O Alsa: uma nova modalidade desportiva no currículo da Educação Física em Angola The Alsa: a new sport in the curriculum of Physical Education in Angola
	*Mestre em Ciências da Educação Instituto Superior de Ciências da Educação ISCED – Huíla (Angola) **Universidade de Aveiro (Portugal)	Albino Sapalo* sbino80@yahoo.com Rui Neves** rneves@ua.pt
	Resumo           A prática desportiva é um elemento indispensável na manutenção da saúde do homem. Assim torna-se um acessório curricular imprescindível ao processo ensino-aprendizagem na disciplina de Educação Física (EF), numa lógica de diversidade de atividades desportivas constituídas para o veículo de valores desportivos às novas gerações que têm a escola como instituição fulcral para o seu crescimento e desenvolvimento global. O presente estudo pretendeu apresentar os princípios gerais da nova modalidade desportiva escolar – Alsa – e validar e fundamentar a sua utilidade curricular como modalidade desportiva coletiva na disciplina de EF. Para isso foi desenvolvido um estudo de características quase-experimentais envolvendo um grupo composto por 30 alunos (15 raparigas e 15 rapazes) escolhidos aleatoriamente, das turmas 1 e 2 da 7ª Classe, da Escola Secundária do I Ciclo “11 de Novembro” do município do Lubango, província da Huíla (Angola). Os instrumentos de recolha de dados foram a observação de jogo (gravação vídeo) e questionários aplicados aos alunos participantes. Os resultados evidenciaram que o Alsa contribui para a prática da EF em contextos onde por razões técnicas e materiais não era praticada; tornando-se mais uma modalidade desportiva no currículo da EF, do agrado dos seus alunos. Em síntese a implementação do Alsa permite a aquisição de conhecimentos, competências e aptidões para a prática da EF e do desporto escolar, por parte dos alunos e a sua inclusão nos currículos da EF.           Unitermos: Alsa. Currículo. Educação Física. Desporto escolar.   Abstract           The sport is an indispensable element in human health maintenance. Thus becomes a curricular accessory essential to the learning process in Physical Education (PE), a logic of diversity of sports activities recorded for the vehicle of sporting values ​​to new generations who have school as a key institution for growth and global development. This study intended to present the general principles of the new school sport - Alsa - and validate and support its usefulness as collective curricular sport in the PE discipline. For this it developed a quasi-experimental study of characteristics involving a group of 30 students (15 girls and 15 boys) randomly selected from classes 1 and 2 of Grade 7, High School of the First Cycle "November 11" of the city Lubango, southern Huila province (Angola). The data collection tools were the game of observation (video recording) and questionnaires given to students participating. The results showed that the Alsa contributes to the practice of PE in contexts where for technical reasons and materials were not practiced; It is becoming a sport in the PE curriculum, the liking of their students. In summary the implementation of Alsa allows the acquisition of knowledge, skills and abilities to practice PE and school sport by the students and their inclusion in the curriculum of PE.           Keywords: Alsa. Curriculum. Physical Education.   Recepção: 29/04/2015 - Aceitação: 31/05/2015
	EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A manutenção da saúde humana possui como um dos fatores a realização de exercícios físicos, consubstanciada na prática sistemática e consciente do desporto que tem, na Escola, a EF como vetor de desenvolvimento dos conhecimentos e de ferramentas e que deve ter o professor especializado, como um orientador, capaz de fazer cumprir com um dos papéis do desporto. «Encara-se assim a educação física e o desporto, de um modo geral, como sendo fundamental para a formação do homem, para a manutenção da sua saúde e para promover a qualidade de vida dos cidadãos e que, por isso, deve ser ministrado e acompanhado por profissionais devidamente formados em motricidade humana» (Santos, 2013, p. 5).

    Como afirmam Sá & Sá, (s/d) «na realidade, a natureza intrínseca do desporto revela muito mais do que uma simples actividade» (p. 20) e «onde as situações devem ser entendidas como unidade de acções irredutíveis a um elemento único» (Oliveira & Tavares, 1996, p. 33), pois, da prática do desporto o homem não só ganha a manutenção da sua saúde como também obtém vários benefícios, tais como ganhar habilidades, adquirir competências, estabelecer novos relacionamentos com pessoas nunca antes conhecidas, porque o desporto na sua essência é uma actividade universal, albergando povos de todas as origens, de todas as classes sociais, de todas as nacionalidades, fazendo dele um importantíssimo elemento de paz e unidade, para além de ser uma valiosa fonte económica.

    A coordenação motora, a agilidade, a destreza e a robustez física são algumas das caraterísticas de um ser humano saudável, porque de tais condições depende a realização das demais aprendizagens e a escola, tendo em conta a sua tarefa social, apresenta-se insubstituível neste percurso.

    O desporto é uma parte básica do processo de ensino-aprendizagem, principalmente, como elemento indispensável na motricidade humana, pois, segundo De Marco (1995), onde o lúdico se entrelaça com o dramático, formando uma unidade diferente das demais áreas do saber.

    É através da disciplina de EF, subdividida em várias atividades, que contribui para o fortalecimento da estrutura físico-motora dos alunos, para além de promover nos mesmos, conhecimentos, atitudes, competências e habilidades para a prática das diferentes modalidades desportivas.

    A relevância desta área do saber leva a que os currículos pedagógicos contemplem, nas suas grelhas, os variados conteúdos desportivos, representada pela disciplina de EF, nos diferentes níveis de ensino.

    Com vista a enriquecer o currículo desta disciplina num contexto social e material das escolas de Angola e resultante das nossas experiências docentes, debruçámo-nos sobre o que é o Alsa e que contributo dará à EF; que competências desenvolverão os seus praticantes.

    A nova modalidade - o Alsa, é um jogo desportivo coletivo, de invasão, centrado no domínio manual da bola, praticado por duas equipas com 14 jogadores cada uma, dos quais oito efectivos e seis suplentes, num tempo de jogo de 35 minutos cada parte, separadas por um intervalo de 10 minutos, com uma bola esférica de 75 cm de perímetro e 600 g de peso. É um jogo que, para além da bola, não precisa de outros materiais como balizas, postes, aros, tabelas nem de redes, daí a sua facilidades de ser praticado em qualquer espaço ou contexto. Por isso, a existência de uma modalidade com tais características, tornaria mais operacional a disciplina de EF em qualquer parte do município do Lubango, servindo como suporte para a aprendizagem de competências técnicas e táticas.

    Deste modo, com o presente estudo procurou responder a várias questões, como: O que é o Alsa? Que actividades motoras o Alsa integra, capazes de fornecer competências desportivas para os aprendizes? Será possível fundamentar o Alsa, como uma nova modalidade desportiva coletiva?

    O presente projecto, propôs alcançar os seguintes objectivos:

• Apresentar os princípios gerais da modalidade desportiva emergente;

• Caraterizar ações motoras fundamentais do Alsa;

• Identificar as características tácticas do Alsa.

• Caraterizar e fundamentar o jogo Alsa como componente curricular da EF;

• Propor o Alsa como nova modalidade desportiva escolar;

    Para o lançamento dos fundamentos dessa modalidade, a Escola do I Ciclo do Ensino Secundário “11 de Novembro”, do município do Lubango, província da Huíla (Angola) foi o contexto onde os dados foram recolhidos com recurso ao método de observação (Appolinário, 2007, p. 144) e ao questionário (Leite, 2008, p. 109).

Metodologia

    Quanto a natureza, o presente estudo, de acordo com Appolinário (2007), é quase-experimental, porque não tem como finalidade procurar relacionar a causa e o efeito por meio de um ensaio ou uma situação-controle «que serve como referência para o resultado daquilo que se pretende averiguar» (Leite, 2008, p. 58). Daí, na opinião de Vaissman (2004), não ter sido necessária a estruturação de um grupo de controlo e um de observação, tendo-se adoptado um paradigma quantitativo de colheita de dados que foi realizada por meio da observação directa e indirecta e, por meio de um questionário que permitiu obter dos sujeitos as suas opiniões sobre o jogo.

    A EF é indispensável na formação e na consolidação das habilidades desportivas dos alunos, pois, para além de fortalecer, aprofundar e aprimorar os conhecimentos, as capacidades, as aptidões, e a prática das atividades físicas, Fernandes, Nzita & João (2005), afirmam que um dos objetivos da disciplina de EF, no I Ciclo do Ensino Secundário, em Angola, é fomentar o gosto dos alunos pela atividade física e pela prática das várias modalidades desportivas individuais e colectivas. Porém, por dificuldades de vária ordem a EF não cumpre com esta e nem com as demais finalidades e, por conseguinte, não exerce o seu papel em algumas instituições escolares do município do Lubango.

    Com o Alsa pretende-se colocar à disposição da EF e, evidentemente, no seu currículo mais uma ferramenta, mais um recurso e mais um meio útil que procurará esbater algumas lacunas decorrentes de imperativos técnico-materiais das escolas.

    Desta forma, para o presente estudo, foi usada uma amostragem probabilística, «porque é a que dá a todos os membros da população a mesma possibilidade de serem escolhidos» (Marconi & Lakatos, 2008, p. 112). Assim, foi usada a amostra aleatória estratificada, onde o género foi a propriedade relevante para a estratificação.

    A recolha de dados para o presente trabalho só foi possível graças ao uso de três instrumentos:

• Uma câmara de vídeo de marca Canon A580, de 8.0 Mega Pixéis, instalada no canto sudoeste, aproximadamente a 4 m da linha lateral da quadra desportiva da Escola do I Ciclo do Ensino Secundária “11 de Novembro”, posicionada a uma altura de 1,75 m, de tal maneira que toda a movimentação da quadra de jogo foi captada e filmada;

• Uma ficha de observação onde foram anotadas todas as ações motoras observáveis, dos sujeitos, passíveis de registo, tais como: a marcha, corrida, o lançamento, o passe, a receção de bola, os dribles, a defesa, o ataque e o contra-ataque.

• Um guião de perguntas, subdividido em duas partes. A primeira que correspondeu a identificação pessoal do sujeito, tendo o género, a idade, a altura e o peso, como caraterísticas essenciais e a segunda parte que correspondeu a uma série de seis questões: cinco perguntas fechadas e uma aberta, pois, com a pergunta aberta precisou-se que o informante, pudesse livremente, por meio de frases ou orações, colocar palavras suas, o seu parecer sobre o assunto em pesquisa (Martins, 2007, p. 52).

Apresentação e discussão dos resultados

    Os quadros a seguir apresentam a leitura dos dados colhidos a partir da observação do jogo e do inquérito aplicado aos alunos:

Quadro 1. Ataque com bola

    Num total de 69 ataques, para os femininos, no primeiro jogo, o atleta A, teve 5,8 % do sucesso, no segundo teve 17,4 % e no terceiro 23 %; enquanto o jogador B, teve no primeiro 7,3 %, no segundo teve 22 % e no terceiro, 25 %. Para os masculinos, notou-se que dos 64 ataques, o atleta A teve no primeiro jogo 3,1 %, no segundo 15,6% e no terceiro 29,7 %; enquanto o jogador B, teve no primeiro 4,7 %, no segundo teve 18,8 % e no terceiro, 28,1 %.

Quadro 2. Defesa com disputa de bola

    Das 107 disputas de bola, para os femininos, no primeiro jogo, o atleta A, teve 9,3 % do sucesso, no segundo 18,7 %, no terceiro 21 %; enquanto o jogador B, teve no primeiro 8,4 %, no segundo teve 20,6 % e no terceiro, 22,4 %. Para os masculinos, verificou-se que das 117 disputas, o jogador A teve no primeiro 9,4 %, no segundo 21,4 % e no terceiro, 20,5 %; enquanto o jogador B, teve no primeiro 6,8 %, no segundo teve 19,7 % e no terceiro, 22,2 %.

Quadro 3. Receção com cobertura

    Num total de 67 receções com cobertura, para os femininos, no primeiro jogo, o atleta A, teve 8,9 % do sucesso, no segundo 17,9 %, no terceiro 22,4 %; enquanto o jogador B, teve no primeiro 10,4 %, no segundo teve 16,4 % e no terceiro, 23,9 %. Para os masculinos, verificou-se que das 76 recepções, o atleta A teve no primeiro 6,6 %, no segundo 22,4 % e no terceiro, 25 %; enquanto o jogador B, teve no primeiro 5,3 %, no segundo teve 14,5 % e no terceiro, 26,3 %.

Quadro 4. Passe

    Dos 85 passes, para os femininos, no primeiro jogo, o atleta A, teve 8,2 % do sucesso, no segundo 18,8 %, no terceiro 21,2 %; enquanto o jogador B, teve no primeiro 9,4 %, no segundo teve 20 % e no terceiro, 22,4 %. Para os masculinos, notou-se que dos 88 passes, o atleta A teve no primeiro 6,82 %, no segundo 21,6 % e no terceiro, 22,7 %; enquanto o jogador B, teve no primeiro 5,7 %, no segundo teve 19,3 % e no terceiro, 23,9 %.

    Os resultados do questionário evidenciam uma forte adesão dos alunos ao jogo Alsa.

Quadro 5. Opinião sobre a inclusão do Alsa no currículo da EF

    Com base nos resultados do quadro nº 5, percebemos que 86,7 % manifesta concordância que o jogo Alsa faça parte do leque das modalidades desportivas escolares da disciplina de EF.

Análise comparativa com outras modalidades desportivas coletivas

    Em função dos resultados emergentes, consideramos relevante clarificar através de um quadro comparativo, várias dimensões entre o Alsa e outros jogos desportivos coletivos.

Conclusões

    Analisados os resultados deste estudo, é possível apresentar as seguintes conclusões:

• A implementação do Alsa permite que os conhecimentos técnicos e táticos de uma nova modalidade desportiva coletiva possam ser aprendidos e consolidados na disciplina de EF e no Desporto Escolar;

• As características do jogo facultam a sua divulgação em todas as instituições de ensino, com maior incidência naquelas em que a inexistência de recursos técnico-materiais impossibilita a prática das demais actividades desportivas colectivas;

• Na prática do jogo, apesar de ter havido uma ligeira diferença em termos de prestação entre femininos e masculinos com um ligeiro ascendente, em termos de ações, dos masculinos em relação os femininos, o jogo Alsa oferece condições de ser praticado por ambos os géneros;

• A inclusão do Alsa nos currículos escolares, principalmente, no I Ciclo do Ensino Secundário é uma necessidade, para o desenvolvimento da EF, pelo facto de apresentar condições de sua aplicabilidade e prática;

• O Alsa revelou-se um jogo caracterizado por uma forte dinâmica de participação dos alunos, com pausas de jogo e esperas de participação por parte dos alunos relativamente reduzidas;

• Os alunos, na sua participação do jogo, desenvolveram um vasto leque de ações táticas e técnicas (passe, receção, drible, defesa, ataque, contra-ataque, ressalto, marcha, corrida e finalização) caraterísticas da sua especificidade;

• Do ponto de vista tático o Alsa revelou-se um contexto de promoção da aprendizagem do trabalho individual e de equipa eficientes, pois, como indivíduo, a coordenação motora em aplicá-los torna o jogo mais fluído, fazendo com que o trabalho em equipa tenha mais sucesso.

Bibliografia

• Appolinário, Fábio (2007). Dicionário de Metodologia Científica – Um guia para a produção do conhecimento científico. São Paulo: Atlas.

• De Marco, (1995). Pensando a educação motora. 4ª Ed. São Paulo: Papirus;

• Fernandes, Pedro, Nzila, Mayomona & João, Masunda (2005). Educação Física 8ª Classe – Manual do aluno. Luanda: INIDE.

• Leite, Francisco Tarciso (2008). Metodologia Científica - Métodos e técnicas de pesquisa (Monografias, Dissertações, Teses e Livros). São Paulo: Idéias e Letras.

• Marconi, A. & Lakatos, E.M. (2008). Metodologia do trabalho científico (Procedimentos básicos; Pesquisa bibliográfica, projeto e relatório; Publicações e trabalhos científicos). 7ª Ed. São Paulo: Atlas.

• Martins, Gilberto de Andrade (2007). Manual para elaboração de monografias e dissertações. 3ª Ed. São Paulo: Atlas.

• Oliveira, J. & Tavares, F (1996). Estratégias e tácticas nos jogos desportivos colectivos. Vila do Conde: Tipografia Minerva.

• SÁ, Daniel & SÁ, Carlos, (s/d). Marketing para o desporto: um jogo empresarial. Porto: Edições IPAM.

• Vaissman, M. (2004). Alcoolismo no trabalho. Rio de Janeiro: Fiocruz.

• Santos, José Eduardo dos (2013). Ciências do desporto. In http://www.mission-angola.ch/discursos/pt/20130829_presidente_pt.pdf, (acesso em 05/09/2013).

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