Automedicação em crianças: uma revisão integrativa Self-medication in children: an integrative review |
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*Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Cruzeiro do Sul **Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da UFPI Laboratório de Anatomia. Campus CSHNB-UFPI *** Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Piauí, Campus CSHNB, Picos, PI. ****Faculdade de Medicina Nova Esperança *****Universidade Federal da Paraíba (Brasil) |
Inêz Cristina Palitot Clementino Remígio Leite* Verônica Macêdo de Souza Nóbrega* Katia Laureano dos Santos* Ianna Cristina Palitot Remígio Leite**** Iana Bantim Félicio Calou*** Gilberto Santos Cerqueira Thompson Lopes de Oliveira***** Rosiani de Cássia Boamorte Ribeiro de Castro* |
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Resumo O estudo teve como objetivo realizar uma integrativa da literatura a fim de identificar estudos disponíveis online sobre a automedicação em crianças e adolescentes. Utilizou-se como base de dados a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os descritores “automedicação” e “crianças”. Foram identificados 13 estudos. Entre os anos de 2010 e 2012 foram seis publicações, em cada ano (23%). O idioma de publicação da maioria dos artigos (61,5%) é o Português. Os estudos sobre a temática enfatizam principalmente as classes medicamentosas, os responsáveis pela automedicação, os sintomas e as doenças mais medicadas, a relação entre os níveis socioeconômicos e automedicação, as conseqüências e riscos dessa prática, sendo, em sua maioria, de base epidemiológica. A automedicação em crianças e adolescentes é uma prática que deve ser coibida por meio do controle efetivo da disponibilidade dos fármacos e do desenvolvimento de políticas públicas que visem à educação dos responsáveis e conscientização dos riscos. Unitermos: Automedicação. Crianças. Medicina. Saúde Pública.
Abstract The study aims to perform an integrative literature to identify studies available online self-medication in children and adolescents. Was used as a database to Virtual Health Library (VHL) using the keywords "self-medication" and "children". 13 studies were identified. Between 2010 and 2012 there were six publications each year (23%). The language of publication of the majority of articles (61.5%) is Portuguese. Studies on the subject emphasize mainly drug classes responsible for self-medication, the symptoms and the most medicated diseases, the relationship between socioeconomic status and self-medication, the consequences and risks of this practice being mostly epidemiological basis. Self-medication in children and adolescents is a practice that should be curbed through effective control of the availability of drugs and the development of public policies aimed at educating responsible and awareness of the risks. Keywords: Self-medication. Children. Medicine. Health public.
Recepção: 22/10/2014 - Aceitação: 09/04/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 205 - Junio de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A automedicação coloca em risco a saúde da população em geral Essa prática pode acentuar os riscos relacionados aos medicamentos prescritos, retardar o diagnóstico adequado e mascarar uma doença e causar o aparecimento de reações adversas gravíssimas (Sá et al., 2007; Santos et al., 2013)
A automedicação é um problema de saúde pública (Cerqueira et al., 2005). Uma das maiores preocupações com relação aos fármacos está relacionada à automedicação. Entende-se como automedicação o uso de medicamentos sem nenhuma intervenção por parte de um médico, ou outro profissional habilitado, nem no diagnóstico, nem na prescrição, nem no acompanhamento do tratamento. Dentre os fatores que podem induzir à automedicação, podemos mencionar a dificuldade nos serviços de saúde para ser atendido por um médico e obter a prescrição; a facilidade de se obter medicamentos, sem pagamento de consulta e sem receita médica em qualquer farmácia e a publicidade dos medicamentos (Aquino et al., 2008; Pereira et al., 2006; Ferreira et al., 2014).
No ambiente familiar, o uso indevido de medicamentos é mais presente do que se imagina. Infelizmente, muitas mães recorrem à prática de medicar por conta própria suas crianças quando estas apresentam algum sintoma desagradável, decorrente ou não de alguma patologia. Aspecto fisiológico, farmacocinético e farmacodinâmico tornam as crianças e adolescentes mais suscetíveis aos efeitos nocivos dos medicamentos, uma vez que tais aspectos são dinâmicos e se modificam ao longo do seu desenvolvimento. Deve-se, portanto, ter o máximo de precaução possível ao administrar fármacos nessa faixa etária (Medeiros et al., 2004; Carvalho et al., 2008).
Sendo a automedicação em crianças um problema comum no Brasil, faz-se necessário que haja uma maior conscientização dos pais e/ou responsáveis sobre os riscos do uso não-racional de fármacos, bem como o desenvolvimento de mais estudos que contemplem a temática.
Frente ao exposto, considerando-se a relevância dos problemas, uma vez que a administração inconseqüente de medicamentos em crianças e adolescentes pode gerar danos a saúde destes. Nessa perspectiva, elaboramos este estudo que busca realizar uma revisão integrativa da literatura a fim de identificar estudos disponíveis online sobre a automedicação em crianças e adolescentes.
Metodologia
O presente estudo consiste de uma revisão integrativa da literatura, a qual possui etapas que devem ser rigorosamente seguidas.
Primeiramente, deve-se identificar o tema e selecionar a questão norteadora da pesquisa. Concluída essa fase, os critérios de inclusão e exclusão devem ser estabelecidos e aplicados na seleção das publicações a serem revisadas. Em seguida, devem-se definir as informações a serem extraídas das publicações selecionadas. Após esse procedimento, procede-se à categorização dos resultados obtidos e avaliação dos estudos selecionados. Finalmente, os resultados da pesquisa são interpretados, sintetizados e apresentados na discussão.
A questão que norteou o desenvolvimento da pesquisa foi: Como estão caracterizadas as publicações presentes em bases de dados online que discorrem sobre a automedicação em crianças e adolescentes?
Para o levantamento dos estudos, utilizou-se a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) nas bases do MEDLINE, LILACS e BDENF-Enfermagem (Brasil), empregando os descritores “automedicação” e “crianças”. Para um melhor refinamento dos resultados, o operador booleano “AND” foi usado entre os termos acima.
Os critérios de inclusão aplicados foram: artigos originais disponíveis na íntegra, nos idiomas Português, Inglês e Espanhol, publicados no período de 2007 a 2013, que contemplassem a temática proposta. Foram excluídos os estudos que não atendessem aos critérios de inclusão; o aqueles que não estivessem disponíveis ou aqueles que requerem assinatura do periódico;
Os resumos dos artigos encontrados foram lidos a fim de buscar os que melhor responderam ao objetivo proposto. Após a leitura exaustiva dos estudos, foi construído um quadro-síntese resgatando as informações mais importantes das pesquisas com o intuito de organizar os dados para posterior análise. Tal quadro contemplou os seguintes aspectos considerados pertinentes: título do artigo; nome dos autores; objetivos; métodos; Realizada leitura dos resultados; e conclusão para elaboração do texto.
Para análise dos dados, utilizou-se a técnica da análise temática (Minayo, 2006), que consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou freqüência tenham significado para o objetivo analítico visado.
Resultados
Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram encontrados 68 artigos, sendo que 49 encontravam-se indexados na base MEDLINE, 17 na base LILACS e 2 estudos na base BDENF-Enfermagem (Brasil). Vale ressaltar que alguns artigos encontravam-se em mais de uma base de dados. Em decorrência foi realizado o cruzamento dos mesmos e o procedimento de leitura, obtendo-se um quantitativo de 13 estudos, cujos dados foram organizados no quadro abaixo para melhor visualização.
Quadro 1. Artigos que compõem a amostra da revisão integrativa
Titulo do artigo |
Autor (es) |
Periódico/Ano |
Método |
Automedicação em crianças de zero a cinco anos: fármacos administrados, conhecimentos, motivos e justificativas |
Telles Filho PCP, Pereira Júnior AC |
Esc. Anna Nery/2013 |
Estudo descritivo, do qual fizeram parte 50 pais e/ou responsáveis pelas crianças em faixa etária de 0-5 anos. Foi utilizado um questionário adaptado constituído de perguntas estruturadas contendo dados de identificação e referentes à automedicação. |
Automedicação em crianças e adolescentes |
Pereira FSVT, Bucaretchi F, Stephan C, Cordeiro R |
J. Pediatr./2007 |
Estudo descritivo tipo inquérito populacional domiciliar de uma amostra constituída de 772 moradores. Foram realizados testes de associação linear, análise descritiva das variáveis e regressão logística múltipla. |
Automedicação em menores de cinco anos em municípios do Pará e Piauí: prevalência e fatores associados |
Goulart IC, Cesar JA, Gonzalez-Chica DA, Neumann NA |
Rev. Bras. Saude Mater. Infant. /2012 |
Utilizando-se de delineamento transversal, amostragem sistemática e de questionário padrão por meio de visita domiciliar, foram investigadas diversas características das mães, das famílias e das crianças. |
Farmácias domiciliares e sua relação com a automedicação em crianças e adolescentes |
Tourinho FSV, Bucaretchi F, Stephan C, Cordeiro R |
J. Pediatr./2008 |
Estudo descritivo tipo inquérito populacional domiciliar de uma amostra aleatória simples constituída de 705 domicílios de setores censitários selecionados por meio de amostragem por conglomerado. Foram realizados testes de associação linear, análise descritiva das variáveis e regressão logística múltipla. |
Paracetamol use (and/or misuse) in children in Enugu, South-East, Nigeria
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Herbert AO, Josephat MC, Agozie CU, Christopher BE, Ikenna KN |
BMC Pediatr./2012 |
Estudo observacional prospectivo envolvendo 231 crianças e seus cuidadores. Dados sobre o uso de paracetamol antes de procurara clínica, bem como dados demográficos foram obtidos dos responsáveis por meio de um questionário estruturado. |
Parental administration of antipyretics to children with upper respiratory tract infections without consultation with a physician
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Tea A, Tina G, Dalibor V, Susanna E, Bruno B |
Croat Med J./2011 |
Estudo observacional prospectivo realizado em 3 clinicas pediátricas, do qual 171 crianças participaram. Dados sobre o uso de antipiréticos, características demográficas e epidemiológicas dos pacientes foram coletados, assim como sinais e sintomas clínicos. |
Self-medication among children and adolescents in Germany: results of the National Health Survey for Children and Adolescents
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Du Y, Knopf H |
Br J Clin Pharmacol/2009 |
Todos os casos de uso de medicamentos nos últimos 7 dias foram gravados entre 17.450 crianças. O método de amostragem complexa foi utilizado para estimar a prevalência e os fatores associados com a prática da automedicação. |
Tracking of Medicine Use and Self-Medication From Infancy to Adolescence: 1993 Pelotas (Brazil) Birth Cohort Study |
Bertoldi AD, Silveira MPT, Menezes AMB, Assunção MCF, Gonçalves H, Hallal PC |
Journal of Adolescent Health/2012 |
Todos os recém-nascidos da cidade de Pelotas foram monitorados e inscritos no Estudo de Coorte de Nascimentos de Pelotas/1993. Sub-amostras da coorte foram visitadas nas idades de 1,3 e 6 meses, e com 1 e 4 anos de idade. Aos 11 e 15 anos de idade, todos os membros da coorte foram procurados. Em cada uma das visitas, informações sobre uso de medicamentos nos 15 dias anteriores a entrevista foram coletadas. Dois resultados foram analisados: prevalência do uso de medicamentos e prevalência da automedicação. |
Treatment choices for fevers in children under-five years in a rural Ghanaian district |
Nonvignon J, Aikins MKS, Chinbuah MA, Abbey M, Gyapong M, Garshong BNA, Fia S, Gyapong JO |
Malaria Journal/2010 |
O estudo usou dados de uma pesquisa doméstica socioeconômica e da vigilância em saúde e demográfica abrangendo os cuidadores de 529 crianças menores de 5 anos. Aplicou-se a técnica do probit multinomial para apresentar a escolha do tratamento para a febre em crianças. |
Uso de medicamentos do nascimento aos dois anos: Coorte de Nascimentos de Pelotas, RS, 2004 |
Oliveira EA, Bertoldi AD, Domingues MR, Santos IS, Barros AJD |
Rev. Saúde Pública/2010
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Estudo transversal utilizando dados da Coorte de Nascimentos de Pelotas-RS. Foram incluídas 3.985 crianças aos três meses, 3.907 aos 12 meses e 3.868 aos 24 meses de idade. O desfecho considerado foi o uso de medicamentos pelas crianças nos 15 dias anteriores à entrevista. Informações sobre medicamentos utilizados, fonte de indicação, entre outras foram coletadas por meio de questionário padronizado. |
Uso de medicamentos em crianças de zero a seis anos matriculadas em creches de Tubarão, Santa Catarina |
Carvalho DC, Trevisol FS, Menegali BT, Trevisol DJ |
Rev Paul Pediatr/ 2008 |
Estudo transversal realizado por meio de questionário semi-estruturado, aplicado aos pais ou responsáveis pelas 413 crianças incluídas na pesquisa, após consentimento informado. Foram coletados dados sobre utilização de medicamentos e informações de saúde. A análise estatística foi feita com auxílio do programa SPSS 15.0. |
Utilização de medicamentos na Pediatria: a prática de automedicação em crianças por seus responsáveis |
Beckhauser GC, Souza JM, Valgas C, Piovezan AP, Galato D |
Rev Paul Pediatr/2010
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Estudo transversal com amostra selecionada por sorteio. Foi adotado, para a entrevista com o responsável pelas crianças, um questionário para avaliar o perfil da criança, da família e da prática da automedicação. Para apresentação dos dados, adotou-se a estatística descritiva e o teste do qui-quadrado (p<0,05). |
Vigilância em saúde na enfermagem: o caso das medicações sem prescrição em crianças |
Medeiros RA, Pereira VG, Medeiros SM |
Esc. Anna Nery/ 2011 |
Foram entrevistadas 20 mães de crianças menores de 10 anos cadastradas numa Unidade de Saúde da Família do município de Passagem-RN. A análise das informações foi realizada por sistematização das falas, através das convergências e divergências das respostas encontradas nos roteiros de entrevistas e definidas em categorias que emergiram do processo de investigação. |
Em termos de ano de publicação, em 2010 e 2012 verificou-se o maior número de artigos publicados, com 3 em cada ano (23%). Dois estudos (15,3%) foram publicados em 2011 e 2008 e um (7,69%) estudo foi publicado no restante dos anos, o que, aparentemente demonstra um crescente interesse na temática.
Com relação ao idioma, 8 artigos (61,5%) da amostra foram publicados em Português e 5 (38,4%) em Inglês. Nenhum artigo em Espanhol satisfez os critérios necessários para ser incluído no presente estudo.
Estudos nacionais
Automedicação abrange as diversas formas pelas quais o indivíduo ou responsáveis decidem, sem avaliação médica, o medicamento e como irão utilizá-lo para tratar doenças ou aliviar sintomas “auto-reconhecidos”, podendo ser praticada ao adquirir o medicamento sem receita, compartilhar os medicamentos com outros membros da família ou círculo social e utilizar sobras de prescrições, reutilizar antigas receitas e descumprir a prescrição profissional (Pereira et al., 2007; Carvalho et al., 2008; Oliveira et al., 2010).
As crianças e adolescentes representam um grupo fortemente predisposto ao uso irracional de medicamentos com e sem controle médico. Os responsáveis pelas crianças possuem informações insuficientes e incongruentes sobre os medicamentos, mas, mesmo assim, adotam a automedicação em seus filhos, sendo orientados por amigos, familiares e até balconistas de farmácia (Telles Filho; Pereira Junior, 2013; Beckhauser et al., 2010).
De acordo com alguns estudos, os principais medicamentos empregados na automedicação em crianças são os analgésicos/antipiréticos, como Dipirona e Paracetamol, antigripais e xaropes expectorantes, os antiinflamatórios não-hormonais e os antibióticos, e estão associados principalmente ao tratamento sintomático da dor e resfriados (Pereira et al., 2007; Carvalho et al., 2008; Oliveira et al., 2010; Tourinho et al., 2008)., sendo os principais os sintomas que resultam na automedicação de menores podemos citar a febre, tosse, inflamação e dores em geral, gripe, congestão nasal, diarréia e cólica abdominal (Medeiros et al., 2011).
Estudos internacionais
Quatro estudos foram incluídos nessa categoria. O estudo que investigou o uso do paracetamol em crianças na Nigéria constatou que, numa coorte de 231 crianças, 88,7% tinham suas mães como responsáveis, 75,6% haviam tomado paracetamol antes de procurar um serviço de saúde e a principal razão pela qual foi administrada tal substância foi febre (68,4%). A maioria dos participantes decidiu automedicar suas crianças baseadas em experiência anterior, e tal prática foi feita com a dosagem correta na maioria dos casos, o que pode ter relação com o fato de que 63% dos participantes tinham bom nível de instrução (Hebert et al., 2012). Apesar de a automedicação nas crianças ter sido realizada corretamente em grande parte dos casos, notou-se que ainda havia risco de abuso de medicamentos e uso indevido dos mesmos.
Com relação ao estudo que pesquisou a administração de antipiréticos sem orientação médica pelos pais de crianças com infecções do trato respiratório superior, averiguou-se que tal prática representa menos de um terço (32,8%) dos casos e que a tendência de essas pessoas administrarem antipiréticos estava relacionada com o histórico freqüente de infecções nos seus filhos e com o fato de que quase dois terços das crianças freqüentavam creches (Tea et al., 2011). Depreende-se que houve uma baixa prevalência da prática de auto-administração nesse estudo realizado na Croácia, o que pode ser explicado pelo fato de que o país em que foi realizado possui políticas de saúde que abrangem ações educativas sobre o uso racional de fármacos. No entanto, a amostra do estudo foi pequena, não podendo ser considerada como representativa do todo, sendo necessários outros estudos que corroborem seus achados.
O estudo realizado na Alemanha com 17.450 crianças e adolescentes verificou que 38,5% deles já foram automedicados, e que as principais drogas utilizadas atuavam no sistema respiratório, trato alimentar e metabolismo, pele e sistema nervoso. A automedicação estava relacionada aos adolescentes mais velhos, crianças com estado de saúde ruim, famílias com alta renda e nível de instrução médio/alto da mãe, indicando que a prática de automedicar estava positivamente associada ao nível socioeconômico e educacional da genitora (Du Y, Knopf, 2009) Os fármacos usados envolvem todas as classes terapêuticas, especialmente suplementos vitamínicos e minerais, drogas para resfriado e gripe, e analgésicos não-viciantes. Portanto, conclui-se que a prática de automedicação está associada à prevenção de doenças e ao tratamento de sintomas de doenças do trato respiratório.
O último estudo da categoria foi realizado na área rural de Gana. Os resultados demonstram que os cuidadores de meninas menores de 5 anos praticam a automedicação enquanto que cuidadores de meninos com menos de 5 anos de idade preferem usar medicamentos fornecidos pelo governo a automedicar quando decidem sobre o tratamento das febres dessas crianças, sugerindo uma disparidade de gêneros. Os dados também evidenciam que o tempo de viagem até a cidade, o tempo de tratamento e de espera em clínicas públicas e privadas tendem a encorajar os responsáveis a automedicar ou usar medicamentos de venda livre. Os serviços de saúde na África são escassos e muitas vezes não atendem às necessidades da população, fazendo com que a prática da automedicação e a utilização de remédios caseiros sejam priorizadas no tratamento de febres em crianças (Nonvignon et al., 2010).
Pode-se perceber que, nos estudos internacionais escalados para essa revisão integrativa, a automedicação também se faz presente no cotidiano dos pais. Entretanto, nos países desenvolvidos, essa prática parece ser reduzida, o que nos remete à importância das políticas e intervenções no contexto de educação em saúde e promoção do uso correto de fármacos, as quais provavelmente são amplamente divulgadas em tais localidades.
Conclusão
A prática de automedicação pelos pais é um tema recorrente e continuamente estudado, sendo facilmente encontrado nas pesquisas em periódicos online. Muitas semelhanças puderam ser observadas entre os estudos nacionais e internacionais. As dores em geral e sintomas de resfriado/gripe lideram os motivos pelos quais os pais automedicam seus filhos, além de fatores relacionados com a qualidade dos serviços de saúde e a dificuldade em fazer uso deles. Além disso, há unanimidade quanto aos riscos que a automedicação representa para a saúde dessa população, fazendo-se necessários a ampliação e divulgação do conhecimento, e um controle mais efetivo da disponibilização dos fármacos.
Portanto, concluímos que a automedicação em crianças e adolescentes é um dos grandes problemas a serem combatidos por meio de políticas públicas que coloquem em evidência o uso racional de medicamentos e do desenvolvimento de soluções para facilitar o acesso aos serviços de saúde, visando assim um acompanhamento eficaz e qualificado do uso dessas substâncias por crianças e adolescentes.
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