Impacto das demências na capacidade funcional de idosos El impacto de las demencias en la capacidad funcional de las personas mayores Impact of dementia in the functional capacity of the elderly |
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*Enfermeiro. Especialista em Saúde e Qualidade de Vida pela Faculdade de Educação e Tecnologia da Região Missioneira **Enfermeira. Residente em Alta Complexidade pelo Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí ***Enfermeira. Residente em Enfermagem Obstétrica pela Universidade Federal do Piauí |
Augusto Everton Dias Castro* Antonia Mauryane Lopes** Éricka Maria Cardoso Soares*** (Brasil) |
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Resumo A longevidade do ser humano pode desencadear dificuldades que levam a problemas na velhice. A demência, ou as deficiências cognitivas em idosos, se caracterizam de forma crônica e irreversível, observando-se perda da autonomia, bem como dificuldade na execução de atividades do cotidiano relacionadas ao autocuidado. Este estudo teve como objetivo analisar a produção científica acerca do impacto das demências na capacidade funcional de idosos. Trata-se de uma revisão integrativa nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), com os descritores: idoso AND capacidade funcional AND demência. Observou-se, nos 9 artigos analisados, que a maior parte foi produzida por enfermeiros e fisioterapeutas. A maioria dos idosos sujeitos dos estudos não era institucionalizada e entre as demências, o mal de Alzheimer apareceu como a de maior prevalência. Observou-se também que a demência exerce forte impacto na capacidade funcional dos idosos em relação às atividades de vida diária. Não se verificou associação quanto ao impacto das demências nas variáveis sexo e estado civil, entretanto o nível de instrução se configura com forte influência. Torna-se pertinente a realização de mais estudos na área em virtude da complexidade do tema, embora tenha se observado que é uma temática multidisciplinar. È necessário estabelecer intervenções para os cuidadores para melhor entendimento e enfrentamento da doença. Unitermos: Idoso. Capacidade funcional. Demência.
Abstract The longevity of the human being can trigger difficulties that lead to problems in old age. Dementia or cognitive impairments in the elderly, are characterized chronically and irreversibly, observing loss of autonomy, as well as difficulty in performing daily activities related to self-care. This study aimed to analyze the scientific production about the impact of dementia on the functional capacity of the elderly. It is an integrative review in databases: Latin-American and Caribbean System on Health Sciences Information (LILACS), Database of Nursing (BDENF) and Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), with the descriptors: elderly and functional capacity and dementia. Was observed, in 9 articles analyzed, that most was produced by nurses and physiotherapists. Most elderly was not institutionalized and Alzheimer's disease appeared as the most prevalent. It was also observed that dementia has a strong impact on the functional capacity of the elderly in relation to activities of daily living. No association was found regarding the impact of dementia on gender or marital status, however the level of instruction is configured with a strong influence. It is pertinent to further studies in the area because of the complexity of the subject, although it has been noted that it is a multidisciplinary subject. It is necessary to establish interventions for caregivers to better understand and cope with the disease. Keywords: Elderly. Functional capacity. Dementia.
Recepção: 15/12/2014 - Aceitação: 08/04/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O processo de envelhecer é encarado como um desgaste progressivo, não reversível nem patológico, que acomete o organismo maduro, levando a uma incapacidade cumulativa de realizar atividades fisiológicas básicas (Gomes, 2003). Embora isso seja verdadeiro e comum a todos os seres, a forma como esse processo de desgaste acontece não é da mesma forma para todos os homens. As doenças que causam limitações na função cognitiva se comportam com um dos grandes problemas mundiais.
A população mundial encontra-se atualmente em transição demográfica, pela diminuição proporcional da faixa etária mais jovem e aumento contínuo do número de idosos. Essa transição provoca uma série de mudanças biopsicossociais que aumentam a vulnerabilidade a agravos. No entanto, esse fato não deve lhe prejudicar quanto à qualidade de vida. Para a Organização Mundial de Saúde (2003), é necessário que os idosos aprendam a viver com uma funcionalidade positiva no desempenho de tarefas e/ou papéis sociais e na capacidade de executar atividades do cotidiano.
O exercício autonomia deve ser substancialmente uma prática cotidiana dos idosos, a fim de promover o envelhecimento saudável e mantê-los com independência. Quando essa autonomia é objetivo geral, torna-se mais vantajosa, pois pode ser resgatada mesmo havendo certo grau de dependência.
Compreendem-se demências como síndromes caracterizadas pelo declínio da memória, combinado ao déficit de uma função cognitiva (linguagem, gnosias, praxias ou funções executivas, dentre outras), com intensidade suficiente para interferir no comportamento social e/ou profissional do indivíduo (Schlindwein-Zanini, 2010).
Indivíduos que sofrem de demência apresentam declínio da memória, principalmente para fatos recentes (memória episódica) e desorientação espacial. A instalação desses sintomas é insidiosa, o quadro piora de forma lenta e progressiva. Entretanto, período de relativa estabilidade clínica pode ocorrer. O aparecimento de alterações de linguagem é comum (destaca-se a anomia), distúrbios de planejamento (funções executivas) e de habilidades visuoespaciais também podem ser identificados em indivíduos acometidos por essa patologia (De Nardi et al., 2011).
Dessa forma, o presente trabalho objetiva analisar a produção científica acerca do impacto das demências na capacidade funcional de idosos.
Percurso metodológico
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que teve como questão norteadora: qual a produção científica sobre o impacto das demências na capacidade funcional de idosos?
A coleta de dados ocorreu no mês de setembro de 2013, nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), por meio da combinação dos descritores: idoso AND capacidade funcional AND demência.
Os critérios para inclusão dos artigos no estudo foram: artigos completos, publicados no período entre janeiro de 2000 e agosto de 2013 em periódicos indexados nas bases de dados selecionadas, no idioma português. Como critérios de exclusão: artigos repetidos nas bases de dados ou que fugissem ao tema em estudo.
A busca na base de dados LILACS resultou em 15 artigos, que após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão reduziram-se a 9. Na base de dados MEDLINE, localizou-se 4 artigos. Desses, nenhum atendeu aos critérios de inclusão. Já na base de dados BDENF, encontrou-se 1 artigo, porém este se repetia na base de dados LILACS.
Figura 1. Fluxograma demonstrativo do processo de busca e seleção de artigos para a revisão
Fonte: Dados da pesquisa
A coleta de dados foi realizada tomando por base instrumento adaptado (Santos et al., 2010), composto por: nome do(s) autor(es), título, categoria profissional do autor principal, periódico, objetivo do estudo, idoso institucionalizado ou não, tipo de demência e ano de publicação.
Os dados obtidos foram analisados e interpretados por meio de análise textual, os resultados foram expostos na forma de quadro.
Resultados
Identificou-se que 33,3% dos estudos foram desenvolvidos por fisioterapeutas; 33,3% por enfermeiros; 11,1% por nutricionista; 11,1% por médicos e 11,1% por educadores físicos. Quanto à situação do idoso, observou-se larga prevalência de idosos não institucionalizados, encontrado em 77,8% das pesquisas (Quadro I).
A análise quanto ao tipo de demência abordada no estudo evidencia que 66,7% das pesquisas abordaram a Doença de Alzheimer, enquanto que 33,3% não especificaram o tipo de demência encontrado nos sujeitos.
Quadro I. Avaliação dos artigos científicos quanto a autor (es), título, categoria
profissional do autor principal, periódico, situação do idoso e ano de publicação
Fonte: Dados da pesquisa
Discussão
Percebe-se que as demências são caracterizadas como síndromes, nas quais se relaciona as perdas e danos da estrutura do cérebro, o que leva ao idoso apresentar déficits cognitivos e funcionais que interferem na realização de suas atividades diárias (Trindade, 2013).
Estudo realizado por Pavarini et al. (2008) comprova essa afirmação, quando identificou que idosos, dependendo da evolução da Doença de Alzheimer, enfrentam dificuldades no manejo de atividades da vida diária e, consequentemente, perda da autonomia e maior dependência. Todos esses fatores geram forte impacto negativo na qualidade de vida. O grau e tipo de ajuda para a continuidade dos cuidados em idosos, em especial sobre a higienização, dependem de suas condições físicas, cognitivas e psicoativas.
Em um estudo realizado por Garces et al. (2011) sobre os relatos de experiências da vivência com idosos que apresentam Alzheimer, mostrou que os idosos participantes tiveram maior dependência nas atividades que foram propostas durante a execução da pesquisa, tais como: arteterapia, jogos pedagógicos e atividades físicas, como caminhada e alongamentos. Foi observado que a presença da demência afeta substancialmente o comportamento cognitivo e funcional desses idosos, impossibilitando a execução de tarefas fácies, bem como a presença de déficit de memória.
Trindade et al. (2013), ao estudar repercussão do declínio cognitivo na capacidade funcional em idosos institucionalizados e não institucionalizados, encontraram dados pertinentes que sugerem forte influência tanto no estado cognitivo na depressão e nas atividades funcionais de vida diária dos participantes. Destacaram ainda que a presença de patologias, a influencia de fatores sociais, culturais e o próprio estilo de vida podem comprometer a capacidade funcional nos idosos, alterando o seu bem-estar e envelhecimento ativo e levando a depressão moderada. Percebeu-se que há um menor desempenho cognitivo, atividade funcional e maior estado de depressão em idosos não institucionalizados.
Estudo realizado por Freitas et al. (2010) na cidade de Belo Horizonte (MG) identificou que, dentre os idosos de sua pesquisa, 26% apresentavam diagnóstico indicativo de demência. Esse quadro patológico apresentou associação relacionada à maior idade e menor renda familiar dos sujeitos. Além disso, identificou-se que esses idosos que apresentavam déficit cognitivo demonstravam autopercepção negativa do próprio estado de saúde e eram menos envolvidos em atividades físicas e recreativas.
Atividades relacionadas à higiene, vestuário e locomoção são as que apresentam menor necessidade em idosos dependentes de cuidadores para realização de atividades da vida diária, segundo Machado et al. (2009), que também identificou que a maior parte (70%) dos idosos em seu estudo apresentava independência funcional.
Ressalta-se que a aparente independência do idoso não elimina a necessidade de avaliações rotineiras. A Doença de Alzheimer, por exemplo, que tende progressivamente incapacitar o idoso para realização adequada de atividades do dia a dia, requer a identificação precoce de um déficit cognitivo e funcional para a implementação de intervenções em tempo hábil (Machado et al., 2009).
Pesquisa realizada por Converso e Iartelli (2007) com idosos institucionalizados na cidade de Presidente Prudente (SP) elucidou que mais de 75% dos sujeitos apresentavam déficit cognitivo. Paralelamente, praticamente a mesma proporção apresentou estado funcional de independência na realização de atividades rotineiras. Os pesquisadores ainda identificaram que as variáveis sexo e estado civil não influenciaram nos resultados obtidos.
A capacidade funcional em um estudo realizado com 67 idosos na cidade de Ribeirão Preto (SP) mostrou-se comprometida conforme avanço do estágio de demência. Em relação às funções motoras, nenhum dos idosos era completamente dependente em caso de demência leve, a não ser para o controle da micção. No que se refere às funções cognitivas, pequena parcela apresentou independência funcional para resolução de problemas. O comprometimento da memória foi fator relevante para idosos com demência leve, de modo que nenhum dos idosos encontrava-se plenamente independente (Talmelli et al, 2013). Salienta-se que, de modo geral, o desempenho funcional é associado significativamente com a gravidade da demência.
Um estudo realizado com 67 idosos com Doença de Alzheimer para verificar a influencia do desempenho cognitivo no desenvolvimento das atividades da vida diária, apontou que 82% dos idosos apresentaram baixo desempenho cognitivo, não havendo correlação com o sexo. Atenta-se que a maioria (56,7%) frequentou a escola de 1 a 4 anos, seguidos de 16 (23,9%) que estudaram mais de 9 anos. Contudo houve predomínio do déficit cognitivo em ambos os sexos entre os que frequentaram a escola entre 1 e 4 anos (Talmelli et al., 2010). Observa-se que idosos com maior nível de escolaridade apresentaram menor comprometimento funcional (Talmelli et al., 2010; Converso; Iartell, 2007).
Borges, Albuquerque e Garcia (2009) ao avaliar o nível cognitivo de idosos com Alzheimer um estudo realizado em Goiânia com uma amostra de 28 idosos, encontraram correlação fraca entre o escore médio no Mini Exame do Estado Mental e o nível de escolaridade.
Ressalta-se que a literatura reconhece a influência do nível educacional no desempenho no Mini Exame do Estado Mental, pois indivíduos que desempenham atividades de estimulação mental quando adultos (que pode ser prevista, parcialmente, pelo nível de escolaridade) podem adquirir uma reserva cognitiva pelo aumento da densidade das sinapses no neocórtex de associação e, assim, preservar seu funcionamento cognitivo frente à demência como na Doença de Alzheimer (Borges; Alburquerque; Garcia, 2009).
Conclusão
Por meio dessa revisão, foi possível analisar a produção científica mais atual acerca do impacto da demência na capacidade funcional do idoso. Percebeu-se que essa é uma temática de interesse multidisciplinar, e que diversas categorias profissionais estão conduzindo pesquisas a esse respeito.
A demência exerceu impactos relevantes na capacidade funcional dos idosos nas suas atividades de vida diária, e contribuíram para que desenvolvessem uma autopercepção negativa sobre si mesmos. Não se verificou influência das variáveis sexo e estado civil sobre o estado cognitivo e funcional. Em contrapartida, o nível de instrução demonstrou correlação, de modo que idosos com baixos níveis de escolaridade estão mais predispostos a perdas cognitivas.
Identificou-se que a demência mais frequentemente apontada nos estudos foi a Doença de Alzheimer, e que nenhum estudo direcionou atenção específica a outro quadro demencial. Estudos envolvendo o impacto da demência vascular, de Corpos de Lewy e hidrocefalia de pressão normal, por exemplo, representariam inestimável ganho para a comunidade científica e, especialmente, para os idosos.
Conclui-se que o aprofundamento na temática demonstrou que é importante estabelecer intervenções para que cuidadores e familiares possam se engajar para o melhor enfrentamento da doença e dos cuidados necessários para aquisição de uma melhor qualidade de vida.
Bibliografia
Borges, Larissa de Lima; Albuquerque, Cristina Rodrigues; Garcia, Patrícia Azevedo (2009). O impacto do declínio cognitivo, da capacidade funcional e da mobilidade de idosos com doença de Alzheimer na sobrecarga dos cuidadores. Fisioter. Pesqui., v.16, n.3.
Converso, Maria Estelita Rojas; Iartelli, Isabele (2007). Caracterização e análise do estado mental e funcional de idosos institucionalizados em instituições públicas de longa permanência. J. bras. psiquiatr., v. 56, n. 4.
De Nardi, Tatiana et al (2011). Sobrecarga e percepção de qualidade de vida em cuidadores de idosos do Núcleo de Atendimento à Terceira Idade do Exército (Natiex). Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., v.14, n.3.
Freitas, Daniela Helena Machado de et al (2010). Autopercepção da saúde e desempenho cognitivo em idosos residentes na comunidade. Rev. psiquiatr. Clín., v. 37, n. 1.
Garces, Solange Beatriz Billig (2011). Relatos de experiências: (com) vivência com idosos que apresentam Alzheimer. Estu. Interdis. sobre o Envelhe., v.16.
Gomes, Gisele de Cássia (2003). Tradução, adaptação transcultural e exame das propriedades de medida da escala "performance-oriented mobility assessment" (POMA) para uma amostragem de idosos brasileiros institucionalizados. 2003. 124 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Organização Mundial da Saúde (2005). Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília (DF): OPAS.
Machado, Jacqueline et al (2009). Estado nutricional na Doença de Alzheimer. Rev. Assoc. Med. Chem. Bras.,v 55, n. 2.
Pavarini, Sofia Cristina Lost et al (2010). Cuidando de idosos com Alzheimer: a vivência de cuidadores familiares. Rev. Eletr. Enf., v.10, n.3.
Santos, Silvana Sidney et al (2010). Avaliação multidimensional do idoso por Enfermeiros brasileiros: uma revisão integrativa. Cienc. Cuid. Saúde, v. 9, n.1.
Schlindwein-Zanini, Rachel (2010). Demência no idoso: aspectos neuropsicológicos. Rev. Neurocienc., v.18, n.2.
Talmelli, Luana Flávia da Silva et al (2013). Doença de Alzheimer: declínio funcional e estágio da demência. Acta paul. enferm., v. 26, n. 3.
Talmelli, Luana Flávia da Silva et al (2010). Nível de independência funcional e déficit cognitivo em idosos com doença de Alzheimer. Rev. esc. enferm. USP, v. 44, n. 4.
Trindade, Ana Paula Nassif Tondato da et al (2013). Repercussão do declínio cognitivo na capacidade funcional em idosos institucionalizados e não institucionalizados. Fisioter. mov., v. 26, n. 2.
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