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O handebol como conteúdo da Educação Física escolar

El balonmano como contenido de la Educación Física escolar

 

Professor de Educação Física da rede pública e privada

do Rio de Janeiro. Mestre em Educação pela UFRJ

(Brasil)

Marcelo da Cunha Matos

prof.marcelomatos@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo tem como objetivo evidenciar a importância de se discutir a ressignificação do esporte enquanto conteúdo escolar. Especificamente, irei focar no handebol, um esporte muito difundido nas escolas brasileiras, e que recentemente vem ganhando espaço na mídia pela recente conquista do campeonato mundial de 2013 pela seleção adulta feminina. Para isso, abordarei a relação entre esporte e modernidade e buscarei superar sua formatação burocrática em algo mais pedagógico e convergente para uma educação libertária.

          Unitermos: Handebol. Esporte. Currículo. Educação Física.

 

Resumen

          Este artículo tiene como objetivo destacar la importancia de debatir la redefinición del deporte como contenido escolar. En concreto, me centraré en el balonmano, un deporte muy extendido en las escuelas brasileñas, y recientemente ha ido ganando terreno en los medios de comunicación por la reciente consecución del campeonato del mundo de 2013 para la selección mayor de mujeres. Para ello, se aborda la relación entre el deporte y la modernidad y se busca superar el formato burocrático hacia algo más educativo y convergiendo en una educación para la libertad.

          Palabras clave: Balonmano. Deporte. Currículo. Educación Física.

 

Recepção: 06/01/2015 - Aceitação: 02/05/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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    A disciplina escolar de Educação Física passou por diversas mudanças em sua história desde sua obrigatoriedade dentro das Instituições de ensino através da Reforma Couto Ferraz, tendo, inicialmente, como conteúdo específico o Método de Ginástica Alemão. Porém, a consolidação da educação física, através dos métodos de ginástica, na escola se dá a partir de Rui Barbosa, com a reforma de 1882, instituindo o método de ginástica sueco, fazendo com que o mesmo fosse obrigatório para ambos os sexos e que fosse oferecido às escolas normais (Netto apud Darido, 2006). Netto (p. 1, 2006) ainda complementa que, a partir da década de 1920, “passa a ganhar espaço na escola o método francês de ginástica, que, a partir de 1930, passa a ser usado como meio para a política Getulista, onde se pretendia um homem forte para a produção da indústria brasileira”. O modelo esportivo surge com força a partir de 1950, num viés técnico e voltado para os mais aptos física e tecnicamente.

    É notório identificar que a abordagem esportiva dentro da Educação Física Escolar encontra-se solidificado até os dias atuais e, em muitos casos, representados por quatro modalidades. São elas: Futebol/Futsal, Voleibol, Basquetebol e Handebol. A implementação dessas modalidades dentro dos currículos escolares é comum e abrange uma série de questões importantes para serem refletidas pelo corpo docente. Para isso, torna-se necessário analisarmos e estudarmos o campo do Currículo e entender como certos conhecimentos – materializados como disciplinas e conteúdos – são solidificados dentro do currículo escolar e outros não.

    Neste artigo, entendo os currículos como “espaços discursivos nos quais múltiplas articulações vieram sendo sócio-historicamente produzidas, em processos de significação permanentes, visando a hegemonização de certos sentidos em detrimento de outros” (MATOS, 2013). Embora este trabalho se restringirá a entender os motivos que levaram a implementação do Handebol nas escolas, esta modalidade segue uma tendência dos demais esportes supracitados. A partir da concepção esportivista junto à Educação Física em meados da década de 50, estas quatro modalidades possuem familiaridades entre si, tais como o uso de uma bola como objeto principal, a competição entre duas equipes, a pratica em quadra e regras simples e objetivas. Isso se tornara um ambiente propício para a prática nas escolas, uma vez que agregava turmas numerosas, além de dar um dinamismo conveniente para as aulas. Isso num momento em que se valorizava a prática esportiva como propaganda de um país. Vale ressaltar também que influências de grupos sociais e atores regem o andamento de sua fortificação dentro do espaço escolar. O futebol, por exemplo, possuía a força militar que dominava o poder, sendo usada na Copa do Mundo de 70.

    Dentre esses quatro esportes, o Handebol possui duas vantagens que estimulam a sua prática. São elas: o esporte com mais praticantes por time (sete), ficando à frente do Futsal (cinco), vôlei (seis) e basquete (cinco) e que possui maior facilidade de um indivíduo marcar pontos, pois o uso das mãos ajuda para arremessar e mesclar a turma com meninos e meninas, diferentemente, do Futsal que o domínio da bola se dá com os pés, o que torna mais apurada a habilidade e a destreza de um praticante. Neste caso, quando misturamos ambos os gêneros, os meninos prevalecem durante a aula.

    No vôlei, a bola em suspensão dificulta a prática para iniciantes, assim como o alvo pequeno e alto do basquete. Portanto, o Handebol suscita a curiosidade e o desafio de, com as mãos, arremessar a bola ao gol. Junto com o futebol é a modalidade de quadra mais praticada nas escolas brasileiras.

    O Handebol, assim como qualquer modalidade esportiva, só tem sentido na escola quando ela for entendida como atividade escolar (Bracht, 2009). Então, suas contribuições para o corpo discente são várias, tais como a aquisição de habilidades motoras e valências físicas como agilidade, velocidade, destreza, lateralidade e força, o crescimento biopsicossocial, o aumento das relações interpessoais etc. Tais facilidades gravaram paulatinamente o Handebol como um conteúdo sólido nas aulas de Educação Física, aguardado ansiosamente por meninos e meninas.

    Podemos, inclusive, ressignificar a modalidade a fim de popularizá-la ainda mais como, por exemplo, criando novas regras de acordo com as necessidades de cada grupo escolar ou, até mesmo, já se utilizar de variações do Handebol como, por exemplo, o Handebol de Praia (Beach Handball). Suas regras inovadoras, como arremesso que vale dois pontos e giros no ar, aguçam o interesse do jovem que se estimulam a experimentar esse prazer e o desafio em se jogar na areia.

    A origem do handebol, datada de 1919, criado pelo alemão Karl Schelen, deu-se inicialmente em campos, tais como os de futebol. O número de jogadores era igual também, num total de onze praticantes por equipe. Os primeiros países a jogar essa modalidade foram a Áustria, Suíça e Alemanha.

    Vale ressaltar que o jogo de Handebol já era praticado anteriormente. O site da Confederação Brasileira de Handebol1 indica que

    O jogo de “Urânia” praticado na antiga Grécia, com uma bola do tamanho de uma maçã, usando as mãos, mas sem balizas, é citado por Homero na Odisséia. Também os Romanos, segundo Cláudio Galeno (130-200 DC), conheciam um jogo praticado com as mãos, “Hasparton”. Mesmo durante a Idade Média, eram os jogos com bola, praticados como lazer por rapazes e moças. Na França, Rabelais (1494-1533) citava uma espécie de handebol (“esprés jouaiant à balle, à la paume”). Em meados do século passado (1848), o professor dinamarquês Holger Nielsen criou no Instituto de Ortrup um jogo denominado “Haaddbold” determinando suas regras. Na mesma época dos tchecos conheciam jogo semelhante denominado “Hazena”. Fala-se também de um jogo similar na Irlanda, e no “Sallon”, do uruguaio Gualberto Valetta, como precursor do handebol. Todavia, o handebol como se joga hoje foi introduzido na última década do século passado, na Alemanha, como “Raftball”. Quem o levou para o campo, em 1912, foi o alemão Hirschmann, então secretário da Federação Internacional de Futebol. O período da primeira Grande Guerra (1915 a 1918) foi decisivo para o desenvolvimento do esporte, quando o professor de ginástica Berlinense Max Heiser criou um jogo ao ar livre derivado do “Torball” para as operárias da Fábrica Siemens, que teve o campo aumentando para as medidas do futebol quando os homens começaram a praticá-lo. Em 1919, o professor alemão Karl Schelenz reformulou o “Torball”, alterando seu nome para “Handball”.

    O esporte é um fenômeno da modernidade. Regras institucionalizadas, federações, equipamentos oficiais e padronizados constituem o que conhecemos por Esporte. Entretanto, ao analisarmos a citação acima, antes mesmo do período anterior a 1919, vemos que este “esporte” já era praticado. Podemos registrar esta diferenciação como um jogo que originou o “verdadeiro” esporte.

    Este trabalho tem a intenção de desmistificar o esporte compartimentado, inflexível, mercadológico e profissional. Tais adjetivos, inclusive, refutam o sentido principal de qualquer perspectiva pedagógica que lute por uma educação libertária. Afinal, estaremos a serviço do esporte ou ele é que deve está ao nosso serviço?

Notas

  1. Ver http://www.brasilhandebol.com.br/noticias_detalhes.asp?id=27174. Último acesso em 29 de dezembro de 2014.

Bibliografia

  • Bracht, Valter (2009). Esporte de Rendimento na Escola. In: M. P.Stigger; H. Lovisolo (Orgs.) Esporte de Rendimento e Esporte na Escola. Campinas: Autores Associados, p. 11-27.

  • Matos, Marcelo C. (2013). Sentidos de Educação Física nos currículos de Pedagogia da UFRJ (1992-2008). Dissertação de mestrado em educação. Faculdade de Educação. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 129 p.

  • Netto, Américo V. (2006). Abordagens pedagógicas em educação física: corpo como objeto e abordagem cultural como conteúdo. Lecturas: Educación Física y Deportes. Buenos Aires, v. 95, p. 164.

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