articulações intertarsais (que juntas permitem os movimentos de eversão e inversão), articulações tarsometatarsais, metatarsofalângicas (realizam flexão, extensão, abdução e adução) e interfalângicas (que produzem flexão e extensão). Vale ressaltar que possui três arcos estruturais, os quais, juntamente com um sistema extremamente complexo de ligamentos e, num menor grau, de músculos (denominados intrínsecos, pois se originam e se inserem no pé), fornecem apoio interno (Rasch, 1989; Tortora; Grabowski, 2007; Miranda, 2008; Palastanga, Palastanga e Soames, 2010).

    Devido a más formações ósseas congênitas, distúrbios musculares, e uso de calçados inadequados, a marcha do indivíduo sofre alterações que acarretam mudanças na arquitetura do pé e na pressão plantar, com conseqüente má distribuição de carga sobre o mesmo, sendo as mais incidentes: pé plano, pé cavo e pé valgo. O pé plano é caracterizado pela perda do arco longitudinal e toda a sua superfície medial fica em contato com o chão; no pé cavo há um aumento deste arco e o pé valgo é um agravamento do pé plano, causado pela abdução do retropé e do antepé (Miranda, 2008; Santos, 2008).

    É sabido que a dança, em qualquer modalidade, tem repercussões biomecânicas e posturais relacionadas a exigências derivadas de movimentos e posições relacionadas ao estilo e tempo de prática, muitas vezes acarretando danos na forma de alterações anatômicas e patologias diversas, bem como prevalência de sintomatologia dolorosa em bailarinos profissionais, como explicam Dore e Guerra (2007).

    Nas modalidades Clássica e Contemporânea, praticadas no Corpo de Dança do Amazonas, é comum haver lesões como calos, tendinites, hálux valgos (joanete, causado pelo uso excessivo da sapatilha de ponta), entorses, fraturas e luxações, além de dessaranjos posturais e sobrecarga na região anterior dos pés (Picón, 2007; Anjos e Simões, 2010).

    A avaliação das impressões plantares, ou baropodometria, é um instrumento importante para determinar o estado e níveis de carga impostas aos pés na realização de movimentos de dança nos quais são requisitados para manutenção de controle postural, equilíbrio e estabilidade corporal (Duarte, 2000). Na baropodometria eletrônica, o software utilizado tem a capacidade de demonstrar, comparar, armazenar e imprimir todos os dados obtidos a partir dos sensores implantados para registro das informações no pé do paciente seja em marcha ou em posição estática (Grego Neto, 2013).

    Considerando a importância que a Fisioterapia vem conquistando no diagnóstico dos mais variados distúrbios cinesiológicos-funcionais, este estudo pretende investigar, por meio da baropodometria, as possíveis alterações na pressão plantar dos bailarinos do Corpo de Dança do Amazonas (CDA), praticantes de ballet nas modalidades clássico e contemporâneo.

Procedimentos metodológicos

    Com relação ao tipo de estudo, esta pesquisa constitui um estudo exploratório, empregado para clarificar determinado objeto de estudo, e descritivo, que descreve as características de determinadas populações ou fenômenos, por meio de coleta de dados e observação sistemática (GIL, 2008).

    Este trabalho apresenta os resultados de investigação fundamentada na coleta de dados envolvendo análise baropodométrica de 15 bailarinos (amostra), de ambos os sexos, praticantes das duas modalidades de ballet citadas anteriormente (Clássica e Contemporânea).

    Foi utilizado o aparelho de marca FootWork, para verificar a pressão plantar no qual cada participante esteve posicionado sobre a plataforma, permanecendo imóvel na forma bipodálica estática com os pés descalços com base irrestrita, braço ao longo do corpo e olhar fixo em um ponto por um período de 30 segundos, enquanto o software interligado à plataforma analisava e apontava possíveis alterações.

    Foram adotados como critérios de inclusão para o estudo proposto: praticar ballet clássico ou contemporâneo por mais de um ano, ter idade entre 18 e 40 anos e ter aceitado participar da pesquisa e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

    Os critérios de exclusão foram: praticar outras modalidades de dança, estar praticando ballet clássico ou contemporâneo há menos de um ano, idade inferior a 18 anos e superior a 40 anos, apresentar histórico de lesão ou dor no período imediatamente anterior ao estudo e não ter aceitado participar da pesquisa e nem assinado o TCLE.

    Os dados coletados pela plataforma de baropodometria foram analisados e comparados com a média do pico de pressão plantar de antepé e retropé, de ambos os pés. Para a realização da análise estatística, os dados quantitativos foram descritos por meio de média e porcentagem.

    Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), sob o nº do CAEE: 31059914.4.0000.0009.

Resultados e discussão

    A análise baropodométrica foi realizada após a coleta feita na plataforma já descrita. As áreas de pico de pressão são representadas pela cor vermelha, enquanto as de menor pressão pela cor azul (Figura 1).

Figura 1. Representação baropodométrica das áreas de pico de pressão plantar

    Em um universo de 20 bailarinos, apenas 15 preencheram os critérios de inclusão e aceitaram participar desta pesquisa. A média de idade destes bailarinos foi de 26,78 anos. Sendo as mulheres o grupo mais predominante, somando 57% do total analisado.

    A prevalência de indivíduos do sexo feminino na prática do ballet é notável no contexto histórico, isso se deve, segundo Ashcar apud Zaniolo (2002), ao preconceito presente na sociedade, que associa a técnica de graça e elegância de movimentos à feminilidade, mas ressalta a grande importância da presença masculina na dança.

    Após a comparação das pressões plantares, foi possível observar que, entre as mulheres, houve uma prevalência da pressão no retropé direito, totalizando 44,4%, quando comparados com os bailarinos do sexo masculino houve equivalência de pico de pressão entre a pressão do antepé direito e do retropé esquerdo (Gráfico 1).

Gráfico 1. Comparação entre a pressão plantar entre homens e mulheres, em %

    Tal achado entra em discordância com o que foi descrito pela literatura, que evidencia que a variável gênero não é determinante para detectar diferenças baropodométricas entre ambos os sexos (Azevedo e Nascimento, 2009).

    Os resultados alcançados foram analisados e são apresentados no gráfico abaixo, onde é possível verificar em que região do pé ocorre à maior pressão plantar nos indivíduos participantes da pesquisa (Gráfico 2).

Gráfico 2. Caracterização da Pressão Plantar Máxima

    Ao verificar a distribuição da pressão plantar dos indivíduos, foi percebido que tanto no pé direito quanto no pé esquerdo, o retropé é a região de maior pico de pressão plantar. No retropé direito a pressão fica em torno de 33,30%, enquanto que no antepé do mesmo pé direito a pressão é de 20%. No pé esquerdo, o retropé recebe uma pressão de 26,60%, menor que a pressão recebida pelo retropé direito, porém, acaba recebendo maior pressão que o antepé do mesmo pé esquerdo, que sofre 20% da pressão plantar, o mesmo valor que o antepé direito recebe.

    Os dados obtidos revelam que os bailarinos do CDA, praticantes de ballet contemporâneo possuem maior pressão no retropé direito. Em contrapartida, estudo realizado por Thiesen e Sumiya (2011) mostra que a região de pico de pressão em pés de bailarinos é o antepé esquerdo, em análise feita através de baropodometria.

    Ao contrapor a prática do ballet contemporâneo com o ballet clássico, viu-se que Picón et al. (2002) verificaram menor pressão sobre os calcanhares do que nas outras áreas, possivelmente por estes serem os últimos a aterrissarem depois de um salto, salientado, assim, que no ballet clássico, a área de maior pressão é o antepé, pois é a primeira parte do pé a tocar o solo no salto.

Conclusão

    Os resultados desta pesquisa evidenciam que, nos bailarinos do Corpo de Dança do Amazonas, a região que predomina maior pico de pressão plantar é o retropé direito. Os achados obtidos podem corroborar outros estudos já realizados, e também apresentar elementos novos como contribuição, servindo tanto aos profissionais que atuam na fisioterapia, como outros, em áreas afins, além dos próprios bailarinos, pois, apropriando-se desta pesquisa, muito pode ser feito para melhorar a prática do ballet (clássico ou contemporâneo), evitando possíveis lesões e distúrbios posturais, auxiliando na busca por equilíbrio da pressão plantar entre as regiões do pé.

    Para ampliar o conhecimento acerca do assunto, sugerem-se mais estudos que corroborem a pesquisa aqui descrita.

Bibliografia

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  • Zaniolo, Leandro Osni (2002). Dança no ensino superior: a questão de gênero. Educação em Revista, v. 1, n. 3.

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