Pedagogia dos esportes: reflexões na Educação Física escolar Pedagogía de los deportes: reflexiones en la Educación Física escolar |
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Doutor em Educação Física pela Faculdade de Educação Física da UNICAMP Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo - USP Licenciado em Educação Física pela Universidade de São Paulo - USP |
Ubiratan Silva Alves (Brasil) |
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Resumo Os esportes coletivos são instrumentos bastante eficientes para ser utilizados na escola e mais especificamente na Educação Física escolar. Entretanto o esporte quando utilizado nas aulas da escola deve ser acessado por todos os alunos pois afinal a Educação Física é um componente curricular obrigatório na escola. Neste sentido se faz necessário entender os diferentes grupos de alunos nos seus diferentes grupos sociais a fim de adequar e adaptar as práticas esportivas para atender as necessidades educativas bem como os preceitos e objetivos da Educação Física escolar. As diferentes discussões da Pedagogia dos Esportes, em se tratando de esportes coletivos, facilitam esse entendimento e encaminham para práticas factíveis a fim de atingirem os diferentes objetivos apresentados na área. Unitermos: Pedagogia dos esportes. Esportes coletivos. Educação Física escolar.
Resumen Los deportes de equipo son herramientas muy eficientes para su aplicación en la escuela y más específicamente en la Educación Física. Sin embargo, el deporte cuando se utiliza en las clases en la escuela debe ser accesible a todos los estudiantes, porque después de todo, la Educación Física es un componente obligatorio en el currículo escolar. En este sentido, es necesario comprender los diferentes grupos de estudiantes en sus diferentes grupos sociales con el fin de ajustar y adaptar las prácticas deportivas para satisfacer las necesidades educativas, así como los principios y objetivos de la Educación Física escolar. Los diferentes debates sobre la enseñanza de los deportes, cuando se trata de los deportes de equipo, facilitan esta comprensión y orientan estas prácticas factibles para lograr diferentes objetivos que se presentan en el área. Palabras clave: Pedagogía de los deportes. Deportes colectivos. Educación Física escolar.
Recepção: 24/05/2015 - Aceitação: 02/07/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 206 - Julio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Para entender as modalidades esportivas coletivas, tomamos como referencial Bayer (1994) que, as agrupa, por identificar seis invariantes. São elas: a bola ou algum implemento similar, um espaço ou um local de jogo, companheiros de equipe com o qual se joga, adversários, um alvo a ser atingido (que também será defendido) e as regras específicas.
Essas invariantes determinam uma categoria chamada pelo autor de esporte coletivo ou jogo esportivo coletivo, pois permite vislumbrar estruturas semelhantes de jogo.
Por se tratar de um jogo coletivo com objetivo de, ora atingir o alvo e ora proteger o alvo, Bayer apresenta seis princípios operacionais comuns que se dividem em dois grupos, de ataque e de defesa. Para o ataque o autor define como conservação individual e coletiva da bola (ou implemento), progressão da equipe e da bola (ou implemento) em direção ao alvo adversário e finalização da jogada para obtenção do ponto. Para a defesa apresenta-se a recuperação da bola (ou implemento), impedir o avanço da equipe adversária e da bola (ou implemento) em direção ao próprio alvo e proteção do alvo impedindo que haja finalização da jogada.
Daólio (2002) ressalta que esta compreensão faz uma crítica à abordagem tecnicista que tem como foco principal o ensino do gesto técnico. Essa abordagem discute a técnica aliada à tática onde o técnica é o "modo de fazer" e a tática "as razões do fazer" sendo que uma não existe sem a outra.
A escola e a Educação Física escolar
Os esportes coletivos numa perspectiva educacional fazem sentido, antes de mais nada, quando colocamos outros tópicos a serem discutidos, como por exemplo, escola e aula de Educação Física escolar.
Em relação à escola, é nítida a alegria dos alunos quando se encontram neste espaço, afirma George Snyders (1988), que sinaliza as grandes influencias desta comunidade escolar na vida de quem a freqüenta. Os eventos que ocorrem dentro da escola parecem ser bem agradáveis aos alunos, com exceção das aulas ditas formais. Os alunos se divertem e aprendem nos horários de entrada, recreio e saída, as festas (junina, do sorvete, etc.), os passeios (estudos do meio e outros), as palestras com "alguém de fora", os campeonatos (de qualquer "coisa": seja de par ou impar ou futebol) e qualquer evento que descaracterize a extrema formalidade que muitas aulas teimam em apresentar.
Especificamente nos horários de entrada e recreio, vale a pena observar os olhares das crianças ao ouvirem o sinal de início da “aula”. As crianças parecem não concordar em trocar aquele momento rico de aprendizado significativo e de relações com os colegas para se dirigirem as salas de aula que, muitas vezes, não conseguem externar os significados dos aprendizados.
Ressaltamos que, este insucesso das aulas não está relacionado exclusivamente ao local onde as mesmas se desenvolvem, mas sim nas características que os professores conduzem essas aulas, seus métodos, seus conteúdos, suas avaliações, suas atividades, enfim seus procedimentos diante dos grupos de alunos. Muitos professores ainda obstinam em acreditar que os alunos atuais são iguais aqueles quando “ele” (o professor) era aluno, ou seja, o ditado “no meu tempo”, paira, ainda, em muitas conversas docentes.
De modo geral, estas aulas não mostram aos alunos os significados que são importantes a eles e assim, os locais fora da aula parecem ter mais significado imediato. O intervalo, por exemplo, é um espaço onde se aprende a fazer fila para apanhar ou comprar o lanche, esperar para que seu grupo participe de alguma atividade (jogar bola), flertar com garotas ou garotos, respeitar regras de convivência que serão levadas para vida toda. Estas situações parecem estar mais presentes nestes momentos e explicitam grande significado para os alunos em seu dia a dia.
Estes alunos formam um grupo da geração dita "fast" num mundo "delivery", conforme mostra Abreu et al. (2013), onde todas as relações devem acontecer em períodos curtos de tempo. Fast food, drive thru, "ficar" (ter uma relação íntima de curta duração com outra pessoa) são constantes nas vidas destes grupos de alunos e a escola deve se atentar a isso.
Em se tratando de aula de Educação Física é importante salientar seu caráter obrigatório expresso na Lei nº 10.328 de 12 de dezembro de 2001 que diz em seu texto: "A Educação Física, integrada à proposta da escola, é componente curricular obrigatório da Educação Básica".
Somado a essa obrigatoriedade, a Educação Física (e todas as outras disciplinas) devem enfatizar seu caráter democrático, ou seja, todos os alunos tem o direito de participar. Pensamos nessa participação como algo ativo (em se tratando especificamente das aulas de Educação Física), com intervenção e atuação prática e não apenas “carregar o saco com as bolas esportivas”, “apitar jogos”, “fazer anotações em diários, chamadas” ou algo semelhante. O aluno deve interagir com os outros em igualdade de condições independentemente de suas características motoras, físicas, psíquicas, morais, econômicas, sociais, emocionais, sua religião, etnia, opção sexual ou algo que o valha. Dewey (1936) citado por Martins e Batista (2006, p. 158) corroboram a ideia de que a escola é um “espaço adequado para a democratização das oportunidades”.
A partir desta democratização, Dewey (2010) acrescenta que na escola o conhecimento é construído de consensos entre alunos e professores através de discussões coletivas. Por isso, o autor salienta que os aprendizados acontecem a partir do compartilhamento de experiências que só serão possíveis se houver um ambiente democrático, sem barreiras ao intercâmbio de pensamento. Neste sentido, a escola deve proporcionar práticas coletivas promovendo assim situações de cooperação, ao invés de tratar os alunos de modo isolado.
Numa aula de Educação Física escolar o movimento deve prevalecer diante de outros aspectos, ou seja, a aula de Educação Física deve ter "práxis" construídas pelos alunos que efetivamente se movimentam. Concordamos que outros aspectos fazem parte destas aulas, como por exemplo, os emocionais, cognitivos, afetivos, sociais entre outros. Devem também haver momentos de discussão, reflexão, construção, etc. Entretanto, movimentos, gestos, deveriam ter prioridade, serem enfatizados e prevalecer durante uma aula de Educação Física escolar.
Ainda em Dewey (2010) encontramos amparo desta ideia quando o autor ressalta que as experiências educativas são reflexivas e resultarão em novos conhecimentos sendo para isso fundamental que o aluno esteja numa verdadeira situação de experimentação, onde haja algum tipo de problema a ser resolvido. O aluno então utilizará seus conhecimentos para agir diante da situação podendo testar suas ideias onde a reflexão e a ação devem estar ligadas pois são parte de um todo indivisível.
A aula deve proporcionar aos alunos momentos de prazer, de alegria, de envolvimento, ou como diz Coakley (1998), a preocupação em proporcionar prazer pela prática esportiva deve estar enfatizada no eixo prazer e participação. É importante para os alunos experimentarem essas sensações durante as práticas pois assim a aderência às atividades podem acontecer de modo imediato e posteriormente contínuo pois como afirma Paes (et al., 2008) a satisfação pela prática pode manter a criança nos ambientes esportivos.
Não obstante, por trás de todo “prazer” ofertado pela aula, deve existir uma programação planejada e estabelecida de modo coerente a fim de atingir os objetivos da área, bem como seus conteúdos, enquanto componente curricular escolar.
Assim, conforme Alves (2014), participação de todos (não necessariamente ao mesmo tempo na mesma atividade), práxis e prazer deveriam estar sempre presentes nas aulas de Educação Física escolar.
Esporte na Educação Física escolar
O esporte utilizado nas aulas de Educação Física escolar pode ser um dos meios mais efetivos na formação de jovens sendo indispensável no desenvolvimento de suas personalidades e imponderável nos seus processos de emancipação sendo um caminho essencial para o exercício pleno da cidadania no futuro individual dos alunos.
Nesta relação do esporte com a escola, Nista-Piccolo e Moreira (2012, p. 20) enfatizam que: "Ensinar o conhecimento sobre o esporte é função da escola, assim como proporcionar práticas prazerosas que se traduzam em aprendizagens significativas."
Diante disso, apoiamo-nos em Paes (2006) quando indica o esporte como sendo um fenômeno sócio cultural extremamente importante desde o início deste século e que faz parte das manifestações culturais do homem que podem ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física escolar.
O esporte se tornou, conforme Elias e Dunning (1992), um dos principais meios de criação de excitação agradável e um bom meio de identificação coletiva. Os esportes coletivos poderiam estar presentes nas aulas de Educação Física escolar fomentando estas questões.
Essa presença do esporte no ambiente escolar poderia estar pautada nos princípios básicos apresentados por Freire (1998) que sugere ensinar esportes, ensinar esportes bem a todos, ensinar mais que esportes a todos e ensinar a gostar de esportes.
Diante disso, alguns entendimentos para aplicação e utilização dos esportes coletivos na escola merecem destaque a partir de alguns autores.
Cada grupo, cada região, cada momento histórico é peculiar e devem assim ser tratados pelo professor de Educação Física quando vai se utilizar do esporte. Uma mesma modalidade pode ter tido uma construção histórica de uma maneira num dado local e de outra maneira em outro local o que resultará em significados diferentes. Daolio (2002) enfatiza a necessidade de se atentar a estas questões para não ter insucessos respeitando as ações e os interesses de cada grupo, de cada indivíduo, não tendo como parâmetros o gesto técnico utilizado no esporte de alto rendimento. O mesmo autor apresenta um modelo para aplicação do esporte chamado de Pendular onde os princípios operacionais do jogo são os primeiros a serem ensinados seguidos das regras de ação e por fim os gestos técnicos.
Freire (1998) e Scaglia (2011) são adeptos a uma valorização dos jogos e brincadeiras da cultura infantil sendo que o ensino deve estar integrado ao jogo e ao ambiente que o aluno está inserido adaptando-o a realidade do seu ambiente. Para Freire (1998) o que determina o sucesso ou insucesso do aluno e sua história, são suas experiências motoras. Reverdito e Scaglia (2009) apontam que, nos esportes, o processo de ensino-aprendizagem deve dar ênfase aos jogos táticos, onde os alunos possam compreender o jogo e suas estruturas, estimulando-os o pensar. O importante é o entendimento do jogo para desenvolver as capacidades cognitivas.
O meio de intervenção no processo ensino-aprendizagem dos esportes coletivos é o chamado por Paes (2001) de jogo possível ou jogo reduzido, ou seja, uma forma simples do jogo principal. Podem ser brincadeiras, pequenos jogos com características técnico-táticas e estrutura funcional parecida com o jogo principal. O autor ressalta que estes jogos devem ser concebidos de acordo com as características e o conhecimento do grupo a ser aplicado.
Garganta (1995) sugere os jogos condicionados que estimulam a compreensão (o que fazer), integrando a técnica (como fazer) assimilando os princípios comuns do jogo no aprendizado através de jogos acessíveis ao conhecimento do aluno.
Em Graça (1998) vemos o ensino dos jogos feito através de atividades (jogos) modificadas, orientadas para um objetivo onde as atividades contemplem o que fazer e como fazer não evadindo aos princípios funcionais dos jogos.
Kröger e Röth (2002) mostram que o ensino dos jogos coletivos deve acontecer por meio de jogos situacionais que abrangem fatores como precisão, organização, complexidade, tempo e carga. Assim, estes jogos são construídos para que se trabalhem os movimentos específicos dos esportes, ou seja, as técnicas.
Existe uma grande importância do trabalho da técnica e das capacidades motoras no aprendizado dos jogos coletivos por meio de jogos ditos situacionais e funcionais sinalizam Benda e Greco (1998).
De modo geral, a partir das perspectivas destes autores, vemos que as tendências da Pedagogia dos Esportes sinalizam metodologias que pretendem desenvolver de modo eficaz os domínios técnicos e táticos no contexto da ação do próprio jogo. Existe ainda uma valorização da resolução de tarefas coletivas e problemas que se assemelhem efetivamente ao jogo em si.
A didática fica subordinada a natureza do jogo onde aparecem a cooperação, a oposição e a finalização sendo que há um grande privilégio no jogar para aprender e no aprender jogando. Vale ainda destacar, de acordo com Reverdito (2013), a inter relação e a interdependência dos fenômenos físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais que se fazem presentes.
A pedagogia dos Esportes, ainda segundo Reverdito (2013), pretende transcender a simples repetição de movimentos orientando para a formação de indivíduos conscientes, críticos e reflexivos. Ressalta o compromisso com o ensinar, com a transformação e com a autonomia do indivíduo onde o processo deve ser estabelecido em razão do sujeito que joga valorizando sua cultura corporal e social de acordo com os pilares da diversidade e orientada para todos.
O ambiente deve ser formativo onde o professor aparece como mediador das ações. Assim, o jogo passa a ser entendido a partir do jogo "jogado" e "jogante", ou seja, participar de modo prático e possível de seus princípios operacionais que se integram as especificidades técnicas por meio de formas jogadas, funcionais, condicionadas e situacionais.
A prática dos esportes coletivos na escola deve acontecer comprometida com o sujeito que está na escola, ou seja, o aluno. É importante se atentar aos diferentes cenários, finalidades e significados. Estas tendências buscam uma ruptura ideológica e paradigmática com os modelos reducionistas contribuindo para a constituição de um processo organizado, sistematizado, aplicado e avaliado com múltiplas possibilidades para humanização dos seres humanos enfatizados por Reverdito (2009).
Ao se discutir a ideia de esportes coletivos na escola temos que nos atentar para a existência da competição presente nestas práticas ressaltando que conforme Scaglia e Montagner (2013) a competição não é uma guerra e o esporte não é constituído apenas para os mais aptos.
Implicações pedagógicas devem permear essa competição em se tratando de esportes na Educação Física escolar. O aluno deve sentir prazer quando se percebe moralmente forte numa disputa que pode ultrapassar seus próprios limites, superar obstáculos que pareciam ser intransponíveis e principalmente no aspecto coletivo presente numa aula de Educação Física escolar, o aprender a cooperar, o jogar junto e a união com fins de atingir objetivos comuns.
Scaglia e Montagner (2013) propõe que a promoção da Pedagogia da Competição encaminhe os alunos a, constantemente, se superar individualmente e coletivamente.
O competir "contra" deve ser substituído pelo competir "com" que, nas palavras de Castellani Filho (1998), contemple as diferenças sem camuflagem respeitando e valorizando-as de modo igual. O jogar com alguém e contra si mesmo pode ser uma marco de referência num processo de auto avaliação que terá também como objetivo a auto superação e a melhora da autoestima.
Mauro Betti (1988) apresenta cinco características que envolvem os aspectos educacionais e sociais da competição esportiva nos pressupostos da Pedagogia da Competição.
A própria competição que tem como meta a superação é a primeira característica que pode ser superar-se ou superar o(s) adversário(s). A segunda característica é a hierarquia social, ou seja, os resultados definem quem é o melhor e estabelecem esta hierarquia. O rendimento máximo faz parte da terceira característica onde a exigência máxima acontece em busca da vitória. A quarta característica é a recompensa intrínseca, prêmios, dinheiro, fama e notoriedade podendo chegar a criar vínculos de trabalho. A ultima característica são as regras que, pré estabelecidas são inflexíveis e devem ser cumpridas.
Diante destas características é imprescindível a presença e a intervenção de mediadores, professores, pedagogos nestas realidades para que não se perpetue apenas a reprodução de um esporte que não tenha a prática acessível a todos.
Alguns fatores positivos e negativos relacionados a competição esportiva são mostrados por Seurin (1984). Como positivos o autor aponta que o êxito esportivo para alguns jovens suprem algumas necessidades como ser amado, ter segurança, ser valorizado e, assim, equilibrar outros aspectos de sua vida como os intelectuais, afetivos ou sociais. Outro aspecto positivo é a coibição da agressividade e da violência evoluindo para a "combatividade" através da formalização e organização das regras. O autor usa o termo "lar social" para caracterizar os espaços onde se prática esporte que ate certo ponto pode superar a participação dos jovens em gangues ou bandos.
Por outro lado, de acordo com o mesmo autor, a competição pode ter aspectos negativos que precisariam ser minimizados. A competição esportiva com jovens não deveria ser confundida como uma atividade profissional, um trabalho que tem obrigações diárias e cobranças extremas em busca de resultados sem se preocupar com a harmonia do desenvolvimento. Outra relação apresentada pelo autor se dá com o tempo livre, ou seja, o jovem tem necessidades de liberdade e pouco formalismo por isso essas cobranças e exigências de resultados podem ser maléficas a estes grupos.
A partir destas indagações é possível perceber que, a competição em se tratando de sua utilização no esporte, não é um problema. O problema são os sujeitos que lançam mão de sua utilização, de modo inadequado, em suas propostas, principalmente exaltando vencedores em detrimento de perdedores.
A responsabilidade dos gestores nesta competição esportiva deve estar envolvida nos princípios educacionais do esporte promovendo situações onde os jovens se sintam mais maduros, livres e sujeitos que possam tomar iniciativas, tenham responsabilidades, se superem e saibam trabalhar em grupo superando obstáculos.
Considerações
Não existe uma única forma de utilização do esporte nas diferentes escolas e nos diferentes grupos pois cada micro sociedade é peculiar em suas características e, conforme Daolio (2002) devem ser respeitadas. O jogo propriamente dito, em Freire (1998) e Scaglia (2011), por ter uma aceitação grande por parte dos alunos diante de outras estratégias, poderia ser mais valorizado nas aulas. Este jogo, além de coletivo, de acordo com Paes (2001), deve ser um jogo possível, ou seja, onde todos os alunos participem e para isso, Garganta (1995) propõe os ditos jogos condicionados que seriam acessíveis ao conhecimento dos alunos.
A escola não deveria se render aos preceitos do esporte de alto rendimento, como por exemplo, forte orientação no rendimento e na competição, seletividade via concorrência, igualdade formal perante as rígidas leis ou regras. Bracht (1997) destaca que esta instituição escolar tem seus próprios códigos e funções e enfatiza que, a utilização do esporte enquanto conteúdo da Educação Física na escola só faz sentido se atrelado ao projeto pedagógico da escola. Além disso, o autor acrescenta que esse esporte deve ser entendido como uma prática pedagógica presente na escola, portanto, poderia se pensar em uma caracterização desta prática focada em aspectos educacionais.
Os esportes coletivos são ferramentas muito eficientes se bem trabalhadas e muito degradantes se utilizadas de modo indevido. A escola, por ser um dos primeiros locais onde grande parte da sociedade toma contato com os esportes de modo organizado, tem de se atentar aos profissionais que vão se utilizar do esporte em suas aulas para que este seja um tema positivo para todos os alunos.
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