Implicações do desinteresse
pelas aulas Implicaciones del desinterés por las clases de educación física en la escuela secundaria Disinterest implications for physical education classes in high school |
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*Graduada/o em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM **Professora Doutora pela Universidade Federal de Pelotas – UFPEL (Brasil) |
Patrícia Roberta Mundt* Diego Luis Sauer* Andressa Aita Ivo** |
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Resumo Com este ensaio tentaremos abordar alguns elementos para que possamos entender as influências que geram o desinteresse pela aula em especial as de Educação Física no ensino médio. Através da busca de algumas publicações sobre o assunto nos inteiramos do mesmo para podermos embasar nossa argumentação. Explanaremos também sobre a questão do próprio ensino médio e a finalidade que é configurada ao mesmo a partir das relações externas e mercadológicas que atuam sobre todo sistema educacional. Com isso abordaremos algumas questões que geram o desinteresse dos alunos em especial as aulas de Educação Física. Para concluir defendemos a importância do professor de educação física como mediador do processo educacional e a sua importância no desenvolvimento de uma mentalidade crítica nos alunos. Unitermos: Educação Física. Ensino Médio. Desinteresse.
Abstract With this test we will try to address some elements for us to understand the influences that generate disinterest in class especially physical education in high school. By finding some publications on the subject in the same we learned for us to base our argument. We spread also on the issue of high school itself and the purpose that is configured the same as the external and market relationships that act on the whole education system. With this cover some issues that generate the lack of interest of students in special classes of Physical Education. Finally we advocate the importance of physical education teacher as a mediator of the educational process and its importance in the development of critical thinking in students. Keywords: Physical Education. High school. Disinterest.
Recepção: 12/06/2015 - Aceitação: 24/07/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 206 - Julio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Pensar a educação voltada aos interesses dos alunos não é tarefa fácil. Pensar a mesma para uma turma heterogênea de mais de 30 alunos todos com ambições, curiosidades, necessidades e pensamentos diferentes se torna uma tarefa ainda mais árdua. O modelo atual de educação sustentado pelo governo é caracterizado por um sistema que aparentemente foge do padrão tradicional e militarista que orientou a educação por muitos anos. No entanto, a política educacional implementada pelo governo federal, nas últimas décadas, é balizada por índices e indicadores de qualidade da Educação, a partir de um modelo neoliberal, que segue a lógica do mercado. Para tal necessitam educar estes trabalhadores a fim que quem sejam submissos e alienados o bastante para que trabalhem sem questionamentos às instancias exploradoras (Silva, 2002).
Este sistema, aparentemente bem estruturado, orienta levar em consideração a realidade do aluno e o meio social onde este vive seria bastante interessante se não houvesse um problema: e exigência do cumprimento de metas. Cumprir metas é a fundamentação do sistema capitalista, é a base mais simples e primordial deste sistema. Ao final do ensino médio os alunos são testados nas instituições de ensino superior. Grande parte das escolas tem como finalidade central a aprovação do maior número de seus egressos do ensino médio. Conforme o sitio eletrônico Portal Brasil em sua página oficial reza que:
O ensino médio é a etapa final da educação básica e prepara o jovem para a entrada na faculdade. Com duração mínima de três anos, esse estágio consolida e aprofunda o aprendizado do ensino fundamental, além de preparar o estudante para trabalhar e exercer a cidadania. (disponível em: http://www.brasil.gov.br/sobre/educacao/sistema-educacional/ensino-medio).
Diante desta realidade fica difícil a missão do professor de educação física em ministrar os conteúdos. A dispensa das aulas ocorre muitas vezes em função dos processos vestibulares que os alunos do ensino médio serão submetidos ao final do ultimo ano. “Essa “desnecessidade” dos conteúdos da educação acarreta, conforme Rodrigues (2003 p. 71) “a dispensa surge por regra sem que o professor seja consultado, sem que sejam estudadas hipóteses [...] Isto é sem dúvida, menosprezo pela EF.” (abreviação do original).
Desinteresse pelas aulas no ensino médio (educação física)
O desinteresse que pretendemos tratar neste breve trabalho poder ir além das aulas de educação física que são nosso campo de atuação e intervenção. O desinteresse que vem normalmente da falta de necessidade que há de ter conteúdos de educação física para sustentar conhecimentos necessários para o vestibular. Do ponto de vista do cumprimento de metas, no caso, “passar” no vestibular, a Educação Física se configura numa disciplina completamente inútil e que pra variar atrapalha os alunos, pois estes poderiam estar estudando para acertar mais questões no vestibular.
O ensino médio em vezes é voltado para a formação de mão de obra qualificada sendo associado a cursos técnicos e profissionalizantes. Nestes casos os estágios e as intervenções de trabalho realizadas pelos alunos muitas vezes os levam a ser dispensados das aulas de Educação Física, pois estão amparados pela legislação que assegura aos trabalhadores dispensa das aulas de Educação Física (LDB, capítulo II, art. 26 § 3º)
Essa “desnecessidade” observável das aulas acarreta inúmeros problemas nos alunos, não necessariamente imediatos. Problemas cardíacos, respiratórios, ósseos, obesidade, diabetes, colesterol etc. Evidente que somente com duas aulas, ou na maior parte das vezes, com uma aula por semana é impossível desenvolver uma prática dentro das aulas de Educação Física, mas há a possibilidade de se desenvolver um conhecimento que pode subsidiar a prática cotidiana e através disso estimular os alunos a praticar atividades físicas com intuito de se desenvolverem de forma mais saudável. Por isso as aulas de Educação Física são de vital necessidade visto que durante a adolescência é o período que ocorrem grandes mudanças no corpo dos adolescentes. Essas mudanças devem vir acompanhadas de hábitos saudáveis para que o indivíduo possa se desenvolver plenamente.
A metodologia utilizada pelo professor também pode ser um fator que agrava o desinteresse pelas aulas de educação física. É humanamente impossível agradar a todos e com isto acaba prevalecendo a decisão da maioria dos alunos. Isso ocorre porque a Educação Física é vista como um espaço promover a distração e o relaxamento da tensão gerada nas aulas que ocorrem dentro da sala. Na maior parte das vezes, ao professor cabe somente acatar a decisão dos alunos pelo fato destes terem o poder de decisão em prática ou não, pois tem grandes demandas de estudo e não tem interesse caso a aula não seja jogo propriamente dito (Almeida; Cauduro, 2007).
A competição e a Educação Física centrada em repetição de exercícios desestimulam os alunos a praticar. Os alunos se desmotivam de participar das aulas pelo fato, muitas vezes, do professor realizar cobranças (sem antes ensinar ou mostrar possibilidades de aprendizagem) em atividades que não são do gosto dos alunos ou nos quais não tem grande habilidade. Com grandes dificuldades de acompanhar alguns colegas que conseguem ter um bom desempenho, especialmente em modalidades esportivas coletivas, ocorre a frustração e o sentimento de incapacidade faz com que o aluno desista de participar e não goste das aulas de educação física (Almeida; Cauduro, 2007).
Implicações e complicações
Já frisamos algumas implicações em termos de saúde do que pode acarretar a falta de cuidados com o corpo. Através da realização de atividades físicas é possível desenvolver hábitos saudáveis para a prática cotidiana de atividades físicas e estas podem e devem ser incorporadas a partir das aulas de Educação Física. Nossa preocupação, porém é tentar entender as questões externas que implicam no desinteresse nas aulas no ensino médio, especialmente nas aulas de Educação Física.
Nos próximos anos o Brasil será palco de grandes eventos mundiais: a Copa do Mundo de futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Poderíamos nos deter em discutir os inúmeros problemas que estes podem acarretar como impactos urbanos, acentuação na desigualdade social, desapropriação de áreas habitadas para realização de obras entre outras. Poderíamos também falar dos benefícios do turismo e da divulgação de nossa cultura ao mundo. Mas pretendemos nos deter em um elemento mais primordial a todos estes que é a formação de atletas.
É sabido que a formação de atletas na maioria das vezes ocorre dentro da escola e esse fato gera desinteresse dos alunos menos habilidosos, além de promover a exclusão de forma acentuada. Com estes dois eventos ocorrendo no Brasil, a demanda para “peneirar” os melhores atletas muitas vezes ocorrem nas próprias competições escolares. Cidades de menor porte onde não há clubes que fomentem muitas modalidades podem ter talentos que nunca serão revelados sem as competições escolares. Focar as aulas com o intuito de revelar atletas é um equivoco tendo em vista que este modelo é reprodutor do sistema capitalista, onde o objetivo central é a sobrepujança. Se reproduzirmos o esporte tal como está posto com caráter competitivo buscando a vitória a qualquer custo somente estamos reforçando o sistema vigente que desenvolve “a busca por rendimento corresponde à exploração do trabalho e à mentalidade produtivista” (VAZ, 2008, p. 84), resultando em exclusão e discriminação.
A influência da instituição esportiva nas aulas de Educação Física gera desinteresse dos alunos pelo fato do esporte gerar exclusão e privilegiar somente os mais habilidosos. Nesta esteira, Gonçalves apud Bracht (2008, p 172) nos coloca que a Educação Física, com as influências do esporte institucionalizado se coloca na escola como “[...] não o esporte da Escola, e sim o esporte na Escola, o que indica a sua subordinação aos códigos/sentidos da instituição esportiva” A reprodução subordinação aos propósitos esportivos tira a autonomia dos professores da Educação Física, impõe aos alunos uma determinada modalidade com o objetivo de formação de atletas o que é altamente nocivo, pois conforme já frisamos, os alunos têm ambições, necessidades, curiosidades e interesses diferentes.
É possível afirmar que a demanda do capital, que exige a preparação dos trabalhadores reflete também nos egressos de cursos de ensino médio integrados a cursos técnicos profissionalizantes. Por isso ocorre uma grande dedicação as disciplinas que tenham uma relação direta com o campo de trabalho. A grande exigência de preparação e das próprias disciplinas principalmente nas áreas das ciências exatas faz com que haja desleixo nas outras disciplinas (que não faz relação direta com a área de atuação, no caso do Colégio Técnico Industrial, as áreas humanas) ou frequência somente por questão de cumprimento de grade curricular. No entanto a escola prepara para o capital e encontra dificuldades de situar o conhecimento vinculado a prática na forma de trabalho produtivo Este trabalho produtivo não se refere ao modo de produção de mais valia e sim de trabalho enquanto construção humana e construção social (Triviños, 2006).
A inclusão dos conteúdos da Educação Física no Processo Vestibular da Universidade Federal de Santa Maria pode vir a gerar mudanças nas aulas Educação Física. Não nos parece que ela venha a ser mais valorizada enquanto disciplina. Fazendo parte do vestibular ela vem a adquirir uma utilidade imediatista que é o processo vestibular. O interesse pelas aulas vai girar em torno da necessidade de buscar aprovação na Universidade. A preocupação com a importância dos conteúdos da educação física para a vida cotidiana vai ficar de lado. Segundo Kolyniak (2006) os fatores que levam à não prática de Educação Física na escola estão associados a problemas específicos dessa disciplina, por exemplo, a ausência de um corpo teórico próprio que seja referenciado. Portanto sem haver referencial teórico ela não adquire importância nem para a vida cotidiana continuando apenas a “prática pela prática”,
Conclusão
Com este breve trabalho tentamos elencar alguns elementos que geram o desinteresse pelas aulas num sentido geral, principalmente com as áreas das ciências sociais e humanas. Há uma grande dificuldade de realizar o exercício da reflexão e da criticidade nos alunos. A acomodação o desinteresse pela leitura são alguns dos fatores que alimentam essa alienação que se assola a Educação.
Esse desinteresse pela leitura e pelo exercício da reflexão é também alimentado pelos meios de comunicação. Programas supérfluos, medíocres que instigam as pessoas a aceitar o que está posto, sem questionamentos. Essas são questões que afligem nossa sociedade e se refletem diretamente na Educação.
O professor tem um papel importante na mediação e na instigação dos alunos levando-os a reflexão constante gerando e desenvolvendo atividades que sejam instigantes e que “plantem a sementinha da dúvida” nos alunos. Deixar os alunos cheios de dúvidas expondo as contradições existentes na sociedade os leva a buscar conhecimentos e os instiga a refletir.
A partir dessas reflexões o aluno se torna capaz de gerir seus próprios pensamentos e ideias, não se alienando ao senso comum que pode ser caracterizado como conformista por se mostrar passivo diante de situações sociais que soa prejudiciais para toda classe trabalhadora inclusive para as pessoas que fazem parte do senso comum e se conformam com a situação de exploração imposta pelo capital.
Desenvolver o interesse pela Educação Física somente através da prática já vimos que é uma tarefa difícil. Portanto, é viável e é importante que haja o exercício da criticidade presente nas aulas de Educação Física e através dela compreender melhor a importância da cultura corporal e suas implicações e importância pra nossa vida.
Bibliografia
Almeida, P. C. de; Cauduro, M. T. (2007). O desinteresse pela Educação Física no ensino médio, Revista Digital. Buenos Aires, Año 11, N° 106, Março. http://www.efdeportes.com/efd106/o-desinteresse-pela-educacao-fisica-no-ensino-medio.htm
Brasil, Governo Federal: Sistema Educacional – Ensino Médio; http://www.brasil.gov.br/sobre/educacao/sistema-educacional/ensino-medio - acessado em 05 de janeiro de 2013.
Brasil. Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96. (1996). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm (acessada em 17/01/3013).
Gonzáles, F. J. (2008). Esportivização. Em: Gonzáles, F. J. e Fensterseifer, P. E. Dicionário crítico de Educação Física (p.170-174). Unijuí, 2ª ed.rev. Ijuí.
Kolyniak, C. O. (2006) O objeto de estudo da educação física. Rio de Janeiro: Corpo Consciência.
Rodrigues, D. A educação física perante a educação inclusiva: reflexões conceptuais e metodológicas. (2003). Revista da Educação Física da UEM, Maringá, v. 14, n.1, p. 67 – 73, 1 sem.
Silva, M. A. da (2002) Intervenção e consentimento: a política educacional do Banco Mundial. Campinas: Autores Associados.
Triviños, A. S. (2006). A dialética materialista e a prática social. Porto Alegre.
Vaz, A. F. (2008). Competição. In. Gonzáles, F. J. e Fensterseifer, P. E. Dicionário crítico de Educação Física (p. 84-86). Unijuí, 2ª ed. rev. Ijuí.
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