Análise dos níveis da síndrome de burnout em professores de uma instituição de ensino Análisis de los niveles de burnout en profesores de una institución educativa Analysis of levels of burnout in teachers of an educational institution |
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Faculdade de Tecnologia Coordenação de Pós-Graduação Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção UFAM – UNINORTE (Brasil) |
Adriana Miranda Azevedo Maria da Glória Vitório Guimarães Charles Ribeiro de Brito Edson da Fonseca de Lira Tereza Maria Pereira Bezerra |
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Resumo O professor apresenta fatores que podem levar a Síndrome de Burnout portanto este estudo teve por objetivo geral analisar os níveis da Síndrome de Burnout em professores de uma Instituição de Ensino Superior (IES) privada no norte do Brasil. Esta pesquisa quantitativa, exploratória e de campo investigou uma amostra de 67 professores através de um questionário com perguntas sociodemográficas e o Inventário de Burnout de Maslach (MBI). Observou-se alto índice de envolvimento pessoal no trabalho e baixo índice de exaustão emocional e despersonalização, contudo o percentual de alto e médio índice de exaustão emocional e despersonalização é preocupante mostrando a existência de indícios da Síndrome de Burnout. Unitermos: Síndrome de Burnout. Professores. Rendimento profissional.
Abstract Professors present factors that can lead to the Burnout Syndrom so this study aimed in general to analyze the levels of the Burnout Syndrom in professors of a Private Higher Education Institution (HEI) in the North of Brazil. This quantitative, exploratory and field research investigated a sample of 67 teachers through a questionnaire with demographic questions and the Maslach Burnout Inventory (MBI). A high personal involvement index at work was observed and low emotional exhaustion and despersonalization index, however the high percentage of medium and emotional exhaustion and despersonalization index is concerning, showing the existence of evidence of the Burnout Syndrom. Keywords: Burnout syndrom. Teachers. Professional productivity.
Presenteado em II Bioergonomics – International Congress of Biomechanics and Ergonomics, do 4 ao 7 de junho en Manaus, Amazonas, Brasil.
Recepção: 08/06/2015 - Aceitação: 25/06/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Gomes et al (2013) consideram o Burnout “uma reação extrema ao estresse ocupacional crônico”, pode ser chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional ou Neurose profissional, acontecendo um processo crônico de estresse no ambiente de trabalho.
Araújo Júnior e Coutinho (2012) afirmam que é preciso ficar atento ao risco do desenvolvimento da Síndrome de Burnout, necessitando implantar ações preventivas para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Uma das principais causas de afastamento do ambiente laboral é o estresse ocupacional em diferentes categorias profissionais que tem contato com pessoas.
A síndrome de Burnout é um estado crônico do estresse, sendo necessário compreender claramente a diferença entre eles, onde o estresse é um sentimento ou manifestação que desaparece com o repouso, já a síndrome não diminui com o repouso ou período de afastamento temporário (Moreira, Farias, Both, Nascimento, 2009).
Segundo Carlotto (2011) constante necessidade de aperfeiçoamento, sucesso e a concorrência a qual o homem moderno é submetido no trabalho ocasiona cargas excessivas, tanto físicas quanto mentais. Na busca por satisfação, reconhecimento e gratificação pelo trabalho, o homem vê-se frente a altas expectativas e poucos recursos para lidar com frustrações que ocorrem durante este percurso.
O início do Burnout pode ocorrer no período acadêmico e persistir na vida profissional. A detecção precoce é de grande importância por possibilitar intervenção preventiva, a fim de se evitar as repercussões sintomatológicas psicossomáticas e comportamentais, bem como impedir a redução na qualidade da assistência prestada ao paciente (Araújo Júnior, Coutinho, 2012).
Para a avaliação da Síndrome de Burnout muito se tem utilizado o MBI – Maslach Burnout Inventory a fim de identificar os níveis da Síndrome dentro de suas dimensões: exaustão emocional; despersonalização e realização pessoal (Freitas, Carneseca, Paiva, Paiva, 2014).
Braun e Carlotto (2014) citam que a curto prazo pode se observar nos docentes menor autocontrole, baixo autorespeito, pouca eficiência no trabalho e aumento da irritabilidade, a longo prazo os efeitos podem ser depressão, úlcera ou gastrite, hipertensão, alcoolismo, afetando o clima entre professor-professor ou ainda professor-aluno, diminuir a moral do professor, impedir a realização dos objetivos educacionais, com isso gerando até o abandono da profissão.
O objetivo geral desse estudo foi analisar os níveis da Síndrome de Burnout em professores de uma Instituição de Ensino Superior (IES) privada no norte do país, tendo como objetivos específicos realizar revisão da literatura a fim de subsidiar e fundamentar a pesquisa, analisar as diferenças entre estresse e síndrome de burnout, estabelecer as dimensões a serem analisadas adaptando o instrumento para a situação estudada, apresentar os níveis da síndrome de burnout nos participantes e sugerir formas de minimizar os efeitos ou os impactos da síndrome de burnout.
2. Metodologia
Foi realizada uma pesquisa calcada em um estudo descritivo transversal, com abordagem metodológica quantitativa, exploratória, de campo. Investigando determinadas características da população estudada, ademais a existência dos fatores indicativos da presença de Burnout entre as variáveis estabelecidas.
O estudo foi desenvolvido em uma Instituição de Ensino Superior (IES) privada, com foco em professores da área da Saúde apresentando cerca de 200 professores. Os professores foram convidados a participar da pesquisa através do Google.docs, sendo informados os aspectos necessários a sua participação, tema central do estudo, e objetivos, então foi aplicado o Inventário de Burnout de Maslach (MBI) adaptado a realidade pesquisada, o qual apresentou determinadas perguntas de caráter sociodemográfico de autoria da pesquisadora com o objetivo de caracterizar a amostra por meio do levantamento de informações acadêmicas, sociais e demográficas.
O MBI é um questionário autoadministrado com 16 itens distribuídos em 3 dimensões (Maroco, Tecedeiro, 2009): exaustão emocional (6 itens), despersonalização (4) e realização profissional também chamada de envolvimento pessoal no trabalho (6), sendo respondido por meio da escala de Likert.
Fazem parte da amostra os professores desta Instituição de Ensino Superior privada que desempenham suas atividades na Escola de Ciências da Saúde e tenham no mínimo um ano de contrato. Critérios de exclusão: ter tempo de serviço inferior há 1 ano e ministrar aula em cursos que não pertençam a Escola de Ciências da Saúde. Após a coleta de dados, foi realizado o tratamento estatístico sendo tabulado e apresentado os resultados obtidas.
3. Resultados
Participaram desse estudo 67 professores de uma Instituição de Ensino Superior privada do Norte do País. Do grupo estudado 45 (67%) era do gênero feminino e 22 masculino, demonstrando que na Escola de Saúde existe a predominância de mulheres atuando como docentes, dado este que corrobora com a tese de Guimarães (2009) quando retrata o cenário da vida familiar e profissional da mulher mostrando um indiscutível crescimento da atuação feminina no mercado de trabalho, sem perder suas funções de mãe, esposa e dona de casa, levando a dupla jornada, sobrecarga, estresse e até adoecimentos.
Da amostra estudada observou-se que 36 pessoas (54%) encontram-se casados, 25 (37%) solteiros, 4 (6%) em união estável e 2 (3%) divorciados, sendo que 34 dos respondentes (51%) não tem filhos. Dos 33 professores com filhos, 9 (27%) têm apenas 1 filho, 17 (52%) informaram ter 2 filhos e 6 (18%) apresentam 3.
Quanto à carga horária total de trabalho 40 (60%) dos entrevistados trabalham de 20 a 40 horas semanais, 21 (31%) dos participantes trabalham acima de 40h e 6 (9%) abaixo de 20h.
Não foi encontrada correlação entre os níveis das dimensões avaliadas e os pontos relacionados a sexo, carga horária, estado civil e filhos.
Conforme subescala apresentada na metodologia (página 7) os resultados indicam elevado índice de envolvimento pessoal no trabalho (90%), e baixo índice para exaustão emocional (46%) e despersonalização (52%).
A dimensão exaustão emocional analisou “os sentimentos de sobrecarga emocional e exaustão devido às exigências do trabalho” (GOMES et al., 2013). O gráfico 1 mostra que 46% dos participantes apresentam nível baixo de exaustão, contudo 39% apresentam índice médio e 15% alto índice, totalizando 54% dos participantes que indicaram sentimento de sobrecarga no ambiente de trabalho e conforme literatura este sentimento gera impactos negativos no indivíduo.
Gráfico 1. Exaustão Emocional (EE)
As assertivas da dimensão despersonalização analisou aspectos como frieza, desinteresse, falta de entusiasmo quanto ao trabalho realizado. Observa-se no gráfico 2 aseguir, que 52% dos professores apresentaram baixo índice, porém 48% indicaram efeitos da despersonalização, sendo 28% com nível médio e 20% alto índice. Faz-se necessário atuar com esses 20% que apresentam índice elevado pois isso impacta diretamente no rendimento do professor.
Gráfico 2. Despersonalização (DP)
A dimensão envolvimento pessoal no trabalho ¨avalia os sentimentos de competência profissional e de sucesso no trabalho com pessoas¨ segundo Gomes e outros (2013). Observa-se 90% da população estudada com alto envolvimento pessoal no trabalho e 10% com nível médio, dado semelhante ao encontrado no estudo de Sousa, Oliveira, Damasceno e Silva (2012).
Ainda corroborando com o estudo realizado por Souza, Oliveira, Damasceno e Silva (2012), tais índices demonstram a possibilidade de desenvolvimento da síndrome, sendo preocupante, e que pelo menos cinco professores (7,5%) apresentam baixo nível em exaustão emocional e despersonalização com nível médio de envolvimento pessoal no trabalho, se tornando ainda mais preocupantes, precisando de intervenção urgente.
Quando questionados sobre sua percepção quanto ao impacto em seu rendimento para com os alunos, 88% (59 docentes) responderam que sim percebem o impacto, como:
Tabela 1. Percepção do impacto em seu rendimento colocados pelos os professores
Os relatos foram analisados e classificados em dois tipos conforme tabela 1, pessoal e no trabalho, sendo pessoal os relatos que interferem de maneira global no individuo como desânimo, intolerância, entre outros. E no trabalho estão as percepções de como esse esgotamento interfere na sala de aula como: aula menos dinâmica, baixa qualidade da aula, aulas breves.
Os professores que não perceberam impacto pessoal ou no trabalho quando se sentem cansados apresentaram alto índice de envolvimento pessoal no trabalho e baixo índice de despersonalização.
4. Conclusão
O instrumento utilizado (MBI) se mostrou adequado para analisar os níveis da Síndrome de Burnout em professores na IES avaliada, foi percebido a presença de determinados sintomas que podem evoluir para a síndrome sendo necessário planejar ações para evitar o impacto ao cliente (aluno), que podem afetar diretamente a qualidade do ensino e da empresa.
Pode-se observar através da pesquisa a diferença entre o estresse ocupacional com a presença da sintomatologia e melhora com o repouso, e a síndrome de Burnout sendo estresse crônico não melhorando com o repouso, nem com o afastamento temporário, em adição sugere-se terapia, acompanhamento psicológico para aumentar as chances de recuperação, sem necessariamente mudar de profissão.
Na Instituição pesquisada observou-se nível moderado de Burnout na dimensão Exaustão Emocional, baixos indícios para despersonalização e níveis altos de Envolvimento Pessoal no Trabalho, porém foi encontrado um percentual significativo de docentes com a presença de características de Burnout.
Conforme a percepção dos professores tais aspectos impactam na sala de aula, diminuindo a qualidade do ensino oferecido, a produtividade, eficiência e eficácia do professor, e a empresa por ser uma Instituição privada necessita primar pela excelência do ensino para ter uma expectativa de longo prazo, melhorar seu conceito junto ao MEC e ENADE.
Em virtude da presença de tais sintomas e do impacto relatado pelos docentes, fez se necessário sugerir formas de minimizar os efeitos da síndrome, conforme Iida (2005) e Benevides-Pereira (2012) seria importante ter uma equipe para controlar e gerir a parte administrativa (promoções, ofícios, solicitações), melhor definição e atribuição das tarefas e prazos dos docentes, melhorar plano de cargos e salários (esse item melhora a motivação por curto prazo, logo é uma melhoria a curto prazo, mas não soluciona o problema), limitar a quantidade aluno por m², bom relacionamento no ambiente laboral entre gestores e profissional, com treinamento de líderes e gestores e acompanhamento na implantação das melhorias para o clima organizacional, aumentar a carga horária para as atividades de parciais e integrais e projetos de extensão e pesquisa, implantar programa de qualidade de vida com estímulo a boa alimentação e atividade física, oferecer serviço de acompanhamento aos docentes a fim de identificar o início dos sintomas da Síndrome de Burnout e facilitar as intervenções preventivas, aumentando as chances de sucesso, e com isso ter professores mais comprometidos com o ensino e atividades laborais.
Algumas estratégias para prevenir a Síndrome são evitar a monotonia com aumento da variedade de rotinas, evitar o excesso de horas extras, melhorar o suporte social aos docentes, melhorar as condições laborais, investir no professor (Silva, 2000 apud Sousa, Oliveira, Damasceno, Silva, 2012).
Sugere-se um estudo comparativo da síndrome de Burnout e estresse ocupacional antes e após as visitas das comissões de avaliação do MEC, bem como em ano de prova ENADE, e após a adequação da nova matriz curricular.
Bibliografia
Araújo Junior, Raimundo Pereira de; Coutinho, Carina Carvalho Correia (2012). Prevalência da Síndrome de Burnout em Acadêmicos de Fisioterapia. Revista Brasileira de Ciência da Saúde. Volume 16, número 3, p. 379-384.
Benevides-Pereira, Ana Maria Teresa (2012). Considerações sobre a Síndrome de Burnout e seu impacto no Ensino. Boletim de Psicologia. Volume I. XII, número 137, p. 155-168.
Braun, Ana Claudia. Carlotto, Mary Sandra (2014). Síndrome de Burnout: estudo comparativo entre professores do Ensino Especial e do Ensino Regular. São Paulo: Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. Volume 18, número 1, p. 125-133. Jan-Abr.
Carlotto, Mary Sandra (2011). Síndrome de Burnout em Professores: Prevalência e fatores Associados. Brasília: Psicologia: Teoria e Pesquisa. Volume 27, número 4, p. 403-410. Out-Dez.
Freitas, Anderson Rodrigues; Carneseca, Estela Cristina; Paiva, Carlos Eduardo; Paiva, Bianca Sakamoto Ribeiro (2014). Impacto de um programa de atividade física sobre a ansiedade, depressão, estresse ocupacional e síndrome de burnout dos profissionais de enfermagem no trabalho. Revista Latino Americana de Enfermagem. Volume 22, número 2, p. 332-6, mar-abr.
Gomes, Antonio Rui; Oliveira, Silvia; Esteves, Anabela; Alvelos, Mafalda; Afonso, Jorge (2013). Stress, avaliação cognitiva e Burnout: um estudo com professores do Ensino Superior. Revista Sul Americana de Psicologia. Volume 1, número 1, p. 1-20, jan-jul.
Guimarães, Maria da Glória Vitório (2009). Vida familiar e profissional: percepção das professoras de ensino superior da cidade de Manaus. Tese de doutorado. Ribeirão Preto: Programa de Pós Graduação em Psicologia – Universidade de São Paulo.
Iida, Itiro (2005). Ergonomia: projeto e produção. 2ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Editora Edgard Blucher.
Maroco, João; Tecedeiro, Miguel (2009). Inventário de Burnout de Maslach para Estudantes Portugueses. Psicologia, Saúde & Doenças. Volume 10, número 2, p. 227-235.
Moreira, Hudson de Resende; Farias, Gelcemar Oliveira; Both, Jorge; Nascimento, Juarez Vieira do (2009). Qualidade de Vida no Trabalho e Síndrome de Burnout em professores de Educação Física do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde. Volume 14, número 2, p. 115-122.
Sousa, Júlia Rosa Santos; Oliveira, Gislene Farias de; Damasceno, Mônica Maria Siqueira; Silva, Ana Cristina de Oliveira e (2012). Prevalência da Síndrome de Burnout em Profissionais da Educação. Cariri: Universidade Regional do Cariri – URCA, Caderno de Cultura e Ciência. Ano VII, volume 11, número 1, p. 70-79, dez.
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