Fatores causais de lombalgia em
idosos: Factores causales de la lumbalgia en personas mayores: una revisión narrativa de la literatura Causal factors of low back pains in elderly people: a narrative literature review |
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*Graduanda em Enfermagem pela Universidade de Passo Fundo – RS **Fisioterapeuta, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo – RS. ***Fisioterapeuta, graduada pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI – Erechim – RS ****Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP Docente do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo – RS |
Carine Sagiorato Rossetti* Ezequiel Vitório Lini** Mônica Sagiorato Rosseti*** Marlene Doring**** (Brasil) |
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Resumo A lombalgia possui elevadas taxas de prevalência e suas complicações podem gerar incapacidades. O objetivo desta revisão consiste em identificar as principais causas da lombalgia e suas conseqüências na vida dos idosos. Analisou-se o conteúdo das publicações científicas nacionais indexadas, que tratavam de lombalgia em idosos, considerando como descritores: dor lombar, envelhecimento, etiologia, dor crônica, doenças da coluna vertebral. Foram usadas as bases de dados online LILACS, MEDLINE e SCIELO, no período de 2005 e 2014. A literatura evidencia que as modificações fisiológicas que ocorrem ao longo dos anos alteram a postura e a aumentam a incidência de dor lombar, o que gera determinado grau de incapacidade motora, prejudicando as atividades diárias. A maioria das lombalgias ocorre por causas inespecíficas. Entre as específicas estão os problemas congênitos, as causas degenerativas, processos inflamatórios, infecções e tumores. Conclui-se que a atuação multiprofissional, desde a prevenção até a reabilitação, é a melhor estratégia para promoção de uma melhor qualidade de vida para aos idosos. Unitermos: Dor lombar. Envelhecimento. Etiologia.
Abstract Low back pain presents high prevalence rates and its complications may cause disabilities. The aim of this review is to identify the main causes of low back pain and its consequences in the life of the elderly. Content was analyzed from national indexed scientific publications about low back pain in elderly people, considering as descriptors: low back pain, aging, etiology, chronic pain, and spinal column diseases. Online databases LILACS, MEDLINE, and SCIELO were used, in the years of 2005 and 2014. Literature proved that physiological modifications occurring over the years change posture and increase the incidence of low back pain, which creates a certain degree of motor disability, hindering daily activities. Most low back pains occur for unspecified reasons. Among specific causes are congenital problems, degenerative causes, inflammatory processes, infections, and tumors. It is concluded that multidisciplinary work, from prevention to rehabilitation, is the best strategy to promote better quality of life for the elderly. Keywords: Low back pain. Aging. Etiology.
Recepção: 26/05/2015 - Aceitação: 19/07/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 206 - Julio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A lombalgia em idosos desperta interesse por atingir níveis epidêmicos na população em geral, sintoma este, que pode manifestar-se desde a infância e agravar-se com o passar dos anos (Hoffmann, 2010). Estima-se que 80% da população mundial sofrerá com algum tipo de dores nas costas em qualquer momento de suas vidas (WHO, 2014).
A dor lombar, ou lombalgia, é toda dor que acomete a região lombar, desde a parte mais baixa do dorso até a prega glútea (Fellet et al., 2010). A dor é definida pela International Association for Study of Pain (IASP), como uma experiência sensorial e emocional desagradável, manifestada diante de lesões teciduais, reais ou potenciais. Quando a dor se estender para além da lombar, com irradiação para membros inferiores, denominamos lombociatalgia (Fellet et al., 2010).
O período de presença dos sintomas determina a classificação da lombalgia, que pode ser aguda (menor que 6 semanas de dor), subaguda (de 6 a 12 semanas de dor) ou crônica (mais de 12 semanas de dor) (Reis et al., 2008).
O processo de envelhecimento é acompanhado pela alta incidência de doenças crônicas e degenerativas, muitas vezes com presença de dor crônica (Lima-Costa; Loyola Filho e Matos, 2007). Dentro desse paradigma da dor crônica apresentam-se as dores na coluna, especialmente a lombalgia, que se mostra como a dor de maior incidência (Dellaroza et al., 2013). Tal panorama vem provocando repercussões na área da saúde pelo aumento no número de casos de doenças crônico-degenerativas e tornando-se desta forma um problema social (Tavares et al., 2007).
Nesse sentido, se faz necessário um estudo sobre a lombalgia no processo de envelhecer, no intuito de prevenção e intervenção precoce nessa população. Dessa forma, objetivou-se identificar, com base na literatura, as causas e as repercussões da lombalgia em idosos.
Metodologia
Para a elaboração desta revisão narrativa as seguintes etapas foram percorridas: definição da questão de pesquisa e dos objetivos do estudo; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos; definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; análise dos resultados; discussão e apresentação dos resultados. Para guiar a revisão narrativa, formulou-se a seguinte questão: quais são as causas e repercussões da lombalgia nos idosos e como prevenir? Para a seleção dos artigos foram utilizadas bases de dados online LILACS, MEDLINE e SCIELO.
Os critérios de inclusão dos artigos foram: textos nacionais, com os resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas, no período compreendido entre 2005 e 2014. A estratégia de busca considerou como descritores: dor lombar, envelhecimento, etiologia, dor crônica, doenças da coluna vertebral. A busca foi realizada pelo acesso on-line, a partir dos títulos foram selecionados 37 artigos, após análise dos resumos, 13 destes artigos e uma tese permaneceram na amostra final para análise.
Resultados e discussão
A lombalgia é uma sintomatologia que pode estar relacionada a diversos problemas de coluna, bem como à dor miofascial, advinda de estresse muscular gerado por atividades prolongadas, repetitivas, e por um condicionamento físico inadequado, gerando alteração na biomecânica da coluna vertebral, muitas vezes comprometendo a independência funcional do idoso e sua qualidade de vida (Zavarize e Wechsler, 2012). Contudo, algumas condições específicas podem levar à lombalgia, como problemas congênitos, causas degenerativas, processos inflamatórios, infecções e tumores (Souza et al., 2008).
Existe concordância dentre alguns autores, quanto à dificuldade de se determinar a etiologia da lombalgia, ou seja, não é possível determinar a causa aparente de boa parte dos indivíduos que enfrentam esse problema (Tosato et al., 2006; Reis et al., 2008). Em torno de 85% das lombalgias são classificadas como inespecíficas e os outros 15% restantes ainda dependem de uma boa avaliação profissional, com atenção a história, exames físicos e de imagem para a correta identificação da origem da dor (Fellet et al., 2010).
As barreiras para estudar e abordar as lombalgias e 1ombociatalgias explicam-se por vários fatores, dentre os quais, podem ser mencionados: a) inexistência de uma correlação confiável entre os achados clínicos e os de imagem; b) ser o segmento lombar inervado por uma rede complexa de nervos, provocando imprecisões quanto o local de origem da dor, exceto nos acometimentos radículo-medulares; c) pelo fato das contraturas musculares, freqüentes e dolorosas, não se acompanharem de lesão histológica demonstrável (Marty e Henrotin, 2009).
A imprecisão quanto à etiologia da lombalgia em idosos é verificada na pesquisa de Reis et al. (2008) com 47,7% da população investigada diagnosticada como lombalgia “sem causa aparente”. A pesquisa demonstra ainda que 27,3% das lombalgias advêm de espondiloartrose lombar, 15,9% têm como etiologia a hérnia de disco. As histórias de trauma também participaram como fator determinante do início dos sintomas, com 9,1% dos acometimentos.
Ao examinar um indivíduo com queixa de algia lombar, o profissional deve atentar-se as principais causas, que podem estar diretamente ligadas à coluna lombar ou aos órgãos internos, tais como rins, intestinos e genitais. Esforços repetitivos, excesso de peso, trauma, condicionamento físico inadequado, alteração postural, artroses, osteoporoses, tumores, discopatias e más formações congênitas são outras possíveis causas de lombalgia que devem ser investigadas (Fellet et al., 2010).
A partir dos 40 anos de idade surgem algumas alterações posturais, que com o passar dos anos se intensificam, tais como o aumento da curvatura cifótica da coluna torácica, diminuição da lordose lombar, joelhos em posição de semiflexão, articulação coxofemoral deslocada para trás e inclinação anterior de tronco (Silveira et al., 2010). Essas alterações posturais, somadas a degeneração do disco intervertebral e redução da flexibilidade e extensibilidade de músculos e tendões propiciam riscos de desenvolvimento de lombalgia em pessoas com idade mais avançada.
Existem muitos fatores e causas que comprometem a vida saudável da coluna vertebral, mas a que predomina na literatura é o déficit musculoesquelético. Completam a lista as más posturas, desequilíbrio das estruturas passivas (osteo-ligamentares) e ativas (musculares), que resultam em instabilidade do complexo lombo-pélvico e quadros dolorosos a ela relacionados, inatividade, posturas hipocinéticas ou lesões que geram desequilíbrios entre comprimento, força, resistência e coordenação muscular (Renkawitz; Boluki e Grifka, 2006).
Dados de um inquérito de saúde do Estado de São Paulo, realizado com indivíduos acima de 60 anos, apontaram prevalência de 30% de dor lombar em uma amostra de 400 idosos. Este inquérito identificou que dentre todas as queixas de dores, a região lombar é a mais acometida, desencadeando incapacidades nas atividades de vida diária e alterações na mobilidade (Dellaroza et al., 2013). Para Salvetti et al. (2012), além da lombalgia outros itens contribuem para incapacidade, tais como fatores sociodemográficos, físicos, culturais, emocionais e laborais.
Diamond e Borenstein (2006) salientam que a maioria dos casos de lombalgia aguda são resolvidos rapidamente, contudo alguns indivíduos desenvolvem a dor lombar crônica que é uma condição persistente e incapacitante.
Há evidências de que a lombalgia é um agente importante de incapacitação e limitação funcional, afetando os domínios físicos, psicológicos e sociais (Zavarize e Wechsler, 2012). A presença de incapacidade sobrecarrega os serviços de saúde, pois indivíduos que se sentem incapacitados realizam com freqüência consultas, exames e cirurgias (Salvetti et al., 2012).
Nesse sentido, a fisioterapia com a ação combinada do exercício físico pode contribuir na prevenção de síndromes dolorosas da coluna, por proporcionar, através de programas de força e flexibilidade, maior conscientização da postura. Contudo, intervenções interdisciplinares – nas áreas da Educação Física, Fisioterapia, Enfermagem e Medicina – podem ser eficazes na formulação, monitoramento, implementação e criação de programas específicos de combate a lombalgia, com realização de exercícios, alongamentos e orientações (Furquim Júnior, 2010).
A lombalgia é uma dor desagradável, que quando crônica interfere na qualidade de vida do idoso, tornando-se um fator prejudicial no desempenho físico e capacidade funcional dos idosos (Fernandes e Garcia, 2010). Dessa forma, a conservação da capacidade funcional têm importantes implicações para a qualidade de vida dos idosos, por estar relacionada com a capacidade de desenvolverem atividades cotidianas agradáveis, tais como caminhadas, danças, passeios, interação social, etc. (Furquim Júnior, 2010).
Ressalta-se a importância de se estimular programas específicos de diagnóstico e intervenção para a manutenção e recuperação da funcionalidade. A prevenção demostra-se como a melhor estratégia, baseada numa abordagem multidisciplinar, mediante programas de intervenção. Quando já instalado o problema, direcionar esforços para que não ocorra a piora do quadro e instalação da lombalgia crônica, bem como, proporcionar a independência e autonomia pelo maior tempo possível, fatores estes, determinantes de boa saúde e qualidade de vida.
Conclusão
A literatura evidencia que as modificações fisiológicas que ocorrem ao longo dos anos alteram a postura e aumenta a incidência de dor lombar, o que gera determinado grau de incapacidade motora, prejudicando as atividades diárias. A maioria das lombalgias ocorre por causas inespecíficas. Entre as específicas estão os problemas congênitos, as causas degenerativas, processos inflamatórios, infecções e tumores.
Diante do exposto nesta busca pela melhor evidência disponível frente às causas e repercussões da dor lombar nos idosos, entende-se que deve ser adotada por toda a equipe multiprofissional a prevenção das doenças crônicas, entre elas a lombalgia, pois a melhor intervenção é a prevenção. Mostram-se necessárias ações com intuito de oportunizar aos indivíduos um estilo de vida saudável, dando credibilidade às posturas adequadas, níveis ideais de atividades físicas, cuidados osteomusculares, fatores estes, essenciais na manutenção da capacidade funcional.
Para que isso aconteça, os profissionais precisam estar embasados cientificamente e atualizados para programar ações eficazes, que atendam as necessidades reais de cada paciente com vistas à prevenção das incapacidades e promoção de uma velhice ativa.
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