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A influência do kundalini yoga no equilíbrio de 

deficientes intelectuais em processo de envelhecimento

La influencia del kundalini yoga en el equilibrio de discapacitados intelectuales en proceso de envejecimiento

The influence of kundalini yoga in the balance of intellectual disabilities in aging process

 

*Graduado em Educação Física. Especialista em Atividade Física Adaptada e Saúde

Educador Físico na Casa de David – Guarulhos-SP

**Graduada em Fisioterapia. Especialista em Fisioterapia Neurológica e em Acupuntura

Fisioterapeuta na Casa de David – Guarulhos-SP

***Graduado em Terapia Ocupacional, Mestre em Ciências (Bioengenharia)

Terapeuta Ocupacional na Casa de David – Guarulhos-SP
(Brasil)

Bruno Sartoni*

bruno_aacd@hotmail.com

Cristina Yamada**

crisyamada@yahoo.com.br

Frank Roger Defanti e Souza***

frogerdefanti@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Mensurar quais as influências da prática do Kundalini Yoga junto a uma população de indivíduos com Deficiência Intelectual em processo de envelhecimento. Metodologia: Amostra é composta por oito indivíduos, residentes na Casa de David, que praticaram aulas semanais de Yoga durante dezoito meses, tendo sido avaliados em três etapas utilizando a Escala de Equilíbrio de Berg. Resultados: Houve uma melhora significativa da pontuação do grupo na escala, sendo que quatro dos participantes obtiveram nota máxima após a realização das práticas. Conclusão: A prática do Kundalini Yoga pode ter possibilitado a melhora do equilíbrio e a percepção de potencialidades antes desconhecidas, que ficam evidentes quando o foco esta dirigido aos aspectos saudáveis de cada individuo.

          Unitermos: Envelhecimento. Equilíbrio. Kundalini Yoga.

 

Abstract

          Objective: This article would measure the influences of Kundalini Yoga practice with a population of individuals with Intellectual Disabilities in the aging process. Methodology: A group of eight individuals, residents in Casa de David who practiced weekly Yoga classes for eighteen months has been evaluated in three steps using the Berg Balance Scale. Results: There was a significant improvement of the group's score on the scale, of which four participants obtained full marks after completion of practice. Conclusion: The practice of Kundalini Yoga may have promoted the improvement of balance and the perception of potential previously unknown, which are evident when the focus is directed to the healthy aspects of each individual.

          Keywords: Aging. Balance. Kundalini Yoga.

 

Recepção: 05/02/2015 - Aceitação: 03/04/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 206 - Julio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente ocorre um aumento da quantidade de publicações que relacionam a prática do Yoga com a promoção de um estado de bem-estar geral no corpo e mente de praticantes saudáveis e também por aqueles que possuem problemas de saúde variados (Saper et al., 2004; Park et al., 2014). Esse aumento é acompanhado pelo aumento da quantidade de indivíduos que participam dessa prática em busca de auxiliar no tratamento de diferentes condições de saúde (Elwy et al., 2014; Saper et al., 2004; Park et al., 2014).

    A prática do Yoga tem se revelado, através de muitos estudos, ser uma forma eficaz de intervenção para muitas doenças, como a artrite, a depressão e a asma, além de ser um recurso para o treino de força muscular e equilíbrio, principalmente em relação ao processo de envelhecimento humano (Elwy et al., 2014; Oliveira, 2007; Sousa; Marques, 2002; Tran et al., 2001).

    Ainda em relação ao envelhecimento humano, existe uma população específica na qual há poucas publicações sobre os benefícios da prática do Yoga: Os indivíduos com Deficiência Intelectual (DI), principalmente aqueles que já estão na “terceira idade”. Diversos autores indicam que, devido suas peculiaridades específicas, os indivíduos com DI freqüentemente têm como marco inicial do envelhecimento a idade entre os 30 e 40 anos, sendo este, um processo diferenciado do envelhecimento humano normal (Bento, 2008; Janicki, 1987; Xavier, 2011). O envelhecimento, apesar de estar inerente à vida de todos os seres humanos, apresenta-se como um novo desafio para esses indivíduos, podendo trazer-lhes maiores dificuldades para enfrentá-lo adequadamente (Bento, 2008; Panarotto; Oro; Oliva, 2011). Dessa maneira, existem poucos estudos que objetivam mensurar os benefícios que a prática do Yoga pode trazer para esses indivíduos.

    Existem muitos tipos de Yoga, cada qual com suas características próprias e técnicas diferentes, que envolvem componentes como as posturas (Asanas), posturas de mãos (Mudras), respiração (Pranayama) e a meditação/relaxamento (Büssing et al., 2012; Gharote, 2000; Healthy Happy Holy Organization, 2014). O Kundalini Yoga, abordagem utilizada neste estudo, trabalha com séries de exercícios (Kryas) com objetivos ou benefícios determinados, associados à entoação de mantras, contrações corporais (Bhandas), meditações e seqüência de repetições de movimentos (Healthy Happy Holy Organization, 2014; Sivananda, 1994). A prática de Kundalini Yoga permite o despertar e a circulação do potencial de energia do praticante, restaurando e equilibrando todos os sistemas de seu organismo e promovendo um estado de autoconsciência elevada (Healthy Happy Holy Organization, 2014; Sivananda, 1994).

    Dessa forma, buscou-se mensurar quais as influências da prática do Kundalini Yoga junto a uma população de indivíduos com DI em processo de envelhecimento, na tentativa de se mensurar os benefícios dessa prática em relação ao equilíbrio dinâmico e estático dessa população.

Materiais e métodos

    O presente estudo tem abordagem exploratória quantitativa.

    A partir de um grupo de 30 pacientes que freqüentam voluntariamente as aulas de Kundalini Yoga realizadas às quintas-feiras, com duração de 60 minutos, na Casa de David, definiu-se uma amostra composta por oito pacientes que apresentam DI, de ambos os sexos, que apresentaram maior assiduidade nas práticas do Yoga e que concordaram por livre e espontânea vontade serem avaliados para este estudo.

    A amostra foi avaliada quanto ao equilíbrio estático e dinâmico através da Escala de Equilíbrio de Berg (EEB). A escolha pela utilização da EEB foi baseada no conceito de que o indivíduo com DI alcança a terceira idade entre os 30 e 40 anos (Bento, 2008; Janicki, 1987; Xavier, 2011). Foram realizadas três aplicações da EEB, uma antes do início das práticas, em Maio de 2013, e as outras sendo realizadas a cada seis meses de prática. Após a coleta dos dados, estes foram tabulados no Microsoft ExcelTM 2003.

    A EEB apresenta uma pontuação que varia de 0 e 56, sendo que uma pontuação entre 0 e 20 indica “equilíbrio ruim”, e entre 40 a 56 indica “bom equilíbrio” (Oliveira; Cacho; Borges, 2006). O material necessário para a aplicação da EEB é uma régua, um relógio/cronometro, duas cadeiras (uma com e outra sem braços) e um banco/degrau. O tempo de execução é de aproximadamente de 15 minutos.

Resultados

    Da amostra total deste estudo, havia seis homens e duas mulheres, com idade entre 32 e 44 anos, e média de idade de 41 anos. Todos apresentam DI, sendo que apenas uma das participantes possui comprometimento motor.

    Na primeira avaliação, realizada antes do início das práticas do Kundalini Yoga, observou-se que havia dois pacientes classificados como “equilíbrio moderado”, enquanto os outros seis já se encontravam com “bom equilíbrio”. Na segunda avaliação, realizada após um ano da prática do Kundalini Yoga, observou-se que os dois pacientes antes classificados em “equilíbrio moderado” apresentaram melhora, sendo então classificados com “bom equilíbrio”, assim como os demais participantes do grupo.

    Na última avaliação, realizada quatro meses após a segunda avaliação, observou-se que dois pacientes apresentaram pequena queda em sua pontuação, porém ainda mantiveram-se classificados com “bom equilíbrio”. Já na primeira avaliação houve dois pacientes que alcançaram a pontuação máxima da escala e mantiveram essa pontuação nas duas avaliações seguintes. Ao final das avaliações, quatro pacientes atingiram a pontuação máxima da escala.

    A evolução das pontuações obtidas nas avaliações pode ser observada abaixo no Gráfico 1.

Gráfico 1. Evolução da pontuação obtida através da Escala de Equilíbrio de Berg

Discussão

    O grupo de pesquisa foi composto por oito indivíduos, sendo seis homens e duas mulheres, com idades entre 32 e 44 anos, com idade média de 41 anos. Na Instituição, é possível observar que, de acordo com o que alguns autores indicam em relação ao marco inicial do processo de envelhecimento de indivíduos com DI ser entre os 30 e 40 anos, que os pacientes começam a apresentar um declínio em suas habilidades motoras, dentre elas o equilíbrio, a partir dos 30 anos (Bento, 2008; Janicki, 1987; Xavier, 2011). Durante a primeira avaliação realizada com a EEB pode ser observado que dois participantes foram classificados em equilíbrio moderado.

    Com o decorrer das práticas realizadas na Instituição, acompanhadas pelas segunda e terceira avaliação dos participantes com a EEB, pode-se observar que houve uma melhora no equilíbrio, no qual todos os oito participantes finalizaram o estudo classificados com “bom equilíbrio”. Indo de acordo com o que Elwy et al. (2014), Oliveira (2007), Sousa e Marques (2002) e Tran et al. (2001) indicam quanto aos benefícios adquiridos com o treinamento do equilíbrio e força muscular em programas envolvendo atividade física.

    O Yoga é uma prática constituída por movimentos suaves, voltados aos aspectos físicos e mentais, composto por diversas posições que são mantidas com estabilidade e conforto, treinando o controle durante o movimento e a estabilização, que, quando realizados com os olhos fechados pode estimular a ação do sistema sensorial (Elwy et al., 2014; Oliveira, 2007). Durante as práticas, as posturas (Asanas) são focadas na percepção sensorial, de forma que, ao permanecer na postura e ao sair dela, estimula um estado de autoconhecimento físico (Danucalov; Simões, 2006; Elwy et al., 2014; Oliveira, 2007).

    A prática do Yoga pode produzir feedbacks para o sistema nervoso central, diminuindo as ações neuronais e gerando estados psicológicos mais agradáveis, que podem ser utilizados para se explorar o controle do sistema nervoso autônomo (Oliveira, 2007). O Yoga inicia essa exploração pelas posturas físicas, sendo estimuladas também através da respiração (Danucalov; Simões, 2006; Elwy et al., 2014; Oliveira, 2007).

    Os resultados obtidos na EEB apontam uma melhora significativa do equilíbrio dos participantes na avaliação final. Este aumento pode estar associado ao fato do Yoga oportunizar, sem imposição de padrões motores e alcance de limites que estão fora das possibilidades de cada participante, experimentar, perceber e explorar posturas que treinam o equilíbrio dinâmico e estático através de uma prática relaxante (Elwy et al., 2014; Oliveira, 2007).

    Ainda em relação à pontuação obtida, Stevenson (2001) refere que uma mudança de 6 (seis) pontos na EEB pode ser considerada clinicamente significativa. Dessa forma, foi observado que em três dos participantes houve um aumento significativo na pontuação obtida entre as avaliações realizadas, sendo que os demais apresentaram aumentos na EEB de 1 (um) a 4 (quatro) pontos. Houve quatro casos nos quais os participantes obtiveram pontuação máxima na EEB ao final das avaliações.

    Deve-se salientar que, devido às características especiais da população ao qual esta técnica foi aplicada, foi necessário realizar adaptações em sua aplicação, tornando-as um pouco mais simplificadas em comparação com as descritas nos textos tradicionais, de forma a permitir que fossem seguidas adequadamente pelos participantes. Houve adaptação com relação à forma de realização, de forma que a essência do Yoga foi preservada durante todo o programa. Tais alterações foram baseadas no conceito de Gharote (2000), no qual se diz que “Todo Yoga é Yoga”, mesmo de forma limitada ou modificada, a fim de se considerar as diferentes condições física e mental dos participantes, permitindo que cada indivíduo pudesse usufruir dos benefícios proporcionados pelo Yoga.

    Portanto, para buscar explicar a melhora observada na EEB dos participantes, propõe-se que a prática do Kundalini Yoga pode propiciar aos participantes a possibilidade de experimentar e vivenciar situações no qual necessitam controlar seu equilíbrio corporal através de formas antes consideradas impossíveis ou inseguras. Dessa forma, pode-se considerar que se trata de um processo de aceitação dos limites pessoais, no qual o participante também pode ir tendo um autoconhecimento suficiente para descobrir novas potencialidades e permitir-se ir explorando-as de uma forma segura, respeitando seus limites e tendo tudo isso associado com uma prática prazerosa.

    Pode-se considerar esse processo como uma transformação pessoal dinâmico e que se desenvolve e se redescobre constantemente.

Conclusões

    Houve uma melhora significativa da pontuação do grupo na EEB. O programa de Kundalini Yoga pode ter possibilitado a melhora do equilíbrio, melhora da respiração, diminuição da fadiga e percepção de potencialidades antes desconhecidas, que ficam evidentes quando o foco esta dirigido aos aspectos saudáveis de cada individuo. Porém maiores pesquisas devem ser realizadas com essa população específica.

Bibliografia

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Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados