Análise do posicionamento da articulação do joelho em ciclistas de mountain bike Positioning analysis of knee joint in mountain bike cyclists Análisis de la posición de la articulación de la rodilla en ciclistas de mountain bike |
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Faculdade de Educação Física e Fisioterapia Universidade Federal do Amazonas Laboratório de Estudo do Desempenho Humano, LEDEHU (Brasil) |
Roberto Santos de Araujo Vladson Rafael Oliveia Mendonça Karolina Gabriela da Silva Nunes Lucas Tavares Sampaio João Otacílio Libardoni dos Santos Vinícius Cavalcanti |
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Resumo O Mountain Bike é uma modalidade praticada em estradas ou terrenos irregulares, e por conta disso exige equipamentos específicos para prática além de uma postura adequada em cima da bicicleta que implica diretamente no desempenho do atleta e na prevenção de lesões. Este estudo teve a participação de 37 ciclistas entre homes e mulheres o qual focou em analisar o ângulo da articulação do joelho em cima da bicicleta e verificar se os mesmos estavam no padrão indicado pela literatura de Burke e Pruitt (2007). Porém, foi encontrado um déficit de informações relacionadas a esses fatores os quais em Manaus são visíveis, e por conta disso, é interessante realizar mais pesquisas relacionadas a esta categoria. Unitermos: Ciclismo. Articulação do joelho. Lesões.
Abstract The Mountain Bike is a sport practiced on roads or uneven terrain and because of that requires specific equipment for practice and a proper posture on the bike that directly gives the athlete's performance and injury prevention. This study had the participation of 37 cyclists, men and women, which focused on analyzing the knee joint angle on the bicycling and check if they were in default indicated by literature by Burke and Pruitt (2007). However, it was founded a deficit of information relating to these factors which are visible in Manaus, and because of that, it is interesting to carry out more research related to this category. Keywords: Bicycling. Knee joint. Injuries.
Presenteado em II Bioergonomics – International Congress of Biomechanics and Ergonomics do 4 ao 7 de junho em Manaus, Amazonas, Brasil.
Recepção: 08/06/2015 - Aceitação: 30/06/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 206 - Julio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A atividade física deve respeitar a individualidade de cada um e buscar sempre uma grande especificidade em sua prescrição. As avaliações das funções e movimentos têm o objetivo principal facilitar as prescrições para conseguir melhores resultados (Alonso et al., 2003), no entanto, a prática do ciclismo, ou mesmo o uso da bicicleta como meio de transporte, muitas vezes é prejudicada por lesões causadas pelo esforço repetitivo, ocasionando o abandono parcial do uso da bicicleta (Clarsen; Krosshaug; Bahr, 2010). Muitos praticantes da modalidade utilizam a bicicleta desajustada por não existirem muitas informações no que se diz respeito à ergonomia ciclística na bicicleta, o que pode ser um fator para o abandono da prática do esporte (Carmo, 2001).
Usabiaga et al. (1997) relatam que o treinamento envolve postura específica à modalidade praticada e adaptação corporal ao esforço físico. Uma postura adequada sobre a bicicleta é fundamental para não incorrer em redução do desempenho ou aumentar o risco de lesão (Mestdagh, 1998; Salai et al., 1999; Sanner; O’Halloran, 2000). O tamanho correto da bicicleta é importante para que o ciclista atinja a extensão da perna e alcance o equilíbrio correto (BAKER, 2010). A altura do selim é o principal ajuste no posicionamento sobre a bicicleta, e deve ser realizado para que o joelho mantenha uma flexão que não comprometa o desempenho bem como causar dores e possíveis lesões. Kronisch (1998) destaca que a altura certa e confortável da bicicleta ao ciclista o permite manobrar sem transferir o seu centro de gravidade muito à frente. Na relação ciclista-bicicleta, o centro de gravidade depende da altura do movimento central em relação ao solo (Lamoureaux, 2000; Reise; Peterson, 1998) sendo este o fator primário para um ajuste confortável (Lamoureaux, 2000).
Gregor (2003) e Baker (1997) citam inúmeros tipos de lesões referentes ao posicionamento inadequado na bicicleta, sendo freqüentes as tendinites, bursites, neuropatias de compressão, dores na região cervical, síndrome escapular, síndrome do túnel carpal ou neuropatia ulnar, dor no pescoço, dor nas costas, irritações no períneo, dores no quadril, joelho e tornozelo, relatadas também por outros autores.
A hipótese principal do estudo é que ciclistas recreacionais apresentam desajustes maiores no posicionamento devido ao fato de utilizarem a bicicleta por intervalos de tempo menor quando comparados a ciclistas competitivos. Assim podem-se avaliar as características do posicionamento da articulação do joelho com base em parâmetros biomecânicos descritos na literatura e encontrar um déficit sobre informações quais dizem a respeito do posicionamento em cima da bicicleta.
Processos metodológicos
O presente estudo contou com a participação de 37 ciclistas amadores da categoria mountain bike da cidade de Manaus num período de 13 meses (novembro de 2013 a dezembro de 2014). Dentre estes, 26 eram homens (média de idade: 34,84±8.36 anos; estatura: 171±0,07 cm; massa corporal: 80,55±15,66 kg; tempo de prática: 1,71±2,13 anos) e 11 mulheres (média de idade: 35,18±8,33 anos; estatura: 161±0,05 cm; massa corporal: 78,37±10,93 kg; tempo de prática: 1,89±2,02 anos). O estudo foi realizado no Laboratório de Estudo em Desempenho Humano – LEDEHU, localizado na Faculdade de Educação Física e Físioterapia – FEFF na Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Os ciclistas responderam a chamada para o estudo de forma voluntária que tomaram conhecimento do mesmo através da divulgação por panfletagem, websites e em emissoras de rádio e televisão. Ao chegar ao laboratório os sujeitos realizaram a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Utilizou-se uma planilha para a verificação da avaliação do posicionamento corporal no ciclismo e uma entrevista semiestruturada, ambas adaptadas por Martins (2007), abordando perguntas que dizem respeito às informações pessoais além de perguntas fechadas sobre o nível de atividade física dos ciclistas e a prevalência de dores ocasionadas pela prática do ciclismo. Em seguida, o ciclista foi avaliado por meio de aplicação de técnicas e parâmetros biomecânicos propostos por Burke e Pruitt (2003) descritas a seguir. Posicionou-se o ciclista sobre a bicicleta e foi solicitado para que permanecesse em uma posição característica a sua pedalada, em seguida foi tirada uma foto com a câmera modelo Sony CSHOT DSCHX300 para que pudesse ser mensurado o ângulo relativo do joelho (ângulo interno formado entre a coxa e a perna) que deve estar entre 150° e 155° segundo Burke e Pruitt (2003). Para obter essa medida, fez-se o alinhamento do pedal com o tubo do selim e assim pode-se verificar o ângulo. Esse cuidado auxilia no aproveitamento da relação força-comprimento, exemplo figura 1.
Figura 1. Medição do ângulo relativo do joelho
A determinação do ângulo do joelho foi feita por meio de fotografias realizadas no plano sagital e posteriormente analisado em um software livre (Kinovea 0.8.15). Para realização dos cálculos estatísticos foi utilizado o Microsoft Office Excel 2007 For Windows.
Resultados
Os resultados apresentados nos gráficos são relativos às análises realizadas quanto às características de pedalada dos ciclistas estudados. Foram encontradas angulações ideais e abaixo do ideal. Não houve nenhum ciclista analisado com o nível de angulação acima do ideal. A análise apontou ainda que a média da angulação relativa do joelho encontra-se em: 141,19 ± 6,74o para os homens e 141 ± 6,48o para as mulheres.
O gráfico 1 mostra o quantitativo e a relação em ambos os sexos no que diz a respeito aos diferentes níveis de angulação. O mesmo destaca que 81,81% das mulheres (n= 9) analisadas estão com a posição abaixo do recomendável e 18,19% (n= 2) estão com o posicionamento ideal. Já 77,78% dos homens (n= 21) apresentaram angulações abaixo do recomendável e apenas 22,22% (n= 5) no ideal.
Gráfico 1. Angulação entre homens e mulheres
O gráfico 2 mostra em porcentagem a situação do ângulo da articulação do joelho dos ciclistas analisados em geral. Foi verificado que 81% (n= 30) dos ciclistas estão abaixo do ideal e apenas 19% (n= 7) estão em sua angulação ideal.
Gráfico 2. Nível de angulação dos ciclistas analisados
Discussão
A pedalada decorre de movimentos cíclicos os quais geram fexões e extensões da articulação do quadril, joelho, e tornozelo (Diefenthaeler et al., 2006). Esses erros quando ocorridos na prática podem, em longo prazo, desenvolver lesões por estresse articular, conseqüentemente o abando da prática no caso de ciclistas recreacionais e a queda no rendimento para atletas de rendimento (Martins, 2007).
Conforme as características do participante, ter equipamentos específicos para a prática de qualquer que seja a categoria é importante, pois ajuda na prevenção de possíveis dores e lesões ocasionadas pelo mau posicionamento na bicicleta. Carmo (2001) assinala que a causa de desconforto em muitos praticantes do ciclismo ocorre pela falta de informações ergonômicas sobre o posicionamento postural sobre a bicicleta. Pequini (2009) realizou um estudo com homens e mulheres no qual foi comparado níveis de desconforto do posicionamento na bicicleta onde a região púbica foi a que mais apresentou desconforto quando comparadas as outras e chegou-se a conclusão de que na posição do tronco ereto se tem mais conforto em relação ao tronco flexionado e o selim quando ajustado acima do ideal é pior quando comparado ao abaixo. Desta forma, pode se dizer que quanto maior a altura do selim, mais estresse se causaria a articulação do joelho o que pode ser uma explicação para a preferência de posições abaixo do ideal. Porém, esta posição mais baixa em excesso, aumenta a compressão da patela devido ao maior grau de flexão dos joelhos, assim diminuindo a potência empregada no movimento da pelada. Sendo assim ocorre um comprometimento na relação força/comprimento (Gregor, 2003). Segundo Burke e Pruitt (2003) as angulações do joelho se classificam em: menor que 150° abaixo do ideal, entre 150° e 155° ideal e maior que 155° a cima do ideal.
Desta forma os resultados encontrados no presente estudo, corroboram com Sampaio (2014) que em um estudo realizado com 44 ciclistas com níveis aleatórios desta mesma categoria, se utilizam de posições diferentes das quais são encontradas na literatura, mantendo os selins em posições mais baixas e levemente mais avançadas. A realização de uma flexão ou de um movimento lateral excessivo do joelho pode ser decorrente de um mau ajuste do selim, ou seja, o mesmo estaria muito baixo/recuado, caso o mesmo estivesse muito elevado/avançado poderia acarretar lesões como lombalgia e tendinite (Garrick; Webb, 2001).
Conclusão
Através do estudo realizado, pode-se verificar um déficit de informações relacionadas ao posicionamento corporal em cima da bike, e a maioria dos praticantes tem um grande risco de acarretar lesões por conta do mau posicionamento em cima da mesma. É importante a realização de mais estudos relacionados ao mountain bike tendo em vista que existem poucos no Brasil, bem como na cidade de Manaus.
Agradecimentos
A Deus, ciclistas voluntários, colegas acadêmicos e professores do LEDEHU junto a UFAM que de forma direta ou indireta contribuíram para o estudo.
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