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Avaliação do setor administrativo de uma empresa de embalagens de papelão ondulado catarinense através de um questionário de dor
e desconforto corporal

Evaluación del sector administrativo de una empresa embalaje de cajas de cartón

corrugado de Santa Catarina por medio de un cuestionario de dolor y malestar corporal

 

Universidade Federal de Santa Catarina

(Brasil)

Diego Luiz de Mattos

Alexandre Crespo Coelho da Silva Pinto

Eugênio Andrez Diaz Merino

Antonio Renato Pereira Moro

diegoclerigo@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo de caso buscou entender as queixas de um setor administrativo de uma industria de embalagens catarinense. Utilizando-se da aplicação de um questionário específico para dor e desconforto, os colaboradores foram entrevistados, e relataram suas principais queixas, bem como regiões corporais mais afetadas. Os resultados indicam que 63% dos entrevistados refere dor em trapézios, 59% refere dor em coluna cervical, e 56% em coluna lombar, apontando para a existencia de demandas ergonomicas relevantes.

          Unitermos: Queixas. Desconforto. Dor. Trabalhadores. Setor administrativo.

 

Abstract

          This case study sought to understand the complaints of an administrative sector of an industry of Santa Catarina packaging. Using the application of a specific questionnaire for pain and discomfort, employees were interviewed and reported their main complaints, as well as body regions most affected. The results indicate that 63% of respondents referred pain in trapezes, 59% report pain in the cervical spine, and 56% in the lumbar spine, pointing to the existence of relevant ergonomic demands.

          Keywords: Complaints. Discomfort. Pain. Workers. Administrative sector.

 

          Presenteado em II Bioergonomics – International Congress of Biomechanics and Ergonomics do 4 ao 7 de junho em Manaus, Amazonas, Brasil.

 

Recepção: 08/06/2015 - Aceitação: 10/07/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 206 - Julio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O trabalho em setor administrativo é de grande importância para o apoio a produção indústrial. O número de empregados dentro dos setores com essa caracteristica nas empresas pode ocupar uma parcela importante do número total de funcionários. O trabalho em postos de trabalho inadequados, grandes exigências cognitivas, a pressão por resultados e os longos tempos sentados podem ocasionar dor e desocnforto, levando esses trabalhadores a adoerecerem e afastarem-se do trabalho.

    A ergonomia tem fundametal importancia na pesquisa das situações e relatos dos profissionais que atuam dessa maneira, pois é a disciplina com competência para entender e transformar o trabalho, buscando oferecer qualidade de vida e facilitar sua produtividade, uma vez que, após compreender a relação entre trabalhador e trabalho, pode sugerir melhorias visando tais soluções.

    Ressalta-se que para um trabalho ergonômico eficiente, o ergonomista necessita entender as demandas do contexto. Deve então lançar mão de ferramentas que possibilitem seu correto diagnóstico. Dessa maneira, os problemas poderão ser tratados da maneira correta, impactando diretamente nos processos analisados e na qualidade de vida do trabalhador de maneira positiva.

2.     Referêncial teórico

2.1.     O trabalho administrativo

    O trabalho administrativo normalmente desenvolve-se em escritório. Para Baldry (1997) e Van Der Linden (1999), o escritório é compreendido pelas ciências sociais como uma forma especifica de organização do trabalho, que se tornou com o tempo, metáfora de trabalho não manual.

    Geremias (2011), e Tavares (2012) relatam que se devem evitar longos períodos sentados, sendo que a maioria das posições sentada exige uma acompanhamento visual, inclinando o tronco e a cabeça para frente, colocando o pescoço e as costas em situações que podem provocar desconfortos e dores.

    O risco mais comum a pessoas que trabalham em escritório esta relacionado à ergonomia com relação ao imobiliário, as lombalgias são as reclamações mais freqüente pelos funcionários, pelo fato do tempo que o mesmo fica na mesma posição (Tavares, 2012, p. 38).

    Brill e Parker (1988) e Van Der Linden (1999) relatam que o projeto físico dos escritórios, onde normalmente se desenvolvem trabalho de natureza administrativa, incluindo seus postos físicos de trabalho e layout, podem afetar tanto a saúde como a produtividade dos trabalhadores inseridos nesse contexto.

2.2.     Ergonomia

    Para Ferreira (2008, p. 91), “o objetivo da ergonomia é compreender os problemas que dificultam a interação dos trabalhadores com o ambiente de trabalho”.

    Almeida (2011, p. 113) também comenta sobre a ergonomia, dizendo que “a ciência se universalizou e ganhou importância em vários países, onde estudiosos do tema propuseram os mais variados conceitos e definições para essa área, observando e respondendo às necessidades e carências locais.”

    A ergonomia pode ser dividida em três áreas de domínio: ergonomia física, ergonomia cognitiva, ergonomia organizacional.

    Atualmente a busca pela melhoria da qualidade do trabalho e o estabelecimento de programas que incentivem a saúde do trabalhador, estão levando as empresas a investir em projetos e estudos sobre as vantagens da ergonomia para a melhoria da produção. Se esse investimento por um lado, sugere maior gasto, por outro representa uma economia para a empresa, tendo como conseqüência, a melhoria da saúde do trabalhador (Marques et al, 2010).

    Ainda para Marques et al (2010) a ergonomia é uma ferramenta multidisciplinar e holística que abrange os diversos setores e da empresa, impactando tanto aspectos físicos quanto organizacionais, porém também engloba o planejamento, projeto e avaliação das necessidades e limitações das pessoas, máquinas, ambiente e processos durante a realização do trabalho.

    Uma das ferramentas utilizadas pela ergonomia para diagnosticar suas demandas é o diagrama de Corlett e Manenica, tema abordado no tópico a seguir.

2.3.     O Diagrama de Corlett e Manenica

    O questionário de dor e desconforto desenvolvido por Corlett e Manenica em 1980, tem o objetivo de identificar as regiões corporais acometidas por dor, bem como sua intensidade.

    De acordo com Hauser (2012), o diagrama de Corlett e Manenica busca identificar as partes do corpo através de nome e número, justificado pelo fato de a identificação apenas por nome poder causar dificuldades na interpretação por parte de alguns entrevistados.

    Maia (2008), e Prestes & Silva (2009) relatam que utilizando este diagrama o entrevistador pode identificar máquinas, equipamentos e postos de trabalho que têm potencial de causar maior dor e desconforto corporal.

    (...) este método pode ser aplicado com ou sem auxílio de softwares específicos, podendo ser vantajoso em algumas situações de pesquisa, sendo esta uma metodologia simples, que dispensa interrupção do trabalho na coleta de dados. Todavia, seus resultados baseiam-se exclusivamente na colaboração do trabalhador entrevistado, podendo este omitir ou aumentar o índice de desconforto no momento da avaliação (Prestes e Silva, 2009).

3.     Estudo de caso

    O estudo foi conduzido em uma industria de embalagens de papelão ondulado, localizada na região sul do Brasil. A empresa conta com os setores de Onduladeira, Manutenção, Cartonagem e Expedição, além do setor administrativo e de apoio a industria. O setor estudado é a area administrativa, onde ficam os setores de Programação e Controle de Produção, Vendas, Melhoria Contínua, Gestão Ambiental, Tecnologia da Informação, P & D, Inovação e as Gerências Industrial e Comercial.

    A ferramenta utilizada para as entrevistas foi o questionário de dor e desconforto adaptado de Corlett e Manenica, em uma versão eletronica. A figura a seguir ilustra a planilha utilizada:

Figura 1. Exemplo de planilha de questionário de dor e desconforto

adaptado de Corlett e Manenica. Fonte: Os pesquisadores

4.     Resultados e discussão

    O setor estudado conta com 32 colaboradores. No tocante ao número de respondentes, 100% dos funcionários responderam. Desses, 20 relataram dor na região de trapézios, 19 em coluna cervical e 18 em coluna lombar. O gráfico a seguir compila tais informações:

Gráfico 1. Partes do corpo mais citadas com relação a queixas de dor e desconforto.

Fonte: Os pesquisadores

    Transformando esses números em percentual, tendo como referência o número de respondentes, observa-se que 63% dos entrevistados referem dor ou desconforto em trapézios, enquanto 59% relatam episódios em coluna cervical, e 56% em coluna lombar. O gráfico a seguir ilustra tais informações:

Gráfico 2. Partes do corpo mais citadas com relação a queixas

de dor e desconforto em percentual. Fonte: Os pesquisadores

    Tais informações corroboram para um diagnostico ergonômico apontando para demandas físicas, mesmo em ambiente não fabril. Postos inadequados ou longos períodos na posição sentada, bem como a pressão do cotidiano podem gerar tais sintomas, que acarretam o adoecimento do trabalhador.

5.     Conclusões

    Sob a luz da ergonomia, a importância de entender as demandas e queixas de dor em postos de trabalho administrativos, é fundamental pra a quebra do paradigma de que apenas o “trabalho pesado” gera adoecimento. O processo de adoecimento do trabalhador pode ser gerado de fatores como stress, postos de trabalho incompatíveis com achados antropométricos, pressão, relacionamento com equipe e líderes, entre outros, sendo que é crucial que ocorra uma intervenção de cunho ergonômico nessas situações.

    As queixas músculo esqueléticas demonstraram-se importantes nos trabalhadores do setor administrativo, principalmente em região de ombros, sendo a musculatura do trapézio a mais citada. Recomenda-se, com isso, o prosseguimento do trabalho ergonômico, propondo mudanças e melhorias, visando o bem estar do trabalhador e aperfeiçoar seu desempenho. Também se sugere o aprofundamento da pesquisa, através de maior entendimento da demanda, com vistas ao entendimento do trabalho para possibilitar sua transformação.

    Por fim, Ressalta-se que não se pode desviar olhar desses postos, pois, apesar da natureza de menor exigência física, podem ser fonte de adoecimento, gerando afastamento, onerando a empresa, governo e, principalmente, o próprio trabalhador, que tem suas atividades restringidas e a própria doença para enfrentar.

Bibliografia

  • Abrahão, J. et al. (2009). Introdução à Ergonomia: da teoria à prática. São Paulo: Edgard Blücher.

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  • Abrahão, J. I. & Pinho, D. L. M. (1999). Teoria e prática ergonômica: seus limites e possibilidades. Escola, Saúde e Trabalho: estudos psicológicos, Brasília, p. 229-239.

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  • Geremias, R. (2011). Ergonomia. Joaçaba: Unoesc virtual.

  • Hauser, M. W. (2012). Análise da qualidade de vida no trabalho em operários da construção civil da cidade de Ponta Grossa, utilizando o diagrama de Corlett e Manenica e o questionário Quality of Working Life Questionnaire – QWLQ – 78. Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Área de Concentração: Gestão Industrial, Linha de Pesquisa em Gestão de Recursos Humanos para o Ambiente Produtivo, da Gerência de Pesquisa e de Pós-Graduação, do Campus Ponta Grossa, da UTFPR. Ponta Grossa.

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  • Maia, I. M. O. (2008). Avaliação das condições posturais dos trabalhadores na produção de carvão vegetal em cilindros metálicos verticais. 2008. Dissertação (Mestrado) – CEFET, PR.

  • Marques, A. et al. (2010). A Ergonomia como um Fator Determinante no Bom Andamento da Produção: um Estudo de Caso. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação Ano 4 - Edição 1 – Setembro-Novembro.

  • Prestes, A. S. & Silva, F. P. (2009). Avaliação ergonômica do transporte e manuseio de formas de Alumínio utilizadas para moldagem de paredes de concreto na Construção civil. Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade Estadual de Ponta Grossa, como parte das exigências para a obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Ponta Grossa.

  • Tavares, P. A. (2012). Avaliação ergonômica da função assistente administrativo: um estudo de caso no município de Itá – sc. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação apresentado como exigência para obtenção do título de Engenheira de Segurança do Trabalho, do Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho, ministrado pela Universidade do Contestado – UNC. Concórdia.

  • Van Der Linden, J. C. S. (1999). Identificação dos itens de demanda ergonômica em escritório informatizado. Trabalho de conclusão de curso de mestrado profissionalizante em Engenharia de Produção como requisito parcial à obtenção de título de mestre em Engenharia – Profissionalizante. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

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