Hidroterapia no tratamento de osteoartrite: uma revisão da literatura Hidroterapia en el tratamiento de la osteoartritis: una revisión de la literatura Hydrotherapy in the treatment of osteoarthritis: a literature review |
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*Fisioterapeuta graduada pelo UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo **Docente do Curso de Fisioterapia e do Programa de Mestrado em Promoção da Saúde do UNASP. Centro Universitário Adventista de São Paulo (Brasil) |
Ivana Portela Ávila* Emerson Ricardo Pedro Lote* Fábio Marcon Alfieri** |
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Resumo As propriedades físicas da água combinadas com os exercícios podem ser eficazes para cumprir a maioria dos objetivos físicos preconizados por um programa de reabilitação. Por isto o objetivo deste estudo foi o de verificar os benefícios da hidroterapia no tratamento da osteoartrite (OA). Para esta revisão da literatura foram selecionados artigos na base de dados PubMed. Os descritores usados foram: Osteoarthritis AND Hydrotherapy. De 182 artigos encontrados, 12 artigos foram incluídos nesta revisão, pois utilizaram exercícios aquáticos como forma de tratamento para a osteoartrite. A presente revisão sistemática revelou que os pacientes tratados por meio desta modalidade de exercícios apresentaram melhora dos sintomas clínicos referentes à dor, à mobilidade e à função, o que pode ter refletido na qualidade de vida desses indivíduos. Foi possível concluir que a hidrocinesioterapia é eficaz para reduzir a dor, melhorar a mobilidade articular e a função em indivíduos com osteoartrite. Porém, comparada com outras modalidades de tratamento, não houve diferenças estatisticamente significativas nos resultados da maioria das intervenções. No entanto, constatou-se a necessidade de mais ensaios clínicos de boa qualidade que avaliem os efeitos da hidroterapia na osteoartrite. Unitermos: Osteoartrite. Reabilitação. Hidroterapia.
Abstract The physical properties of water combined with the exercises can be effective to accomplish the most physical goals recommended by a rehabilitation program. Therefore the aim of this study was to verify the benefits of hydrotherapy in the treatment of osteoarthritis (OA). For this literature review articles were selected in the PubMed database. The keywords used were: Osteoarthritis AND Hydrotherapy. 182 articles found, 12 articles were included in this review, as used aquatic exercises as a treatment for osteoarthritis. This systematic review revealed that patients treated by this type of exercise showed improvement of clinical symptoms related to pain, mobility and function, which may have reflected the quality of life of these individuals. It was concluded that the hydrotherapy is effective to reduce pain, improve joint mobility and function in subjects with osteoarthritis. But compared with other treatment modalities, there were no statistically significant differences in the results of most interventions. However, there was the need for good clinical trials evaluating the effects of hydrotherapy on osteoarthritis. Keywords: Osteoarthritis. Rehabilitation. Hydrotherapy.
Recepção: 11/12/2014 - Aceitação: 20/03/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A osteoartrite (OA) é uma doença articular crônica-degenerativa que se evidencia pelo desgaste da cartilagem articular. Clinicamente, a osteoartrite caracteriza-se por dor, rigidez matinal, crepitação óssea, atrofia muscular e quanto aos aspectos radio- lógicos é observado estreitamento do espaço intra-articular, formações de osteófitos, esclerose do osso subcondral e formações císticas (Duarte et al., 2013).
É uma afecção bastante comum e se apresenta entre 44% e 70% dos indivíduos acima de 50 anos de idade; na faixa etária acima de 75 anos, esse número eleva-se a 85%. Representa uma das principais queixas da consulta médica e é responsável por um número exorbitante de absenteísmo e aposentadorias por invalidez. (Duarte et al., 2013).
Como não tem cura, o tratamento para a AO tem com o objetivo de aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com a doença. O tratamento da osteoartrite inclui medidas farmacológicas e não farmacológicas, que são igualmente importantes (Mariano, 2011).
Dentre os diversos tipos de exercícios físicos, os realizados dentro da água, usufruem dos seus efeitos físicos, fisiológicos e cinesiológicos advindos da imersão do corpo em piscina aquecida (geralmente 33°C) como recurso auxiliar da reabilitação ou prevenção de alterações funcionais. As propriedades físicas e o aquecimento da água exercem um papel importante na melhoria e na manutenção da ADM das articulações, na redução da tensão muscular e no relaxamento (Candeloro, 2007).
Portanto, a hidroterapia é um recurso utilizado para reduzir os níveis de dor, além de reduzir as forças de compressão articular e promover o relaxamento muscular. É ainda um meio favorável para realizar o fortalecimento muscular, condicionamento físico, além de facilitar o movimento total da articulação acometida (Prentice, 2003).
No entanto, são necessários maiores esclarecimentos sobre os efeitos da hidroterapia na osteoartrite, contribuindo para que profissionais da reabilitação exerçam com mais precisão seus planos de tratamento. Por isto o objetivo deste estudo foi o de verificar os benefícios da hidroterapia no tratamento da OA descritos na literatura por meio de estudos clínicos.
Metodologia
Este estudo revisou artigos na base de dados PubMed sem limite de tempo. Como descritores foram utilizados os termos: Osteoarthritis AND Hydrotherapy. A busca foi feita no mês de março de 2014. Foram encontrados 182 artigos e quando aplicado o filtro “therapy narrow” da interface “clinical queries”, permaneceram 44 estudos. Destes, 31 foram excluídos por não utilizarem a hidroterapia como recurso, um estudo foi excluído por usar outra técnica associada à hidroterapia e um foi excluído por não constar mais nos arquivos da revista, restando 11 artigos.
Foram incluídos artigos que utilizaram exercícios aquáticos como forma de tratamento para a osteoartrite.
Foram excluídos estudos pilotos, estudos de protocolo e os estudos que associavam no grupo experimental outro tipo de intervenção. No total, 12 artigos foram incluídos nesta revisão. Foi aplicada a Escala de Jadad a todos estes. Foram captados os seguintes dados dos estudos: ano da publicação, tamanho da amostra, condição, tratamento (tipo, duração da intervenção), testes clínicos realizados antes e após a terapia, variáveis estudadas e principais resultados.
Resultados
Dos 12 artigos selecionados, apenas um estudo não é randomizado. Sete desses são randomizados controlados, dois apenas randomizados, um simples-cego, um prospectivo e um não randomizado, não controlado e sem cegamento.
Cinco artigos tiveram classificação razoável (pontuação 3) segundo a Escala de Jadad, outros 4 obtiveram pontuação 4, sendo que 3 foram de má qualidade (dois com 1 ponto e um com 2 pontos).
O tamanho médio das amostras encontradas em todos os estudos foi de 64,65±13,25 participantes, com média de idade de 68,6 anos, sendo 65,1% mulheres e 34,9% homens.
Em 5 estudos havia apenas pacientes com OA de joelho, 1 ensaio tinha pacientes com OA de quadril, 1 artigo com pacientes acometidos em extremidades inferiores e 5 com pacientes diagnosticados com OA de quadril e joelho, sendo em média 98,6 pacientes com OA de joelho e 86,2 de quadril.
O tempo médio de duração das intervenções foi de 13,5 (±10,5) semanas, sendo realizadas, em média, 2,63 intervenções por semana, com duração média de 44,54 minutos. Em todos os estudos selecionados os participantes tinham diagnóstico de OA confirmado por radiografia e/ou apresentavam sintomas e sinais clínicos. Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos de intervenção em 10 dos 12 estudos. Os dados referentes à classificação Jadad de cada estudo, objetivo do estudo, tamanho e condição da amostra, tipo de intervenção, principais variáveis estudadas e resultados estão dispostos na tabela 1.
Tabela 1. Dados referentes à classificação Jadad de cada estudo, objetivo, tamanho e condição
da amostra, tipo de intervenção, principais variáveis estudadas e resultados dos estudos selecionados
Referência / classificação de Jadad |
Objetivo |
Tamanho, idade e condição da amostra. |
Intervenção |
Variáveis |
Principais resultados |
1. Guerreiro, 2014 Jadad 1 |
Avaliar a eficácia de hidroginástica para aliviar os sintomas de AO de joelho e melhorar a função do aparelho locomotor. |
42 voluntários (59,35 anos de idade) com OA, praticando hidroginástica. |
Início, após 8 e 12 semanas da intervenção que teve duração de 12 semanas, com 45 minutos cada uma das 2 sessões semanais. |
Função locomotora, EVA, WOMAC. |
Nenhum dos testes mostrou uma melhora significativa da dor ou locomoção. |
2. Hale, 2012 Jadad 4 |
Verificar se exercícios aquáticos reduzem o risco de quedas em comparação com a realização de classes de formação em informática.
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62 voluntários (74,65 anos) com diagnóstico de AO.
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12 semanas com 2 sessões semanais de exercícios dentro da água. Versus grupo controle. |
WOMAC, Avaliação física, TUG, funcionalidade e Escala de Equilíbrio. |
Não resultou em uma diferença significativa no risco de quedas em comparação com um programa comunitário de treinamento de habilidades Em informática. |
3. Liebs et al., 2012 Jadad 3
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Este estudo teve como objetivo comparar a eficácia da terapia aquática no pós-operatório de 14 dias e no pós-operatório 6 dias de ATQ e ATJ |
Pacientes (n = 465 – 67,9 anos) com cirurgia de artroplastia total de quadril ou joelho. |
Um grupo realizou exercícios na piscina após a cicatrização no 14º dia de pós-operatório, outro grupo recebeu a mesma terapia no 6º dia de pós-operatório. Em ambos os grupos, a terapia aquática foi de 30 minutos, 3 vezes por semana. O follow-up durou 24 meses. |
WOMAC, Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health (SF-36), Lequesne-Hip / Knee-Score, WOMAC-dor, rigidez e pesquisa de satisfação do paciente. |
Embora não seja estatisticamente significativo, o efeito da precocidade da intervenção é clinicamente relevante após a artroplastia do joelho, porque parece com o efeito dos AINEs no tratamento de AO do joelho. No entanto, os resultados deste estudo não suportam o uso de administração precoce de terapia aquática após artroplastia de quadril. |
4. Valtonen, 2010 Jadad 3
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Investigar os efeitos do treinamento resistido aquático progressivo na mobilidade, força muscular e área de secção transversal muscular após a cirurgia de artroplastia de joelho. |
Pacientes (n = 50) com média de idade de 65,95 anos de idade. Um grupo de treino (n = 26) e um grupo controle (n = 24), com perda de follow-up nos dois grupos (n = 1 e n = 3, respectivamente). |
Sessões de exercício realizadas 2 vezes por semana durante 20 semanas em turmas pequenas, de 4 a 5 pessoas. |
WOMAC, forças extensora e flexora do joelho (avaliadas isocineticamente) e a área da secção transversa (AST) dos músculos da coxa (por tomografia computadorizada).
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No grupo de treino, houve redução na limitação de mobilidade em pessoas com substituição do joelho. A força da musculatura extensora e flexora do joelho e a área seccional transversal muscular da coxa aumentaram, especialmente no membro operado. |
5. Harmer et al., 2009 Jadad 3
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Verificar entre a fisioterapia em solo e aquática qual delas é mais eficaz, isto após a substituição total do joelho (ATJ). |
Pacientes (n = 102) com média de idade de 68,5 anos, submetidos a uma cirurgia de substituição total de joelho. Um grupo de tratamento em solo com Tai Chi (n = 49) e um grupo de tratamento aquático (n = 53). Nos dois grupos houve perda de pacientes (n = 2 e n = 1, respectivamente). |
Sessões supervisionadas de 60 minutos, duas vezes por semana por 6 semanas. Grupo solo X grupo hidroterapia. |
WOMAC, Escala Visual Analógica (EVA), distância no teste de caminhada de 6 minutos, nível de mobilidade passiva do joelho e edema do joelho (circunferência). |
No grupo em solo e no aquático, a melhora foi evidente em quase todos os resultados até 6 meses após a ATJ. A terapia aquática teve melhores resultados na força ao subir escadas e na resolução de edema em 6 meses após a cirurgia, enquanto que a terapia no solo produziu grandes melhorias na rigidez. Não houve diferenças entre os grupos. |
6. Giaquinto et al., 2009 Jadad 1 |
Avaliar a eficácia da hidroterapia comparada a um protocolo de exercício em solo para artroplastia total de quadril (ATQ) após um intervalo livre de 6 meses. |
Pacientes (n = 64) com média de idade de 70,35 anos ou mais com artroplastia recente de quadril, sendo um grupo hidroterapia (n = 31) grupo controle (n = 33). |
Os pacientes do grupo hidroterapia fizeram 40 min de exercícios após 20 min de movimentação articular passiva. O grupo controle recebeu sessões pelo mesmo período de tempo. As sessões ocorreram seis vezes por semana durante 3 semanas. |
WOMAC, dor, rigidez e função. |
A hidroterapia provou ser melhor do que a cinesioterapia em solo, uma vez que a dor, rigidez e comprometimento da função mostraram ser significativamente inferiores para o grupo hidroterapia em comparação com o grupo controle. |
7. Rahmann et al., 2009 Jadad 3 |
Investigar se a fisioterapia aquática na internação tem um efeito maior sobre a força do quadril, a velocidade da marcha e a função do que o exercício aquático.
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Pessoas que têm uma substituição primária de quadril ou do joelho por osteoartrite, com média de idade 69,9 anos. Um total de 34 pacientes concluiu o estudo, sendo grupo controle (n = 17), grupo de fisioterapia aquática (n = 14) e grupo exercício aquático (n = 17).
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Na enfermaria e na piscina, fortalecimento estático e ativo, amplitude de movimento e treino de marcha, durante cerca de 6 meses. |
WOMAC, Arthritis Self-Efficacy scale, SF-36, força, velocidade de marcha e capacidade funcional no 14º dia. |
A força da musculatura abdutora do quadril teve mais melhora no grupo de fisioterapia aquática do que o programa de exercícios inespecíficos na água, mas não houve diferença nos outros desfechos avaliados. |
8. Gill, 2009 Jadad 2 |
Determinar se duas intervenções com base em exercícios diferentes, juntamente com a educação e uma avaliação do ambiente doméstico, podem melhorar o estado pré-operatório daqueles que aguardam a cirurgia de substituição da articulação do quadril ou do joelho. |
Pacientes (n = 86) com 70 anos que aguardam a cirurgia de substituição da articulação do quadril ou do joelho, sendo um grupo de exercícios em solo (n = 40) e um grupo de exercícios aquáticos (n = 42). Em ambos os grupos houve perdas de follow-up (n = 6 e n = 10, respectivamente). |
Aulas para ambos os grupos, em solo e piscina realizadas duas vezes por semana durante 6 semanas, em sessões de 1 hora. Todos os participantes foram convidados a completar 30 minutos de exercícios domiciliares, três vezes por semana.
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WOMAC (dor e função), GAC (avaliação global do paciente), desempenho (tempo de caminhada e sentar e levantar) e status psicossocial (SF-36 MCS18), e avaliação verbal de dor de 7 pontos. |
Não foram encontradas grandes diferenças pós-intervenção entre os grupos. Após a intervenção, os sujeitos relataram moderadas a grandes melhorias globais que concordaram com melhorias significativas na dor e função dentro do grupo. |
9. Silva et al., 2008 Jadad 3
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Investigar a eficácia terapêutica da hidroterapia em pacientes com OA de joelho e comparar o resultado com o obtido usando os exercícios em solo convencionais |
Pacientes com OA de joelho e quadril. Participantes (n = 64) com média de idade de 59 anos. Trinta e dois no grupo de exercícios em solo e também no grupo de exercícios aquáticos. Um total de 57 participantes concluiu o protocolo. Houve uma desistência no grupo aquático e 6 no grupo em solo. |
Exercícios aquáticos e em solo para ambos, alongamento e fortalecimento dos grandes grupos musculares dos membros inferiores, juntamente com treino de marcha para os dois grupos, 50 minutos três vezes por semana durante 18 semanas.
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Escala visual analógica (EVA), WOMAC, Lequesne, qualidade de vida relacionada com a saúde, a dor e a mobilidade específica da articulação no decurso do estudo. |
Resultados indicam que os exercícios aquáticos e em solo reduziram a dor e melhoraram a função em pacientes com OA de joelho e que o exercício físico aquático foi superior ao exercício em solo para aliviar a dor antes e depois da caminhada. |
10. Lund et al., 2008 Jadad 4 |
Comparar a eficácia dos exercícios aquáticos e terrestres exercício de controle versus programa em pacientes com OA do joelho. |
Pacientes (n = 79) com OA do joelho, com média de idade de 67,5 anos, com um grupo de tratamento aquático (n = 27), um grupo controle (n = 27) e um grupo de tratamento em solo (n = 25). Houve perdas de follow-up em todos os grupos (n = 1, n = 3 e n = 5, respectivamente). |
Os exercícios aquáticos e terrestres foram compostos por: aquecimento, fortalecimento, exercícios de equilíbrio e alongamentos. Cada sessão durou 50 minutos. O follow-up teve duração de 3 meses. |
VAS (dor), Knee Injury and Osteoarthritis Outcome Score questionnaire (KOOS), equilíbrio estático, força e WOMAC. |
O exercício em solo mostrou ligeira melhora de dor e força quando comparado com o grupo controle, enquanto nenhuma alteração foi detectável após o exercício aquático em comparação com o grupo controle. Contudo, o exercício aquático mostrou significativamente menos efeitos adversos. |
11. Fransen et al., 2007 Jadad 4 |
Este estudo teve como objetivo avaliar a eficácia clínica e a aceitação de hidroterapia e aulas de Tai Chi para indivíduos com OA sintomática crônica. |
Pacientes (n = 152), com média de idade de 70,4 anos, com diagnóstico de OA envolvendo quadril ou joelho. Três grupos, sendo hidroterapia (n = 55), Tai Chi (n = 54) e exercício tradicional em solo (n = 43). Os dois grupos tiveram perdas de amostragem (n = 3 e n = 8, respectivamente). |
Aulas de uma hora, duas vezes por semana por 12 semanas, com assiduidade gravada. Foi solicitada a prática em casa (não monitorada). Grupo solo teve um programa de Tai Chi. O grupo de hidroterapia teve aulas com a mesma duração. |
Western Ontario e McMaster Universities Osteoarthritis Index, Medical Outcomes Study Short Form 12 Health Survey (SF-12), bem-estar psicológico e desempenho físico (Timed Up and Go test - TUG, o tempo de caminhada de 50 metros, subida de escada cronometrada). |
As aulas de hidroterapia ou de Tai Chi resultaram em benefícios clínicos sustentados por mais 12 semanas. Ambas as classes tiveram grandes melhorias na função física auto-relatada, maiores do que aquelas demonstradas no exercício tradicional em solo. Porém as aulas de hidroterapia proporcionaram maior alívio da dor e desempenho físico. |
12. Foley et al., 2003 Jadad 4 |
Determinar a eficácia da hidroterapia e determinar qual método de exercício é mais eficaz no fortalecimento dos músculos do quadríceps e melhorar o desempenho funcional em adultos da comunidade com 50 anos de idade ou mais, com diagnóstico radiológico de OA de quadril ou joelho ou ambos. |
Adultos (n = 105) média de idade de 50 anos, com diagnóstico radiológico de OA de quadril ou joelho ou ambos. Grupo hidroterapia, ginástica e controle. |
3 sessões por semana de exercícios aquáticos ou no ginásio, durante seis semanas (portanto, 18 sessões no total). Cada sessão de 30 minutos.
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O Short Form-12, WOMAC OA Index, Arthritis Self-Efficacy Scale, dinamometria de força muscular, teste de caminhada de seis minutos, total drugs, SF-12 qualidade de vida, Adelaide Activities Profile. |
Exercícios em ginásio e aquáticos melhoram a função física, sem superioridade entre nenhum grupo
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Nota: ATQ: artroplastia total de quadril; ATJ: artroplastia total de joelho; AINEs: anti-inflamatório não esteroidais
Discussão
A presente revisão sistemática sobre a hidroterapia no tratamento de osteoartrite revelou que os pacientes tratados por meio desta modalidade de exercícios apresentaram melhora dos sintomas clínicos referentes à dor, à mobilidade e à função, o que pode ter refletido na qualidade de vida desses indivíduos.
Sobre a idade dos voluntários deste estudo, verificou-se que esta é de 68,6 anos e a maioria são mulheres, como já ressaltado por outros autores, mostrando que a osteoartrite afeta esta população (Duarte et al., 2013; Mariano, 2011; Candeloro, 2007; Miotto et al., 2013).
Os locais de incidência mencionados foram joelhos, quadris e extremidades inferiores, com predominância em articulação do joelho. Em uma revisão de literatura, é mencionado que as articulações mais envolvidas foram o joelho, o quadril, as mãos e a coluna vertebral, reforçando os achados do presente estudo. Cita-se ainda que as mulheres tendem a apresentar a doença poliarticular mais grave, freqüentemente afetando mãos e joelhos. Além disso, a idade, a genética e a presença de outras patologias articulares afetam as estruturas biomecânicas das articulações e influenciam a severidade e a localização do desenvolvimento da OA. Pode-se inferir que os joelhos, quadris e extremidades inferiores sejam mais comumente afetados devido ao suporte de maior carga em relação a outras articulações (Duarte et al., 2013).
Quanto aos métodos de avaliação usados nos vários estudos, estes foram usados com objetivo diversos, tais como: avaliar o nível de dor, a função física, a amplitude de movimento articular, a mobilidade, a força dos músculos do quadril, a qualidade de vida, o estado físico e mental, a velocidade subida de escadas e de caminhada e a distância percorrida, comparando ou não grupos de hidroterapia com outras formas de tratamento ou controle. Os principais instrumentos utilizados para a avaliação foram: o Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC), o Medical Outcomes Study Short Form 36 Questionnaire (SF- 36) e a Escala Visual Analógica de Dor. A avaliação é muito importante, pois o conhecimento da patologia e seu tratamento pelo profissional de saúde são indispensáveis para a aplicação e elaboração de uma conduta adequada, proporcionando melhorias ao paciente, principalmente quanto ao quadro sintomatológico e, conseqüentemente, melhorando sua qualidade de vida (Duarte et al., 2013).
Os resultados dos estudos selecionados para esta revisão não mostraram diferenças significativas entre os grupos quanto à funcionalidade, amplitude de movimento articular, mobilidade, rigidez articular, equilíbrio, velocidade de caminhada, distância percorrida, dor e ganho de força muscular.
Os menores níveis de dor após intervenções com hidroterapia nos estudos (Giaquinto et al., 2010; Gill, 2009; Silva et al., 2008; Fransen et al., 2007) podem estar relacionados às posições usadas nessa modalidade. Em um desses estudos, comparando classes de Tai Chi e hidroterapia, alguns participantes da classe de Tai Chi retiraram-se do estudo porque acreditavam que os exercícios realizados exacerbavam a sua dor nos joelhos. (Fransen et al., 2007).
Parece que em solo há um período mais marcante de ajuste às exigências do exercício, o que justificaria o aumento mais acentuado da dor nas primeiras duas ou três sessões para o grupo em solo, tendência que não estava presente no grupo aquático. Reconhecendo esse tempo de adaptação, tanto paciente quanto o terapeuta, podem se preparar, garantindo que os exercícios comecem na intensidade adequada, considerando os níveis de atividade pré-programadas dos participantes e adotando técnicas apropriadas de manejo da dor pós-exercício (Gill, 2009). O ambiente do exercício pode explicar por que o grupo aquático parecia ter menos dor após as aulas de ginástica, como já evidenciado nos dois estudos mencionados anteriormente, visto que a flutuabilidade, a pressão hidrostática e a termoterapia podem se combinar para produzir efeitos benéficos sobre a dor após o exercício. Tais propriedades da água podem produzir maior redução dos níveis de dor devido à diminuição das forças de compressão articular e promoção do relaxamento muscular (Gill, 2009).
Em três estudos houve menos efeitos adversos na intervenção com hidroterapia, resultado que pode estar relacionado à maior tolerabilidade ao ambiente aquático (Valtonen et al, 2010; Lund et al., 2008; Fransen et al., 2007).
Um ensaio comparando intervenção precoce e tardia demonstrou que não houve diferença significativa nos resultados obtidos por pacientes que iniciaram a reabilitação em diferentes etapas do pós-operatório (Liebs et al., 2012).
Os exercícios mais utilizados foram agachamento e caminhada em diferentes direções. As outras modalidades mencionadas nos artigos verificados incluem: aulas de ginástica aquática, exercícios de aquecimento e relaxamento, exercícios de alongamento, exercícios de equilíbrio progressivo, cinesioterapia tradicional em solo, bicicleta ergométrica, exercícios isométricos, exercício de fortalecimento estático e ativo exercício de amplitude de movimento. Em três estudos foram recomendados exercícios domiciliares não supervisionados (Harmer et al., 2009; Gill, 2009; Fransen et al., 2007).
Considerações finais
Por meio do presente estudo foi possível concluir que a hidrocinesioterapia é eficaz para reduzir a dor, melhorar a mobilidade articular e a função em indivíduos com osteoartrite. Porém, comparada com outras modalidades de tratamento, não houve diferenças estatisticamente significativas nos resultados da maioria das intervenções.
No entanto, constatou-se a necessidade de mais ensaios clínicos de boa qualidade que avaliem os efeitos da hidroterapia na osteoartrite, visto que poucos artigos disponíveis sobre o tema possuem boa classificação conforme a Escala de Jadad. O desenvolvimento de tais pesquisas auxiliaria para a elaboração mais precisa de planos de tratamento pelos profissionais da reabilitação.
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