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Curitiba Olímpica: um programa municipal de 

governo em busca de uma efetiva política de Estado

Curitiba Olímpica: un programa de gobierno municipal en la búsqueda de una política de Estado eficaz

 

Licenciado em Educação Física - UFPR

Mestre em Exercício e Esporte – UFPR

(Brasil)

Carlos Eduardo Pijak Júnior

carlosjr.pijak@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          As políticas públicas devem ser desenvolvidas pelos agentes públicos visando o atendimento das demandas da população que são norteadas pelos preceitos constitucionais e previstos por lei. Desta forma ela busca o atendimento dos direitos sociais, e o esporte como um destes, também faz parte destas políticas. Estas ações são realizadas por meio de programas de governo ou ainda políticas de estado. Diante do cenário, este artigo retrata a implementação de um programa público na área do esporte, intitulado Curitiba Olímpica, desenvolvido em 2011 e 2012, na cidade de Curitiba, onde se buscou através deste o atendimento da demanda da população neste segmento, e sua transformação em uma política de Estado.

          Unitermos: Política de Estado. Programa municipal de governo. Curitiba Olímpica.

 

Resumen
          Las políticas públicas deben ser desarrolladas por los funcionarios públicos destinados a la satisfacción de las demandas de la población que son guiados por principios constitucionales y de la ley. De esta manera se busca la asistencia de los derechos sociales, y el deporte como uno de ellos, también es parte de estas políticas. Estas acciones se llevan a cabo a través de programas gubernamentales o políticas de Estado. Como telón de fondo, este artículo describe la implementación de un programa público en el área de deportes, titulado Curitiba Olímpica, desarrollado en 2011 y 2012 en la ciudad de Curitiba, donde se buscó responder a la demanda de la población en este segmento y su transformación en una política de Estado.

          Palabras clave: Política de Estado. Programa municipal de gobierno. Curitiba Olímpica.

 

Recepção: 10/05/2015 - Aceitação: 08/06/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As ações dos entes públicos devem, objetivamente, prestar serviços à sociedade, visando atender demandas específicas, tendo o cuidado de respeitar a legislação vigente. E dentro deste contexto, as ações basicamente se classificam como programas de governo e/ou políticas de estado.

    Os programas de governo são ações públicas que fortalecem e caracterizam uma gestão, visando atender necessidades específicas da sociedade. Em outras palavras, são projetos do grupo político que participa da gestão e que visam atender direitos garantidos pela Constituição, mas que não são efetivadas por políticas de estado, o qual não possui legislação específica que a garanta. Aqui podemos apontar o programa da gestão municipal 2011-2012, Curitiba Olímpica, que tem como objetivo garantir e ampliar o acesso da população ao esporte.

    Este programa, na época, de responsabilidade da Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude (SMELJ), a qual fizemos parte em seu corpo diretivo, buscou executar uma política pública de esporte, tendo por embasamento elementos acadêmicos que tivemos acesso por meio do programa de pós-graduação, o que nos motiva a democratizar este exemplo, onde buscamos a interação entre o setor público e o meio acadêmico, sendo desenvolvido em 2011 e 2012 na cidade de Curitiba. Cabe ressaltar que este programa não teve o “tempo político”1 para se consolidar uma política de estado, mas como um programa, foi um importante exercício para que possamos perceber o quão é importante a aproximação do meio acadêmico com as elaborações das propostas e projetos políticos, já que muitos dos pressupostos teóricos aprendidos quando mestrando na linha de políticas públicas no programa de pós graduação em Educação Física da Universidade Federal do Paraná foram utilizadas.

    Assim para um melhor entendimento cabe definirmos uma política de Estado. As políticas públicas são consolidadas pela Constituição, à medida que visam atender direitos constitucionais, como também são amparadas por legislação específica que as garante, independentemente do grupo político partidário que esteja no poder. Um exemplo de política de Estado seria o Sistema Único de Saúde (SUS), política pública de saúde do Governo Federal brasileiro, que permeia todas as ações públicas do Estado na oferta de programas de governo na área da saúde, e que independente de qualquer grupo político que esteja ocupando provisoriamente o poder, determina as ações tanto no âmbito federal, como normatiza as ações nas esferas estaduais e municipais. Pode-se questionar a qualidade da saúde pública do Brasil, mas devemos esclarecer que existe uma estruturação do modelo de saúde no país.

    Utilizando o exemplo de sistema, quando pensamos em elencar e envolver todos os entes esportivos envolvidos no esporte curitibano neste programa, este, com toda certeza, foi o grande desafio, mas também a grande oportunidade para a SMELJ deixar um legado: o desenvolvimento do Sistema Esportivo Municipal. Esta ação seria inédita, pois hoje ainda não possuímos nem em nível nacional um sistema consolidado2.

    Para o desenvolvimento do Sistema Municipal e no andamento das ações que norteavam o programa Curitiba Olímpica é fundamental que o campo esportivo seja delimitado. Intenta-se utilizar da análise das relações sociais, proposta por Bourdieu (1983), pautada no entendimento do conceito de campo, o qual podemos definir como o lócus onde as relações são estabelecidas entre agentes (estruturas, indivíduos, atores sociais), dotados de capitais3. O tipo de capital pertencente a cada agente determina a posição de cada um destes, que disputam dentro do campo objetivos comuns e acúmulo de novos capitais, buscando melhor posição nesse espaço social para ditar as regras do jogo. Mais simplesmente, entender quem faz parte do campo esportivo e ter consciência de qual sua importância nele é, também, entender os fundamentos ocultos existentes e como poder utilizá-los a seu favor. Quem entende os fundamentos e as regras do jogo, joga melhor e domina o campo. Quem são os agentes e estruturas no campo esportivo de Curitiba? Podemos citar os clubes desportivos, federações, entidades da iniciativa privada que atuam com o esporte, escolas, a mídia esportiva, as entidades representativas de classe, os médicos do esporte, o terceiro setor, a secretaria de esporte, entre outros.

    Outros novos agentes podem ser inseridos no campo dependendo do momento que visualizamos o campo; o tamanho utilizado na representação foi definido de acordo com o capital de cada um dos agentes. Estes agentes não ficam isolados no campo, eles interagem para fortalecer suas ações, propor novos direcionamentos, ou até mesmo para acumular mais capitais e influenciar ainda mais as ações. Dessa forma, as interações para o desenvolvimento do programa Curitiba Olímpica, que tinha como principal proponente e articulador a SMELJ, configura-se como, no período do programa, o agente articulador, como fica explícito na representação abaixo.

Quadro explicativo do papel de articulação da SMELJ

dentro do campo esportivo curitibano (Bourdieu, 2004)

    Nesse sentido, as ações de qualquer programa de governo, para sua efetividade como uma política de Estado, devem estar em consonância com os preceitos constitucionais. Em relação ao esporte, o artigo 217 da Constituição preconiza que “é dever do Estado fomentar práticas esportivas formais ou não formais, como direito de cada um” (Brasil, 1999).

    Assim, todos os direitos sociais como a educação, saúde, moradia, o esporte também deve ser fomentado através de políticas de Estado e não apenas programas de gestão. Esse foi o grande desafio do Curitiba Olímpica e de toda ação pública: deixar e ser o legado, a efetivação como política de Estado através do sistema municipal de esporte.

    Para isso, outro campo deve estar envolvido e ser destacado – o político –, pois, para efetivação do programa Curitiba Olímpica, como qualquer outra política de estado, devem ser propostas como um projeto de lei, por meio do poder executivo ou por provocação do sistema legislativo.

O programa “Curitiba Olímpica”

    As políticas públicas devem, efetivamente, atender os direitos dos cidadãos; desta forma, as políticas públicas, segundo Carvalho (2002), devem ser construções participativas de uma coletividade, que visam à garantia dos direitos sociais dos cidadãos que compõem a sociedade humana. Estas ações extrapolam a dimensão do estado e se referem a todos os espaços e formas de organização social, que buscam meios de concretização dos direitos humanos. Assim, podemos perceber a mobilização de grupos representantes da sociedade civil e do Estado, que discutem e fundamentam suas argumentações, no sentido de garantir o acesso de todos aos direitos sociais, formulando uma política pública que expresse os interesses e as necessidades de todos os envolvidos (Carvalho, 2002).

    Destarte, as políticas públicas devem vir ao encontro das necessidades da população, como o direito à saúde, educação, moradia, entre outros; e, segundo Linhales (2001), é o Estado o promotor legítimo dos direitos sociais.

    Nesse sentido, como a atual legislação esportiva brasileira entende o esporte? De acordo com estes conceitos como este pode ser ofertado? No artigo 217 da Constituição Federal brasileira são apresentadas três formas de divisão da prática esportiva, que orientam a oferta do esporte no país, segundo a Constituição. São elas: a) o esporte educacional; b) o esporte participação, como forma de prática de lazer de acordo com o terceiro parágrafo do artigo 217; e c) esporte de alto rendimento.

    A partir destes conceitos o Programa Curitiba Olímpica foi idealizado em:

  1. Atendimento nas diferentes fases das ações do programa Curitiba Olímpica, às três formas de oferta do esporte – educacional, rendimento e participação;

  2. Envolvimento dos diferentes agentes e estruturas no programa Curitiba Olímpica visando à criação do sistema municipal de esporte;

  3. Criar possibilidades de efetivação do programa Curitiba Olímpica como uma política de Estado.

Descrição do programa

    Por meio de proposição da SMELJ, o programa Curitiba Olímpica foi idealizado e pensado, em conjunto com outras instituições que também fomentam o esporte – como a Secretaria Municipal da Educação (SME), Clubes, Federações, Entidades de Classe, Associações, Entidades do Terceiro Setor, Iniciativa Privada – objetivando ser referência na oferta do esporte, proporcionando às crianças e jovens possibilidades de prática esportiva, contemplando os objetivos dos seus praticantes, sejam eles quais forem: participação, utilização como ferramenta educacional, lazer, ou como forma de ascensão social através da profissionalização; ou seja, esta ação pública visa atender toda a demanda existente para crianças e adolescentes em relação ao esporte.

    As ações foram desenvolvidas em três fases sendo:

  1. 1ª fase – Esporte Educacional e Esporte Participação nas escolas, colégios, associações de bairro, CEL’s, e projetos sociais do terceiro setor;

  2. 2ª fase – Esporte Educacional Competitivo com foco na especialização esportiva – Centro de Excelência;

  3. 3ª fase – Esporte de Rendimento com foco no aprimoramento técnico das habilidades esportivas e lapidação dos talentos esportivos visando formar seleções e selecionáveis – Centro de Referência.

Fases do Programa

1ª fase – Esporte Educacional e Esporte Participação

    Nessa fase onde a criança é apresentada ao esporte, tem suas primeiras experiências desta prática como uma atividade de lazer, que complementa suas atividades diárias além da escola. Podem também ser denominadas atividades de contraturno, que tem o objetivo de fomentar a prática esportiva – se não a todas as crianças e jovens, mas ao maior número possível.

    Estas atividades foram desenvolvidas nas escolas, através do projeto “Esporte + Educação = 10”, através das atividades educativas complementares desenvolvidas nas escolas municipais ou em parceria com o projeto “Viva Escola”4, da rede estadual de ensino. Além do fomento e incentivo, as ações esportivas no interior da escola, os Centros de Esporte e Lazer da SMELJ, também tinham a responsabilidade por essa demanda, que se caracteriza por crianças e jovens que têm interesse na prática esportiva, mas que não necessariamente têm talento esportivo ou habilidade para seguir uma carreira no esporte; esta é a fase da democratização do esporte, ofertando as atividades a todos que têm interesse. Ainda temos outros agentes envolvidos nesta fase, projetos sociais do terceiro setor, iniciativa privada e associações de bairro.

    É importante ressaltar que estas atividades já vinham sendo desenvolvidas e o papel do Programa “Curitiba Olímpica” foi a sistematização destas informações, buscando desenvolver uma rede de informações esportivas, ao mapear todas as ações desenvolvidas na cidade, para que um maior número de crianças possa vir a ser contemplada.

    Além do conhecimento de todos os agentes que ofertam o esporte nessa fase na cidade de Curitiba, o estabelecimento de parcerias foi fundamental para o equacionamento dos recursos, efetividade da utilização das verbas, como também do aumento do número de praticantes nas mais diversas modalidades esportivas.

    Mais do que apenas a democratização esportiva, essa fase também é o início da caminhada esportiva e da lapidação dos talentos, que estiveram no programa Curitiba Olímpica. Para isso, o desenvolvimento de uma política de capacitação dos profissionais envolvidos, utilizando o corpo técnico e os conhecimentos dos profissionais da SMELJ, SME, Federações, ONG’s, Associações foi realizada; sem envolver apenas professores de Educação Física, mas também oficineiros – aqueles que possuem experiência prática e que, muitas vezes, ministram aulas em espaços públicos como praças e parques.

    Foi fundamental que todas essas ações fossem coordenadas e mapeadas, evitando o que hoje ainda ocorre: a sobreposição de atividades semelhantes; evitar que uma escola oferte aulas de futsal a crianças de até 10 anos, a duas quadras dali, em um Centro de Esporte Lazer, ou em uma associação de bairro. São esforços dobrados que atendem o mesmo público.

    Por essa razão, nesta fase delimitamos uma subdivisão levando em consideração a faixa etária dos participantes, bem como as necessidades que se apresentavam. Uma atividade desenvolvida em escola municipal não necessariamente precisa ser replicada em um Centro de Esporte e Lazer; ela, sim, deve ser oferecida a crianças a partir dos 10 anos de idade, que é a faixa etária em que o estudante sai da rede municipal e vai para a rede estadual. Mesmo essa criança não tendo habilidades para desenvolver-se como um atleta juvenil ou profissional, ela deve ser atendida nesta fase, em que, através do esporte, valores educacionais como o respeito, a disciplina, a ética, entre outros, são desenvolvidos.

    Assim, um mapeamento de atividades deve ser rigoroso, para que a primeira fase do Curitiba Olímpica some as forças de todas as estruturas envolvidas, maximizando a amplitude da oferta. Este necessariamente não foi regra a todas as regiões da cidade, onde foi necessária uma análise regional.

Interação das entidades privadas

    Até aqui falamos apenas das ações dos agentes públicos e dos entes privados e do terceiro setor, que atendem as crianças e jovens mais carentes. Mas cabe ressaltar que essa primeira fase prevê a participação e a presença maciça das escolas particulares com as chamadas “escolinhas de esporte”. Estas, conceitualmente, foram contempladas na primeira fase, e como falamos no início do texto em Sistema Esportivo Municipal, também devemos considerar estas ações nesta fase.

Sistema de competições – 1ª fase

    É notório que o grande motivador e um fator fidelizador dos participantes da primeira fase do Curitiba Olímpica foram as competições. Para muitos, a competição nesta fase é discriminada e criticada, por entender que os participantes não estariam preparados ou não teriam interesse por essa modalidade específica de competir.

    Inicialmente, em relação à preparação dos participantes, para se envolverem no sistema de competição, este pertencimento e motivação vem com o nivelamento técnico, já que as mesmas serão disputadas por todos que estão nessa fase. Logicamente, um ou outro atleta pode se destacar, mas este futuramente não estará mais neste tipo de evento competitivo, e sim em uma fase mais avançada.

    Em relação à falta de interesse dos participantes, segundo pesquisa de Stigger (2009) essa é, na maioria das vezes, decorrente do medo do fracasso, e a impressão pessoal de sentir-se despreparado. Mas estas situações serão solucionadas, já que o nível das competições nesta fase foram propostos de formas diferenciadas, e levando em consideração a maturação técnica e física dos participantes.

Três níveis competitivos

  1. Competições locais: incentivar a competição dentro das aulas e também entre os participantes de diferentes turmas, que freqüentam as atividades no mesmo local;

  2. Competições entre participantes de diferentes locais e que possuam nível de habilidade semelhante. Ex: Jogos Municipais, Encontros Esportivos, Festivais, Torneios entre diferentes unidades, etc.

  3. Competições com os talentos desta fase, sendo necessária a formação de seleções, o que não necessariamente indica que estes ingressarão nas fases posteriores. Ex: Olimpíadas Escolares, Jogos Abertos.

    Cabe ressaltar, antes de avançarmos à próxima fase, que muitos participantes habilidosos, que também passarão por uma especialização esportiva, encerrarão sua “trajetória esportiva” nesta etapa. A primeira fase é a que mais se encontrava estruturada naquele momento e a que tivemos especial atenção, pois é a partir da oferta e do fomento à grande maioria das crianças e jovens, que conseguiremos justificar investimentos nas próximas fases; até a primeira etapa, o investimento é baixo, se considerarmos a repercussão social que estas atividades proporcionam, mas acreditamos que por meio destas, conseguiremos atrair parceiros da iniciativa privada, federações, e clubes para que possamos estruturar as demais fases.

    Concluindo, podemos citar as atividades que na época se encaixavam nessa fase, algumas delas atualmente ainda são realizadas, e que se encaixam nesta fase:

  • Atividades de contraturno em escolas municipais, estaduais e particulares;

  • Atividades desenvolvidas por entidades do terceiro setor e associações;

  • Escolinhas desportivas de clubes;

  • Atividades desenvolvidas atualmente nos Centos de Esporte;

  • Circuito de corridas infantis;

  • Jogos e competições já descritas.

Esporte Educacional Competitivo – Centro de Excelência

    O modelo que buscamos desenvolver já foi tentativa por inúmeras vezes e por diferentes agentes e instituições. Particularmente acreditamos que alguns fracassos ocorreram pela falta de informações e estrutura para a transição da primeira para a segunda fase.

    Exemplos como Centro de Excelência desportivos, o modelo utilizado pelos militares durante a ditadura, intitulado Esporte para Todos – em que a “massificação” era utilizada em detrimento da democratização e que a lapidação de talentos acontecia pela seleção de muitos, equivocadamente podem parecer muito com este sistema que propomos, mas com uma análise mais criteriosa, percebe-se uma grande diferença.

    A idéia é trabalhar com um número de atletas reduzidos nesta fase, já que o trabalho deve ser o mais individualizado possível, e esse grande número é trabalhado na primeira fase, com todas as características citadas acima. Assim, a seleção inicial deve ser feita na primeira fase com duas ações: a (1) capacitação dos agentes que atuam na 1ª fase para uma seleção criteriosa; e o (2) acompanhamento dos técnicos que atuam na 2ª fase, não necessariamente entes públicos, mas profissionais que atuam nas outras esferas. A tônica do trabalho permeia o aprofundamento técnico daqueles que foram selecionados na 1ª fase.

    Os locais utilizados na primeira fase respeitarão as possibilidades estruturais e vocações regionais, no caso dos CEL’s, e expertise dos clubes, federações, bem como instituições particulares, que farão parte do sistema municipal do esporte.

    Para a participação dos atletas, seria necessária a criação do passe atleta, que subsidiará o transporte dos atletas até os locais de treinamento. Parcerias para este custo poderiam ser alternativas, como também para o pagamento de lanche, mas como dissemos no início do texto, o tempo político que estivemos frente à secretaria não nos possibilitou tal ação, mas que consideramos importante sua citação para embasamento de futuras ações na área.

2ª fase e os Centro de Esportes e Lazer

    Os Celas da SMELJ utilizados para esta fase buscaram a valorização dos equipamentos públicos fomentando políticas públicas voltadas ao esporte. Logicamente, algumas estruturas são ultrapassadas e não puderam contemplar com os objetivos desta fase. Assim, é necessária uma avaliação criteriosa da equipe técnica das secretarias de esporte, para selecionar cada um dos seus CEL's, visando a transformação em Centros de Excelência.

    Outro fator a ser considerado na escolha das modalidades, em cada um dos locais, é o conhecimento técnico e experiência esportiva de cada profissional, o que culminará com a criação do Sistema de Informação Profissional, que foi citado anteriormente e, mais uma vez, aqui se ressalta a importância de uma rede gerencial de informações.

    Cada um dos CEL’s buscará parceiros da iniciativa privada, para contribuir com a qualidade das ações e reestruturação dos espaços públicos.

Escolas particulares – 2ª fase

    As escolas particulares são parte do sistema municipal na primeira e segunda fase, sendo que, nesta, serão parceiras na medida em que fornecerem bolsas de estudo para os atletas-destaques, dos Centros de excelência e das competições escolares, mostrando mais uma das facetas do Programa Curitiba Olímpica: ascensão social através do esporte.

    Essa ação será fundamental, pois a grande maioria dos atletas que participarem da 2ª fase não terá êxito esportivo em uma carreira profissional. A formação educacional vislumbra-se como uma grande oportunidade a todos estes jovens, salientando a preocupação social que o programa Curitiba Olímpica também buscou desenvolver.

Clubes/Universidades – 2ª fase

    Nesta fase, os clubes terão uma especial participação. Através de consultoria da SMELJ, alguns clubes desportivos foram orientados para o desenvolvimento de projetos de captação de recursos, que auxiliaram estes os tornando importantes agentes no sistema municipal de esporte. Além disso, isso representa um resgate histórico, um retorno aos tempos áureos, quando tradicionais clubes da cidade se destacavam no cenário esportivo.

1ª fase / 2ª fase e a iniciativa privada

    Com a repercussão midiática expositiva, que buscamos com o Programa Curitiba Olímpica, este, em alguns momentos, foi um nicho de exposição e procura de grandes empresas da cidade, que vislumbraram investimentos de sua contrapartida e responsabilidade social.

    A estratégia elaborada, para atentar estas empresas para o Curitiba Olímpica, foi a reunião e exposição do programa a seus executivos juntamente com os clubes da cidade, ONG's e os órgãos públicos, na presença dos secretários e, principalmente, do Prefeito no lançamento do projeto realizado na época.

    Posteriormente, estes mesmos agentes foram convidados a encontros com agentes que atuavam no cenário esportivo, quando foi exposto minuciosamente cada uma das ações desenvolvidas e como as empresas poderiam ter retorno positivo com a exposição de sua marca e o atrelamento ao programa.

Objetivos - 2ª fase

    Mais uma vez, cabe ressaltar que não necessariamente todas as modalidades deverão percorrer estas duas fases. Dependendo das condições e características de cada uma das modalidades. O atleta poderá perpassar da 1ª fase a 3ª fase que será descrita posteriormente.

    O que realmente é necessário ficar muito claro, a todos os envolvidos, é que esta fase é primordial ao sucesso do projeto. Primeiro, porque não pode simplesmente ser uma extensão da primeira fase. As ações devem ser incrementadas visando à performance esportiva, respeitando as particularidades etárias. Em segundo lugar, pois não pode ser ofertado a muitos participantes, mas àqueles com potencial e que serão preparados, nesta fase, para uma próxima seleção – a terceira fase. Por fim, deve ter o enfoque competitivo, visando a competições de melhor nível que as desenvolvidas na primeira fase.

Sistema de competições e selecionáveis

    O desenvolvimento de um sistema de competições foi fundamental nesta fase, pois os atletas devem ser observados em momentos de competição.

    Possibilidades: Jogos Escolares, Jogos da Juventude, Torneios Abertos, Torneios de Excelência (competição) e outras idéias.

3ª fase - Esporte de Rendimento

    É nesta fase que buscamos trazer Curitiba novamente ao cenário esportivo nacional, pois são as ações no esporte de alto rendimento que fazem a publicidade de todas as políticas que temos nas três fases.

    Esta fase é a do esporte profissional. Aqui é necessário o aporte de todos os agentes envolvidos no sistema municipal de esporte, já que os entes públicos não têm condições financeiras para o desenvolvimento das ações nesta fase, nem devem ser o foco principal já que um número muito reduzido de cidadãos.

    Aqui a idéia é o estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada – para trazer à cidade equipes de ponta em, pelo menos, quatro modalidades – e a formação de equipes universitárias de bom nível em outras modalidades, para que a representatividade no cenário nacional no esporte de rendimento seja alcançada. As universidades também são importantes na disponibilização de bolsas atletas, para que estes, além de desenvolverem sua carreira esportiva profissional, também possam cursar uma faculdade.

    Outra ação desta fase é a realização de grandes eventos esportivos, nas mais diversas modalidades.

Considerações finais

    Este texto foi elaborado para demonstrar como foi construído o projeto político esportivo dos anos de 2011/2012, na Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude da Prefeitura Municipal de Curitiba, sendo o norteador para todas as ações esportivas englobadas no programa Curitiba Olímpica. Cabe ressaltar que o modelo apresentado não foi desenvolvido em sua totalidade pelo curto espaço de tempo, 2 anos, mas esperamos que este texto possa embasar ou começar a direcionar ações públicas na área do esporte.

Notas

  1. Quando cito o tempo político me refiro ao tempo em que participamos do grupo diretivo desta secretaria, o qual julgo muito curto para que desenvolvêssemos todas nossas idéias e sonhos.

  2. Infelizmente pelo curto período de temo e mudança de grupo político não conseguimos em nossa gestão consolidar o Sistema Esportivo Municipal, mas acreditamos que os exemplos e direcionamentos que serão abordados a seguir podem ser usados como referencial no desenvolvimento de outros programas públicos.

  3. O capital de um agente é a quantidade de capital que este possui no interior do campo, e que lhe utilizará nas mais diversas relações estabelecidas. Quanto mais capitais acumulados possuir um agente, maior será seu potencial de poder; genericamente definido como um recurso. Segundo Bourdieu (1994) essa diferença entre a quantidade de capitais que cada agente possui faz com que existam diferentes quantum de poder, o que resulta na divisão entre aqueles que possuem mais poder, e que visam conservar a ordem do jogo e da distribuição de capital.

  4. Programa do Governo do Estado do Paraná que oferta atividades no contraturno escolar como teatro, dança, informática e entre outras atividades esportivas.

Bibliografia

  • Bourdieu, P. (1983). Algumas propriedades dos campos. In: Questões de sociologia: Rio de Janeiro: Marco Zero Limitada.

  • Bourdieu, P. (2004). Programa para uma sociologia do esporte. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense.

  • Brasil (1999). Constituição da República Federativa do Brasil. 22ª Edição. São Paulo: Saraiva.

  • Carvalho, D. (2002) Manual de. Saúde e Democracia (Editorial). In: Cadernos de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro.

  • Linhales, M. A. (2001). Jogos da política, jogos do esporte: subsídios à reflexão sobre políticas públicas para o setor esportivo. In: Lazer e esporte: políticas públicas. Campinas: Autores Associados.

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