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Influência do grupamento muscular trabalhado em exercícios

contra-resistência sobre a pressão arterial pós-exercício

La influencia del grupo muscular trabajado en ejercicios de contra resistencia sobre la presión arterial después del ejercicio

Muscle group's influence worked against resistance exercise on post-exercise blood pressure

 

*Professor Titular da UNIABEU

**Acadêmico bolsista da UNIABEU

(Brasil)

MSc. Paulo Gil Salles*

pgsalles@terra.com.br

Luiz Filipe Nossar Prisco**

filipe.nossar@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Uma vez que a influência do tamanho da massa muscular trabalhada é um dos aspectos mais obscuros na regulação da hipotensão pós-exercício contra-resistência, o objetivo do presente estudo foi verificar a influência da utilização de grupamentos musculares dos membros superiores e de grupamentos musculares dos membros inferiores durante uma sessão de exercício contra-resistência sobre a pressão arterial no período de recuperação pós-exercício. A amostra foi constituída de 21 indivíduos de ambos os gêneros, normotensos e não obesos que se submeteram, aleatoriamente, a duas sessões de exercícios contra-resistência, uma constituída somente por exercícios para os membros superiores e outra, somente para os membros inferiores, sempre com intensidade relativa a 70% de 1RM. A pressão arterial dos voluntários foi verificada no período pré-exercício, em repouso e no período pós-exercício, aos 15, 30, 45 e 60 minutos após o término de cada uma das sessões. Para verificar se as variações na pressão arterial após as duas sessões de exercícios foram significativas, foi utilizado o Teste T pareado, com nível de significância de p<0,05. Os principais resultados foram que: a) quando comparado o período pré com o pós-exercício, somente foi observada redução significativa na pressão arterial diastólica após a sessão para membros inferiores; b) a pressão arterial diastólica aos 15, 30 e 45 minutos após a sessão para membros inferiores foi significativamente inferior à apresentada após sessão para membros superiores. É possível concluir que a sessão de exercícios contra-resistência para membros superiores não reduziu significativamente a pressão arterial no período pós-exercício e que os exercícios contra-resistência para membros inferiores foram efetivos em promover hipotensão pós-exercício.

          Unitermos: Hipotensão pós-exercício. Exercício resistido. Hipertensão arterial.

 

Abstract

          Since the influence of the size of the muscle mass is one of the more obscure aspects in the regulation of post resistance exercise hypotension, the aim of this study was to verify the influence of the use of muscle groups of the upper limbs and muscle groups of the lower limbs during a resistance exercise session on blood pressure in the recovery period after exercise. The sample consisted of 21 normotensive and non obese individuals of both genders, who performed to two resistance exercise sessions, one composed only by exercises for the upper limbs and another composed by exercises for the lower limbs, always with intensity on 70% of 1MR. The blood pressure of the volunteers was observed at rest, in the pre-exercise period, and in the post-exercise period, at the 15th, 30th, 45th and 60th minutes after the end of each session. To verify if the changes in blood pressure after the two exercises sessions were significant, it was used the paired T test, with significance level of p <0.05. The main results were that: a) when compared to the pre-exercise with the post-exercise period, it was only observed significant reduction in diastolic blood pressure after the session to the lower limbs; b) diastolic blood pressure at 15th, 30th and 45th minutes after the session to the lower limbs was significantly lower than that verified after the session for upper limbs. It can be concluded that the session with resistance exercises for upper limb did not significantly reduce blood pressure at post-exercise period and resistance exercise for lower limbs were effective in promoting post-exercise hypotension.

          Keywords: Post-exercise hypotension. Resistance exercise. Arterial hypertension.

 

          Este estudo foi realizado com incentivo do PROBIN (Programa de Bolsas Institucionais) da UNIABEU.

 

Recepção: 11/02/2015 - Aceitação: 19/05/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A hipertensão arterial (HA) é um dos maiores fatores de risco para morbi-mortalidade relacionada às doenças cardiovasculares. Modificações no estilo de vida, que incluem a adesão a um programa regular de atividades físicas, é frequentemente recomendado aos pacientes hipertensos (ACMS, 2004; Sharman e Stowasser, 2009).

    Vários estudos, nos últimos 20 anos, demonstraram que os exercícios aeróbicos são eficientes em reduzir a pressão arterial (PA) de indivíduos hipertensos (Marceau et al., 1993; Cooper et al., 2000; Fagard, 2006), porém, em relação aos exercícios contrarresistência (ECR) ainda restam alguns pontos controversos (Cornelissen et al., 2011; Arazi, Ghiasi e Afkhami, 2013; Lima et al., 2013), como o intervalo entre as séries, o volume e a intensidade dos exercícios que são ideais para maximizar esse efeito.

    A hipotensão pós-exercício (HPE), que é representada por uma redução aguda ou subaguda da PA no período após uma sessão de exercícios, é um fenômeno com grande relevância clínica, uma vez que o acúmulo de respostas agudas pode conduzir a adaptações hemodinâmicas mais permanentes e desejáveis, particularmente sobre os indivíduos hipertensos (Hamer, 2006). Contudo, a hipotensão pós-exercício contrarresistência (HPECR) ainda apresenta certos aspectos duvidosos em relação às variáveis que podem contribuir para sua manifestação (Polito e Farinatti, 2006; Rocha et al. 2012).

    Um dos aspectos mais obscuros na regulação da HPECR é a influência que tem o tamanho da massa muscular trabalhada nas sessões de ECR. Em teoria, os exercícios que recrutam pequenos grupamentos musculares tenderiam a proporcionar menores respostas da PA do que exercícios realizados por grandes grupamentos, mas como investigações sobre esse tema são escassas, traçar um prognóstico sobre o comportamento das respostas cardiovasculares em ECR que recrutem grupos musculares de diferentes tamanhos torna-se uma tarefa difícil.

    Battagin et al (2010), procurando identificar a resposta da PA após ECR para diferentes segmentos corporais por indivíduos hipertensos, identificou, sem distinção do grupamento muscular utilizado e imediatamente após o exercício, aumento significativo na PA sistólica (PAS), mas sem alterações significativas na PA diastólica (PAD). Da mesma forma, D’Assunção et al (2007) não identificaram influência da massa muscular envolvida nos ECR sobre as respostas cardiovasculares agudas em indivíduos normotensos. Por outro lado, Polito, Rosa e Schardong (2004), concluíram que na execução bilateral da extensão do joelho, mesmo não apresentando diferenças significativas, existe uma tendência a elevar os valores da PAS e da PAD durante e imediatamente após os exercícios, quando comparado à extensão unilateral do joelho, que mobiliza menor massa muscular.

    Assim, o objetivo deste estudo foi verificar a influência da utilização de grupamentos musculares dos membros superiores e de grupamentos musculares dos membros inferiores durante uma sessão de ECR sobre a PA no período de recuperação pós-exercício.

Metodologia

    A amostra desse estudo foi composta por 21 indivíduos, sendo 10 do gênero masculino e 11 do gênero feminino, normotensos (PA em repouso ≤ 139/89), não obesos (IMC < 30), que tinham experiência em exercícios contrarresistência há pelo menos 6 meses e que não faziam uso de nenhum tipo de ergogênico.

    Para participar do estudo, os voluntários além de assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para pesquisas com seres humanos, conforme Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil, não poderiam estar utilizando nenhum medicamento que de alguma forma afetasse a PA, não poderiam ter ingerido álcool ou cafeína nas últimas 24 horas antes das sessões de ECR, deveriam ter feito a última refeição pelo menos 2 horas antes das sessões de ECR e não poderiam apresentar nenhum problema de saúde que pudesse perturbar a coleta e interpretação dos dados.

    Para determinar o IMC dos voluntários, a massa corporal foi verificada no primeiro dia, imediatamente antes dos testes de 1RM, com o voluntário vestindo somente camiseta e short. Para tal, foi utilizada uma balança digital da marca Filizzola modelo PL 180 com graduação a cada 100g, que também possuía um estadiômetro com graduação a cada 0,01m, que foi utilizado para medir a altura.

    Para verificar a influência da utilização de diferentes grupamentos musculares nos ECR sobre a PA pós-exercícios dos voluntários, foram realizadas aleatoriamente 2 sessões de exercícios onde diferentes grupamentos musculares eram exigidos. Numa das sessões, chamada Sessão de Membros Superiores (SMS), quando o grupamento muscular selecionado era os dos membros superiores, o voluntário era submetido a 4 séries de 12 repetições a 70% de 1RM para os exercícios supino deitado e remada, intercalando os exercícios a cada série. Na outra sessão, chamada Sessão de Membros Inferiores (SMI), quando o grupamento muscular selecionado era o dos membros inferiores, o voluntário executava 4 séries de 12 repetições a 70% de 1RM para o leg press e flexão do joelho na mesa, também de forma intercalada. As sessões tiveram intervalo de pelo menos 48 horas entre elas e sua ordem foi selecionada através de sorteio. Nas duas sessões, os voluntários mantiveram intervalo de 2 minutos entre as séries e o ritmo dos exercícios foi marcado por um metrônomo, com 2 segundos para a fase concêntrica e mais 2 segundos para a fase excêntrica em todos os exercícios.

    A carga relativa à 1RM dos 4 exercícios foi calculada através de um teste submáximo, utilizando a equação de Brzycki que, segundo Nascimento et al (2007), possui excelente índice de correlação com o teste de 1RM (r = 0,99; p < 0,05), e é validada para este tipo de procedimento.

    A medida da PA dos voluntários, que foi realizada utilizando o aparelho digital da marca Omron modelo HEM 7200, validado para pesquisas clínicas (Belghazi et al., 2007), foi verificada nas 2 sessões de ECR, primeiramente no período pré-exercício, após o voluntário permanecer sentado em ambiente tranquilo e confortável por 10 minutos e mais tarde, no período pós-exercício, aos 15, 30, 45 e 60 minutos após o término da sessão de ECR, com o voluntário permanecendo sentado no mesmo ambiente tranquilo e confortável.

    A fim de verificar se as variações da PA no período de recuperação após as duas sessões de ECR (SMS e SMI) foram significativas, foi utilizado o Teste T pareado, com nível de significância de p<0,05.

Resultados

    O teste T para amostras independentes foi utilizado para determinar se haviam diferenças significativas entre os parâmetros hemodinâmicos (PAS e PAD, pré é pós-exercícios) dos voluntários do gênero masculino e das voluntárias do gênero feminino e em todos os testes essas diferenças não se mostraram significativas (p>0,33), o que permitiu agrupar ambos os gêneros em uma única amostra para este estudo. As características cineantropométricas dessa amostra estão descritas na Tabela 1.

Tabela 1. Média e desvio padrão das características da amostra

    A Tabela 2 apresenta os valores absolutos da PAS e PAD pré e pós-exercício nas sessões para membros inferiores e membros superiores. É possível observar que tanto a PAS quanto a PAD apresentam uma tendência de queda do período pré para o pós-exercício nas duas sessões.

Tabela 2. Média e desvio padrão dos valores da PAS e PAD (mm Hg) nas sessões de exercícios para membros inferiores e membros superiores.

    Com o objetivo de verificar as respostas da PA ao exercício contrarresistência propostos nesse estudo, foram comparadas as variações médias da PAS e da PAD do momento pré-exercício para os momentos pós-exercício tanto na SMS quanto na SMI e somente foram encontradas diferenças significativas para a PAD aos 15, 30 e 45 minutos do período de recuperação após a SMI.

Tabela 3. Variação média das medidas da PAS e PAD (mm Hg) da SMS e SMI entre o momento pré e os momentos pós-exercícios

    Para avaliar se o grupamento muscular trabalhado influenciava as respostas da PAS e da PAD no período pós-exercício, foi calculada a diferença relativa desses parâmetros hemodinâmicos do momento pré para o momento pós-exercício, tanto para a SMS quanto para a SMI. Essas diferenças foram comparadas e, conforme mostra a Tabela 4, embora os resultados da SMS tivessem variação relativa na PAD 5% superior a SMI, não apresentou diferença significativa em relação à outra.

Tabela 4. Diferenças relativas da variação da PAS e da PAD entre os as SMI e SMS

Discussão

    A relevância do presente estudo está em avaliar e comparar a variação da PA após séries de exercícios para membros superiores e membros inferiores O fato de utilizar sempre a mesma intensidade relativa de 70% de 1RM, o mesmo volume de exercícios, o mesmo ritmo de execução e o mesmo intervalo entre as séries, elimina essas variáveis como possíveis intervenientes sobre os resultados obtidos.

    Os principais resultados dessa investigação foram que: a) quando comparado o período pré com o pós-exercício, tanto a SMS quanto a SMI apresentaram redução na PAS e na PAD, contudo essa redução só se mostrou significativa para a PAD da SMI; b) a PAD aos 15, 30 e 45 minutos após SMI foi significativamente inferior à PAD apresentada após SMS.

    Vários autores têm observado HPE em indivíduos normotensos após uma sessão de ECR que incluíam exercícios para membros superiores e inferiores (Polito e Farinatti, 2006; Resk et al., 2006; Polito e Farinatti, 2009; Cornelissen et al., 2011; Arazi, Ghiazi e Afkhami, 2013). Contudo, Polito e Farinatti (2009), pesquisando a resposta da PA no período pós-exercício contrarresistência, encontrou redução significativa da PA somente após a sessão que apresentava exclusivamente exercícios para membros inferiores, o que não foi observado após a sessão para membros superiores. Esse achado, que também foi observado no presente estudo, sugere que é necessário movimentar grandes massas musculares para promover HPECR.

    Embora esse estudo não tivesse a intenção de analisar os mecanismos responsáveis por esse comportamento da PA, existem duas hipóteses que podem explicar esse resultado: 1) a isquemia causada pela carga mecânica sobre as grandes artérias durante os exercícios para membros inferiores, não ocorre durante exercícios para os membros superiores, o que, neste último caso, reduz o estímulo para liberação de substâncias vasodilatadores; 2) a HPECR após a sessão para membros inferiores pode ser atribuída à redução no débito cardíaco, causada pela vasodilatação dos músculos das pernas que pode contribuir para aumentar a dificuldade com que o sangue flui contra a gravidade, reduzindo o retorno venoso. Por outro lado, os exercícios para membros superiores não são tão influenciados pela ação da gravidade.

    O presente estudo não encontrou redução significativa na PA após a SMS, assim como o estudo de Meneses et al (2011), que afirmaram que, quando o objetivo é promover a HPE, não é recomendada a prescrição de sessões de ECR contemplando exclusivamente os grupamentos musculares do membros superiores.

    O presente estudo apresenta algumas limitações que devem ser consideradas. A amostra incluiu apenas sujeitos saudáveis e normotensos e alguns deles ainda apresentavam PA de repouso muito baixa. Por esse motivo, as alterações da PA podem ter sido atenuadas, uma vez que a PA após ECR é afetada pelo seu nível basal. Outra limitação que deve ser destacada é que a ingestão de água não foi controlada e, segundo Meneses et al (2011), a reposição hídrica durante ECR pode reduzir e até mesmo bloquear a HPE.

Conclusão

    Essa investigação revelou que a sessão de ECR para membros superiores não reduziu significativamente a PA no período pós-exercício e que, em contrapartida, os ECR para membros inferiores foram efetivos em promover HPE.

Bibliografia

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Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados