Complicações micro e macrovasculares e seus fatores de risco em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 atendidos pelo programa hiperdia na vila balneária de Alter-do-Chão em Santarém, PA Complicaciones macrovasculares y microvasculares y sus factores de riesgo en pacientes con diabetes mellitus tipo 2 de programa hiperdia atendidas en el pueblo balneario de Alter-do-Chão en Santarem, PA Macrovascular and microvascular complications and its risk factors in patients with type 2 diabetes mellitus by program hiperdia served in the village seaside Alter-do-Chao in Santarem, PA |
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*Graduando/a em Medicina/UEPA, Campus Santarém **Licenciatura Plena em Educação Física. Fisioterapeuta e Acadêmico de Medicina, UEPA, Campus Santarém, PA ***Especialista em Fisiologia do Exercício/FACIMAB. Grupo de Estudo e Pesquisa em Meio Ambiente e Saúde Coletiva/UEPA, Campus Santarém ****Professor do curso de Medicina/UEPA, Campus de Santarém (Brasil) |
Rhaone Clecyo Lima Caldas* Aline Gabriele Holanda de Oliveira* Reli José Maders** Luiz Carlos Rabelo Vieira*** Frederico Galante Neves**** |
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Resumo Objetivo: Investigar o número de casos de complicações micro e macrovasculares e fatores de risco associados em pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) cadastrados no programa hiperdia do Centro de Saúde de Alter do Chão-PA. Metodologia: A amostra constou de 77 prontuários e/ou fichas de pacientes com DM2. As informações foram colhidas no setor de arquivo do Centro de Saúde da vila de Alter do Chão. A pesquisa se desenvolveu por meio da análise de prontuários e nas fichas de hipertensos e/ou diabéticos. Os resultados foram tabulados e processados no programa Excel (Microsoft for Windows, 2010). Resultados: Houve prevalência do gênero feminino, com a média de idade 65,0 ± 11,9 anos, e de atendimentos na faixa etária de 61-70 anos (32,5%). O fator de risco com maior prevalência foi a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) (89,6%). A complicação microvascular mais prevalente foi a retinopatia (28,6%), seguida pela nefropatia (15,6%) e a complicação macrovascular prevalente foi o Pé Diabético (23,4%), seguido pelo AVC (19,5%). Conclusões: Sugere-se a realização de estudos adicionais em termos locais, regionais e nacionais abordando a temática em questão. Unitermos: Diabetes mellitus. Complicações crônicas. Fatores de risco.
Abstract Objective: To investigate the number of cases of micro and macrovascular complications and associated risk factors in patients with type 2 diabetes mellitus (DM2) enrolled in the program Hiperdia Health Center of Alter do Chão-PA. Methods: The sample consisted of 77 records and / or records of patients with T2DM. The information was collected in the archive section of the Health Centre of the village of Alter do Chão. The research was developed through analysis of medical records and the records of hypertensive and / or diabetic. The results were tabulated and processed in (for Microsoft Windows, 2010) Excel program. RESULTS: The prevalence of females with a mean age 65.0 ± 11.9 years, and attendances aged 61-70 years (32.5%). The risk factor with the highest prevalence was Hypertension (HBP) (89.6%). The most prevalent microvascular complication was retinopathy (28.6%), followed by nephropathy (15.6%) and prevalent macrovascular complication was the Diabetic Foot (23.4%), followed by stroke (19.5%). Conclusions: It is suggested that further studies in local, regional and national level addressing the issue in question. Keywords: Diabetes mellitus. Chronic complications. Risk factors.
Recepção: 02/11/2014 - Aceitação: 08/04/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O programa Hiperdia foi criado pelo Ministério da Saúde em 2002, com a finalidade de monitorar e acompanhar os pacientes captados no Plano Nacional de Reorganização da Atenção à Hipertensão e Diabetes Mellitus (DM), e gerar informação para aquisição, dispensação e distribuição de medicamentos de forma regular e sistemática a todos os pacientes cadastrados (Brasil, 2002; Brasil, 2006).
A DM representa um grupo de doenças metabólicas crônicas caracterizadas por hipoglicemia, resultante de defeitos na secreção de insulina e/ou em sua ação (ADA, 2009). De uma forma geral, existem dois tipos de diabetes: tipo 1 (DM1) e tipo 2 (DM2). A DM1 inclui os casos que podem ser atribuídos a um processo autoimune e/ou destruição das células beta-pancreáticas por mecanismo desconhecido. A DM2 representa a forma mais comum, resultante do defeito na secreção de insulina ou resistência à mesma (ADA, 2011).
A gênese da hiperglicemia envolve uma tríade de anormalidades que inclui aumento da produção hepática de glicose e alteração na secreção e ação da insulina. A severidade e o grau de contribuição destas anomalias são variáveis e estão relacionados à heterogeneidade da expressão metabólica do diabetes (Chaves, 2010).
A DM2 é uma doença crônica de alta prevalência, alta morbidade e mortalidade resultante, principalmente, do comprometimento vascular (responsável por 80% das causa mortis) e neurológico (ADA, 2011).
Com frequência o diagnóstico da DM2 está associado a indivíduos acima de 40 anos, obesos. Sendo esta consequência da combinação de uma predisposição genética com fatores ambientais e hábito de vida (Roelker, 2008).
A DM confere risco muito elevado para o desenvolvimento de inúmeras patologias, dentre as patologias macrovasculares pode-se destacar o risco de duas a quatro vezes maiores para o desenvolvimento de cardiopatias, acidente vascular cerebral e gangrena dos membros inferiores. Já para as complicações microvasculares destaca-se o comprometimento dos olhos e rins, sendo a causa mais frequente de cegueira e insuficiência renal respectivamente. A neuropatia periférica e autonômica (associada a alterações pressóricas e cardiopatia diabética) é agente complicador das alterações micro e macrovasculares (ADA, 2011).
No tocante as doenças macrovasculares, geradas pela hiperglicemia, destaca-se a associação com as doenças metabólicas que antecedem o DM manifesto e que compõem a síndrome plurimetabólica manifestada por graus variáveis de intolerância à glicose, obesidade de distribuição central, hipertensão, dislipidemia, hiperinsulinemia, aumento de fatores de coagulação e hiperuricemia, agravadas pela inatividade física (Chaves, 2010).
As complicações vasculares da DM2 são as principais causas de morbidade nos países em desenvolvimento e desenvolvidos e constituem preocupação crescente para as autoridades de saúde. Alguns fatores estão envolvidos na gênese das complicações crônicas da DM2, destacando-se a hiperglicemia, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e o tabagismo, bem como a disfunção endotelial, estado pré-trombótico e inflamação. Dentro deste contexto, as complicações da DM2, tanto micro como macrovasculares, emergem como uma das maiores ameaças à saúde em todo o mundo, levando a custos econômicos e sociais de enorme repercussão (Queiroz et al., 2011).
Portanto, dentre os principais fatores de risco para o desenvolvimento do DM2 destaca-se susceptibilidade genética, obesidade, inatividade física, histórico familiar de diabetes e fatores nutricionais (SBD, 2008).
Em decorrência dessas complicações da DM2, e de seus fatores de risco, a presente pesquisa sustenta-se no sentido de pretender estabelecer dados até então pouco expressivos em termos locais com relação às complicações micro e macrovasculares em pacientes com DM2 atendidos pelo programa Hiperdia no Centro de Saúde de Alter do Chão-PA.
De acordo com o exposto, o objetivo do estudo foi verificar o número de casos de complicações micro e macrovasculares e fatores de risco associados em pacientes com DM2 atendidos no programa Hiperdia de uma comunidade no interior Amazônico.
Método
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva e retrospectiva (Fontelles, 2010).
Foi realizada no setor de arquivo do grupo Hiperdia do Centro de Saúde da vila balneária de Alter do Chão em Santarém-Pa, entre setembro e outubro de 2012, sendo analisados 132 prontuários de pacientes do grupo Hiperdia, dos quais foram incluídos no estudo apenas 77 correspondentes aos pacientes com DM2.
Os prontuários e/ou fichas selecionadas preencheram os seguintes critérios de inclusão, e não os de exclusão, respectivamente: prontuários e fichas de pacientes que são atendidos pelo Programa Hiperdia no Centro de Saúde de Alter do Chão-PA e foram diagnosticados com DM2. Prontuários e/ou fichas de cadastro perdidos; prontuários e/ou fichas de cadastro ilegíveis que impediram a coleta de dados; prontuários e/ou fichas de cadastro de pacientes que não frequentam o Programa Hiperdia no referido Centro de Saúde; prontuários e/ou fichas de cadastro de pacientes que não possuíam DM2.
Os dados foram analisados através de recursos da estatística descritiva (média e desvio padrão) e quantificados a partir da frequência relativa. Os resultados foram tabulados e processados no programa Excel® (Microsoft for Windows, versão 2013).
Resultados
Por meio da análise das informações dos prontuários dos 77 pacientes com DM2 do grupo Hiperdia de Alter do Chão em Santarém-Pa foi possível observar que 62,3% eram do gênero feminino (tabela 1). A faixa etária com maior comprometimento decorrente do DM2 foi a compreendida entre 61 e 70 anos de idade (32,5%).
Tabela 1. Complicações micro e macrovasculares e seus fatores de risco na amostra de estudo (n=77). Santarém-Pa, 2012
A tabela 2 mostra a prevalência da retinopatia (28,6%), enquanto complicações microvasculares, e o pé diabético (23,4%) dentre as macrovasculares. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de tais complicações foram a hipertensão arterial sistêmica (HAS) (89,5%).
Tabela 2. Complicações micro e macrovasculares e seus fatores de risco na amostra de estudo (n=77). Santarém-Pa, 2012
Nota-se, conforme a tabela 3, que a HAS (53,2%) e o sobrepeso (28,6%) foram os fatores mais prevalentes em ambos os sexos. Quanto à faixa etária, foram mais frequentes a HAS (27,3%) e o sobrepeso (16,9%) nos pacientes entre 61 e 70 anos de idade; o tabagismo (6,5%) entre 61 e 70 anos e 81 até os 90 anos; os AFC (6,5%) entre 51 e 60 anos e o sedentarismo (6,5%) entre 51 e 60 anos e 61 até os 70 anos.
Tabela 3. Principais fatores de risco por sexo e faixa etária na amostra de estudo (n=77). Santarém-Pa, 2012
A tabela 4 apresenta, dentre as principais complicações microvasculares, predominância da retinopatia (19,5%) no sexo feminino e da nefropatia (10,4%) no sexo masculino. Por outro lado, dentre as complicações macrovasculares nos pacientes com DM2, observou-se no sexo feminino a maior frequência do AVC (15,6%) e do pé diabético (15,6%).
Tabela 4. Principais complicações micro e macrovasculares por sexo e faixa etária na população estudada (n=77). Santarém-Pa, 2012
Discussão
Em função da DM2 ser uma doença de alta prevalência e morbimortalidade (ADA, 2011), é importante o reconhecimento dos seus fatores de risco. Dentre estes podem ser citados: aumentam da idade, obesidade, sedentarismo, hipertensão, dislipidemias e doenças vasculares (Martinez; Latorre, 2006).
No presente estudo, verificou-se prevalência de HAS (89,5%), seguida de S/O (44,2%). O sedentarismo foi o fator menos frequente (20,8%).
A HAS apresenta alta morbidade, isto é, capacidade para desencadear outras doenças. Nos diabéticos, a hipertensão é duas vezes mais frequente, quando comparados à população geral (Nesralla, 2000).
O tabagismo é um importante fator de risco para as complicações microvasculares (Guyton; Hall, 2011). É grande o número de pacientes do sexo masculino com DM2 que são tabagistas (Nesralla, 2000).
A retinopatia diabética é a principal causa de cegueira em pessoas entre 20 e 74 anos de idade (Smeltzer; Bare, 2002). Além disso, cerca de 90% dos diabéticos desenvolvem evidência clínica de retinopatia basal dentro de cinco a 15 anos do diagnóstico do diabetes (Lehninger; Nelson; Cox, 1995).
Vale ressaltar que um em cada quatro pessoas que começam a diálise possuem nefropatia diabética (Smeltzer; Bare, 2002). Esta é uma complicação comum da DM2, visto que pacientes desenvolvem a doença renal dentro de 10 anos a partir do diagnóstico (Lehninger; Nelson; Cox, 1995).
Conforme Ortiz e Zaneti (2001), a DM2 atualmente é considerada uma das principais doenças crônicas que afetam o homem contemporâneo, principalmente acima dos 60 anos e sua importância vem crescendo em decorrência de vários fatores, tais como, inatividade física e obesidade.
Foi observado no presente estudo (tabela 2) prevalência da retinopatia diabética, dentre as complicações microvasculares, e pé diabético, dentre as macrovasculares.
Sherffel et al. (2004), em estudo que incluiu 927 pacientes (42% de homens) com DM2 atendidos em ambulatórios médicos do Rio Grande do Sul, notaram predominância, quanto às complicações macrovasculares, de cardiopatia isquêmica (36%) e doença vascular periférica (33%). Por outro lado e igualmente ao encontrado no presente estudo quanto às complicações microvasculares, houve prevalência da retinopatia diabética (48%), seguida da nefropatia (37%) e da neuropatia (36%). Além disso, foi encontrada prevalência da HAS (73%), fator de risco que também foi notório no presente estudo (89,5%).
Resultados diferentes foram encontrados por Queiroz et al. (2011), onde verificaram predominância de neuropatia periférica sensitiva (41,4%) em 85 pacientes (18,8% de homens), acima de 60 anos, portadores de DM2 e síndrome metabólica atendidos no ambulatório de diabetes do Serviço de Endocrinologia do Hospital Geral de Fortaleza-CE. A retinopatia foi a menos prevalente (16,4%). Dentre as complicações macrovasculares, os autores verificaram maior frequência de doença arterial coronariana (20%), seguida da doença vascular periférica (14,1%). É frequente, conforme Cull et al. (2007), que pacientes com DM2 tenham síndrome metabólica. Para Roelker (2008) e Bonadonna et al. (2006), a diabetes isolada é fator de risco para a doença coronariana e cardiovascular, quando comparada à presença de síndrome metabólica.
Conclusão
Quanto aos pacientes com DM2, notou-se prevalência do gênero feminino. Além disso, verificou-se predominância de pacientes na faixa etária de 61 a 70 anos de idade. O fator de risco com maior prevalência entre a população estudada foi a Hipertensão Arterial Sistêmica. A complicação microvascular com maior ocorrência foi à Retinopatia, seguida pela Nefropatia. Já as complicações macrovasculares prevalentes foram o Pé Diabético, seguido pelo AVC.
Sugere-se a realização de estudos adicionais em termos locais, regionais e nacionais abordando a temática em questão.
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