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Uma breve revisão das diferentes perspectivas
do índice de massa corporal

Una breve revisión de las diferentes perspectivas del índice de masa corporal

A brief review of the different outlook body mass index

 

*Instituto de Biociências – PPG-DEHUTE – UNESP/Rio Claro

**Faculdade de Ciências, Departamento

de Educação Física – UNESP/ Bauru

(Brasil)

Astor Reis Simionato*

Leandro Oliveira da Cruz Siqueira*

Cassiano Merussi Neiva**

Dalton Müller Pessôa Filho* **

astor_ars@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O Índice de Massa Corporal (IMC) é um parâmetro de avaliação corporal, popularmente muito utilizado, por promover facilmente estimativas comparáveis e interpretáveis de peso corporal correlacionado com a estatura corporal. Além disso, a literatura apresenta outra potencialidade do IMC, em este ser capaz de promover uma boa relação com patologias e risco de mortalidades. Entretanto, algumas cautelas devem ser tomadas mediante as diferentes classificações para o IMC, já que este método do IMC é incapaz de distinguir o peso associado com massa magra e com a gordura corporal. Desta forma, a avaliação do IMC pode gerar interpretações imprecisas e, conseqüentemente, os possíveis programas de intervenção ou prescrição também serão inadequados.

          Unitermos: Índice de Massa Corporal. Gordura corporal. Patologias.

 

Abstract

          The Body Mass Index (BMI) is a body endpoint, used for promoting easily comparable and interpretable estimates of body weight correlated with body stature. In addition, the literature presents another use for BMI, this being able to promote a high relationship with disease and risk of mortality. However, some caution must be taken by the different classifications for BMI, as this method of BMI is unable to distinguish the weight associated with lean mass and body fat. Thus, evaluation of BMI may generate inaccurate interpretation and the possible intervention programs or prescription will also be inadequate.

          Keywords: Body Mass Index. Body fat. Pathologies.

 

Recepção: 28/02/2015 - Aceitação: 20/05/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 206 - Julio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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1.     Revisão

    O Índice de Massa Corporal (IMC = massa corporal [kg]/estatura [m2]) é um parâmetro de avaliação corporal, popularmente utilizado. Guedes e Rechenchosky (2008) o elegem como sendo o método antropométrico de maior aplicabilidade e encorajam um número cada vez maior de profissionais a recorrer aos seus procedimentos devido a sua simplicidade de utilização, a inocuidade e a facilidade de interpretação, e a baixa restrição cultural por se tratar de medidas externas das dimensões corporais.

    Micozzi e Harris (1990) relatam em seu estudo que o IMC possui dois objetivos teóricos principais: (1) promover facilmente estimativas comparáveis e interpretáveis de peso corporal padronizado pela estatura, além de (2) promover estimativa de gordura e composição corporal. Nagaya et al. (1999), corrobora mostrando uma boa correlação do IMC com a porcentagem de gordura corporal (r=0,743 - 0,924 ρ<0,001), medida pela bioimpedância (BIA). Mulheres tiveram maiores coeficientes de correlação (r= 0,855 - 0,924, ρ<0,001) do que os homens (r=0,743 - 0,848 ρ<0,001), em todas as faixas etárias estudadas (30 a 69 anos).

    Além disso, há outra potencialidade do IMC que promove uma relação com patologias, onde o aumento do IMC resultaria no aumento de risco e complicações cardiovasculares, certos cânceres, diabetes mellitus, cálculos vesiculares, patologias renais e ósseas (McArdle et al., 2003; Cervi, et al., 2005).

    Exemplo disso está no estudo de Calle e Terrell (1993), onde este relata que o sobrepeso e a obesidade aumenta o risco de mortalidade por doença cardiovascular e mortalidade por qualquer causa. Neste mesmo estudo o autor representa graficamente que o risco de mortalidade por doença cardiovascular encontra-se baixo para o peso eutrófico e, a partir do sobrepeso, este risco apresenta um aumento, com valores de risco ainda mais altos para classificações de obesos para o IMC. E o mesmo vale para baixo peso, havendo aumento do risco conforme o peso corporal diminua para abaixo do peso eutrófico.

    Além disso, Colditz, Willett e Stampfer (1990) analisaram que o aumento do IMC resulta num aumento proporcional do risco de diabetes mellitus tipo II.

    Estudos mostram que maior parte do diferencial de peso corporal entre os adultos é devida à gordura, sendo essa uma das razões de o IMC ser considerado um indicador de adiposidade (Shetty e James, 1994).

    Alguns autores apresentam diferentes classificações para o IMC, como apresentado na tabela 1. Bray (1992), por exemplo, relaciona IMC eutrófico com faixa etária e afirmando que este estaria associado a um menor risco de morbidade, já o IMC para obesos estaria quase sempre associado com aumento na gordura corporal, que é sinônimo de obesidade. Além disso, autor sugeriu ainda pontos de corte para definição de sobrepeso dependendo da idade, em sua proposta foi acrescentar uma unidade de IMC para cada década de vida, a partir dos 25 anos.

    A WHO (World Health Organization), em 1998 propôs a utilização dos pontos de corte para classificação do estado nutricional (adultos e idosos): baixo peso, eutrofia, sobrepeso e obesidade (separando a obesidade em graus, de acordo com risco de mortalidade: pré-obeso, obesidade classe I, obesidade classe II, e obesidade classe III). Já a mesma instituição, a Organização Mundial da Saúde (OMS) um ano antes, em 1997, classificou o IMC em oito classificações distintas, também subdividindo em graus a obesidade.

Tabela 1. Classificações do IMC para diferentes autores

    No meio dessas discussões sobre subdivisão da classificação de obesidade, Bray (1992) ainda relata que a utilização da terminologia por classe ou grau de obesidade deve ser feita com cautela, uma vez que, por definição, obesidade segundo a classificação do IMC não significa necessariamente um excesso de gordura corporal. Isto porque a obesidade não é medida diretamente através deste método, já que o método do IMC não é capaz de distinguir o peso associado com massa magra e peso associado com gordura corporal.

    Desse modo, o excesso de peso poderia vir de outros fatores – osso, massa muscular, volume plasmático – oriundo da constituição genética ou treinamento físico, que não sejam a gordura corporal (McArdle et al., 2003).

    Dentre as limitações do IMC, Deurenberg et al. (1998) ressaltam que há diferenças entre os grupos étnicos, tendo implicações para saúde pública, especialmente na definição de limites de corte que precisam ser específicos para os grupos populacionais, considerando o impacto da constituição corporal.

    Cervi et al. (2005) ainda comenta que, embora o IMC seja útil, permitindo comparação entre diferentes estudos, deve-se ter precaução em interpretar o resultado do IMC como fator de risco para doença crônica, particularmente em comparação com diferentes faixas etárias e grupos étnicos.

    Todavia, Hanson (1995), já alertava que as variedades de fatores biológicos, comportamentais e sociais podem influenciar a mortalidade causando desvios extremos na média de IMC da população. Por esse motivo, a mortalidade pode não ser o melhor critério pelo qual se desenvolvem padrões de peso. Segundo o mesmo autor, é necessário cautela ao se aplicar padrões de peso baseados no risco de mortalidade em determinada população em outra população.

    Em outro estudo, Khongsdier (2005), relacionou a morbidade auto-relatada com a composição corporal estimada por antropometria, e evidenciou que sujeitos com IMC menor que 18 kg/m2 e maior que 23 kg/m2 não diferiram significativamente no risco de adquirir doenças, daqueles considerados no estudo com IMC normal (18 a 23 kg/m2). Desta forma, a avaliação do IMC pode gerar interpretações imprecisas e, conseqüentemente, os possíveis programas de intervenção ou prescrição de atividades também não serão adequados (Glaner, 2005).

    Apensar de a literatura apresentar boas correlações do IMC com a massa de gordura corporal, este método é incapaz de predizer a quantidade ou a proporção de gordura corporal. Assim, a utilização deste método para classificar níveis de obesidade ou até mesmo riscos de mortalidade, se caso associados exclusivamente a quantidade de gordura corporal, devem ser cautelosos para as diferentes características populacionais.

Bibliografia

  • Bray, G. A. (1992). Pathophysiology of obesity. The American Journal of Clinical Nutrition, 55, 488-494.

  • Calle, E. E.; Terrell, D. D. (1993).Utility of the National Death Index for ascertainment of mortality among Cancer Prevention Study II participants. The New England Journal of Medicine, 137 (2), 235-241.

  • Cervi, A.; Franceschini, S. C. C.; Priore S. E. (2005). Critical analysis of the use of the body mass index for the elderly. Revista de Nutrição (Campinas), 18 (6), 765-775.

  • Colditz, G.A.; Willett, W.C.; Stampfer, M. J. (1990). Weight as a risk factor for clinical diabetes in women. The American Journal Epidemiology, 132: 501-513.

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  • Glaner, M. F. (2005). Body mass index as indicative of body fat compared to the skinfolds. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 11 (4), 229-232.

  • Guedes, D. P.; Rechenchosky, L. (2008). Comparison of predicted body fat from anthropometric methods: body mass index and skinfold-thickness. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, 10 (1), 1-7.

  • Hanson, R. L. (1995). The U-shaped association between body mass index and mortality: relationship with weight gain in a native American population. Journal of Clinical Epidemiology, 48 (7), 903-916.

  • Khongsdier R. (2005). BMI and morbidity in relation to body composition: a cross-sectional study of a rural community in North-East India. British Journal of Nutrition, 93, 101-7.

  • McArdle, W. D.; Katch, F. I.; Katch, V. L. (2008). Fisiologia do exercício: energia nutrição e desempenho humano. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

  • Micozzi M. S.; Harris T. M. (1990). Age variations in the relation of body mass indices to estimates of body fat and muscle mass. American Journal of Physical Anthropologic, 81 (3), 375-9.

  • Nagaya T.; Yoshida H.; Takahashi H.; Matsuda Y.; Kawai M. (1999). Body mass index (weight/height2) or percentage body fat by bioelectrical impedance analysis: which variable better reflects serum lipid profile. International Journal of Obesity, 23 (7), 771-4.

  • Organização Mundial da Saúde. (1997). Tabela de Referência do IMC.

  • Shetty, P. S.; James W. P. T. (1994). Body mass index - a measure of chronic energy deficiency in adults. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations.

  • World Health Organization. (1998). Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO Consultation.Geneva, World Health Organization. Technical Report Series, 894.

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