Aptidão física relacionada à saúde e consumo alimentar de crianças praticantes de futsal La aptitud física relacionada con la salud y el consumo alimenticio de niños que practican futsal Physical fitness and health and dietary intake of futsal practitioners children |
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*Mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria Professora e Coordenadora do Curso de Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina, UNOESC/SMO **Acadêmico/a de Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina, UNOESC/SMO (Brasil) |
Andréa Jaqueline Prates Ribeiro* Daniel Nunes** Dara Claudia de Oliveira Ferrasso** Jair Wuitschik** |
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Resumo O objetivo do presente estudo foi verificar as alterações ocorridas na aptidão física relacionada à saúde e consumo alimentar de crianças participantes de um projeto de extensão (Escolinha de futsal), após dois anos de participação na mesma. A amostra foi constituída por doze meninos e seis meninas com idades de 7 a 10 anos, residentes em São Miguel do Oeste - SC. As atividades ocorreram ao longo de dois anos e foram realizadas aulas recreativas e treinos práticos de futsal. Utilizaram-se as abordagens construtivista e crítico-emancipatória, sendo que as aulas da Escolinha de Futsal aconteciam três vezes por semanas em dias alternados, no período vespertino, num total de sessenta minutos em cada um dos dias. Foram realizados testes, antes do início das atividades de futsal e ao final do projeto de extensão para avaliar a aptidão física relacionada à saúde e aplicado um questionário para avaliar o consumo alimentar. Utilizou-se a análise descritiva (média e desvio padrão) para análise dos dados. Com os resultados obtidos, pode-se verificar que após o projeto de extensão (Escolinha de Futsal), houve melhoras em praticamente todas as variáveis em ambos os gêneros. Destacando a evolução das meninas que obtiveram resultados mais satisfatórios que os meninos quando analisados os dados de forma separada. Como o objetivo era verificar se havia evolução, melhorias nas variáveis estudadas a partir das atividades realizadas no projeto de extensão (Escolinha de Futsal), durante os dois anos de trabalho, não houve a preocupação em analisar se essas diferenças (pré e pós-testes) foram ou não estatisticamente significativas. Unitermos: Aptidão física. Saúde. Consumo alimentar. Futsal.
Abstract The aim of this study was to investigate the changes in physical fitness and health and food intake of children participating in an extension project (futsal Little School), after two years of participation in it. The sample consisted of twelve boys and six girls aged 7-10 years living in São Miguel do Oeste - SC. The activities took place over two years and were held recreational classes and practical futsal training. We used the constructive and critical-liberating approaches, and the soccer Little School of the classes took place three times a week on alternate days, in the evening, a total of sixty minutes each day. Tests were carried out before the start of futsal activities and the end of the extension project to assess the physical fitness and health and a questionnaire to assess dietary intakes. We used the descriptive analysis (mean and standard deviation) for data analysis. With the results obtained, it can be seen that after the extension project (Little School Futsal), there were improvements in almost all variables in both genders. Highlighting the evolution of girls who obtained better results than boys when analyzed separately data. Since the goal was to see if there was evolution, improvements in variables from the activities performed in the extension project (Little School Futsal) during the two years of work, there was no concern whether these differences (pre and post-tests ) or were not statistically significant. Keywords: Physical fitness. Health. Food consumption. Futsal.
Recepção: 13/03/2015 - Aceitação: 20/05/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O conhecimento da aptidão física de crianças é de fundamental importância para a geração de conhecimento atualizado e especifico a essa determinada população, pois os benefícios, de acordo com Luguetti et al. (2010), repercutirão por toda a vida do indivíduo.
O conceito de aptidão física, segundo Mascarenhas et al. (2013), refere-se a um conjunto de atributos que as pessoas possuem ou obtém e que tem relação com a habilidade de realizar atividades físicas diárias ou esportivas, estando diretamente ligada à saúde e considerada como um componente de prevenção de doenças.
Sabe-se que os bons indicadores de saúde apresentam um elo significativo nas fases iniciais da vida, quando, um nível adequado de aptidão física relacionada à saúde, é indispensável (Pelegrini et al., 2011). Segundo Machado (2010), praticar atividades físicas de forma regular tem sido incentivado em diferentes faixas etárias, principalmente, pelos benefícios em diversos componentes da aptidão física relacionada à saúde.
De acordo com Silva et al. (2014), o excesso de peso tem demonstrado ser mais crescente nas crianças. Os autores ainda citam que, vários programas de intervenção foram observados em estudos variados, onde foram encontrados resultados que sugerem que as medidas de prevenção mais eficazes incluem praticas esportivas e reeducação alimentar.
Diversos estudos realizados indicam um declínio nos índices de aptidão física de crianças, contudo, o que se observa é uma carência de dados atualizados, cujas características variam do ambiente e contexto social. Ao averiguar os aspectos de aptidão física relacionada à saúde em crianças, poderemos contribuir de forma clara na tentativa de promoção da saúde. A realização dos estudos regionais justifica-se pelos diferentes fatores sociais, econômicos e culturais. (Luguetti et al., 2010).
Até agora, os dados obtidos no Brasil não são conclusivos quanto ao baixo padrão de aptidão física de crianças. Um dos fatos que comprovam isso são as amostras pequenas, contudo, é imprescindível encontrar resultados para compreender esse fenômeno em determinadas localidades. (Pelegrini et al., 2011).
Sendo assim, é de suma importância realizar um levantamento tendo como base a aptidão física e consumo alimentar em crianças. Pois somente através de dados específicos da região, poderão ser propostas estratégias para melhorar o estilo de vida das mesmas. E neste sentido, Machado (2010), salienta que um estilo de vida ativo iniciado na infância, possivelmente possa ser transferido à idade adulta.
Metodologia
Caracterização e procedimentos
Este trabalho trata-se de uma pesquisa de cunho quali-quantitativo. A amostra foi constituída por doze meninos e seis meninas com idades de 7 a 10 anos, residentes em São Miguel do Oeste - SC, participantes de um projeto de extensão na Unoesc/SMO, denominado: Escolinha de Futsal. Elas foram convidadas nas escolas (essencialmente crianças em situação de risco social ou pessoal) a participarem e houve um período de inscrição. Neste ato, os pais ou responsáveis pelas respectivas crianças assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, bem como uma autorização de participação, no qual concordavam com os testes e atividades a serem realizadas (critério de inclusão/exclusão do estudo). Nestes casos, uma cópia permaneceu com os pesquisadores e a outra entregue ao responsável.
Utilizando as abordagens construtivistas e crítico-emancipatória, as aulas da Escolinha de Futsal aconteciam três vezes por semanas em dias alternados, no período vespertino, num total de sessenta minutos em cada um dos dias.
Antes e após o período das aulas recreativas e treinos práticos de futsal, foram realizados testes para avaliar a aptidão física relacionada à saúde e aplicado um questionário para avaliar o consumo alimentar.
Testes de aptidão física relacionada à saúde e consumo alimentar
Para a aptidão física relacionada à saúde, foram avaliadas as variáveis: massa corporal (peso), percentual de gordura, índice de massa corporal, peso magro, flexibilidade, força-resistência abdominal e capacidade-resistência cardiorrespiratória, conforme procedimentos e protocolos da bateria do PROESP (2012).
Em relação à variável consumo alimentar, a mesma baseou-se no estudo realizado por Chiara e Sichieri (2001), no qual as autoras utilizaram um questionário simplificado, para autoavaliação de alimentos associados ao risco de doenças.
Análise estatística
Utilizou-se a análise descritiva (média e desvio padrão) para análise dos dados.
Como o objetivo era verificar se havia evolução, melhorias nas variáveis estudadas a partir das atividades realizadas no projeto de extensão (Escolinha de Futsal), durante os dois anos de trabalho, não houve a preocupação em analisar se essas diferenças (pré e pós-testes) foram ou não estatisticamente significativas.
Análise e discussão dos resultados
A Tabela 1 trata dos testes de aptidão física relacionada à saúde, realizados com as crianças de 7 a 10 anos do Projeto Escolinha de Futsal, num âmbito geral (meninos e meninas). Nela, podem-se observar os dados (média e desvio padrão) dos pré e pós-testes, ou seja, resultados antes e depois da Escolinha de Futsal, nas variáveis: peso, percentual de gordura, índice de massa corporal, peso magro, flexibilidade, força-resistência abdominal, capacidade-resistência cardiorrespiratória e consumo alimentar.
Tabela 1. Dados dos Testes da Escolinha de Futsal – Aptidão Física relacionada à Saúde (Geral)
Conforme apresentado na tabela 1, podem-se notar mudanças positivas principalmente nas variáveis percentual de gordura e IMC (que diminuíram), peso magro (que aumentou) e consumo alimentar (que passou de elevado para adequado), comparando-se pré com pós-testes. Neste momento, para tentar explicar este fenômeno, traz-se a contribuição de Kotulán, Reznicková e Placheta (1980, p. 168 apud Silva Filho, 2013, p. 25):
Pode-se perceber que as influências são positivas quando as atividades físicas são regulares, pois há um aumento da massa corporal magra, e conseqüentemente uma diminuição da gordura armazenada no corpo o que melhora os níveis cardiorrespiratórios, cria maior resistência muscular e força isométrica.
Outras alterações positivas foram observadas, como a melhora, de um âmbito geral, nas variáveis: flexibilidade, força abdominal e consumo alimentar. Desta forma reforça em parte outro estudo feito por Generosi (2011), no qual, por meio de um treinamento com duração de seis semanas e que foi constituído por jogos e atividades, evidenciou-se melhora nos níveis de flexibilidade, força resistência abdominal e também na capacidade cardiorrespiratória.
Na tabela 2, as variáveis são as mesmas, o que altera é que estes são dados apenas dos alunos da Escolinha do sexo masculino. Pode-se notar que houve redução nas variáveis de peso, % gordura, IMC e consumo alimentar.
Tais resultados demonstram que as atividades de futsal realizadas durante o período da Escolinha, assim como as orientações repassadas aos alunos, auxiliaram no controle e/ou redução de variáveis que quando em valores elevados, podem levar a problemas sérios de saúde, como a obesidade, por exemplo, uma vez que, conforme Silva Filho (2013, p. 11), “a atividade física é o meio mais importante de se prevenir e combater a obesidade. O sedentarismo pode ser considerado um fator relevante para a obesidade ainda maior que a própria alimentação exagerada e inadequada”.
Tabela 2. Dados dos Testes da Escolinha de Futsal – Aptidão Física relacionada à Saúde (Masculino)
Na tabela 2, também percebemos que apesar das variáveis flexibilidade e consumo alimentar apresentarem melhoras, os quesitos força resistência abdominal e capacidade cardiorrespiratória não sofreram alterações. Um levantamento feio por Burgos et al. (2012), constatou que os meninos apresentaram resultados insatisfatórios em relação às meninas. Os autores ainda citam, que outros estudos realizados em Joinville- SC e Rio Grande - RS obtiveram resultados diferentes, os meninos apresentaram escores superiores para a capacidade cardiorrespiratória.
As mesmas variáveis discutidas anteriormente foram testadas nos indivíduos femininos participantes do projeto de extensão. Os dados da tabela 3 mostram as médias e desvios padrão para cada variável, antes e depois das atividades na Escolinha de Futsal.
As meninas obtiveram melhores resultados no pós-teste em todas as variáveis (peso, % de gordura, IMC, peso magro, flexibilidade, força resistência abdominal, capacidade cardiorrespiratória e consumo alimentar), quando comparadas aos meninos. Destacando força resistência abdominal e capacidade cardiorrespiratória, diferente dos meninos, cujos resultados (pré e pós-testes), mantiveram-se inalterados.
Tabela 3. Dados dos Testes da Escolinha de Futsal – Aptidão Física relacionada à Saúde (Feminino)
Em outro estudo, realizado por Werk et al. (2009), fez-se também um comparativo de resultados entre os gêneros, verificando que as diferenças encontradas eram favoráveis às meninas, quando se tratavam de força resistência abdominal e cardiorrespiratória, o que também pode ser observado no nosso estudo. Segundo Morgado (2011), a literatura também indica que as diferenças entre gêneros podem ser resultados de fatores biológicos e sociais.
A exemplo dos meninos, a flexibilidade das meninas também teve alteração de razoável no pré-teste para bom no pós-teste.
Para Achour Junior (1999) e Farinatti (2000) a flexibilidade também é uma qualidade física essencial à saúde de todas as pessoas, pois contribui para a prevenção de espasmos e lesões musculares, má postura, tensões neuromusculares generalizadas e lombalgias. Vários autores sugerem que se façam alongamentos antes da prática do futsal, com é o caso do presente estudo, e concordam que realizar a atividade ajuda a melhorar a flexibilidade.
Ainda de acordo com Bartholomeu Neto et al (2013, p. 108):
Os principais resultados demonstram que o treinamento de flexibilidade realizado como forma de aquecimento [...] proporcionou melhoras significativas quando comparado a um momento anterior sem intervenção, mostrando-se eficaz no desempenho dessa capacidade biomotora para ambos os membros inferiores [...].
Conclusão
Os resultados obtidos no presente estudo permitiram verificar que, de modo geral, com exceção da capacidade cardiorrespiratória, as demais variáveis estudadas tiveram melhoras positivas.
Quando analisado os dados por gênero, percebemos que em relação aos meninos, apenas duas variáveis (força resistência abdominal e capacidade cardiorrespiratória) não apresentaram alteração, quando comparadas com os resultados das meninas. Já em relação às meninas, além de haver melhora em todas as variáveis, percebeu-se que obtiveram resultados mais satisfatórios que os apresentados pelos meninos.
Por fim, entende-se que a prática de esporte, no caso o futsal, demonstrou ter efeitos positivos nas crianças, servindo de incentivo e conscientização em relação aptidão física relacionada à saúde e consumo alimentar. Nesse sentido, reforça-se a importância de estudos como esse como forma de demonstrar a eficácia da prática regular de atividades físicas e esporte em geral e de uma alimentação adequada.
Bibliografia
Achour Junior, A. (1999). Bases para exercícios de alongamento relacionado com a saúde e no desempenho atlético. (2ª ed.). São Paulo: Phorte.
Bartholomeu Neto, J., Assumpção, C. O., Silva Junior, A. C. A., Cavalcante, L. F., Olher, R. R. y Asano, R. Y. (2013). Efeitos de um treinamento de futsal na flexibilidade de atletas universitários. Revista Brasileira de Futsal e Futebol, 5 (16), 105-110.
Burgos, M. S., Reuter, C. P., Tornquist, L., Piccin, A. S., Reckziegel, M. B., Pohl, H. H. et al. (2012). Perfil de aptidão física relacionada à saúde de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos. Journal of the Health Sciences Institute, 30 (2), 171-175.
Chiara, V. L., Siquieri, R. (2001). Consumo Alimentar em Adolescentes. Questionário Simplificado para Avaliação de Risco Cardiovascular. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 77 (4), 332-336.
Farinatti, P. de T. V.(2000). Fisiologia e avaliação funcional. (4ª ed.). Rio de Janeiro: Sprint.
Gaya, A., Lemos, A., Gaya, A., Teixeira, D., Pinheiro, E. y Moreira, R. (2012) Manual de testes e avaliação. Projeto Esporte Brasil. Porto Alegre: UFRGS. Recuperado el 24 de julio de 2014 de: http://www.proesp.ufrgs.br/institucional/MANUAL%20PROESP-BR.pdf
Generosi, R. A. (2011). Efeitos de um Programa de Treinamento Físico em componentes da Aptidão Física relacionada à Saúde de Escolares. Porto Alegre: UFRGS.
Luguetti, C. N., Nicolai Ré, A. H., Silveira Bohme, M. T. (2010) Indicadores de aptidão física de escolares da região centro-oeste da cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, 12 (5), 331-337.
Machado, V. H. R. (2010). Características dos Participantes e das Atividades Esportivas nas Modalidades de Futebol de Campo e Salão. Curitiba: UFPR.
Mascarenhas, L. P. G., Ferreira, A. B., Abreu de Lima, V. de y Grzelczak, M. T. (2013). Estudo comparativo da aptidão física entre crianças de escola pública e particular: uma visão regional. Cinergis, 14 (3), 157-160.
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Pelegrini, A., Santos Silva, D. A., Petroski, E. L. y Glanera, M. F. (2011). Aptidão Física Relacionada à Saúde de Escolares Brasileiros: Dados do Projeto Esporte Brasil. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 17 (2), 92-96.
Silva Filho, D. J. da. (2011). Educação Física Escolar como ferramenta de prevenção de obesidade. Rondônia: Universidade de Brasília.
Queiroz Silva, Y. M., Kraguljac, M., Albuquerque, R. B. y Souza Fonseca, F. de (2014). Prevalência de Excesso de Peso em Crianças e Adolescentes de um Projeto Esportivo em Maceió- AL. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, Maceió, 18 (4), 67-74.
Werk, Rafael de, Vieira, A. Z., Nuñez, P. R. M., Habitante, C. A. y Pereira da Silva, J. V. (2009). Aptidão física relacionada à saúde de crianças de uma escola estadual de Campo Grande/MS. Revista Ciência, Cuidado e Saúde, 8 (1), 42-47.
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