Os parques infantis e as
crianças. Los parques infantiles y los niños. Estudio descriptivo sobre las prácticas observadas Playgrounds and children. Descriptive study on practices observed |
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*Licenciatura em Educação Básica – Departamento de Educação Universidade de Aveiro **Departamento de Educação Universidade de Aveiro (Portugal) |
Ana Cintrão* Beatriz Costa* Fátima Rodrigues* Rui Neves** |
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Resumo O objetivo desta pesquisa é descrever e analisar a utilização dos Parques Infantis (PI) realizada por crianças até aos 12 anos numa lógica do seu desenvolvimento motor. Como instrumento de recolha de dados, recorreu-se à observação direta das crianças no PI da Fonte Nova, na cidade de Aveiro (Portugal), de acordo com um protocolo de observação definido ao longo de cinco tardes e num total de seis horas de observação de 45 crianças. De acordo com os resultados constatámos que existe um maior número de crianças a frequentar o parque a partir das 17H 00, sendo de realçar que ao fim de semana o número de crianças é relativamente mais elevado. Em relação aos equipamentos do PI mais utilizados pelas crianças, foram o escorrega apesar de o golfinho ser o primeiro a ser utilizado. Ao longo das observações, a utilização dos equipamentos pelas crianças permite concluir que estas ao frequentarem os parques infantis desenvolvem capacidades motoras, assim como nos permitiu apurar qual o equipamento que mais as estimula. Unitermos: Desenvolvimento motor. Parques infantis. Equipamentos.
Abstract The objective of this research is to understand the importance of playgrounds in motor development of child up to twelve years old, for this we observate children on PI from Fonte Nova’s, in Aveiro (Portugal), for five afternoon’s, in total of six hours of observation of forty-five children. Between the results obtained is shown there is most number of children attending the park starting at 5 pm, however, on weekend the number of children if higher. It appears that the most required equipment is the slide, being the dolphin the one which children will first. Along the observations, the use of equipment by children allows to conclude that attending the playgrounds develop motor skills. Keywords: Motor development. Playgrounds. Equipment.
Recepção: 25/03/2015 - Aceitação: 04/06/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Durante a infância e a adolescência a atividade física (AF) regular está associada a ganhos em saúde, nomeadamente em termos psicológicos e fisiológicos (Andersen et al. 2011; Timmons et al. 2012). No entanto vários estudos têm evidenciado que as crianças de idade pré-escolar não são suficientemente ativas fisicamente, não cumprindo as orientações dos necessários 180 minutos/dia imprescindíveis para ter impacte ao nível da sua saúde (Pate et al. 2012; Tremblay et al. 2012). A sociedade nem sempre valorizou os espaços exteriores como forma de prática de AF e de desenvolvimento humano. No entanto, na atualidade assistimos ao reconhecimento dos espaços exteriores, dos espaços públicos, dos espaços verdes, dos jardins, dos passeios como contextos de qualificação do desenho urbano. Há um interesse crescente no papel dos espaços, do envolvimento urbano como fator influenciador do desenvolvimento de AF associada à saúde. Estas oportunidades integram a qualificação dos espaços públicos através de PI em que as crianças têm oportunidade de dar largas às suas necessidades de movimento e desta forma livre contribuir para o seu desenvolvimento motor e global.
O decreto-lei nº 379/97 de 27 de Dezembro define que o “espaço de jogo e recreio” é uma “área destinada à atividade lúdica das crianças, delimitada física ou funcionalmente, em que a atividade motora assume especial relevância”. Os PI visam criar um ambiente de jogo e diversão que proporcione à criança conhecimentos cognitivos, emocionais e sociais, bem como potencia o seu desenvolvimento motor.
Alguns estudos sobre os PI têm indiciado que “o tipo de uso predominante destes espaços é para o lazer de forma espontâneo, sem que exista uma organização prévia relativa à hora ou aos companheiros de jogo. O recurso ao parque infantil, como espaço de formação é quase inexistente.” (Pereira, Laranjeiro e Malta, 2000:209)
Os PI são fundamentais e imprescindíveis ao desenvolvimento da criança, pois permitem à criança brincar, conviver e socializar. É através daquilo que para a criança surge como brincar que ela explora o mundo, as suas possibilidades, e se insere nele, de maneira espontânea e divertida, descobrindo-se a si própria. Pelas suas caraterísticas, os PI podem desenvolver as capacidades de observação, de sociabilidade, disciplina, espírito de iniciativa, autonomia das crianças, ao mesmo tempo que promovem a motricidade e todo o organismo beneficia da exposição ao ar livre, ampliando a experiência infantil de contacto com a natureza.
Os PI apresentam vantagens também a nível físico (obtenção de bom estado nutritivo, boa oxigenação, etc.), espiritual (a socialização da criança, a sua integração na vida social, o desenvolvimento de atividades de inteligência, comunicabilidade, espírito de cooperação, e tantas outras que tendem a fazer a criança um ser mais apto à vida em comunidade) e moral, levando a criança ao estado de plena felicidade.
Quando equacionamos a natureza dos equipamentos que podem ou devem integrar um PI, importa referir que estes não devem ser monótonos, estáticos e regulares “que ao fim de certo tempo esgotam a possibilidade de exploração e evolução” (Neto, 2001), levando muitas vezes as crianças a utilizar os equipamentos de forma diferente daquela para que o mesmo estava destinado.
Em termos de segurança as infraestruturas necessitam de ser pensadas antecipando eventuais problemas, assumindo que as atividades motoras as realizar não são isentas de total risco. E que este é inerente à vivência das situações a realizar pelas crianças. Devemos dar especial atenção aos equipamentos móveis como é o caso do baloiço, minimizando assim o número e a gravidade de acidentes. A conservação das superfícies é também um aspeto importante para que as crianças tirem partido de um espaço limpo, seguro e agradável.
Assim, pretende-se com este estudo descrever e analisar a utilização dos equipamentos dos PI, através da observação das crianças no contexto do PI, tendo em conta a forma como este é explorado por elas.
2. Metodologia
A realização deste estudo processou-se em diversas fases. Numa primeira fase e com base em informação oficial da Câmara Municipal de Aveiro realizou-se o mapeamento geográfico de todos os PI existentes na cidade de Aveiro, que nos permitiu situar os PI no espaço urbano.
Após este mapeamento dos PI procedeu-se à escolha de um deles para realizar a observação da utilização por parte das crianças nesse contexto. O PI escolhido foi o de Fonte Nova. Assim, ao longo de seis tardes, procedeu-se à observação de um total de 45 crianças no parque infantil da Fonte Nova, utilizando um registo direto com base na utilização de grelhas de observação. Nessas grelhas foram registados dados como:
o número de crianças que se encontravam no parque;
o equipamento para o qual se dirigiam em primeiro lugar;
o equipamento mais utilizado pelas crianças;
descrição das atividades motoras por equipamento.
As observações foram efetuadas no período da tarde, ao longo de cinco dias, variando apenas a hora e o dia da semana. Decorreram entre as 14h e as 18h, tendo cada uma a duração de 1h ou 1h30. O dia da semana escolhido foi a terça-feira, tendo ocorrido apenas uma observação ao sábado.
3. Apresentação e discussão de resultados
Neste ponto apresentam-se os resultados de várias dimensões observadas na utilização do PI pelas crianças: frequência do PI, sequência de utilização dos equipamentos do PI, tipo de equipamento versus forma de utilização pelas crianças. Estes indicadores de forma articulada dão-nos uma visão sobre a utilização dos PI pelas crianças e seu potencial de estimulação e vivência motora.
3.1. Frequência do PI
Numa primeira abordagem importa descrever com que frequência o PI é utilizado pelas crianças. Os dados estão sintetizados no quadro 1 onde poderemos identificar os valores totais de crianças a utilizar o PI.
Quadro 1. Frequência do PI / dia / horário
Horário |
Dia da semana |
Número de crianças Inicial |
Número de crianças Final |
Número de crianças Total |
16h-17h |
Terça |
0 |
2 |
4 |
14h-15:30h |
Terça |
0 |
0 |
3 |
16h-17:30h |
Terça |
2 |
2 |
8 |
17h-18h |
Terça |
3 |
2 |
10 |
15:20h-16:20h |
Sábado |
15 |
6 |
20 |
Como se pode observar no quadro 1, entre as 14h e as 15h30 o número de crianças a frequentar o parque é reduzido. Enquanto ao final do dia (após as 17h) esse número já é mais elevado, acontecendo que ao sábado, o número de crianças a utilizar o PI é bastante mais elevado, sendo mesmo o dia da semana com maior frequência. Esta situação pode ser explicada pelo facto das crianças não terem acompanhamento de adultos durante o dia.
3.2. Sequência de utilização dos equipamentos do PI
Após cinco observações no PI da Fonte Nova, de acordo com grelha de observação utilizada, pode verificar-se que o equipamento para o qual as crianças se dirigem em primeiro lugar, é o golfinho, seguido do escorrega.
Gráfico I. Distribuição da sequência de utilização dos equipamentos
Pode ainda observar-se que o equipamento mais requisitado pelas crianças após 10 minutos de observação é o escorrega, passados 20 minutos o golfinho, passados 30 minutos, 40 minutos e 50 minutos é o escorrega.
Gráfico II. Distribuição do número de crianças por equipamento
3.3. Tipo de equipamento versus forma de utilização pelas crianças
A natureza da exploração motora das crianças de cada um dos equipamentos do PI, não é sempre igual e uniforme. Deste ponto de vista, importa evidenciar alguns indicadores decorrentes da observação, onde se podem identificar diferentes e variadas utilizações dos equipamentos. No quadro 2 para cada equipamento estão associadas utilizações por vezes inapropriadas e suscetíveis de colocar em causa a sua segurança.
Quadro 2. Registo de ações motoras observadas / equipamento
Equipamento |
Ações motoras observadas |
Escorrega |
Sobem pelo lado contrário, descendo pelas escadas; Inicialmente necessitam da ajuda do adulto; Escorregam deitados, de pé e de costas; As crianças mais jovens sobem estas escadas de gatas. |
Golfinho |
Utilizam duas crianças ao mesmo tempo; Sentam-se para o lado contrário; Sentam-se em qualquer superfície do equipamento que permita balançar; Controlam a velocidade, balançando mais ou menos o corpo; Por vezes os acompanhantes ajudam a alcançar velocidade |
Barras |
Crianças mais jovens passam por baixo das barras; Crianças mais crescidas (entre os 6 e os 12 anos sensivelmente), fazem cambalhotas na barra superior e apoiam as mãos na barra e balançam |
Teia |
Os bebés (entre 1 a 3 anos aproximadamente) não trepam, apenas se apoiam nas cordas com o objetivo de passar para o outro lado. |
Ponte |
Algumas crianças passam por baixo da ponte; Antes de atravessar a ponte mostram alguma hesitação manifestada pois tentam atravessar sentadas, uma vez que, a ponte oscila um pouco. |
Rampa de escalada |
As crianças fazem competições para ver quem chega primeiro. |
Parte de baixo do escorrega |
A criança passa por baixo do escorrega mas hesita e baixa-se mais do que devia. |
Após as observações realizadas podemos concluir-se que após várias utilizações o equipamento deixa de constituir um desafio para a criança e esta cria alternativas para o uso do mesmo, pois as crianças “procuram incessantemente: renovação e estímulo” (Fernandes, 1988). Assim é possível falar dos PI como potenciadores do desenvolvimento motor, uma vez que as alternativas de utilizar um equipamento nunca se esgotam, pois a sua utilização é ditada pelos seus utilizadores.
Verifica-se também a falta de maturação de noção de espaço, pois a criança ao baixar-se mais do que necessita revela não ter bem presente a noção do seu corpo. É de notar que as crianças por vezes hesitam antes de utilizar o equipamento, tal como acontece na ponte, na qual a criança inicialmente tentou atravessar sentada, no entanto, a aprendizagem daí resultante baseia-se numa junção de desafios que só constituirão perigo se a criança não tiver capacidade para os superar.
Com a utilização dos PI observa-se que a criança tem necessidade de tudo experimentar, assim, a criança aprende e desenvolve capacidades. Como revelam os dados recolhidos, as crianças utilizam os equipamentos presentes nos parques explorando os mesmos das mais diversas formas, pois os que criam mais dificuldades às crianças são também aqueles que as cativam porque constituem um desafio. Desafio este que as crianças tentam ultrapassar gradualmente, note-se o caso da criança que apenas após algumas tentativas conseguiu atravessar a ponte que oscila. Através da observação podemos também constatar que as crianças têm total controlo sobre as atividades a desenvolver no equipamento, não existem regras específicas de como utilizar os equipamentos levando assim à possibilidade de arriscar, estar em movimento. As crianças que sobem as escadas de gatas, elas têm noção que não conseguem subir como as crianças mais velhas, no entanto, arranjam alternativas, desenvolvendo assim capacidades como equilíbrio e noção do espaço, neste caso específico.
É de salientar que os equipamentos mais versáteis são o golfinho e o escorrega, pois são explorados pelas crianças das mais variadas formas de locomoção e equilibração.
Conclusões
A grande questão colocada em relação aos PI, remete essencialmente para a forma como as crianças os utilizam e o contributo que estes dão ao seu desenvolvimento motor.
É com base nos resultados recolhidos, após a observação de 45 crianças, que se pode afirmar que o PI foi mais solicitado ao final do dia, por volta das 17h, assim como ao sábado. O equipamento para o qual as crianças se dirigem primeiro é o golfinho, seguido do escorrega. Apesar de ser o equipamento para o qual as crianças se dirigem em segundo lugar, o escorrega é o equipamento mais requisitado pelas mesmas.
Com apoio na observação direta podemos referir que o carácter versátil dos equipamentos dá oportunidade à criança de desenvolver capacidades, uma vez que no PI não existem equipamentos que não fomentem a prática de AF e diversas formas de utilização dos mesmos, numa busca de soluções motoras estimulantes da sua adaptabilidade.
Bibliografia
Andersen, L.B., Riddoch, C., Kriemler, S., Hills, A. (2011) Physical activity and cardiovascular risk factors in children. Br J Sports Med, 45:871–876.
Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.
Pate, R.R., O’Neill, J.R. (2012). Physical activity guidelines for young children: an emerging consensus. Arch Pediatr Adolesc Med,166(12):1095–1096.
Pereira, B., Laranjeiro, H., Malta, P. (2000). Os espaços lúdicos para a infância: dos parques infantis aos parques de diversões. In Universidade do Minho, Congresso internacional: Os mundos sociais e culturais da infância (290-304). Braga: Universidade do Minho.
Neto, C. A. F. (2001). Motricidade e jogo na infância (3.ª ed.). Rio de Janeiro: Sprint.
Diário da República. (2009). Decreto de lei. 1.ª série. N.º 96. 19 de Maio de 2009, from http://dre.pt/pdf1s/2009/05/09600/0319103202.pdf
Timmons, B.W., Leblanc, A.G., Carson, V., Connor Gorber, S., Dillman, C., Janssen, I. et al (2012). Systematic review of physical activity and health in the early years (aged 0–4 years). Appl Physiol Nutr Metab 37(4):773–792.
Tremblay, M.S., Leblanc, A.G., Carson, V., Choquette, L., Connor Gorber, S., Dillman, C. et al (2012). Canadian society for exercise physiology: Canadian physical activity guidelines for the early years (aged 0–4 years). Appl Physiol Nutr Metab, 37(2): 345–369.
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